terça-feira, 26 de maio de 2015

Radicalizando

Já no início da revolução comunista na Rússia, seu líder Vladmir Lenin identificou um tipo de ação política que ele viu como um perigo para a estratégia internacional do comunismo e sobre isso escreveu um de seus livros mais conhecidos, ao qual deu um nome que tornou-se a denominação dessa atitude que ele condenava como um grave desvio ideológico: "Esquerdismo, doença infantil do comunismo". Esse problema vinha dos setores mais radicais do movimento comunista internacional, que logo passaram a ser vistos em todo o mundo dessa forma negativa, como Lenin queria. Com o tempo, o termo "doença infantil do comunismo" virou um chavão na condenação de quem saia da linha do partido.

A "doença" foi até pretexto para expurgos e execuções, tanto em países de regimes comunistas, como também entre a esquerda de lugares onde o comunismo nunca vingou. Porém, não é só o comunismo que sofre com uma doença infantil que atrapalha estratégias e até acaba favorecendo o adversário. No conservadorismo também tem disso, como já deu pra notar nos movimentos de massa que foram às ruas pedindo o impeachment da presidente Dilma Rousseff. O governo do PT deve agradecimento ao que foi feito por uma parcela dessa militância conservadora que tem uma complicação parecida com aquela diagnosticada por Lenin, só que neste caso com sintomas à direita. Dá pra chamar o problema de "Direitismo, doença infantil do conservadorismo". Quando dá febre no doente, ele até grita pela volta do regime militar.

Essa doença vem se manifestando de forma agressiva no Movimento Brasil Livre, que está fazendo uma marcha pelo impeachment até Brasília, com a chegada prevista para esta quarta-feira. Até agora não entendi o sentido dessa caminhada. Um pouco mais de uma dezena de jovens estão andando pelo acostamento de rodovias, sem sequer uma pauta política consistente que tenha relação com as cidades que estão pelo caminho. Na página de Facebook do grupo não se viu nenhum post que trouxesse boas informações sobre o que eles estão fazendo e também no site deles nada apareceu de qualidade sobre essa longa passeata. O que surgiu nos últimos dias foram ataques pesados ao senador Aécio Neves, depois que o PSDB resolveu optar por uma ação penal contra Dilma em vez do pedido de impeachment.

A resolução desagradou ao Movimento Brasil Livre, que partiu para o ataque ao candidato tucano que disputou o segundo turno com a candidata do PT. De tão pesados, os ataques chegam a lembrar os dos petistas, quando a militância governista apelava até para acusações de uso de cocaína. É interessante, porque os jovens conservadores que seguem agora contrariados para Brasília estão fazendo à direita a mesma coisa que Lenin condenava em alguns camaradas do seu lado. Com esse tipo de ataque, o Movimento Brasil Livre mostra inclusive que não tem estratégia alguma nem para estruturar suas pretensões. Onde pensam chegar com essa conversa de "Aécio traiu o Brasil"? Não é possível que pensem em derrubar Dilma só com o deputado Bolsonaro e o senador Ronaldo Caiado. Não será batendo na oposição desse jeito que sairá um impeachment, já que para isso é indispensável o entendimento não só com o PSDB de Aécio Neves como também com os demais partidos que compõem a oposição e que certamente não se arriscarão a apoiar molecagens. Essa contradição muito simples já serve para mostrar o sintoma de doença infantil desse grupo sem estratégia alguma, a não ser a de bater o pé quando contrariados. Mas pelo menos agora sabemos qual é a grande argumentação deles para a interrupção do governo de Dilma. Eles querem o impeachment porque querem, ora bolas.
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POR José Pires

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