sábado, 3 de outubro de 2015

Ciência na lona

Em paralelo com a demissão humilhante do ministro da Educação do governo que se auto-intitula "Pátria Educadora", a revista “Nature” publicou uma reportagem sobre a grave situação da ciência em nosso país. Sabe-se que em todos os setores o Brasil vai se tornando um país de segunda linha, mas nenhum outro é tão definidor do padrão de qualidade de uma nação.  A “Nature” fala em uma paralisação da pesquisa científica no Brasil. A situação da ciência, junto com o ensino superior e a educação básica, servem de referência para a previsão do quem vem por aí. E é óbvio que assim não virá nada de bom. Um país pode até ter seu PIB lá no alto, mas sem qualidade na área científica não se pode ser grande coisa hoje em dia.
É preciso lembrar que o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação estava até agora com Aldo Rabelo, um chefe político importante do PCdoB, partido bastante conhecido por suas fortes relações políticas e culturais com a Coréia do Norte. O nível é esse. Ainda falando em categoria de pensamento, na década de 70 gente como Rabelo achava que um grande salto civilizatório nacional seria transformar o Brasil numa Albânia comunista. A Nature não dá essa referência da sumidade nomeada por Dilma para um ministério que deveria ser um dos mais importantes na atualidade e com sintonia total com o pensamento científico, mas serve como cota de partido nanico de esquerda com uma identidade política amalucada. Rabelo, diz a “Nature”, está tentando obter um empréstimo de 2 bilhões de dólares junto ao Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) para amenizar a penúria do setor. Outras fontes dizem que o empréstico é maior, de U$ 2,5 bilhões, e precisa da autorização do Ministério do Planejamento e do Congresso Nacional. A pasta da ciência e tecnologia sempre teve orçamento minguado, mas mesmo assim sofreu um corte pesado. No orçamento de 2016 o corte é de 24%, segundo a revista.
Que numa situação de crise o governo opte por mais cortes no financiamento à ciência e tecnologia é uma demonstração não só de visão estratégica como serve também de previsão do resultado dessa interferência governamental. É claro que desse jeito a situação do país tende a piorar. A “Nature” informa também que o ministro está tentando assegurar recursos do Pré-Sal que ainda não caíram no caixa da pasta. Pois é, o governo do PT precisa ser convencido até que na área do petróleo é necessário investimento em ciência e inovação. Assim é difícil. Lembro que recentemente Suzana Herculano-Houezel, neurocientista brasileira de respeito internacional, foi notícia quando deu um alerta sobre a precariedade em que anda a pesquisa científica. Ela havia paralisado as atividades de seu laboratório na UFRJ depois de cansar de colocar dinheiro do próprio bolso para poder trabalhar. Segundo ela, a ciência no Brasil é feita em "condições miseráveis". O CNPQ deixa de liberar dinheiro até para projetos já aprovados.
O  descaso com a ciência em nossa terra vem de longo tempo e para mim tem seu ponto simbólico no acidente ocorrido na Base de Lançamentos de Alcântara, no Maranhão. 21 pessoas morreram na explosão em setembro de 2003 do Veículo Lançador de Satélites (VLS 01). A tragédia extraiu do então presidente Lula uma de suas tantas frases idiotas. "Há males que vêm pra bem", ele falou, assinalando que a explosão "ao invés de prejudicar, pode estimular os avanços do conhecimento tecnológico". Este já era o Lula, ainda no primeiro ano de seu governo, começando o ciclo político desastroso que continua até hoje. O país optara por eleger um tipo folgazão para a presidência da República. Espero que isso não seja um caráter nacional. Como estamos vendo, o preço é alto.
A explosão de Alcântara foi um divisor de águas só de governos. O descaso com a ciência e tecnologia se manteve e até piorou. No governo anterior, de um presidente com larga relação histórica com a área intelectual, o tucano Fernando Henrique Cardoso, a situação já era muito ruim e a atenção governamental ao setor não teve diferença de qualidade de governos anteriores. Pode-se dizer que Alcântara explodiu nas mãos de Lula, mas assim como todo a dramática situação da ciência no país, a tragédia já vinha sendo construída pelos tucanos. No tratamento do Estado à ciência e tecnologia a imagem da "herança maldita" serve como referência a todos os governos, que vão passando a herança uns para os outros. A diferença é que com o tempo a herança vai ficando cada vez mais maldita.
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POR José Pires

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