sexta-feira, 7 de novembro de 2014

Dando os nomes

Os depoimentos de Paulo Roberto da Costa e do doleiro Alberto Yousseff trouxeram uma curiosidade que remete a memória à histórias políticas do passado acontecidas em Londrina, no Paraná. São fatos de peso nacional, apesar de ser com a prefeitura local a relação direta desta corrupção. Foi em Londrina que o grupo do ministro das Comunicações, Paulo Bernardo, começou sua irresistível ascensão ao poder. Foi entre eleitores da cidade e região que este ministro muito chegado a Lula (o ministério no governo Dilma já é o terceiro dele) colheu votos para se eleger deputado e depois repassou sua base eleitoral para o deputado André Vargas. A carreira dos dois foi sempre escorada no Sindicato dos Bancários local, entidade que está nas mãos do mesmo grupo há mais de trinta anos e que confunde-se com o PT da mesma forma que muitos sindicatos cutistas do país. Antes da queda, o deputado André Vargas até fazia reuniões políticas de seu mandato na sede do sindicato. Também em Londrina, a esposa de Bernardo, senadora Gleisi Hoffmann, hoje senadora, deu passos importantes como secretária municipal na administração petista que houve na cidade.

Nos depoimentos dos dois acusados no escândalo da Petrobras, em acordo de delação premiada, apareceu uma sigla: "PB". O ex-diretor Paulo Roberto da Costa contou que fez a anotação em sua agenda pessoal para identificar o ministro Paulo Bernardo, que na época era ministro de Planejamento do governo Lula. Segundo reportagem publicada pelo Estadão, ele foi muito claro no depoimento: a anotação significa "Paulo Bernardo, R$ 1 milhão". A agenda foi apreendida pela PF na Operação Lava Jato. Costa afirmou no depoimento ao Ministério Público que recebeu um pedido do doleiro Yousseff para "ajudar na candidatura" de Gleisi. E deu R$ 1 milhão. Tudo isso foi confirmado pelo doleiro, também em delação premiada.

O interessante deste "PB" anotado pelo ex-diretor da estatal é que muitos anos antes uma mesma anotação apareceu na agenda de alguém também denunciado por corrupção pelo Ministério Público, em Londrina. A sigla foi descoberta numa agenda apreendida da mesma forma, pela polícia, no caso Ama/Comurb, escândalo de corrupção na Prefeitura londrinense, que resultou na cassação do prefeito Antonio Belinati, em junho de 2000. Coincidentemente, o caso teve como réus o doleiro Alberto Yousseff, além de André Vargas, na época em início de carreira. Outro nome graúdo nesta ação do MP era o do então deputado José Janene, que morreu em 2010, antes de ser julgado como mensaleiro pelo STF. Janene sempre foi um aliado forte de Belinati e depois se viu que era muito próximo do PT. Em Londrina, o partido de Lula havia feito dobradinha eleitoral com o filho do prefeito cassado e Vargas foi acusado de receber R$ 10 mil de Zavierucha, tesoureiro de campanha. O dinheiro seria para a campanha eleitoral à reeleição como deputado federal do agora ministro Paulo Bernardo. Vargas foi condenado a devolver à Justiça os R$ 10 mil que recebeu. E Paulo Bernardo foi excluído da ação, depois de denunciado.

O esclarecimento oficial do escandaloso Caso Ama/Comurb segue na lentidão dos trâmites da justiça brasileira, mas ficou muita coisa na memória coletiva paranaense, sendo um ponto de honra até hoje a combatividade cívica contra a corrupção, que foi liderada pelo movimento "Pé Vermelho! Mãos Limpas!", envolvendo de forma muito bonita a cidade na defesa do bem comum. O prefeito não só foi cassado, como isso marcou também Londrina como um lugar onde a população briga pela ética. Desse bom combate ficaram também muitas lembranças, como esta menção ao dinheiro destinado ao tal 'PB" há 14 anos, na caderneta do tesoureiro do prefeito cassado. Até hoje isso é muito comentado como um detalhe pitoresco da política londrinense, com as pessoas evidentemente fazendo a relação desde aqueles tempos com a única personalidade política local cujo nome se encaixava nas iniciais. E eis que surge novamente o "PB", escrita agora por outras mãos, desta vez de uma pessoa envolvida num monumental escândalo nacional.
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POR José Pires

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