sexta-feira, 3 de março de 2017

Falta de sintonia na hora do aperto

O PT está batendo cabeças já há algum tempo. E isso é normal depois de tanta sujeira ser descoberta. Com o cerco da polícia se apertando, mesmo grandes quadrilhas costumam se desfazer, no atropelo da busca da fuga a qualquer preço. Parece que os maiorais petistas estão assim. Está impossível manter uma unidade política, com uma defesa jurídica em que não haja contradições. É claro que as prisões preventivas estão aí para isso mesmo e também é pelo mesmo motivo que são muito combatidas pelo PT e seus aliados de ocasião, gente graúda do meio jurídico e até do STF dando uma mãozinha na desqualificação desse instrumento essencial no combate à corrupção. Sem alguns maiorais do esquema na cadeia ficaria difícil o trabalho da Polícia Federal e do Ministério Público Federal. É provável que eles já tivessem juntado forças na criação de uma história convincente para se safarem.

Mas o aperto tem sido tanto que as contradições vão aparecendo até nas justificativas de quem está livre e que por isso podia ao menos combinar os argumentos de defesa. Mas será que no sufoco criado pela polícia e o MPF esse pessoal ainda tem disposição para se falar? Duvido. A ex-presidente Dilma Roussef e seu antigo ministro Guido Mantega parece que não fazem isso. E pelo que dá para notar, nem seus advogados de defesa têm trocado algumas palavrinhas esclarecedoras do que cada um vai falar em sua própria defesa. Parece que agora é cada um por si.

Nesta história de que Guido Mantega pediu dinheiro para a campanha de Dilma enquanto estava no Ministério da Fazenda tem uma contradição entre o que um lado e outro falam. A revelação surgiu no depoimento de Marcelo Odebrecht em ação no Tribunal Superior Eleitoral contra a chapa Dilma/Temer. Não vi nenhum site juntar os argumentos da defesa de Dilma e de Mantega. E tem uma contradição séria no que os dois lados alegam. Na nota que divulgou, Dilma afirma que “não é verdade” que ela “tenha indicado o ex-ministro Guido Mantega como seu representante junto a qualquer empresa tendo como objetivo a arrecadação financeira para as campanhas presidenciais”. No mesmo parágrafo, a ex-presidente diz também que “o próprio ex-ministro Guido Mantega desmentiu tal informação”.

Pois bateram cabeça aí. E é tarde para consertar. A linha de defesa de Mantega é outra, o que pode ser constatado nas declarações de seu advogado José Roberto Batochio. Em declaração à imprensa ele disse que “Mantega é filiado a um partido político e, naturalmente, as solicitações de contribuições nunca foram só para a Odebrecht”. É estranho que um ministro da Fazenda assuma essa função, daí a explicação de que “Mantega é filiado a um partido”. De fato, Mantega fez os pedidos, mas não só para a Odebrecht. O foco pode estar numa grande encrenca do depoimento do dono da Odebrecht, que é sua afirmação de que o dinheiro dado para a campanha do PT seria referente à propina pela aprovação da MP do Refis.

A nota de Dilma parece ter intenção de se desligar do ex-ministro, quando afirma que não o indicou para a tarefa de sair pedindo dinheiro. E de novo, politicamente ela só se safa dessa declarando-se uma idiota que não via nada à sua frente. O advogado do seu ex-ministro e antigo colega de governo antecipa a linha de defesa, afirmando explicitamente o seguinte: “No que diz respeito a Guido Mantega estamos certamente no campo das contribuições oficiais”. Ou seja; Mantega pediu, mas foi no oficial, sacou? E ele disse isso no mesmo dia em que Dilma afirma o contrário em nota oficial. É óbvio que eles não se entendem mais. Defendem-se agora cada um por seu lado, sem um plano conjunto para lidar com as complicações trazidas pelo depoimento do empreiteiro. Vão se pegar. Aliás, já estão se pegando. O que é muito bom para o combate à corrupção e até para a democracia brasileira.
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POR José Pires

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