segunda-feira, 9 de novembro de 2015

O perigo de ser brasileiro

É brutal o rescaldo do rompimento das barragens da mineradora Samarco, em Minas Gerais. O desastre já é considerado o maior desastre ambiental de Minas e está entre os maiores do Brasil. E tem também as perdas em patrimônio e em vidas humanas. As imagens da destruição são de doer o coração. Não deve ser fácil suportar diretamente o sofrimento de uma tragédia desse porte, quando sabemos que até objetos que nos pertencem guardam valores que não são apenas os materiais. Já foram confirmadas duas mortes e 25 pessoas continuam desaparecidas, mas o próprio governador do estado, Fernando Pimentel, teve o realismo de dizer que é difícil os trabalhadores da barragem serem encontrados com vida. São 13 funcionários que sumiram depois de arrebentadas as barragens do Fundão e de Santarém, com o despejamento de 62 milhões de metros cúbicos de água e rejeito de minério, formando uma avalanche de lama tóxica que avançou quilômetros atingindo vários municípios.
O derramamento de lama e sujeira chegou a 15 metros de altura. Das 180 casas do distrito de Bento Rodrigues, em Mariana, foram destruídas 158. Apenas 22 residências ficaram de pé depois que a lama baixou, espalhando-se a seguir pela região. As perdas são inclusive de patrimônio histórico. A região é de grande importância histórica para o país. Mariana foi a primeira capital mineira, fazendo divisa com Ouro Preto. No mesmo distrito de Bento Rodrigues uma igreja do século XVIII desapareceu sob a lama. Outros bens culturais também foram seriamente atingidos. E toda a localidade ainda deverá conviver durante muito tempo com problemas criados pela lama, que por ser tóxica deve afetar a produtividade do solo e os recursos hídricos de um extenso território. A agricultura pode sofrer danos durante anos. Para se ter uma ideia da dimensão do estrago, a lama e rejeitos soterraram o rio Doce à distância de cerca de 100 quilômetros das barragens destruídas. Os rejeitos levados pelas águas ainda vão alcançar Espírito Santo, onde estão chegando nesta segunda feira.
O desastre que afetou Minas Gerais traz outra grande preocupação sobre barragens, além dos problemas geográficos, ambientais e até étnicos que já se sabe que são causados por sua construção. Elas também podem se romper. É claro que não estou querendo transferir de imediato para barragens em todo o país os riscos que levaram à tragédia mineira. Mas só se vive com tranquilidade quando existe confiança. E alguém pode confiar na segurança das barragens feitas no Brasil depois de saber com o estouro do escândalo do petrolão como é que se comportam os dirigentes das maiores empreiteiras do país? E também é vasta a experiência dos brasileiros quanto ao funcionamento das instituições nacionais responsáveis pela prevenção e atendimento a acontecimentos como este de Minas, desde o funcionário de carreira até os nossos representantes eleitos, como governadores, prefeitos e as autoridades federais. Passado o susto e a dor, por mais grave que tenha sido o problema nós sabemos que o comportamento nacional é o de deixá-lo para trás, sem que haja uma aplicação séria das autoridades no trabalho de resolver as causas e atuar com rigor sobre as consequências. É por isso mesmo que tragédias se repetem todos os anos. Não sei até quando essa atitude vai prevalecer, mas até o país tomar jeito a melhor prevenção neste caso é não ficar na frente de barragem alguma.
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POR José Pires

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Imagem- A lama tóxica deixa suas marcas em Barra Longa, depois de passar por Mariana. Foto de Antonio Cruz/Agência Brasil.

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