domingo, 28 de setembro de 2014

Jornalismo de um lado só

O Sindicato dos Jornalistas de São Paulo publicou uma notícia nesta sexta-feira em seu site que mostra o nível de comprometimento político que tem havido nesta eleição da parte de várias instituições que, por obrigação, deveriam ter um comportamento da maior imparcialidade. O comprometimento da maioria dos sindicatos do país é com a candidatura oficial, a mais poderosa economicamente e que tem a máquina pública. Um sindicato de jornalistas tinha que esta bem longe desse engajamento, porque isso toca diretamente num aspecto técnico e ético da profissão. Mas infelizmente nossos sindicatos acabaram se engajando na luta pelo poder, em prejuízo da nossa própria profissão.

A notícia do site do sindicato que representa os jornalistas do estado de São Paulo é sobre um incidente de campanha que aconteceu numa caminhada dos candidatos Aécio Neves e Geraldo Alckmin, em Taboão da Serra. O fotógrafo André Penner foi agredido e teve seu equipamento roubado, no meio de uma confusão que não foi bem esclarecida. O equipamento de Penner foi recuperado e restituído a ele logo após o tumulto.

Logo após o incidente os responsáveis pela campanha de Aécio Neves esclareceram que não houve a contratação de seguranças para o evento. A segurança do candidato foi feita por policiais federais. O editor de imagens da campanha de Aécio Neves também foi agredido durante o evento. A coligação de Aécio Neves divulgou uma nota com estas informações, que saiu na íntegra em vários sites.

Menos no Sindicato dos Jornalistas de São Paulo. Seu site não traz nenhuma das informações acima. O sindicato publicou um texto que induz o leitor a ver na agressão ao fotógrafo uma responsabilidade da campanha do tucano. Já começa pelo título (que pode ser visto na imagem), que é muito bom para ser repassado em rede social como material contra os tucanos. E é o que vem sendo feito. Num trecho da matéria do site do sindicato tem até uma informação que não está em nenhum outro lugar. Vou transcrever na íntegra: "Penner, que registrou boletim de ocorrência, identificou pessoas com camisas do PSDB, que agiam como seguranças, como os responsáveis pela agressão".

Além de não estar em nenhum outro lugar, esta informação de que o fotógrafo "identificou pessoas com camisas do PSDB" como seus agressores se choca com a nota da coligação do candidato do PSDB. Como obrigação profissional, o sindicato teria ao menos de publicar a versão da campanha do tucano. O site da Folha de S. Paulo informa que o fotógrafo foi defendido da agressão por militantes tucanos. O jornal esclarece também que não aconteceu nada de grave com o profissional. Nada disso saiu no site do sindicato. Fica apenas a versão de agressores "com camisas do PSDB".

Tudo isso estava disponível em vários sites pouco tempo depois do incidente em Taboão da Serra, no entanto nada saiu no site do Sindicato dos Jornalistas. Ao contrário do que seria seu dever, o sindicato publicou um texto parcial, que já está sendo repassado na forma de ataque a um candidato da oposição numa eleição de extrema importância. Como órgão representativo da categoria dos jornalistas sua obrigação seria de publicar um texto bem aprofundado sobre o acontecimento, com todas as versões.

Mas o Sindicato dos Jornalistas de São Paulo fez o contrário disso e não foi por descuido. Já faz tempo que esse e outros tantos sindicatos pelo país afora transformaram-se em instrumentos do poder neste longo período de governo do PT. Militei no Sindicato dos Jornalistas de São Paulo em anos difíceis da ditadura militar, quando os jornalistas enfrentaram situações muito pesadas, como foi o assassinato de Vladmir Herzog, em 1975. A ideia então era a de um sindicato aberto ao debate com a sociedade e firme na construção de uma sociedade democrática. E claro que nessa batalha dura atuavam com coragem e dignidade muita gente da esquerda. É até irônico que hoje em dia essa mesma esquerda esteja desconstruindo, no poder, o caminho democrático que começamos a fazer lá atrás.
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POR José Pires

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