sábado, 18 de outubro de 2014

Nas mãos do marqueteiro

O PT perdeu-se tanto nos esquemas marqueteiros que vem cometendo desatinos que até políticos menos experientes sabem que é preciso evitar. É claro que não estou falando da própria candidata, que é tão desqualificada em tantos assuntos que acho que, se for honesto, até um petista se diminui defendendo uma figura inexpressiva dessas num partido pelo qual passou tanta gente brilhante. Acontece que a cúpula partidária foi pouco a pouco destruindo os bons quadros do partido. O que ficou no PT são paus mandados dos articuladores do grupo restrito que hoje dá as ordens. Mas apesar de agora o padrão moral ser bem baixo, eles não deixam de ser muito experientes, com décadas de política nas costas.

Mas estão todos presos a um marqueteiro, o que também mostra que perderam a mão. Todo marqueteiro só é um gênio quando tudo o mais vai bem. Basta dar uma olhada nesta eleição e observar o estrago que foi a campanha de Paulo Skaf comandada por Duda Mendonça, ele mesmo, o marqueteiro que dizem que foi um gênio na primeira vitória de Lula. Pois a campanha de Skaf para o governo paulista foi um fiasco. Mas o Duda Mendonça piorou? Nada disso, sua condição profissional é da mesma qualidade e com certeza ele acrescentou ao seu conhecimento técnico muita coisa nova. Mas acontece que tudo o mais não foi bem na campanha de Skaf, então o Duda Mendonça não foi um gênio.

Está acontecendo algo parecido na campanha de Dilma e isso dá pra ver nos debates, quando no intervalo o marqueteiro João Santana corre até a candidata para dar instruções. É muita confiança num publicitário, não é mesmo? O PT não aprendeu essa: quando as coisas não vão bem, de forma alguma o marqueteiro deve ser tratado como um gênio. O tempo encurtou demais, mas ainda dá para aprender um pouco observando o candidato Aécio Neves nos mesmos debates em que Dilma dá vexame. Você sabe quem é o marqueteiro do Aécio? Pouca gente sabe. Não vou falar para não estragar essa excelente qualidade do marqueteiro do tucano, que é também um sinal de capacidade política no entorno do candidato. Quando o marqueteiro de uma campanha é praticamente desconhecido, isso é um sinal de que por lá tem gente fazendo política, uma ferramenta que nenhum marqueteiro domina.

Existe uma regra básica em qualquer debate, mesmo que seja na disputa da associação de um bairro chinfrim, que é a de jamais trazer uma questão que pode ser usada pelo adversário. Dessa forma, quem tem um irmão em cargo comissionado de prefeitura de um colega antigo deve evitar o tema nepotismo. Teste de bafômetro também é um tema perigoso se no seu partido existe um famoso cachaceiro. Muito cuidado também para falar de mulher, se a esposa do chefão do seu partido acabou de passar por uma humilhação pública com a descoberta das falcatruas de uma amante em um alto cargo dado por ele. Vou ficar só nesses exemplos, mas a abertura de espaços pro adversário pode ser vista em quase todas as questões que Dilma trouxe no último debate. Questionamentos muito pesados — como o do bafômetro, que já citei — exigem também uma avaliação sobre a personalidade do adversário. O efeito de um bom contra-ataque é sempre relativo e às vezes superior ao tamanho da pancada que propiciou a reação.

A gente sabe que a presidente Dilma está cercada de homens covardes, sem a dignidade inclusive profissional de expor com franqueza suas opiniões. Então, antes de um marqueteiro explorar a agressiva personalidade da candidata cabe analisar com prudência se o adversário é também um banana. E deixo bem claro que não estou fazendo do marqueteiro do PT um bode expiatório do desastre que vem sendo as atuações de Dilma. É uma questão de habilidades próprias, que um bom político adquire com a experiência e raramente um marqueteiro consegue ter, até porque não é sua função. Todo marqueteiro tem sempre uma ideia genial para resolver um problema, isso é função deles. Um jingle bacana, mudança nos cabelos, uma olhada esperta para a câmera, tudo isso e um pouco mais são coisas importantes numa campanha. Mas nada dessas criações funciona bem se não tiver em volta gente fazendo política e atuando em conjunto com que o marqueteiro faz. E às vezes é preciso até, com todo o respeito, mandá-lo enfiar uma ou outra ideia genial naquele lugar. O lixo, é claro. Me parece que é isso que está faltando em torno de Dilma: política. Ah, e não adianta chamar o Lula, viu? Ele também virou marqueteiro.
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POR José Pires

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