terça-feira, 5 de setembro de 2017

Pindura corintiana

É impressionante a dívida contraída pelo Corinthians para construir seu megaestádio, o Arena Corinthians, que não rende o suficiente para pagar as mensalidades do empréstimo. O clube deve R$ 400 milhões, mas desde novembro de 2016 não paga nada para o banco, que aceitou uma renegociação do acordo, mas até agora não obteve resposta financeira dos dirigentes corintianos. Qual é o banco? Ora, é a minha, a sua, a nossa Caixa Econômica Federal. A revista Época fez uma boa matéria sobre a pindura corintiana, na qual se afirma que não existe perspectiva para a retomada dos pagamentos. Mas sobre esse tipo de perspectiva não nos falta experiência. Em negócios como esse com bancos públicos é até bem fácil prever que a conta vai ficar para o contribuinte.

Provavelmente o processo será encaminhado de forma parecida ao do empréstimo. Como se sabe, o dinheiro caiu fácil na conta do Corinthians no governo do PT, determinado pelo ex-presidente Lula. A mamata começou no governo dele e foi até o de sua pupila, Dilma Rousseff. Agora, nesta hora em que falta numerário para ao menos repor o dinheiro, vai-se desencadear uma armação que começa pelo presidente da Republica, envolve seus ministros e abraça também os interesses de deputados e senadores. Com esse tipo de gente à frente do dinheiro público é praticamente certo o rombo nas contas da Caixa. Já é uma forma tradicional de tocar o gerenciamento dos bancos estatais, desenvolvido inclusive com cinismo. Como esses figurões que arrasam com a administração pública são quase todos liberais, logo mais eles terão inclusive mais argumentos para o desprezo pelo papel do Estado na economia.

Agora, que se pergunte ao ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, o que faria um banco privado, como por exemplo o Banco Boston, frente ao risco de um calote como este. Antes de pegar a presidência do Banco Central, no governo Lula, o ministro foi presidente desse grande banco americano e sabe muito bem que o empréstimo nem existiria se não fosse calçado em bases muito sólidas para prevenir dificuldades com a quitação. Mas se mesmo com todos os cuidados, ainda assim ocorresse um problema grave como este, o banco já estaria estudando o que poderia ser tomado do Corinthians. Não haveria o mínimo espaço para manobras para fugir do pagamento. Seria bem diferente do que deve ocorrer com a nossa Caixa. Já antevejo emocionadas defesas do clube como um patrimônio cultural a ser preservado, em movimentações que juntarão torcedores de camisas variadas exigindo um amaciamento na cobrança da dívida. No Brasil, até as torcidas se juntam na hora de transformar em empréstimo a fundo perdido o compromisso financeiro com um banco estatal.
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POR José Pires

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