segunda-feira, 25 de setembro de 2017

A direita sem nada na cabeça

Com o avanço da direita populista na Alemanha vai ter gente no Brasil fazendo relação com as chances eleitorais da direita em 2018. Por certo aparecerá o nome do deputado Jair Bolsonaro nessas, digamos, análises políticas que usam qualquer coisa para criar um tom de credibilidade em previsões que nem à marretadas encaixam com a realidade daqui, seja qual for a situação eleitoral estrangeira. Já foi feita relação parecida com a vitória de Donald Trump nos Estados Unidos e chegou-se até a tentar fazer do sucesso do francês Emmanuel Macron um exemplo do que poderia acontecer no Brasil.

No caso da situação política da Alemanha as comparações também não tem nenhum valor analítico. A direita alemã, representada pelo partido nacional-populista Alternativa para a Alemanha (AfD), ficou como terceira força no parlamento alemão, o Bundestag, O AfD obteve 12,6% dos votos. Para se ter uma ideia do peso político desses números, o partido União Democrata Cristã (CDU), da chanceler Angela Merkel, teve 33% dos votos. É essencial ressaltar que a posição da direita alemã foi conquistada a partir de um debate acirrado sobre o islamismo, o euro e a crítica agressiva à política atual com os imigrantes. E o papo lá é sério.

As posições políticas na Alemanha são firmes, com partidos comprometidos historicamente com programas políticos que vão servir de base na formação do novo governo. Os temas de campanha não são escolhidos como mera propaganda de ocasião. Também não se troca de lado depois da eleição, com a facilidade que isso é feito no Brasil. Aí é que está o ponto para crer que a vitória desta direita populista terá um peso político definidor na política européia. Mas é leviano avaliar essa perspectiva no caso do Brasil, onde de fato não existe uma direita com sólidos compromissos políticos, administrativos, econômicos e também culturais.

Bolsonaro não é de direita coisa nenhuma e muito menos um conservador. Sua única diferença com a porção de políticos oportunistas à cata de qualquer coisa para ganhar votos é seu sucesso, numa dimensão que foi inesperada até para ele mesmo. Sua vitoriosa caminhada vem de um discurso genérico, com o uso de temas escolhidos para ganhar voto para deputado e eleger também seus filhos. Subiu na vida política sem que ele próprio tivesse controle direto disso, beneficiado por acasos e a contraposição também oportunista de políticos da esquerda com os quais bateu boca.

Disso resultou a impressionante projeção política que fez dele um presidenciável que aparece bem nas pesquisas. Na verdade, o encapetado ex-capitão tem pouca condição intelectual de representar ideias de direita e não só por falta de estofo próprio. Neste aspecto, cercou-se de seguidores carentes de um real pensamento político e até mais doidos do que ele, ainda que desse para imaginar que isso não seria possível. No geral, o caráter inflamado pela sua presença e que também lhe atiça o fogo é muito perigoso e será bastante problemático para o país, mas politicamente está longe de representar um projeto político com base para a implantação de um governo de direita.
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POR José Pires

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