quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

Celso Daniel:dez anos de um caso muito suspeito

O seqüestro do prefeito Celso Daniel completa hoje dez anos. Dois dias depois de seqüestrado ele foi encontrado morto, com sinais de tortura. Na época de sua morte, ele era um dos amigos mais próximos de Lula, que logo seria eleito presidente da República. Com o cargo de prefeito de Santo André, acumulava a coordenação da campanha presidencial do PT. A morte brutal foi em janeiro de 2002, o ano em que Lula se elegeu pela primeira vez. Já estão no terceiro mandato sucessivo, no que é de fato um governo de 9 anos.

Este é um daqueles casos políticos importantes que acompanhei de perto. No mesmo dia em que Daniel foi morto, o PT levantou por todo o Brasil uma estranha teoria de que podia estar em curso uma matança de petistas, num plano orquestrado pela direita.

Lembro-me de noticiário de televisão com Lula discursando em voz alta no enterro do prefeito e de várias autoridades petistas falando em todos o jornais e revistas sobre o que viam como uma conspiração criminosa contra o PT no Brasil. Um fato que pode muito bem servir para aferir a confiabilidade desta cúpula petista de então é que quase todos afundaram depois em denúncias de corrupção, envolvidos em maracutaias pesadas como foi o caso do mensalão.

Até altas personalidades petistas que se desviaram do mensalão, como Antonio Palocci, acabaram caindo depois por denúncias de corrupção, como aconteceu com ele primeiro no governo Lula e depois no governo de Dilma Rousseff, quando a imprensa revelou seu fantástico enriquecimento . Mesmo com a demissão no governo Lula, Palocci foi prestigiado na campanha eleitoral de Dilma Roussef e ganhou um ministério importante, para acabar sendo obrigado a pedir demissão levado pelas graves denúncias de corrupção

O poder de Palocci no PT foi sempre muito grande. Tanto que recebeu um voto de confiança de Dilma Rousseff mesmo depois de seu envolvimento num dos fatos políticos mais condenáveis deste país: a quebra criminosa do sigilo bancário de uma testemunha que servia como base de delitos praticados por ele na condição de ministro da Fazenda. É o famoso caso do caseiro Francenildo.

Palocci e seu peso extraordinário nas decisões de governo e também no PT servem muito bem para mostrar o significado que Celso Daniel poderia vir a ter com a vitória de Lula. Com a morte do prefeito petista, foi Palocci quem ocupou o seu llugar de coordenador da campanha de Lula e veio depois a ser poderoso no governo.

Com a morte de Daniel, a paranóia nacional que estava sendo instalada pelo PT foi resolvida de forma rápida pelo então presidente Fernando Henrique Cardoso, que colocou o Ministério da Justiça no caso e puxou para o gabinete da Presidência a condução do processo, oferecendo inclusive de forma pública proteção do Estado para qualquer um que se sentisse ameaçado.

Porém, estranhamente os líderes do PT não levaram nem um mês para abandonar qualquer referência política à morte do companheiro. Ao contrário disso, com o poder que conquistaram logo depois passaram a fazer tudo para que o caso fosse definido como um crime comum. Existem inclusive gravações feitas pela Polícia Federal de telefonemas entre petistas de alto poder que são até um constrangimento pela forma desumana das maquinações para o abafamento de investigações de um crime que causou a morte de um companheiro de partido e também amigo de todos eles.

O crime que vitimou Celso Daniel parece uma peça de ficção, com elementos que seriam tomados como inverossímeis até num desses filmes policiais que os americanos fazem aos montes. Só para ficar num exemplo, oito pessoas ligadas ao caso foram mortas. Assassinaram até o garçom que serviu a última refeição de Daniel, antes dele seguir de carro até a emboscada onde foi morto a tiros.

O garçom foi assassinado a tiros depois de perseguido em sua moto. Vinte dias depois foi executada com um tiro nas costas também a testemunha que viu o garçom ser morto. Até um daqueles diretores exagerados de Hollywood cortaria do enredo coisas tão incríveis.

Os acontecimentos extraordinários em torno deste crime são tantos que só um esclarecimento rigoroso permitiria apagar as suspeitas que foram crescendo ano após ano. É o que a família de Daniel tem pedido desde que ele foi morto e estranhamente é contra isso que lutam os que faziam política com ele na época.

Este é o ponto em que eu queria chegar, no que é para mim o essencial na suspeita sobre implicações muito mais graves do que a tese de crime comum que é sustentada com muita ênfase por gente que estava ao lado de Daniel na época de sua morte e que hoje mandam no PT e no governo.

Minha dúvida se sustenta numa pergunta muito simples que todos podemos fazer internamente: Qual é o amigo que não faria tudo para ir até o fim no esclarecimento do assassinato de alguém muito próximo? Pois o que os petistas têm feito nesses dez anos é um esforço brutal para que todos esqueçam o que aconteceu com o amigo deles.
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POR José Pires

Um comentário:

Anônimo disse...

Jota:
E O Toninho do Pt? A história é a mesma, ou muito próxima. Uma corrobora a outra.