segunda-feira, 25 de setembro de 2017

São Francisco, um rio em perigo de morte

Leio uma matéria do jornal Diário de Minas sobre o Rio São Francisco e a imagem do futuro que as informações me passam agora é de um apocalipse acompanhando o curso dessas águas maltratadas durante tanto tempo. O jornal teve acesso a um amplo estudo feito pelo Corpo de Engenheiros do Exército dos Estados Unidos e pela Companhia do Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e Parnaíba (Codevasf) que chegou a conclusões assustadoras. Quando se fala no São Francisco vem logo à cabeça a insistência política na transposição deste rio. Pois é o São Francisco que precisa receber urgente água de outros rios, conforme uma proposta desse trabalho para conter o assoreamento e aumentar o volume de seu leito.

O chamado Velho Chico está com o mais baixo volume em seu 513 anos de história, que se completam neste mês de outubro. O rio está para morrer da degradação que em grande parte se deve ao impressionante assoreamento. Seu leito recebe por ano 23 milhões de toneladas de sedimentos. É como se fossem lançadas nas águas a cada ano um milhão de carretas de detritos. A causa disso é a ação humana, como o desmatamento. Segundo o estudo, a erosão natural das margens é mínima. O problema é causado pelas áreas produtivas, pela irrigação, a urbanização e infraestrutura envolvendo o rio.

O estudo propõe intervenções para fazer frente ao problema, mas até a divulgação dessas informações impactantes pouca coisa vem sendo feita. Em um trecho do rio, a Agência Nacional de Águas (ANA) proibe a captação de água uma vez por semana, o que já causa reclamações de produtores que dependem diretamente do São Francisco. Na prática, esta é a primeira ação de racionamento na história de seu canal principal. Porém, conforme o próprio nome do rio, nem a fé no santo é capaz de fazer alguém acreditar que não virão problemas ainda mais graves. Nesta triste situação cultural do Brasil é improvável que se crie condições desde já para um trabalho amplo de recuperação dessas águas

E quanto mais demorar a ação, maiores serão os custos e as dificuldades até para criar a estrutura e encontrar quem dê conta do trabalho. Reverter um processo de degradação ambiental, reconduzindo o ambiente a uma condição de relativa qualidade é tarefa que leva muito tempo e evidentemente quanto mais demorar, mais difícil será a ação. Maior será o custo e haverá ainda mais dificuldade com a tecnologia e o conhecimento humano para a tarefa.

Pense na degradação do próprio São Francisco se ampliando, com os brasileiros tomando consciência da necessidade crucial de afinal salvar o rio, mas esta decisão sendo tomada só dentro de 10 ou vinte anos. Onde estarão os recursos humanos exigidos para este trabalho? E a tecnologia? Se levar tanto tempo para que o Brasil se dê contra da tragédia, é evidente que pelo padrão do desmazelo é impossível que em conjunto com o descuido ambiental a sociedade brasileira esteja formando pessoas capacitadas para lidar com o problema. Também é óbvio que o país não estará criando e guardando tecnologia durante a agonia das águas.

Mas imagine situação ainda mais difícil, que é até natural em paralelo ao descuido com a natureza. Pense em rios que correm na atualidade em terras ainda agricultáveis e boas para a criação de animais, com todo o capital e o lucro que envolve essas atividades. Se não for feito agora o trabalho de proteção ambiental e de recuperação do que já foi destruído, de que forma aparecerão essas verbas quando esses ambientes estiverem muito prejudicados e por consequência sem possibilidade de exploração comercial? Ora, se pouca coisa é feita agora, enquanto existe capacidade de investimento, quando essas terras estiverem improdutivas será ainda mais difícil arranjar dinheiro para refazer o que foi destruído.
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POR José Pires

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