sexta-feira, 16 de janeiro de 2015


Invertendo tudo

O maior problema nem é a cretinice de acharem que jornalistas merecem ser metralhados por causa dos cartuns que publicavam. O duro mesmo é aguentar gente dizendo que é preciso respeitar as motivações dos bandidos que massacraram a redação do "Charlie Hedbo".
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POR José Pires

Resistência nas bancas da França

Foto retirada do site da revista americana Newsweek, que recentemente deixou de ser impressa para ter uma edição apenas digital, além do site, que é muito bom. Já baixei a última edição, que tem uma ótima cobertura dos acontecimentos posteriores ao ataque terrorista islâmico à redação do "Charlie Hebdo". O terror continua, agora com ciberataques. Segundo a Newsweek, desde o massacre dos jornalistas os sites franceses tiveram um forte aumento de ataques de hackers. Informações colhidas pela revista junto a um funcionário de um organismo francês de defesa cibernética dão conta até agora de 19.000 ciberataques. A imagem mostra a vida seguindo em relativa normalidade na capital francesa, enquanto o "Charlie Hebdo" vai sendo lido pelos franceses. Estranhos tempos esses em que um jornal numa banca é um ato de resistência para que seres enlouquecidos por uma religião não sangrem a liberdade.
A revista traz uma extensa matéria com o desenhista Ralph Steadman, cartunista inglês da velha geração (nasceu em 1936), um dos mestres da caricatura mundial, de um traço extremamente forte e uma expressão política também bastante radical. Steadman fala sobre o ataque aos colegas franceses e a necessidade da permanência do humor de espírito mais crítico, como também é o dele. De uma habilidade admirável no desenho, Steadman teve uma parceria criativa das melhores com Hunter S. Thompson, o jornalista que criou o estilo "gonzo" de escrever reportagens. Com o cartunista desenhando nos próprios locais das matérias, Thompson escrevendo, e os dois trocando ideias, eles fizeram juntos reportagens memoráveis. O jornalista suicidou-se em 2005. Que maravilha seria poder ler um texto dele sobre o que vem acontecendo agora no mundo.
Chega a ser uma ironia o uso de uma tecnologia avançadíssima pelos elementos mais atrasados de uma religião que no Terceiro Milênio ainda tem um comportamento primitivo. O terrorismo islâmico despreza os valores ocidentais, mas não tem vergonha de usar suas conquistas tecnológicas e culturais para o plano de destruição desses mesmos valores e a imposição da intolerância como norma de conduta até para quem não segue as chamadas "leis de Maomé". Fazem um uso absurdo da própria democracia, que tem servido para seu avanço e, como se viu na França, para a prática dos piores crimes. Os espanhóis tem um bom ditado para isso: "Cria cuervos y te sacan los ojos". Tomara que essa tremenda violência contra a liberdade de expressão e a democracia tenha servido para abrir os olhos. É preciso parar com tanta criação de corvos.
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POR José Pires

Cultura da grosseria

Sei que o nível do debate proposto pelas lideranças do PT é sempre muito baixo e as argumentações vão ainda mais à sarjeta quando a missão é a destruição de um companheiro que tenta algo que está fora do interesse dos comandantes do partido, mas Juca Ferreira – o ministro recém-nomeado para a Cultura – excede até a lamentável falta de respeito que é uma marca partidária. E um golpe baixo vindo de um ministro da Cultura até que vale um pouco mais de atenção.
Agora ele veio com esta conversa de que levou uma "bolsada de Louis Vuitton" da senadora Marta Suplicy. Todos sabem que não me guio pelo politicamente correto, mas aí é tentiva de fugir do assunto com gracinhas. É preconceito tolo e sem graça. Ainda que a bolsa citada seja cara, o que o ministro está fazendo é tentar diminuir Marta em razão de um hábito que é de todo o mulherio. Sabe aquele negócio do machão fugir da conversa dizendo que levou uma bolsada da mulher que trouxe um assunto que o incomoda? Foi isso que fez o ministro da Cultura escolhido por Dilma Rousseff.
Quando era braço-direito do então ministro Gilberto Gil, esse sujeito já havia feito uma grosseria de um nível parecido com o grande poeta Ferreira Gullar. Na época, Gullar publicou na "Folha de S. Paulo" um artigo bem fundamentado com críticas ao ministério e Ferreira saiu à público com xingamentos. Disse que Gullar é "stalinista", algo que o poeta nunca foi. Gullar é inclusive um dos poucos ex-comunistas que faz uma crítica firme à postura histórica da esquerda brasileira, inclusive dos comunistas e seus inumeráveis crimes nos países em que conquistaram o poder.
Mas o Juca Ferreira é assim. Depois ele virou ministro, quando seu chefe Gilberto Gil largou a pasta e foi cuidar melhor do que realmente sabe fazer, a música. Agora, na sua volta, Ferreira mostra que mantém o hábito de usar grosserias para desviar a atenção da opinião pública aquilo realmente interessa. Marta Suplicy foi muito clara sobre o que pensa dele. Ele praticou "desmandos", quando foi ministro da Cultura antes dela. E a senadora já informou que levou as denúncias ao Ministério Público. E vem ele agora com essa conversa de que levou "bolsada de Louis Vuitton". Nada disso, a bolsa é outra. O que houve foi a acusação de que ele meteu a mão na bolsa pública.
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POR José Pires

Saiu o "Charlie Hebdo" histórico

A edição histórica do jornal francês "Charlie Hebdo" já está na mão. Achei o conteúdo bastante fraco. Estou falando de uma visão editorial geral, especialmente nos cartuns. Os textos terei de ler bem devagar, ainda mais que estou sem tempo. Só leio francês com um certo esforço, com dicionário ao lado – e olhe lá. Mas na área do cartum não há nada de novo, muito menos com impacto.
O bom é que esta edição está vendendo mais que cassoulet quente. A tiragem aumentou para 5 milhões. Isso deve permitir a manutenção futura do jornal por um bom tempo. Com o ataque criminoso e covarde dos terroristas islâmicos, a sobrevivência do "Charlie Hebdo" virou uma questão de honra para os que defendem a liberdade de expressão. E é muito provável que a publicação cresça muito em qualidade, ampliando seu projeto editorial. Nesse momento dá para entender a dificuldade de fazer algo melhor.
Por ora não deve estar fácil tocar nem a própria vida para os que estão mais próximos da tragédia. No Brasil nós nunca tivemos nada parecido ao que aconteceu com o "Charlie Hebdo", mas a situação lembra as pressões que a imprensa alternativa sofria na época da ditadura militar. Colaborei com vários desses bravos jornais e trabalhei durante toda a existência do semanário "Movimento", que foi de 1975 a 1980, a maior parte desses anos sob censura prévia. No "Movimento" tínhamos que produzir ao menos três edições inteiras para que sobrasse uma para ir às bancas depois da censura do governo militar vetar a maioria do material. Não era fácil no dia em que textos, fotos e desenhos voltavam de Brasília ver as melhores coisas com o xis de uma caneta grossa por cima. A morte do jornal veio desse esgotamento, que dava inclusive um alto custo financeiro.
Das pressões sofridas naquele tempo a pior foi contra a criativa redação do "Ex", onde também publiquei e que tinha um pessoal que eu gostava muito. A corajosa edição sobre a morte do jornalista Vladimir Herzog foi proibida e recolhida nas bancas pela polícia, além do jornal ser obrigado a se submeter à censura prévia. E sob censura era impossível fazer algo como o “Ex”. Tiveram que fechar o jornal e desistir de fazer outro quando foram ameaçados na própria redação de maiores violências. E isso aconteceu exatamente quando o "Ex" começava a melhorar muito editorialmente e a crescer bastante em vendas. Ali fechou-se a possibilidade do Brasil ter uma criativa publicação. Repito que é óbvio que é bem menos do que aconteceu na França, mas na época foi uma decretação de morte para o espírito criativo.
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POR José Pires

A edição do “Charlie Hebdo” está no link abaixo, em PDF
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A hora e a vez de Marta Suplicy

O PT acostumou-se tanto a difamar quem pensa o contrário do que interessa ao partido que essa atitude tornou-se uma prática também autofágica. O petista sangra na própria carne, procurando matar os seus. E para isso nem é preciso uma justificativa muito séria, de traição aos ideais do partido ou alianças com o inimigo. Nada disso. Basta uma palavrinha, qualquer divergência de ocasião que desagrade o comando do partido, para que um companheiro comece a ser tratado feito o demônio. É o que está acontecendo agora com a senadora Marta Suplicy. O ministro da Cultura recentemente nomeado, Juca Ferreira, anda dizendo que levou uma “bolsada de Louis Vuitton”. É uma ironia com a senadora, que foi ministra da mesma pasta. Porém, ele não levou “bolsada”, coisa nenhuma. O que Marta afirmou foi na verdade a mesma coisa de dizer que ele é ladrão. Ela fez críticas pesadas à gestão anterior dele e disse que já encaminhou as denúncias ao Ministério Público. E agora temos o novo ministro do governo do PT tratando Marta como uma inimiga. A fala dele é boba, pois na prática está acusando Marta de algo que é natural na vida dela. Sempre foi rica e até onde sabemos não foi metendo a mão nos cofres públicos.
Marta Suplicy foi fundadora do PT e deu um apoio naquela época ao Lula como nenhuma outra pessoa fez. Até uísque do bom com certeza Lula deve ter começado a aprender a provar nas reuniões na casa da milionária paulista. E não digo isso para desqualificar Marta, como os petistas começaram a fazer agora, mas para situar o luxo que era poder comprar um uísque bom naqueles anos 80. Mais barato, só de contrabando. Mas além da satisfação ao alcoolismo do Lula, Marta teve uma influência na concepção do então nascituro PT para tirar o rótulo de partido apenas dos mais pobres. Foi com gente como ela que o PT ganhou vigor entre a classe-média, no meio acadêmico e entre os formadores de opinião. Veja na imagem a hora do cafezinho na casa dos Suplicy, em 1985, e repare nos copos de bebida que demonstra a qualidade dos bons anfitriões.
Antes do PT, Marta foi uma figura importante na cultura brasileira, com suas intervenções bastante avançadas na área do comportamento, uma ousadia que teve inclusive na televisão e que exigia coragem numa época em que bravateiros sexuais como Jean Wyllis não tinham idade nem para fazer troca-troca. Mas ela perdeu-se a partir do momento em que entrou de cabeça na vida partidária, passando inclusive a disputar eleições, elegendo-se deputada e logo depois ocupando o cargo mais importante na sua carreira política, como prefeita de São Paulo. A própria eleição de Marta como prefeita foi um fenômeno político importante, independente do que se pense dela.
Sua administração trouxe uma diferença política que poderia ter sido incorporada ao PT como um elemento forte do partido na questão das cidades brasileiras, especialmente naquelas em que vão se avolumando tragédias, as cidades médias e grandes. Se sou contra ou a favor é outra coisa. Tenho que apontar a história. Existe alguma outra administração que seja uma marca política eficiente para o PT? Eu duvido. Mas o interesse de um grupo forte no partido era o de bombardear Marta. A partir do momento em que seu nome cresceu na administração da capital paulista, o chefão Lula já começou a bolar rasteiras para derrubá-la e fez isso com a competência ímpar dele em patifarias. Não dá para saber ainda que imagem Lula terá numa análise futura da história política brasileira, mas dificilmente alguém toma dele o troféu de maior patife, com sacanagens cometidas em especial contra seus próprios companheiros. De vez em quando eu rio quando leio que Lula e Marta fizeram uma combinação para atacar Dilma. Bem, isso é coisa de quem desconhece os interesses da senadora e e também do ex-presidente.
A briga que Marta vem armando com lances bem pensados e que começaram no pedido de demissão do governo anterior de Dilma mostra que a senadora ainda é uma das pessoas que mais conhece a política brasileira, especialmente as necessidades de um eleitorado muito importante no Brasil, que é o de milhões de paulistanos. A senadora fez corpo mole na última eleição estadual e o partido viveu um vexame histórico. Marta sabe muito de política e ainda mais de PT. Uma de suas últimas falas foi a de que “ou o PT muda ou acaba”. É mais ou menos o que venho escrevendo já há algum tempo, menos no tocante às mudanças necessárias, que não vejo possibilidade do partido fazer. O PT não vai mudar e ela sabe disso. Por isso já prepara sua própria mudança, que será mais um empurrão pro fim do partido.
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POR José Pires

terça-feira, 13 de janeiro de 2015

Trocando Davos por Morales

Quando eu digo que petista não bate bem da cabeça a militância fica nervosinha comigo, mas seus líderes estão o tempo todo com um comportamento abilolado. Agora em vez de ir para o Fórum Econômico Mundial em Davos a presidente Dilma Rousseff decidiu prestigiar a posse de Evo Morales. A viagem já fazia parte da agenda presidencial, mas foi cancelada. A troca é bastante estranha para a governante de um país que precisa desesperadamente de investimentos, mas não é de estranhar num governo que quer nos convencer que uma grande medida para ampliar o comércio com os Estados Unidos é a construção de um porto em Cuba.

O que o "mundo bolivariano" tem a oferecer ao Brasil além de um chapéu na mão pedindo um adjutório? O venezuelano Nicolás Maduro até baixou na festa da posse de Dilma para pedir uma mãozinha. Qualquer coisa serve, até papel higiênico. E o Morales também não tem nada pra oferecer. E mesmo que tivesse alguma coisa, o negócio dele não é dar uma mãozinha e sim levar na mão grande. Vide o pedação da Petrobras que ele pegou pra ele.

É patética a situação dos entusiastas do "projeto bolivariano", todos numa pindaíba danada, sem nunca ter desenvolvido nada de diferente em cada país envolvido nesta ilusão que parece realismo mágico da literatura latino-americana, mas com o agravante de não render Premio Nobel em área alguma. O único resultado prático é a encrenca descomunal de cada um, o que não deixa de ser uma unidade política e econômica deste bravo bloco de estadistas. Mas não era bem isso que os povos oprimidos esperavam.

Davos, por sinal, faz lembrar de um outro logro dessa cambada, o tal do Fórum Social Mundial. Era um encontro realizado em contraposição ao de Davos, até pelo gosto habitual do confronto. Aquilo parecia um pré-projeto do bolivarianismo que veio depois. E o que foi que deu aquele esquisito acampamento de bichos-grilos embalado pelo slogan "um outro mundo é possível"? Pois é, fizeram vários fóruns, sempre numa exaltação que parecia que ia fazer o planeta virar de cabeça pra baixo e não se viu resultado algum. Não tenho simpatia pela turma de bacanas reunidas em Davos, mas cadê a alternativa, companheiros? Alguém sabe de um projeto viável que tenha saído daquela joça para a passagem para "o outro mundo possível"?

As ilusões desta esquerda abilolada acabaram em birra. Depois da desmoralização total dos punhos levantados por corruptos condenados na porta da cadeia, agora batem o pezinho. A única contraposição à pauta de Davos é marcar presença na posse do companheiro Morales. É disso que o nosso Brasil dispõe nesses tempos pra lá de duros. E ainda temos que torcer para que a nossa grande líder não erre de novo na escolha do vestido.
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POR José Pires

sábado, 10 de janeiro de 2015

Olavo de Carvalho versus cartunista Laerte

Olavo de Carvalho é uma das inteligências mais brilhantes que já apareceram no Brasil. Poucos dos nossos contemporâneos que estão no batente neste momento escrevendo o que pensam vão ser apreciados no futuro. Pouquíssimo do que se faz hoje no Brasil vai ficar, menos ainda o que jornalistas e acadêmicos de esquerda andam escrevendo. Na esquerda brasileira aconteceu uma inversão intelectual que é até engraçada: em vez de jornalistas e intelectuais de esquerda melhorarem o Lula foi o Lula que mudou o modo deles de pensar e escrever. Viraram lulistas até no que fazem. E quem é que vai ler essas coisas num futuro? O próprio lulismo será um período lembrado apenas pela politicagem baixa e a roubalheira, já que não tem conteúdo político alguma que valha uma análise séria.

Mas eu falava do Olavo de Carvalho, que acabou fazendo praticamente sozinho algo que a esquerda com todas suas tropas de penas alugadas e toda dinheirama pública à disposição não consegue fazer: criou um movimento conservador que hoje dispõe de milhares de jovens muito bem preparados política e intelectualmente. O próprio Olavo se incumbe em parte desse preparo, com uma grande produção de ótimos textos e suas aulas de filosofia, que também são muito boas. É claro que ele é um conservador. Tem algumas ideias que nada tem a ver com o que eu penso. Mas na sua labuta de pensador e professor, o Olavo não é um homem de dogmas, a não ser os do catolicismo. Na área do pensamento e do debate público não é de sloganzinhos fáceis que ele vive.

O que temos hoje no Brasil de oposição séria e consequente ao pensamento autoritário de esquerda, com gente que pensa e escreve de forma aprofundada, deve-se bastante ao Olavo de Carvalho. Já disse que divirjo bastante dele, mas não seria tolo de não atentar ao que é muito bom e nem seria leviano de procurar encobrir com uma cortina de silêncio o trabalho de alguém que escreve tão bem. Leio o tempo todo seus textos. É sempre uma lição técnica e política, independente do que eu possa pensar sobre o conteúdo desses textos. A esquerda não faz isso, é claro, principalmente esta nossa esquerda, que há tempos vem lendo apenas o que justifica sua ambição de poder. Ficaram burros por isso, o que não deixa de ser bom para o Brasil, mas também chateiam demais a paciência alheia com suas opiniões sem profundidade alguma, besteiras que dão até vergonha alheia.

Com o atentado terrorista islâmico à redação do jornal francês "Charlie Hebdo", foi de enxurrada o besteirol lançado na internet. E a esquerda, com sua indisfarçada empatia pelo islamismo (sabe aquele negócio da condenação ao sistema judaico-cristão?), está até agora fazendo uma ginástica danada para culpar os cartunistas e jornalistas metralhados. E ficam procurando trazer também aquela tragédia para o contexto da disputa política no Brasil. Foi numa dessas que apontaram para o Olavo de Carvalho, de uma forma muito estúpida, tentando fazer com que o leitor acredite que ele é um dos "estimuladores" do jihadismo, como se um fundamentalista islâmico precisasse de alguma justificativa para matar quem pensa diferente.

Foi o cartunista Laerte quem disparou (aqui vale este surrado chavão atual) contra o Olavo de Carvalho. Numa entrevista a um blog do site da "Folha de S. Paulo", ele veio com essa: "O que embasa o desejo terrorista não é uma construção racional de um coletivo árabe de uma liberdade de expressão, a ideia é outra, de propor uma ideia de guerra jihadista contra o mundo. É uma ideia louca, que é alimentada por Bushes da vida, Olavos de Carvalho da vida".

É duro ler um negócio desses, não é mesmo? Primeiro é coisa de quem sabe pouco do trabalho de Olavo de Carvalho e depois é uma atitude de quem não tem noção do assunto em pauta, mas isso o cartunista mostra também na porção de equívocos que comete no restante da entrevista, com furadas análises políticas e erros até mesmo na sua visão da relação do humor do Charlie Hebdo com o histórico do jornalismo brasileiro e da nossa política. O Olavo de Carvalho respondeu ao Laerte e republico abaixo seu texto, onde ele inclui o link da entrevista do cartunista.

O Olavo ficou muito bravo e com toda razão. Laerte foi irresponsável, pois a situação não está para brincadeiras. Os terroristas islâmicos estão matando. E do jeito que ele falou, a interpretação pode ser dele estar apontando um alvo. Para mim, Laerte vive já há algum tempo uma grave perturbação psicológica, mas isso é um problema dele, embora o desfile de seus dramas aconteça em público. Porém, o cartunista tem experiência política suficiente para saber que o atentado na França pode acender o pavio de muito maluco. Por isso é preciso que cada um controle seu próprio fogo. A resposta do Olavo é muito boa. Quanto aos palavrões, observo que é seu estilo pessoal só de Facebook, além do que neste caso está no nível do que foi falado dele.
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POR José Pires

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A RESPOSTA DE OLAVO DE CARVALHO
Por favor, escrevam para direcao.redacao@grupofolha.com.br reproduzindo, com ou sem comentários, esta carta que acabo de enviar ao sr. Frias:

Desprezado senhor,
A propósito da matéria publicada em Blog do Morris.blogfolha.com.br: Segundo esse senhor ou dona Laerte, "a guerra jihadista contra o mundo é uma idéia louca, alimentada por Bushes da vida, Olavos de Carvalho da vida". É incrível a leviandade com que palpiteiros me atribuem qualquer estupidez que lhes passa pela cabeça, sem quaisquer escrúpulos, sem qualquer consulta aos meus textos e sem conhecer absolutamente NADA do que penso e digo. Quem assim procede não merece respeito nem consideração, é apenas um cafajeste, um bandidinho pé-de-chinelo.

Nem vou perguntar o que tenho a ver com Bush ou com jihadistas, porque quem me lê -- o que não é o caso dessa pessoa -- sabe que é absolutamente nada e não vejo razão para insistir no óbvio só porque um ignorante com presunção de onissapiência o nega. Não espanta que as opiniões políticas dessa criatura nasçam de uma pura preferência sexual, o que consiste exatamente em pensar com o cu ou com o pau.

Associar o meu nome ao de George W. Bush já é absurdo em si, mas culpar-nos aos dois pelo jihad é puro delírio psicótico, que em tempos normais nenhum jornal publicaria. O jornalismo brasileiro desceu mesmo ao nível do esgoto. Responder a essa porcaria com um xingamento já seria conceder-lhe honra demais.

Responsabilizo pessoalmente o sr. Octavio Frias Filho pela publicação dessa enormidade e anuncio que, se ele não me pedir desculpas em público, cuspirei na sua cara tão logo tenha o desprazer de encontrá-lo.
Olavo de Carvalho
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sexta-feira, 9 de janeiro de 2015

No ataque às vítimas

Os terroristas são rápidos, inclusive no terrorismo praticado todos os dias nas redes sociais. Agora estão repassando um desenho supostamente feito pelo cartunista Charb, morto a tiros no atentado de terroristas islâmicos à redação do jornal "Charlie Hebdo". É um desenho que mostra a ministra da Justiça, Christiane Taubira, caracterizada como um macaco. A imagem é extraída do contexto, com o claro intuito de demonizar o cartunista que foi morto pelos terroristas islâmicos. A militância de esquerda já repassa do jeito adoidado deles a imagem. Esse pessoal é tristemente cômico. Vários deles ainda estão com a propaganda "Dilma 13" na imagem de perfil. A difamação que tentam fazer com a vítima é bem do jeito deles, que fazem qualquer coisa para justificar uma visão autoritária muito parecida com a do terror. E até parece que pode haver algo que justifique o massacre numa redação de jornal.

O "Charlie Hebdo" é uma publicação satírica do teor mais pesado que pode-se imaginar. Não existem tabus para seus humoristas que, é bom que se diga, vivem num país em que as divergências sempre foram muito francas e levadas a sério. Os islâmicos podem ter surpresas se acham que o respeito de que gozam até agora na França é fruto de algum temor dos franceses. Nada disso. É apenas democracia, algo muito simples para os ocidentais, ainda que não entre na cabeça de muitos povos. A história da França é de uma dureza danada, com uma carga de violência que inaugurou direitos e também problemas terríveis que enfrentamos até hoje. Na média, compensou. Todos sabem algo da revolução francesa, então creio que não é preciso aprofundar isso. Alguém vai ensinar a lidar com a crueldade um povo que inventou a guilhotina? Bem, não serei eu.

O humor do "Charlie Hebdo" vem desta cultura, gerada num clima histórico que não dá moleza até hoje. Na comparação com o semanário francês, o nosso 'Pasquim" teria de ser visto apenas como um moleque atrevido. E não é porque os cartunistas brasileiros sejam menos corajosos que os valorosos cartunistas que foram mortos nesta semana. É apenas por uma questão de cultura que o humor violento do "Charlie Hebdo" não é feito por aqui, em nossa terra. Se pouco gozamos figuras religiosas e nem abusamos do humor com o cristianismo é porque o anticlericalismo praticamente não existe em nosso país. Cadê o nosso Voltaire? Não temos, é claro, daí a necessidade inclusive de usarmos o Voltaire deles.

O "Charlie Hebdo" é feito mesmo para escandalizar e tenho que repetir o óbvio: é um jornal francês. No Bananão – como dizia o grande Ivan Lessa – é outra coisa. Se não for visto neste contexto, não dá para compreender de jeito nenhum o humor escrachado do "Charlie Hebdo". É bobagem fazer igual aos islâmicos, que usam um metro único e, pior ainda, absolutamente religioso. Essa comunidade que foi acolhida generosamente pelo povo francês insiste em tentar impor suas próprias normas no país dos outros. Querem que a França se adapte a seus costumes, quando é óbvio que tem que ser o contrário. Mas como eu dizia, o pessoal do "Charlie Hebdo" é terrível, mas nenhum deles é racista. O falecido Charb sempre foi ligado ao trabalho de instituições defensoras dos direitos humanos e inclusive apoiava o Partido Comunista Francês.

O que o "Charlie Hebdo" fez foi o inverso do que os terroristas querem passar, aqui com a ajuda safada da esquerda. O jornal fez criticas ao preconceito sofrido pela ministra Christiane Taubira, uma incompetente, como demonstra o fácil atentado, mas evidentemente não por ser negra, até porque tem como chefe o incompetente do presidente socialista François Hollande, que é branco. Aliás, branco azedo, se a militância branca me permitir o insulto. Racista na França é a direita, que pode sair fortalecida deste triste episódio.E na França não se admite o racismo, que é punido legalmente. O semanário direitista "Minute" foi recentemente condenado recentemente ao pagamento de uma multa de 10 mil euros por ter comparado a ministra fancesa a um macaco. Creio que nem é preciso desenhar para que os militantes idiotas entendam: o "Charlie Hebdo" teria sido punido também caso publicasse conteúdo racista. O que o semanário de humor fez foi exatamente se contrapor a este racismo cretino. E na tentativa de justificar seu gosto em passar a mão na cabeça de terroristas, a nossa esquerda fica repassando essas manipulações criminosas que favorece o terror e difama as vítimas.
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POR José Pires

A saída

O grande Tom Jobim, num de seus tantos dias inspirados – um felizardo cujas musas lhe sopravam inclusive boas tiradas de humor – disse que o Brasil tinha saída, sim: era o aeroporto do Galeão. Pois eu digo que as saídas vão se reduzindo: o aeroporto do Galeão ainda é uma boa saída, mas não para Paris.
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POR José Pires

Pacifismo ao gosto do terror

Dentre a porção de equívocos que se lê sobre o atentado na redação do jornal Charlie Hebdo, uma delas é a mais perigosa porque traz a tendência de criar um clima ainda melhor para que o terrorismo prolifere: é a afirmação de que toda violência é condenável. Esta visão costuma aparecer também em assuntos locais, quando o crime comum recebe a mão pesada da polícia ou em ocasiões em que aparece a ação de parlamentares mais conscientes de que situação limite a que chegamos exige leis mais rigorosas e até mesmo (no Brasil, é claro) que sejam aplicadas de fato as que já existem.

Nem toda violência é condenável. Bombardear pesadamente terroristas islâmicos que dominam territórios onde aplicam leis bárbaras e matam sem piedade outras pessoas apenas porque elas seguem religiões diferentes, essa violência não é condenável. Criar leis mais severas, retirando para celas fortes pessoas que dão guarida aos que praticam os crimes, isso não é violência. Exigir que refugiados ou imigrantes sigam com rigor os costumes e leis dos países que generosamente os acolhem, isso não é violência. Exigir por meio de leis locais responsabilidade de comunidades islâmicas sobre o comportamento de seus membros e punir com rigor o incitamento à violência (mesmo que por meios "moderados") feito por supostos religiosos, isso não é violência. E por aí vai, numa lista que deve incluir repressões severas que o terrorismo exige, inclusive deportações de quem nas sombras é cúmplice de crimes enquanto em seu cotidiano finge moderação. Nada disso é violência. É apenas a defesa de uma forma de vida que levou séculos para ser instituída e agora vem sendo atacada à traição e covardemente, com uma crueldade sem limites.

O pacifismo costuma ser usado para encobrir crimes políticos, sendo uma parte essencial da estratégia do terrorismo o uso da boa fé das pessoas para que não caia sobre eles a mão do Estado da forma mais pesada. Com as novas tecnologias de informação, essas táticas hipócritas se estenderam ainda mais. Basta dar uma olhada na internet a quantidade de criminosos políticos tratados como se fossem combatentes valorosos pela democracia, a favor de uma religião ou defensores dos direitos de um povo. É preciso ser respeitoso com o próximo e manter os direitos que as democracias ocidentais conquistaram, disso não tenho dúvida. Mas no caso do terrorismo e da tentativa da imposição do islamismo como uma religião dominante no mundo – passando violentamente sobre a cultura alheia e os direitos democráticos de países que nada tem a ver com chamadas "leis de Maomé" –, aí não tem outro jeito senão confrontar este perigo como sendo a mais perigosa ameaça política da atualidade para a humanidade.
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POR José Pires

quinta-feira, 8 de janeiro de 2015

Alá no samba

Não ia ser fácil a vida do compositor Haroldo Lobo e de Nássara se os dois lançassem hoje em dia uma marcha de Carnaval que estourou em 1941 na voz de Carlos Galhardo e é sempre lembrada como uma grande marca do carnaval brasileiro. Os dois correriam riscos e com certeza Nássara estaria ainda mais em perigo, pois além de ter a co-autoria da música ele era cartunista dos bons e um caricaturista de primeiríssima qualidade. A música é Alá-lá-ô, marchinha carnavalesca contagiante que está aí há mais de 70 anos. Não tem quem não conheça.

Nássara viveu de 1910 a 1996 e tive a satisfação de conhecê-lo no final da década de 80, depois que ele foi redescoberto pelo "Pasquim". Era um tremendo boa praça. Foi um dos maiores desenhistas do Brasil e certamente suas caricaturas estão alinhadas mundialmente com as dos melhores caricaturistas do mundo. Não digo isso como bajulação póstuma, que não sou dessas coisas. A obra de Nássara nesta área foi de fato impressionante. Com poucas linhas ele capturava com uma habilidade admirável o essencial do caricaturado.

Ele desenhava com tiralinhas, um instrumento que era usado na arquitetura e em desenho de plantas geográficas e mapas. O tiralinhas fazia um traço contínuo, sem alterações na espessura. Pelo que sei apenas o Nássara fazia seus desenhos com este instrumento difícil de lidar. A maioria dos desenhistas usava naquele tempo uma pena e a tinta nanquim. E Nássara extraia caricaturas impressionantes de seu singular instrumento de trabalho, em desenhos marcadamente chapados. Numa de suas sacadas, o cartunista Jaguar definiu o trabalho de Nássara dizendo que ele fazia logotipos de pessoas. É mesmo esta a impressão que passam suas caricaturas. Veja na imagem um desenho dele.

E além de excelente caricaturista, como eu já falei, o nosso grande Nássara era um bamba na composição, emplacando além de Alá-lá-ô muitos outros sambas, nos tempos em que o carnaval era mais verdadeiro, como Formosa, Periquitinho verde e Florisbela. Bons tempos aqueles em que uma música falando de Alá causava alegria em vez de confusão. Ouçam no link a gravação original, com Carlos Galhardo. Chega a ser engraçado que agora ouvir uma marchinha galhofeira como esta seja até um ato de resistência, mas graças ao terrorismo islâmico é desse jeito tragicamente idiota que vem girando o mundo.
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POR José Pires

Premonição com humor

O humorista Charb, morto nesta terça-feira no atentado de terroristas islâmicos em Paris, publicou no "Charlie Hebdo" desta semana uma charge que pode ser vista como profética — com o perdão de Alá ao trocadilho. Vejam na imagem. O título diz "Ainda não houve ataques na França", enquanto o terrorista islâmico comenta: "Espere! Ainda temos até o final de janeiro para cumprir nossos desejos". A piada faz alusão aos desejos de Ano Novo.
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POR José Pires

Dilma e o ataque ao Charlie Hebdo

A presidente Dilma Rousseff parece que está melhorzinha neste segundo mandato para lidar com problemas internacionais como o massacre cometido por terroristas islâmicos na redação do jornal francês "Charlie Hebdo". Ela lançou uma nota bem banal sobre o assunto, em que deu condolências aos familiares das vítimas e sua solidariedade ao Presidente Hollande (a maiúscula em "Presidente" é por conta dela) e ao povo francês. Ela afirmou também que o atentado "é um inaceitável ataque a um valor fundamental das sociedades democráticas - a liberdade de imprensa". Deixou aí uma chance de ter chamada sua atenção quando o partido dela atacar a imprensa daqui.

A nota é chocha, no estilo terrível das coisas que saem escritas das mãos da sua equipe, como aquele inacreditável discurso da posse. Mas tudo bem, pelo menos a presidente não interferiu, pedindo que o governo francês dialogue com os terroristas, como fez quando os terroristas do Estado Islâmico cortaram a goela de jornalistas. Dilma também não vai à ONU exigir que os países do mundo tratem de igual para igual terroristas que invadem redações de jornais metralhando as pessoas.
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POR José Pires

quarta-feira, 7 de janeiro de 2015

A intolerância sem graça

Na imagem, uma das capas do jornal francês "Charlie Hebdo" satirizando a Igreja Católica. O humor deles era desse jeito bastante pesado desde a criação do jornal, em 1970, por Reiser, Topor, Wolinski e outros mestres geniais do humor. Wolinski foi morto no atentado de terroristas islâmicos que invadiram a redação do jornal nesta terça-feira metralhando as pessoas. O autor dessa capa é Cabu, um dos melhores desenhistas que já apareceu na imprensa mundial. Ele também foi morto a tiros no atentado. O cartum é fortíssimo e certamente desagradou a muitos católicos, religião predominante na França. Até por isso, em mais de 40 anos do "Charlie Hebdo" o número de cartuns publicados satirizando a religião católica é imensamente maior do que sobre qualquer outra religião, incluindo os muçulmanos, mas nem por isso se pensaria numa agressão armada ao jornal feita por católicos. Porém, se acontecesse de algum maluco fazer uma besteira parecida, de imediato com certeza o papa sairia a público desautorizando o uso da religião e condenando qualquer coisa que atentasse contra a liberdade desses humoristas abusados publicarem o que eles quiserem, inclusive contra ele, que foi vítima muitas vezes de cartuns também muito pesados.

Por falar nisso, o papa Francisco já condenou com firmeza o ataque ao jornal. "O Santo Papa expressa sua mais forte condenação pelo horrível atentado, que deixou de luto, esta manhã, a cidade de Paris", diz uma nota do Vaticano divulgada há pouco. O texto afirma também o seguinte: "O que quer que possa ser a motivação, a violência mortal é abominável, nunca é justificada, a vida e a dignidade devem ser garantidas. Qualquer instigação ao ódio deve ser repudiada". E a igreja dele é que tem sido mais atacada nessas quatro décadas.

É esse tipo de condenação firme da parte de autoridades islâmicas que o mundo está precisando. Os religiosos islâmicos tem a responsabilidade de excluir de forma clara qualquer representatividade dos fundamentalistas em relação a sua religião. Enquanto isso não acontece, o silêncio pode ser visto como cumplicidade. Existe inclusive o risco da falta de confiança das populações dos países ocidentais se estender a toda a comunidade islâmica. A condição de multidões de imigrantes muçulmanos que vivem hoje na Europa pode ficar muito difícil com esta situação criada pelo terror islâmico.

Para evitar o sofrimento de inocentes caberia aos religiosos islâmicos com espírito democrático fazer com firmeza a divisão entre a minoria terrorista do joio e as multidões pacíficas do trigo. A tolerância dos católicos mostra que é possível a religião conviver de forma equilibrada com a liberdade de expressão, independente de divergências inconciliáveis e do desagrado com sátiras pesadas como esta capa do abusado Cabu.
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POR José Pires

A desgraça no Charlie Hebdo

O cartunista francês Charb, que desenhou esta charge da capa do semanário "Charlie Hebdo" foi morto no atentado desta terça-feira à sede do jornal, em Paris. Doze pessoas morreram no ataque a tiros feito por um grupo terrorista islâmico. O jornal já vinha sendo ameaçado desde 2011, quando publicou uma charge do profeta Maomé, e foi alvo também de uma bomba incendiária, quando publicou outra charge de Maomé, em 2012.

Charb era um cartunista da nova geração do humor francês, que historicamente sempre foi feito com uma carga satírica muito forte. Os franceses sempre foram muito viscerais no cartum, sempre muito engraçados e sem barreiras de qualquer tipo. Atacam a todos, sem nenhuma distinção política ou de outra espécie. Não existem tabus. Praticam o humorismo mais autêntico, que deve ter mesmo este sentido de crítica absoluta a qualquer comportamento humano, sem ter o rabo preso em qualquer norma ou filosofia. Já fizeram charges pesadas com vários papas, inclusive os mais recentes, como João Paulo II e Bento XVI. Mas a Igreja Católica aceita de forma tolerante o convívio com as divergências. Com os católicos o debate tem sido democrático.

Porém, não é este o caso da religião islâmica, que tem preceitos que proíbem qualquer imagem de seu profeta. Quando acontecem atos bárbaros como este atentado criminoso à liberdade de expressão de hoje, em Paris, sempre aparecem aqueles que afirmam que o crime é culpa exclusiva de uma minoria. Pode ser, mas é duro agüentar o profundo silêncio da maioria dos islâmicos sobre esse tipo de atentado e também das ameaças que os precedem. É claro que não podemos crer que temos hoje uma religião em sua totalidade numa guerra contra o Ocidente, querendo impor costumes bárbaros nos países dos outros. Mas o fato é que não se vê entre os islâmicos uma movimentação rigorosa para acabar com estes crimes e nem de condená-los publicamente.

Além do jovem cartunista Charb, morreu no atentado ao "Charlie Hebdo" uma lenda do humorismo internacional, o cartunista Wolinski. Ele já tinha 80 anos e era um dos últimos remanescentes dos criadores do "Charlie Hebdo". Wolinski tinha um desenho marcante pela liberdade do traço. Seu desenho era da maior simplicidade, um estágio que quem conhece sabe muito bem que é muito difícil de alcançar. Sua influência no humor e nos quadrinhos foi muito grande em todo mundo, inclusive no Brasil, onde pelo menos três gerações de desenhistas aprenderam muita coisa com ele. O semanário de humor “O Pasquim” teve grande influência editorial do "Charlie Hebdo". E dos cartunistas brasileiros, raro é o que não pegou alguma coisa de Wolinski, nem que seja apenas da sua forma de fazer humor.

Outros humoristas que morreram no atentado foram Tignous, um ótimo cartunista da nova geração, e Cabu, que era mais próximo da geração de Wolisnki e foi um dos mais habilidosos desenhistas que já existiu. Não se deve estimular a vocação para o martírio como costumam fazer em religiões atrasadas, mas esses humoristas presentes nesta trágica terça-feira na redação do "Charlie Hebdo" nesses tempos perigosos dão a todos nós o exemplo do empenho pela liberdade de expressão. Cabe a quem tem dignidade não deixar que os patrulheiros da intolerância avancem.
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POR José Pires

Liberal de araque

Os tucanos e seus simpatizantes precisam parar de falar sobre a condução da economia neste segundo mandato de Dilma Rousseff como algo similar ao projeto que Aécio Neves colocaria em prática se tivesse sido eleito. Tucano costuma acordar tarde para a realidade política. Até para fazer oposição eles demoram. Mas seria melhor para eles que fossem deixando muito bem explicado as diferenças da economia liberal com isso que Dilma vai aprontar com o país. Quem tem uma visão liberal da economia também deveria se conter, evitando mesmo de gozação chamar de liberal isso que a presidente reeleita já começou a fazer antes mesmo de tomar posse para a continuação do desastre herdado dela própria.

Novamente não existe projeto econômico do PT para a economia brasileira. Os petistas até já tiveram isso um dia, numa mistura da visão de vários pensadores de esquerda, mas estas posturas diferentes de enfrentamento dos problemas brasileiros nunca alcançaram um consenso dentro do partido e nem chegaram a um projeto unitário pronto para ser colocado em prática. De qualquer forma, um pouco antes de Lula ganhar a primeira eleição para presidente o PT veio com a famosa "Carta aos brasileiros", quando o partido afastou a possibilidade de fazer algo diferente em nossa economia. Costumam dizer que o documento foi escrito para acalmar o mercado, mas teve também um resultado sobre o qual ninguém fala. Foi a capitulação definitiva do PT em mostrar diferença na condução da economia brasileira.

O que Dilma vai fazer neste segundo mandato é o mais do mesmo que o PT vem tocando na economia desde que Lula ganhou a primeira eleição. O partido não tem projeto algum. Para resolver questões práticas seguem parte de receituário retirado da economia liberal, mas fazem isso de forma isolada. O que é feito na condução econômica não abrange as outras áreas do governo, que seguem descontroladas e livres na continuidade da gastança muitas vezes despropositada e sem nenhuma responsabilidade com qualquer outra meta que não seja a de manter a carreira política do ministro da ocasião.

É claro que a tendência é que até esse jeitinho petista pode dar certo quando existe uma condição externa melhor que não dependa do governo brasileiro, como ocorreu com a economia mundial durante o primeiro mandato de Lula. E naqueles tempos, o governo petista tinha também um capital anterior acumulado, inclusive no aspecto da forte motivação dos brasileiros. Mas isso acabou. Os problemas atuais são bastante pesados e ficaram difíceis de enfrentar também pela forma irresponsável que o PT governou durante a relativa bonança.

Dilma não vai ser liberal coisa nenhuma em economia. O que ela faz nem dá para dar um nome bem definido. Teremos o mesmo PT de sempre, atirando para todos os lados e esperando que alguém na pasta da Economia faça os remendos necessários para ao menos amenizar os estragos das besteiras usuais deste partido. O Mantega não conseguiu e o ministro Joaquim Levy teria de ser mágico para alcançar sucesso com tudo fora de seu ministério correndo às soltas do jeito que os petistas e aliados gostam. Chamar isso que vem por aí de "liberal", como algumas pessoas vem fazendo, pode trazer um problema a mais na confusão brasileira, que é a população começar a acreditar que o nosso país é um mistério insolúvel e fora do alcance de qualquer escola econômica.
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POR José Pires

sábado, 3 de janeiro de 2015

Bujão polêmico

O PT é patético. Como todos já estão sabendo, gaiatos pegaram a foto da posse da presidente Dilma Rousseff vestida daquele jeito errado e fizeram a relação óbvia com uma capa de bujão de gás. Não tem como culpar os tucanos de terem tricotado aquela capa da foto igualzinha ao vestido da posse porque a imagem apareceu de imediato. Na internet tem sempre dessas brincadeiras, mas esse tipo de gozação é bem anterior a qualquer nova tecnologia. Fazer humor com autoridades é próprio da democracia e falar mal do vestido alheio também é um hábito presente em qualquer roda de conversa feminina. Aliás, quem mais chamou a atenção para a má escolha do vestido da posse foram as mulheres. Mas agora os petistas estão querendo fazer disso uma discussão política séria. Tem feminista de esquerda querendo fazer disso um debate de gênero, pode? Pode sim, eles acham que pode tudo. Será que vão agora tachar toda a oposição como preconceituosa em relação ao mulherio que se veste mal?

O vestido do bujão pode ser inclusive um sinal de que neste segundo mandato Dilma vai puxar de fato pra si o comando do governo. Para mostrar isso, a petista passou por cima do marqueteiro e ela mesma escolheu o vestido da posse. A presidente não sabe se vestir, nunca soube cuidar de si como mulher e pela sua personalidade deve até achar isso algo menor. Isso é um fato que pode ser comprovado com o trato estético e de guarda-roupa que ela recebeu do marketing político depois de ter sido escolhida candidata do PT por Lula. Vê-se em fotos antigas que ela não sabia ou não tinha interesse nem em cuidar dos cabelos. Eu não veria nenhum problema na sua falta de bom gosto se ela soubesse administrar, mas sobre isso Dilma também não demonstrou habilidade.

Agora Dilma passou o ridículo que todos vimos, amenizado apenas pela mau gosto ainda maior da ministra Katia Abreu, com seu vestido de estilo repolho — a maldade não é minha, colhi a definição acertadíssima de "repolho" em comentários de mulheres. Foi apenas por uma questão de hierarquia que o vestido da ministra motivou menos piadas que a capa de bujão da presidente da República. E foi também pela ex-oposicionista radical estar agora no governo do PT que a militância governista não tirou nenhum sarro grosseiro dela.

As brincadeiras do bujão foram muito engraçadas e não vi nenhuma que avançasse o limite do respeito humano. Já falei aqui que por não serem engajados politicamente os brasileiros de espírito oposicionista são mais equilibrados de cabeça e raramente aparece vindo deles um ataque condenável do ponto de vista moral ou político. Isso até acontece às vezes, mas como ação individual de algum maluco que logo é isolado. Não é como fazem os petistas, com seus ataques grosseiros vindos de cima e criados por profissionais de comunicação, além de articulados politicamente para ocupar os mais variados espaços da internet e até das ruas em panfletos apócrifos.

O episódio do vestido de bujão não é de forma alguma um ataque a presidente na sua condição de mulher. É apenas a ironia popular que todo dirigente de espírito democrático é obrigado a aguentar, seja mulher ou homem. Tentar criar um debate por este lado como estão fazendo os petistas é uma grande bobagem, embora seja previsível na condução leviana deles em qualquer tema. Com a Margareth Thatcher e na eleição passada com a Marina Silva eles não viam problema em ataque algum. Mas é assim com quem se guia pelo politicamente correto. Acaba-se ficando tão tapado que depois fica impossível aceitar que muitas vezes uma piada tem o único interesse de fazer rir. Vou explicar melhor para os espíritos obtusos, sem ter que desenhar um cartum: tem piada que é só uma piada, nada mais que isso. Ninguém está pensando em questão de raça, religião, de gênero ou qualquer outra condição do alvo. E críticas e humor sobre a presidente da República terão muitas vezes em conta o fato dela ser mulher. Não há como fugir disso e talvez nem seja preciso desenhar para que a militância entenda. São os próprios petistas vem insistindo durante anos de forma idiota para que os brasileiros chamem Dilma de "presidenta".
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POR José Pires