sexta-feira, 1 de agosto de 2014

Companheiro de montaria

Tem aquela velha história de pendurar uma melancia no pescoço para aparecer. No desespero de uma candidatura entre os últimos em São Paulo, o candidato petista Alexandre Padilha radicalizou para chamar a atenção: subiu no ombro do senador Eduardo Suplicy, que o carregou durante uma caminhada, enquanto ele falava ao microfone. A cena patética é reveladora do nível a que chegou o PT. Não vejo muita diferença entre a ridícula performance dos dois e as encenações feitas pelo ex-presidente Lula pelo país afora, falando as coisas mais absurdas para ocupar espaço na imprensa, chamar a atenção sobre a candidatura de Dilma Rousseff e ainda desviar o foco de seus malfeitos. Dilma só não sobe literalmente nas costas de Lula porque ele não aguenta.

O nivelamento por baixo vem do próprio comportamento de Lula, que tem cada vez menos discernimento de limites morais ou de respeito à realidade no que faz ou no que fala. De um partido que tem Lula como guru pode-se esperar tudo e um pouco mais.

Este espetáculo grotesco do Padilha trepado no Suplicy é ainda mais sintomático da decadência petista por acontecer no estado de maior peso econômico do país e de maior eleitorado, além de ser o lugar onde está concentrada a parte mais importante da liderança petista e também de seus intelectuais e a militância mais qualificada. Se neste lugar o que o PT tem a apresentar numa campanha eleitoral é essa lamentável “ação política”, dá para imaginar a quantas anda a tal da forma de fazer política do PT, autoelogiada pela militância pelo país afora como uma novidade que viria renovar definitivamente o Brasil.

Padilha e o performático Suplicy criaram o logotipo ideal para o PT. A marca pode até substituir a notória estrelinha vermelha, que já deu o que tinha que dar de lucro. E como deu. A cena de um petista carregando outro nas costas simboliza com perfeição o padrão político estabelecido no partido nesses anos de poder. Montados um no outro, às vezes em revezamento conforme exige a oportunidade, os companheiros vão se aguentando no poder, nessa estratégia de evitar a qualquer preço desocupar o lugar.

O recurso é inclusive solidário, porque em certas ocasiões é preciso carregar um companheiro até a porta de uma penitenciária. E acontece até de aliados de outros partidos subirem nos petistas, como costumam fazer Paulo Maluf, Renan Calheiros, José Sarney e outros cavaleiros cujas pernas já adquiriram até o contorno do dorso petista. O PT encontrou afinal o emblema de seu caminho político: monta aí, companheiro, sem medo de ser feliz. E também de ser ridículo.
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POR José Pires

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