terça-feira, 28 de março de 2017

A volta às ruas de Chico Picadinho

No Brasil tem umas coisas que só não dá para rir porque é o tipo de piada em que estamos dentro. Vão soltar o famoso Chico Picadinho. O criminoso ficou conhecido por dois assassinatos com esquartejamento, nas décadas de 1960 e 70. Para a imprensa, era o “Crime da mala”. Jornais da época do tipo que espreme e sai sangue se fartaram em explorar o horror. Chico Picadinho está hoje com 74 anos e já teve sua soltura determinada pela juíza Sueli Zeraik de Oliveira Armani, da 1ª Vara de Execuções Penais de Taubaté.

É mesmo preocupante e as justificativas da Justiça para soltar o criminoso não ajudam a tranquilizar ninguém. A conversa é tensa. Num trecho da decisão, que é do inicio deste mês, a juíza diz que Chico Picadinho mostrou intenção de “integrar-se socialmente, mostrando-se bem seguro e determinado neste propósito, assim como bastante lógico no raciocínio desenvolvido e coerente em suas colocações”. Pode ser que ela diga isso para amenizar o drama, mas de fato essas alegações só fariam sentido se o sujeito fosse o autor de um crime menor ou talvez uma contravenção. A descrição psicológica, porém, é de um indivíduo que matou e esquartejou duas pessoas. E tem também a palavra da promotoria, que diz que ele só poderia ser mantido preso se fosse inimputável, o que não é o caso. Ele “tem total capacidade para definir o que é lícito e ilícito”. Como seria ter na vizinhança o Chico Picadinho, ainda mais com tamanha lucidez? Sejamos justos: em casos do tipo deveria ser obrigatório que o beneficiado fosse morar ao lado dos responsáveis pela decisão.

O promotor Luiz Marcelo Negrini, ouvido pela Veja, afirma que não é possível dar garantias sobre o que Chico Picadinho pode fazer nas ruas. De seu comportamento na prisão chegou-se à conclusão de que existe “baixa probabilidade” de que ele volte a cometer crimes parecidos com os do passado. As justificativas são todas neste tom. Pela lógica, cada afirmação da juíza ou da promotoria para soltá-lo serviria muito mais para recomendar que a prisão seja mantida. E se logo veio à sua cabeça o caso do assassino do cartunista Glauco, que depois de solto voltou a matar, nem é preciso recorrer a isso como exemplo. O próprio Chico Picadinho já foi beneficiado com liberdade condicional dez anos depois do primeiro crime, quando teve que ser preso novamente porque voltou a matar e esquartejar uma segunda vítima, da mesma forma que havia feito antes.
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POR José Pires

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