quarta-feira, 10 de dezembro de 2014

Um cassado cheio de segredos

O PT lutou até o final para salvar o mandato do deputado André Vargas, mas ele acabou sendo cassado por falta de decoro na tarde desta quarta-feira. O deputado José Mentor (PT-SP) ainda tentou pela manhã adiar a votação e mandar o caso para a próxima semana, o que poderia salvar Vargas, mas a manobra foi desmontada pela oposição, que pressionou para que fosse feita durante a tarde a sessão que decidiu pela cassação.

André Vargas está cassado e inelegível pelos próximos oito anos. Agora ele deve desaparecer de circulação e irá com certeza lutar nos bastidores para que o partido não o desampare. E não será por compaixão que o PT lhe dará uma mão para manter-se nesses próximos oito anos, um período bastante longo numa carreira política. A sobrevida de Vargas dependerá de seu poder como arquivo vivo. E ele deve ter muitos segredos guardados, senão o partido não teria se esforçado tanto em sua defesa, até neste momento final.

Antes de cair em desgraça por causa da descoberta pela Polícia Federal da sua parceria com o doleiro Alberto Yousseff, o deputado cassado era um dos políticos de maior prestígio no PT. O nome de Vargas apareceu na investigação da Operação Lava Jato quando ele ocupava a primeira-vice-presidência da Câmara e certamente não estava neste cargo em razão de alguma alta capacidade política dele próprio. Sem a sustentação do grupo comandado pelo ministro Bernardo e que tem Lula como chefe, o deputado cassado seria mais um político do baixo clero. Isso se conseguisse ser eleito sem o poder econômico e político que vem de muito acima. Vargas nunca fez nada sozinho e isso nem seria possível, já que suas interferências políticas favoráveis aos negócios do doleiro exigiriam com certeza no mínimo o consentimento de poderes maiores.

Vargas é o tipo de político que sempre atuou obedecendo ordens de cima. Tem sido assim desde o início de sua carreira em Londrina, no Paraná. Ele teve uma ascensão bastante rápida, com sua eleição para deputado federal apoiada no poder do grupo chefiado pelo ministro Paulo Bernardo, hoje na pasta de Comunicação e ministro do Planejamento também nos dois mandatos anteriores de Lula. Bernardo é homem de confiança de Lula, assim como Vargas sempre foi muito chegado ao ministro. Elegeu-se ocupando o espaço político deixado por Bernardo no Paraná e quando foi acusado pela Polícia Federal de ser sócio em negócios ilícitos do doleiro Yousseff estava chefiando a campanha de Gleisi Hoffmann para o governo do Paraná. Além de eleger Gleisi, que é mulher do ministro, o grupo pretendia eleger Vargas para o Senado.

O ministro Gilberto Carvalho, também muito próximo de Lula, é outro maioral petista que sempre deu também a maior força para Vargas. Carvalho é de Londrina, por coincidência a mesma cidade em que há muitos anos o deputado cassado fez amizade como o doleiro preso, que agora está soltando muita informação para a polícia em sua delação premiada. É muita autoridade petista em volta de um deputado cassado não é mesmo? Com tão proveitosas relações, Vargas deve ter aprendido bastante nesses anos todos, enquanto subia na vida eixes raúdos do partido do Lula. Tudo indica que depois de saber de tanta coisa útil neste convívio tão tarimbados companheiros ele não vai morrer pela boca.
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POR José Pires

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