segunda-feira, 29 de abril de 2019

O presidente bagunçador do mercado

Será que Jair Bolsonaro ainda não percebeu que não é mais apenas um deputado bestalhão do baixo clero? Pois ele tem que tomar consciência de que atualmente o bestalhão é presidente da República. Quando fazia seus furdunços como deputado é claro que ele e os filhos políticos lucravam com as barbaridades. Eles ampliavam seu eleitorado arrumando encrenca com adversários e distribuindo vídeos grosseiros nas redes sociais. Mas hoje em dia é bem diferente. O perde-ganha afeta até as finanças do país.

Quando Bolsonaro fala, agora como presidente, fortunas trocam de mãos. Pessoas podem ficar ricas do dia pra noite. Será que alguém sabe antecipadamente o teor de suas declarações em público? Espero que não, pois inclusive seria um crime. Nesta segunda-feira, em uma feira agropecuária ele pediu ao presidente do Banco do Brasil, Rubem Novaes, para reduzir juros de empréstimos a produtores rurais. Foi o que bastou para uma queda das ações do banco na Bolsa, que chegaram a cair 1,5%, depois de operarem em alta de 1,9% pela manhã.

Imaginem a dinheirama que vale a informação antecipada de que Bolsonaro vai fazer um singelo pedido como este ao presidente do banco estatal. Foi de um jeito parecido que há poucos dias ele derrubou as ações da Petrobras, quando mandou revogar o aumento do preço do diesel decidido pela diretoria da empresa. Pelo que consta, nem o ministro da Economia, Paulo Guedes, estava sabendo que ele iria anular desse jeito o aumento. E sendo do ramo, claro que Guedes sabe o valor de uma interferência como esta. É coisa que, com certeza, enriquece muito mais rápido que passar a mão em salário de funcionário nomeado em gabinete.

Claro que não estou acusando ninguém, pois teria que ter provas, daí a ter que manter o assunto apenas no plano do estranhamento, porque apesar de ser um sujeito totalmente sem noção para a função de presidente da República, Bolsonaro conhece muito bem o valor de uma polêmica pública, já que subiu na vida explorando esse tipo de coisa. Então qual é a razão da movimentação que ele vem criando no mercado desde que tomou posse? Não tem como não suspeitar de um falatório que movimenta tanta grana. Mas também pode ser ele esteja fazendo isso apenas porque ainda não tomou consciência da sua importância como bestalhão.
.........................
POR José Pires

quinta-feira, 25 de abril de 2019

Turismo sexual na visão de Bolsonaro

Nesta quinta-feira, em café da manhã com jornalistas, Jair Bolsonaro mandou ver mais uma das suas. Dilma Rousseff vai acabar ficando para trás em matéria de confusão mental. Ele disse que o Brasil “não pode ser o país do turismo gay”.

As suas palavras: “Quem quiser vir aqui fazer sexo com uma mulher, fique à vontade. Agora, não pode ficar conhecido como paraíso do mundo gay aqui dentro”.

Na prática, Bolsonaro disse que turismo sexual é aceitável, desde que seja com objetivo heterossexual. Tem que ser coisa de macho. Como ele mesmo afirmou, “quem quiser vir aqui fazer sexo com uma mulher, fique à vontade".

A questão não é de governo, na esfera da lei, dos costumes, do respeito à dignidade humana. É um problema pessoal psicológico, que aparenta ser grave. A fixação do presidente é coisa séria.
.........................
POR José Pires

O trem-bala de Dilma passa pra mão de Bolsonaro

Tem tanta coisa encoberta no Governo Federal, com organismos que geram custos sem servirem para nada, que de vez em quando ficamos sabendo da existência de uns deles que parecem saídos de alguma fábula ou de uma dessas histórias de realismo mágico, do tempo do boom da literatura latino-americana. Claro que isso nada tem a ver com o encantamento da obra de um García Márquez, mas do mesmo modo o enredo é fora da realidade.

No Brasil gasta-se o que não se tem em ideias e projetos que não passam de ficção. Estão aí o tempo todo, sem que o brasileiro se aperceba da sua impalpável existência. É o caso do tal do trem-bala, de Dilma Rousseff, que serviu para o PT ganhar votos na sua primeira eleição. Tudo parecia algo apenas de propaganda eleitoral, mas não é que foi montada até uma estatal com aquilo? E não ficou barato.

O projeto vinha do governo Lula, foi usado por Dilma para engabelar eleitores e depois, no governo dela, foi criada a estatal. Prometiam entregar antes das Olimpíadas de 2016 o primeiro trecho da ferrovia ligando Rio a São Paulo. No entanto, não apareceram investidores privados, nacionais ou estrangeiros, dispostos a tocar o projeto. Quem é fã do Paulo Guedes que pense nisso quando ele aparecer com suas considerações de que basta abrir para a iniciativa privada que o dinheiro entra. No Brasil, as genialidades do liberalismo costumam se pagas depois pelo Estado.

Podia-se pensar que o trem-bala de Dilma era coisa do passado. Mas essa falseta esteve aí o tempo todo, com estatal e tudo, com o custo da ficção saindo dos bolsos dos brasileiros. Desde aquela época existe uma estatal chamada EPL, sigla de um nome pomposo: Empresa de Planejamento e Logística. Não se faz nada neste troço e para isso precisam de uma porção de funcionários: são 143 cargos, a um custo anual de R$ 70 milhões.

Bolsonaro foi eleito para acabar com essas coisas e até tinha prometido extinguir esta empresa, entre outras ricas inutilidades. Mas já recuou. Seu governo vai embarcar no sonho do trem-bala. O Estadão informa que estão contratando mais pessoal, com sete pessoas entrando este mês. Como se vê, o realismo mágico vai continuar.
.........................
POR José Pires

Bolsonaro e Olavo de Carvalho; uma parceria do barulho

O chega-pra-lá dado por Jair Bolsonaro em Olavo de Carvalho não é evidentemente uma atitude pessoal do próprio presidente. A nota oficial é um trabalho de equipe. O conteúdo do texto foi definido por um grupo e claramente imposto a Bolsonaro. Se fosse por ele, tudo se manteria do jeito que vem sendo desde sua posse, com Olavo criando uma impressionante cizânia no governo. O professor de filosofia tem de fato uma grande ascendência sobre Bolsonaro, exercida em grande parte por causa do fascínio que os filhos têm pelo guru. Pela vontade de Bolsonaro não seria alterado o prestígio de Olavo, até porque o clima de agressividade tem um objetivo que deve ter sido assoprado nos ouvidos do presidente.

O efeito do descarte público do guru já pode ser sentido nas redes sociais, que é onde a influência de Olavo pode ser sentida, publicamente por seus posts no Facebook e internamente nas suas aulas do COF, o cursinho de filosofia que ele ministra da sua casa na Virgínia, nos Estados Unidos. O contato com o professor no curso à distância é que dá origem às pautas depois retransmitidas em redes sociais pelos discípulos e que também seguem na rede subterrânea do bolsonarismo.

É desse esquema de comunicação que até deputados da base do governo Bolsonaro se queixam. Também vem daí o desconforto dos militares. De forma brusca, mais para panfleto que para filosofia, Olavo vem teorizando sobre a atuação dos militares na política. Ele tenta reescrever de modo peculiar a história do período da ditadura militar. Esta narrativa tem aspectos risíveis, que colocam até o penúltimo presidente do ciclo ditatorial e organizador da saída dos militares do poder, general Ernesto Geisel, como um facilitador da atuação da esquerda. Como costuma ocorrer em decorrência do estilo do velho professor da Virgínia, o assunto pode tomar ares de delírio. Já vi olavetes em vários lugares tachando Geisel como “esquerdista”.

Que ninguém espere que venha de Olavo de Carvalho um estímulo à governabilidade de um país, com a criação de um clima de “bom temperamento e a moderação das facções contrárias”, para citar um renomado filósofo, este sim um liberal. Foi Adam Smith que afirmou tal coisa, ele que na sua teoria da educação universitária, tem a visão de que é preciso “aprimorar o entendimento ou para consertar o coração”. No entanto, a filosofia do guru da família Bolsonaro não tem como base a criação de uma razoável harmonia que permita estabelecer um produto prático de uma doutrina. Ele próprio se gaba de não ter nenhuma doutrina prática. E basta assistir a uma aula sua, onde de filosofia mesmo pouca coisa tem, para ver que isso também se aplica à sua didática.

Para mim, Olavo de Carvalho é um sujeito que passou parte da vida em busca de um guru — por isso foi até do Partido Comunista Brasileiro, o antigo Partidão de Luis Carlos Prestes, que sempre atraiu muita gente que precisava de um consolo dogmático para a existência. Entre outras coisas, Olavo foi também muçulmano, tendo sido membro de uma seita menor em São Paulo, onde se praticava até a poligamia. E esteve também atrás de outros gurus, conforme ele mesmo conta em vídeos na internet.

Ocorre que os mestres não confirmaram suas expectativas e com o tempo ele julgou ser muito fácil ser ele próprio o guru. E aqui temos o típico caso do aprendiz de feiticeiro com dificuldade de perceber que a aparente facilidade de tornar-se um mestre era uma ilusão criada pela precariedade da formação dada pelos gurus que teve na vida. Claro que uma coisa levou à outra. Quem é seu seguidor fiel, enquadrando-se nas suas teorias amalucadas — com a exigência até mesmo da adoção absoluta do ódio aos inimigos do mestre —, pode ter benefícios, como a incorporação em um grupo social, cercando-se de proteção e elogios (além dos likes no Facebook), como o próprio mestre buscava no passado, antes dele próprio resolver virar guru.

É uma condição de aparente comodidade, que dispensa inclusive de encarar dúvidas e o mergulho na eterna avaliação das contradições. Essa é a tarefa de todo verdadeiro estudioso até o fim da vida, esforço dispensado pelos dogmas de uma seita. Porém, como já foi observado nesses meses iniciais do governo, esta filosofia da conturbação não tem serventia na hora da aplicação ao trabalho prático. Foi o que se viu no Ministério da Educação, entre outras atrapalhações criadas no governo Bolsonaro pelo chamado olavismo. É provável que até mesmo Bolsonaro venha a sentir como funciona essa filosofia de moer o próximo, que por ora ataca com unhas e dentes o tal do núcleo militar de seu governo. Tais engrenagens de destruição de reputações forçosamente devem chegar ao próprio presidente. Será interessante ver o que o Carluxo escreverá no Twitter quando começar esse fogo amigo sobre seu pai.
.........................
POR José Pires

terça-feira, 16 de abril de 2019

Os rolos de Flavio Bolsonaro e suas tentativas de botar medo na imprensa

O ex-deputado estadual pelo Rio e atual senador Flavio Bolsonaro disse que vai processar o jornalista Ancelmo Gois. A razão alegada pelo filho de Jair Bolsonaro é uma nota publicada em O Globo, na qual, ainda conforme diz o político, o colunista “afirma que eu apoio a milícia”.

Em sua coluna em O Globo, Ancelmo escreveu o seguinte: "A milícia – que tem apoio em setores políticos, como mostrou o recente rolo do senador Flavio Bolsonaro – constrói prédios como esses que desabaram na Muzema, alguns até de oito andares, sem licença da prefeitura e com a conivência de setores da Justiça".

Vamos ver se de fato o senador do PSL levará à frente o que promete. Porém, sua ameaça parece mais uma jogada para levantar um factóide e amenizar o estrago em sua imagem, além de atiçar as tropas bolsonaristas contra Ancelmo e por extensão intimidar a imprensa. Flavio deve saber da difilculdade de obter sucesso em uma ação na Justiça.

É botar medo em seus críticos a verdadeira intenção do senador que quando era deputado tinha o famoso ex-policial Fabrício Queiróz como assessor de seu gabinete, com seus rolos ainda não explicados que envolvem depósitos muito suspeitos, com R$ 1,2 milhão registrados pelo Coaf como “movimentação atípica”. Foi registrado também um cheque de 24 mil reais para a atual mulher de seu pai, Michelle Bolsonaro.

O gabinete de Flavio na Assembleia fluminense também empregava em cargos comissionados parentes do ex-policial Adriano Magalhães Nóbrega, acusado de chefiar uma das milícias mais poderosas do estado, que domina pela violência Rio das Pedras, na zona oeste da cidade. Acusado de homicídio e expulso da Polícia Militar, Nóbrega teve mandado de prisão expedido em janeiro na Operação Intocáveis, da Polícia Civil e do Ministério Público do Rio. Ele está foragido.

Nóbrega também foi homenageado por Flavio na Assembleia fluminense em 2003, por sua atuação como policial. Ele recebeu a Medalha Tiradentes, considerada a maior honraria do estado. A homenagem foi em razão de uma ação violenta da polícia.

Mas, enfim, como eu disse, não acredito que o texto escrito pelo senador no Twitter, com a ameaça ao jornalista, tenha de fato um objetivo jurídico. Na mesma mensagem, Flavio sugere que sejam enviadas cartas à redação de O Globo criticando Ancelmo e indica até o tema: a relação que o jornalista pode ter com as falcatruas de Sérgio Cabral, por ser velho amigo do pai do ex-governador, o grande jornalista Sérgio Cabral, que foi inclusive um dos criadores do semanário O Pasquim. Evidentemente ele nada tem a ver com os crimes do filho político.

Isso que o senador fez costuma ser um sinal para o acionamento da violenta militância bolsonarista nas redes sociais e pode servir também como um estímulo para que o jornalista seja abordado em público por bolsonaristas. Todo mundo sabe como a vida de uma pessoa pode virar um inferno com esse clima de intimidação.

Ancelmo já vem sendo vítima de ataques desse tipo. Essa história da KGB começou com Olavo de Carvalho, que, por sinal, já foi também agraciado com a Medalha Tiradentes por Flavio Bolsonaro. Quando o então ministro Ricardo Vélez Rodríguez e Olavo ainda se davam bem, o Ministério da Educação chegou a divulgar uma nota oficial em resposta ao colunista de O Globo, fazendo alusões despropositadas à KGB, como se o jornalista tivesse manipulado uma informação da mesma forma que fazia este organismo de repressão do comunismo soviético.

A intenção era a de criar um paralelo com a militância política de Ancelmo no Partido Comunista Brasileiro no passado e seu exílio na extinta União Soviética na época da ditadura militar brasileira, história relatada pelo próprio em entrevista para a ABI. Já vai para décadas o rompimento do jornalista com o PCB e ele nunca atuou para a KGB. No entanto, nas narrativas fraudulentas desse pessoal ligado ao governo Bolsonaro a verdade não importa nem um pouco.
___________________


A mensagem de Flavio Bolsonaro no Twitter, com foto do jornalista Ancelmo Gois e Sérgio Cabral, pai do ex-governador Cabral

segunda-feira, 15 de abril de 2019

Museu de História Natural de Nova York não quer nada com Bolsonaro

O evento da Câmara de Comércio Brasileira-Americana, que inclui uma homenagem ao presidente Jair Bolsonaro não vai mais acontecer no Museu de História Natural de Nova York conforme estava previsto. A diretoria do museu recusou sediar a festa, depois de manifestações contrárias de personalidades e nas redes sociais à presença do presidente brasileiro. Em nota divulgada para a imprensa, a instituição explicou o seguinte: "O evento, de nenhuma maneira, reflete a posição do museu que há uma necessidade urgente de conservar a Amazônia, que tem profundas implicações para a diversidade biológica, as comunidades indígenas, mudança climática e o futuro da saúde do nosso planeta". De fato, nada mais antinatural que uma homenagem a Bolsonaro em um museu de história natural.

O prefeito de Nova York, Bill de Blasio, também criticou a escolha de Bolsonaro, considerando que o presidente brasileiro é capaz de exercer um impacto negativo ao que acontece com a Amazônia. A Câmara de Comércio Brasileira-Americana ainda não divulgou a personalidade americana a ser homenageada, mas deve estar sendo difícil encontrar alguém disposto a arriscar sua imagem em um evento com todo este repúdio e que pode ter ainda mais más repercussões. Até fiquei curioso em saber qual é o gringo otário que vai cair nessa.

A situação deveria servir para a equipe de Bolsonaro refletir sobre o desgaste para a imagem do Brasil, devido ao posicionamento do presidente e de seu governo, além da porção de bobagens que ele fala quando trata de assuntos que envolvem a preocupação de outros países com a atual situação mundial no plano político, da segurança internacional e na questão ambiental.

Por causa de Bolsonaro e sua equipe de alucinados, nosso Brasil vem sendo visto como uma republiqueta de bananas, sem direcionamento político de qualidade, onde é total a falta de inteligência e bom senso para compreender este tempo terrivelmente delicado deste nosso planeta.
.........................
POR José Pires

A censura do STF contra a revista Crusoé e O Antagonista

Nos últimos meses o Supremo Tribunal Federal vem desempenhando um papel lamentável, atuando para fazer retroceder conquistas importantes no âmbito da ética e do combate à corrupção, desfazendo feitos alcançados com muito esforço pela sociedade brasileira. Um tribunal que deveria zelar pelo rigor na aplicação da lei, age de forma contrária. E em vez de ser um fator de harmonia da nossa democracia e da atividade política, atua como um destrutivo desestabilizador.

Nesta segunda-feira, o ministro Alexandre de Moraes deu mais um passo na prática autoritária desta casta de togados. Próximo das 11 horas da manhã o site O Antagonista recebeu uma ordem judicial do ministro determinando que a revista Crusoé retire “imediatamente” do ar a reportagem de capa da última edição, com o título “O amigo do amigo de meu pai”.

A matéria é sobre a descoberta do nome do ministro Dias Toffoli em planilha de propina da construtora Odebrecht. Respondendo a um pedido de esclarecimento feito pela Polícia Federal sobre a citação de um personagem do escândalo de corrupção, identificado em depoimento do empreiteiro Marcelo Odebrecht como “amigo do amigo de meu pai”, a Odebrecht respondeu tratar-se de Dias Toffoli.

Com essa ordem contra a publicação da reportagem, o STF está fazendo censura contra a Crusoé. A medida de censura se estende ao site O Antagonista, que também fica obrigado a eliminar a publicação do texto na internet. A pena pelo descumprimento é de multa diária de cem mil reais. O despacho do ministro também intima os jornalistas responsáveis pelo site O Antagonista e pela Crusoé a prestar depoimento na Polícia Federal.

Desde a ditadura militar não se via algo parecido, ressaltando que na época não era o STF que perseguia jornalistas, impedia a liberdade de imprensa e decretava censura. Os abusos do STF estão indo longe demais, com o tribunal agindo fora de suas funções, atuando com evidente conflito de interesses, na incondicional proteção aos integrantes da Corte, como neste caso e em outros que estão incluídos em inquérito que corre neste tribunal.

Nesta medida contra o Antagonista e a revista Crusoé, foram extrapolados todos os limites, com o tribunal atuando como acusador, investigador e no julgamento que determinou a condenação. Com o despropósito dessa atitude autoritária de censura nem cabe mais perguntar onde isso vai parar. A verdade é que o STF já foi longe demais.
.........................
POR José Pires

domingo, 14 de abril de 2019

Um presidente fora do razoável

Paulo Guedes falou neste domingo sobre a decisão de Jair Bolsonaro de mandar a Petrobras suspender a alta de diesel nas refinarias. O ministro da Economia, que ainda está em Washington, disse que "é evidente que aparentemente já houve um efeito ruim".

Bem, “aparentemente” a Petrobras teve de imediato uma perda de 32 bilhões, além da intervenção do presidente ter quebrado a imagem de independência da empresa, estabelecida — vejam só — por Michel Temer, que havia eliminado a má-fama deixada pela ingerência no governo de Dilma Rousseff. E também "aparentemente" ficou claríssima a dificuldade de tocar um programa de ajuste nas contas, com Bolsonaro com o poder de dar a última palavra.

Mas achei bem significativa a explicação de Guedes sobre a utilidade de um episódio como este para afinar o relacionamento entre os dois. O ministro disse que é possível “consertar” se Bolsonaro “fizer alguma coisa que não seja muito razoável”.

Mas é mesmo sui generis este governo. Não me lembro de nenhuma vez ter visto um ministro falando desse jeito de um presidente, como estivesse se referindo a um adolescente não muito bom da cabeça. Acho até que isso é inédito mundialmente. Mas é bastante parecido com a opinião de boa parte dos brasileiros sobre esse sujeito que caiu na Presidência da República de uma forma inesperada até para ele.
.........................
POR José Pires

Ministro ameaça deputada: mais uma para Bolsonaro resolver

Nunca houve nenhum governo com tantas encrencas como este de Jair Bolsonaro.  Sempre está aparecendo coisa nova, seja no governo ou no partido do presidente, o inacreditável PSL, que consegue se sobressair em sujeiras mesmo no lamaçal partidário brasileiro. Neste sábado estourou o escândalo da ameaça de morte feita pelo ministro do Turismo Marcelo Álvaro Antônio à deputada Alê Silva, do PSL de Minas Gerais.

Em entrevista à Folha de S. Paulo, a deputada afirma que o ministro fez as ameaças em reunião com correligionários, no final do mês passado. Alê Silva ja deu depoimento à Polícia Federal e pediu proteção policial contra as ameaças. Segundo ela, "é pesado" o relato que recebeu de uma testemunha das ameaças do ministro. Vejam sua versão: “Essa pessoa me disse que ele [Álvaro Antônio] falou assim: ‘Eu vou parar a minha vida para acabar com a vida dela’”.

O clima de violência é por causa do laranjal do PSL, que tem Álvaro Antônio como um dos principais acusados. Pode-se dizer que esse problema entre a deputada e o ministro é em grande parte responsabilidade de Bolsonaro, que não consegue enfrentar nenhuma questão de frente. Bolsonaro se negou a demitir o ministro, quando apareceram as denúncias de sua participação em esquema para lançar candidaturas-laranjas, na campanha eleitoral do ano passado em Minas Gerais. O presidente disse que aguardaria o relatório da Polícia Federal para tomar uma decisão.

Ficou esperando até agora, quando surge um fato grave que exige um posicionamento imediato seu. Tem gente de peso ao lado da deputada ameaçada. Pelo Twitter, Janaina Paschoal exigiu a demissão do ministro. E agora, como é que fica? Para não ter sido demitido logo que surgiram as denúncias, obviamente Álvaro Antônio deve ter muito prestígio com o presidente ou alguma outra coisa que não estamos sabendo. E pelo jeito, seu protegido também não dá a mínima para a autoridade do presidente.

Mas depois dessa notícia ficou difícil para Bolsonaro mantê-lo no cargo. Além do pedido público de Janaina, o assunto toca em algo que politicamente sempre foi um problema na carreira do presidente, que é a relação política com as mulheres. Seja como for, o desfecho será no seu estilo, em decisão que só acontece depois de dar um tempo para que o problema piore bastante.
.........................
POR José Pires

Bolsonaro, o perdoador do Holocausto

Quem será que anda conversando com o presidente Jair Bolsonaro sobre a cultura do povo judeu? Como ele anda se metendo em assuntos do Oriente Médio é preciso melhorar seus conhecimentos na área. Do jeito que está, ainda vai dar problema. Agora ele veio com a afirmação de que é possível perdoar o Holocausto, mas não esquecer. Me senti na obrigação de verificar se era mesmo verdade, afinal a frase é absurda até mesmo para um sujeito sem noção como o presidente.

Bem, tem até um vídeo como registro, onde ele até destaca sua autoria. Parece que ele tem orgulho da sacada. “E é minha esta frase”, ele ressalta depois de dizer a bobagem. Ora, como é possível que alguém possa acreditar que pode-se perdoar um genocídio organizado, que resultou em seis milhões de mortos e que tinha como objetivo a eliminação total dos judeus? Bolsonaro acredita nisso. Ele acha que é possível perdoar esta mortandade em massa.

O povo judeu com certeza não acredita nisso. Tanto é assim, que o Holocausto tornou-se uma questão central da identidade judaica, com um esforço histórico pela punição de criminosos nazistas, inclusive com o sequestro de nazistas refugiados em outros países, como ocorreu com Otto Adolf Eichmann, capturado em 1960 na Argentina pelo Mossad. Não teve perdão. O criminoso foi julgado e enforcado em Israel.

O julgamento foi acompanhado pela filósofa Hannah Arendt, que depois escreveu o livro “Eichmann em Jerusalém”, onde temos o famoso conceito sobre a “banalidade do mal”. Como Olavo de Carvalho anda dizendo que Bolsonaro é um aplicado leitor, agora com o presidente envolvido em temas judaicos talvez fosse interessante aconselhar sua leitura.

Bolsonaro tem que tomar cuidado, pois se o seu governo não for bem, pode haver a a redenção dos governos petistas de Lula e Dilma Rousseff. No quesito de bobagens proferidas por um presidente, esses primeiros meses demonstram que é grande o risco inclusive do brasileiro esquecer as idiotices ditas por Dilma, diminuídas por este novo campeão em dar bola fora que agora despacha no Palácio do Planalto.
.........................
POR José Pires

sexta-feira, 12 de abril de 2019

A proposta ultraliberal de Paulo Guedes com problema de combustível

O ministro da Economia, Paulo Guedes, se negou a comentar a revogação do aumento do preço do diesel pela Petrobras, por ordem de Jair Bolsonaro. Guedes está em Washington e passou “o dia todo trabalhando”, como ele disse ao tentar  evitar falar sobre o chefe fazendo controle artificial de preços no Brasil. As notícias são de que o ministro aparentava irritação, normal para o Guedes, mas qualquer um no lugar dele não estaria gostando nada do que aconteceu.

Uma ponto essencial da pauta de sua viagem é exatamente tranquilizar o chamado mercado, com a garantia de que a cargo dele está em curso uma agenda liberal na economia do Brasil. Não é preciso ser um especialista para saber que uma ordem do Palácio do Planalto mandando a Petrobras recuar em um aumento de combustíveis nada tem a ver com essa doutrina.

O porta-voz da Presidência, Otávio do Rêgo Barros deu a entender nesta sexta-feira que Bolsonaro não avisou Guedes da sua intervenção. É uma pena, pois a atitude fez a Bolsa balançar, com a Petrobrás desabando em 5 pontos. Sempre é uma chance de ganhar um troco, como Guedes sabe melhor do que nós. Ontem, em Washington, o ministro já havia dito algo que parece mostrar que está difícil a liga com o presidente. Ele disse o seguinte: “Bolsonaro está apaixonado pela reforma? Claro que não, mas entende que é importante”.

Ah, bom. Mas de qualquer forma parece ser uma situação difícil esta, de um presidente ainda não totalmente convencido sobre um projeto do governo dele mesmo, que já está correndo no Congresso Nacional. Outra declaração do ministro sobre o mesmo tema pode ser vista como um esclarecimento a mais sobre a questão. “Políticos espertos não querem a reforma para discutir a um ano de eleição municipal”, ele disse.

Não vou dizer que é uma indireta para o chefe, mas a verdade é que o único raciocínio de Bolsonaro sempre foi o do ganho político imediato. Há décadas ele vive disso, do mesmo modo que a vida de Guedes sempre foi faturando no mercado de capitais. É uma questão de objetivos.

Bolsonaro não tem como objetivo a conquista do mundo e do coração dos brasileiros com uma plataforma política liberal em economia. Além de que deve ter gente piando na sua cabeça que não é por esta via que seu perfil se encaixa. E não se pode dizer que falte traquejo político a quem afirme tal coisa. Imaginem o Brasil dando certo e encontrando um caminho de razoável equilíbrio com as idéias liberais de Guedes.

Raciocinemos com o sucesso da coisa. Num desenlace desses, quem vocês acham que estaria muito forte para disputar o governo em 2022? Podem apostar que é provável que o clima político fique mais favorável ao formulador da milagrosa receita do que para uma reeleição.

No entanto, especulações políticas de longo prazo dependem do ovo, por ora dentro da galinha. Não são poucos os que acreditam que essa reforma da Previdência já gorou. O ministro Onyx Lorenzoni tem que aparentar otimismo. Ele acha que até julho ela está aprovada na Câmara. A liderança do DEM na Câmara pensa diferente: a conclusão só será concluída na primeira semana de dezembro e isso no melhor dos cenários.

Como se vê, pode ser que a reforma salte para 2020, ano eleitoral. Seria uma condição exemplar, pois nada melhor que os políticos trabalhem sobre a Previdência da população e ao mesmo tempo busquem a conquista da confiança do eleitor nas eleições municipais. O Guedes é que não vai gostar. Até porque ficaria ainda mais difícil fazer o Bolsonaro se apaixonar pela proposta.
.........................
POR José Pires

quinta-feira, 11 de abril de 2019

Maria do Rosário versus Danilo Gentili: a petista ataca de novo em favor do adversário

Danilo Gentili foi condenado à prisão por ofender a deputada Maria do Rosário. O objeto da ação é um vídeo no qual ele rasga uma notificação da Câmara dos Deputados e esfrega os pedaços de papel dentro das calças. Cabe recurso. A encenação é grotesca, mas o sentido de crítica e humor de Gentili sempre foi esse. Foi também o que se estabeleceu de forma destacada nos últimos tempos como linguagem, nesta era em que parece haver uma competição sobre quem pode ser mais grosseiro para emplacar popularidade nas redes sociais.

No entanto, cabe apontar que a notificação de Maria do Rosário que Gentili enfiou na cueca era para processá-lo por uma piada, uma das tantas que não só ele, mas outros comediantes e youtubers fazem hoje em dia com políticos de qualquer posição, inclusive na zoação de direitistas como o presidente Jair Bolsonaro. Sempre mal-humorada, a deputada petista não achou graça e ainda acreditou que poderia intimidá-lo.

Com essa condenação absurda, Maria do Rosário segue na sua tarefa histórica de fabricar falsos mitos com suas contraposições sem nenhum senso estratégico nem sequer tático, independente dela ter ou não razão. O problema é que a deputada petista não tem senso de medida nem sabe avaliar o risco dos efeitos contrários à sua disposição em levar a melhor em qualquer situação. Isso é próprio da turma do PT, como se viu na balbúrdia de sua bancada no Senado durante o processo de impeachment, na louca estratégia de defesa que serviu para acelerar a queda de Dilma Rousseff.

Foi também dessa forma que Maria do Rosário deu início ao processo de crescimento do prestígio de Jair Bolsonaro, com aquela discussão estúpida em 2003, quando interrompeu uma entrevista do então deputado do baixo clero chamando-o de estuprador. Houve o grosseiro revide dele. E o resto é História. Desse vídeo, seguiu-se uma movimentação política e de comunicação que alavancou o prestígio de Bolsonaro até chegar à sua eleição para presidente da República.

O efeito dessa ação agora da deputada petista é o de fazer de um apresentador de um programa de entrevistas e humorista de qualidade discutível um paladino da defesa da liberdade de expressão. Não dá para prever que um dia ele possa alcançar a Presidência da República, embora seja difícil supor que possa ser pior do que Bolsonaro como presidente. Mas o fato é que com o destaque dado a Gentili por esta ameaça de prisão, Maria do Rosário repete o feito de conceder a um adversário mais mérito do que ele merece.
.........................
POR José Pires


Olavo de Carvalho e o fiasco de seus olavetes

Olavo de Carvalho deu uma entrevista a Pedro Bial, em seu programa “Conversa com Bial”, na TV Globo. É uma repetição das suas explicações sobre os rolos em que se meteu depois de fazer indicações de nomes para o governo de Jair Bolsonaro, exatamente para ministérios que até agora criaram as maiores complicações. O pior caso é o do Ministério da Educação, onde o indicado de Olavo, Ricardo Vélez Rodríguez, foi incapaz de desenvolver a gestão básica do ministério, comprometido em sua eficiência por inéditas confusões que envolveram disputa política, com o professor de filosofia por detrás, atuando agressivamente nos bastidores, da sua casa na Virgínia, nos Estados Unidos.

Desde que começou o conflito, no qual teve vários discípulos demitidos do ministério em meio a bate-bocas violentos, Olavo vem procurando se desvencilhar de obrigações políticas com o desastre provocado em uma das pastas mais importantes do país e de especial relação com antigas preocupações suas. Já faz tempo que o professor acusa a esquerda pelo desmantelamento do ensino no Brasil. O problema é que agora, com a chance de influenciar positivamente nesta área, Olavo demonstrou que na prática nada tem a contribuir. Duvido que se saiba de qualquer proposta para a Educação ou de qualidade na gestão, mesmo que da maior simplicidade, que Olavo tenha trazido durante a confusão desde que esse governo começou.

O velho professor, que durante anos batalhou para ser reconhecido como “filósofo”, mostrou que mal consegue ter propostas práticas para que a Educação se encaminhe por um rumo melhor no país, o que desmoraliza também seu papel como educador ou ao menos na credibilidade como crítico do que vinha sendo feito até agora. Sem dúvida, é baixa a qualidade do que a esquerda fez no poder, mas o que Olavo vem mostrando é muito pior. Ele também se desmoralizou como estrategista político, envolvendo-se em conflitos menores, com uma constrangedora dificuldade em colaborar para que as coisas andem no governo que tem seu apoio. Ao contrário, com Olavo ao lado um governo nem precisa ter oposição. Imaginem um professor que em vez de estar à frente do processo, colocando equilíbrio na cabeça da moçada e dando instrução à classe, se junta à bagunça dos piores alunos no fundo da sala: este é o Olavo que foi exposto publicamente depois que ele alcançou fama nacional.

Para justificar o desastre no qual está envolvido, na entrevista com Bial ele traz uma conceituação nova, para se juntar à maçaroca política em que ele é o maior embolador em dezenas de posts diários de sua página de Facebook, que parece escrita não por um professor, mas por um moleque mal educado, um “idiota político”, como Olavo gosta de classificar qualquer um que toma como inimigo. Segundo o que ele diz, na substituição de Vélez Rodríguez por Abraham Weintraub, “conseguiram trocar um pseudo olavete por um verdadeiro olavete”. Olavete é um termo pejorativo criado para identificar discípulos fanatizados do professor, depois adotado por seus próprios alunos e agora também por ele, com indisfarçado orgulho pelo apelido idiota.

Como se vê, existem categorias entre os olavetes, mas é claro que o “verdadeiro olavete” só terá prestígio enquanto seguir estritamente as ordens vindas da Virgínia e respeitar o ritual de adoração semanal no COF, o cursinho de filosofia à distância que Olavo professa desde a longínqua Virgínia. Por enquanto apenas em início do serviço, o ministro Wientraub recebe selo de qualidade como “verdadeiro olavete” do proprietário do cursinho de filosofia. Mas qualquer contradição que aparecer — sendo mais grave quando em contraposição ao professor — fará o novo ministro da Educação ser jogado às feras do fundo da classe, que estimulados na feroz bagunça por Olavo praticam a chamada destruição de reputação com as mãos mais pesadas das redes sociais.
.........................
POR José Pires

quarta-feira, 10 de abril de 2019

Bolsonaro: sem dias de governo

Jair Bolsonaro cancelou na úlrima hora o pronunciamento em rede nacional de rádio e TV sobre os 100 dias de seu governo. O discurso estava escrito e a transmissão havia sido programada pela EBC.

Na data praticamente protocolar de todo governo ele recua de falar de seus 100 dias de governo. Mas também pudera: os cem dias desse governo estão mais para sem dias de governo.
.........................
POR José Pires

Vélez Rodríguez, o ministro que desviava a atenção da incapacidade dos colegas

Ricardo Vélez Rodríguez vai fazer falta. Calma, ele fará falta aos demais ministros do governo Bolsonaro, já que era um tremendo imã da negatividade, atraindo quase toda a atenção dos brasileiros com a enormidade de confusões durante a sua, digamos, gestão.

Vélez Rodríguez era de fato muito ruim de serviço, mas a maioria dos ministros de Bolsonaro também não é grande coisa. Uma das consequências do monte de burrada feitas por ele foi que o restante dos ministros teve tranquilidade para fazer suas burradas sem que ninguém prestasse tanta atenção. Imaginem o que não corre por todos esses ministérios, onde a qualidade de comando é quase a mesma de um Vélez Rodríguez e em muitos casos de nível até mais baixo.

Enquanto esteve à frente do Ministério da Educação, por exemplo, Vélez Rodríguez evitou que houvesse mais atenção ao ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, que não é apenas um alucinado que não fala coisa com coisa. Araújo também tem dificuldades terríveis para se expressar. Experimentem ver um trecho de qualquer vídeo onde ele aparece. O chanceler parece ter um problema sério de cognição. Alguém acha que pode sair grande coisa de um chanceler que não consegue falar meia dúzia de frases sem se enrolar todo?

E nesta terça-feira, Vélez Rodríguez fez falta para a ministra da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Tereza Cristina, deputada licenciada do DEM e fazendeira. Durante depoimento em uma comissão na Câmara dos Deputados ela afirmou que os brasileiros não passam muita fome porque têm "manga nas cidades". Sim, ela disse esse absurdo, que até traz a lembrança daquela presidente que saudava a mandioca.

Com a falta do Vélez Rodríguez, a idiotice da ministra da Agricultura teve destaque. Vejam sua fala: "Agricultura para países que tiveram guerra, que passaram fome, é questão de segurança nacional. Nós nunca tivemos guerra, nós não passamos muita fome porque temos manga nas nossas cidades, nós temos um clima tropical”.

O que será que uma figura que pensa esse tipo de cretinice estará fazendo em seu ministério? Não me refiro à defesa de privilégios de ricos donos de terras, da anulação de multas e repetidas anistias de dívidas com bancos públicos, além de tantos outros benefícios dados com facilidade, governo atrás de governo, que isso para isso a habilidade desse pessoal dá conta.

Estou falando em políticas efetivas de produção agropecuária e de alimentos saudáveis para os brasileiros, do progresso e aumento de ganhos sem tirar os lucros do esgotamento dos nossos recursos naturais e da qualidade do meio ambiente. Duvido que a ministra da manga que mata a fome do brasileiro tenha alguma diferença de um Vélez Rodríguez quanto às exigências de trabalhar pelo país e não só pelo interesse de magnatas do campo e da cidade.
.........................
POR José Pires

segunda-feira, 8 de abril de 2019

Muito além do jardim para Jair Bolsonaro

Na semana passada, Jair Bolsonaro veio de novo com mais uma de suas falas constrangedoras, quando procura justificar algo e acaba expondo de forma brutal seu despreparo. Em discurso na inauguração de uma ouvidoria do governo federal, ele disse que “não nasceu para ser presidente” e que o cargo é “só problemas”. Falando sobre o desconforto com as obrigações do cargo, ele veio com essa: “Não me sobe à cabeça o fato de ser presidente. Eu me pergunto, eu olho para Deus e falo: O que eu fiz para merecer isso? É só problema, mas temos como ir em frente, temos como mudar o Brasil”.

A situação desse político atordoado, às voltas com as obrigações de um cargo muito além de sua capacidade lembra bastante a figura de Mr. Chance, personagem de um filme que as novas gerações desconhecem. Todo mundo devia assistir esta obra-prima, mais que pertinente ao que vivemos nos dias de hoje. O filme é “Being there” ou “Muito além do jardim”. O protagonista ficou por conta de Peter Sellers, espantosamente perfeito no papel, como acontece em todos os filmes em que aparece. É uma comédia que exige na construção da personagem central muita capacidade técnica de atuação. Mr. Chance tem que ser convincente, embora tudo o que ele diz e propõe seja próprio de um homem que passou toda a vida isolado da realidade. O desafio resolvido de forma muito hábil pelo grande ator é que embora dizendo os maiores absurdos, o protagonista não pode ser tomado como um idiota qualquer.

O filme é extraído de um livro excelente, de um dos escritores mais singulares que já existiu, o polonês Jerzy Kosinski, que viveu nos Estados Unidos. Foi dirigido por Hal Ashby. O roteiro é também de Kosinski, inteiramente perfeito, especialmente na construção de Mr. Chance, que na obra escrita é de uma síntese primorosa. Editado no Brasil, aqui é atualmente uma raridade. Kosisnki tem outros livros muito bons, impossíveis de serem encontrados neste deserto cultural que virou o Brasil.

Mr. Chance é um homem totalmente ingênuo. Passou toda a vida como jardineiro em uma mansão, onde seu único contato com o mundo era pelo que via na televisão. Viveu isolado desde a infância neste lugar cercado por muros altos, até que seu patrão morre e ele é obrigado a deixar a casa. Depois de ser atropelado por um magnata passa a ter contato com industriais e dirigentes políticos. A partir daí, tudo o que ele diz vai sendo interpretado como declarações geniais e propostas políticas de grande poder de resolução. Acontece que ele apenas repete em outros contextos o que passou a vida assistindo na televisão. E mesmo quando Mr. Chance fica calado por não compreender o que lhe pedem, alguém encontra uma compreensão que se encaixa de forma esclarecedora em seu silêncio. O livro é uma crítica profunda à falta de qualidade da comunicação de massa. Trata também do vazio intelectual da política. É uma visão pioneira, pois o filme é de 1979.

Na política, Bolsonaro é o próprio Mr. Chance, com a ressalva de que, ao contrário desta personagem de ficção, nosso presidente é altamente ambicioso e sem nenhum escrúpulo em se dar bem, aproveitando as chances que aparecem. Outra diferença muito grande é que as facilidades de Bolsonaro como Mr. Chance se esgotaram com sua eleição. Até ser eleito ele podia dizer as maiores barbaridades, sem que houvesse a obrigação de ter que mostrar o funcionamento na prática. O que temos agora, neste desconsolo e no visível apavoramento do presidente é o segundo episódio de Mr. Chance, que é claro que o filme não teve. Porém, a vida real segue implacável.

Do mesmo modo que acontece no filme com Mr. Chance, até a eleição de Bolsonaro, cada declaração estúpida que ele dava — e foram tantas! — era logo interpretada como uma resposta objetiva a determinado problema brasileiro. Claro que houve também um esperto aproveitamento político, mas a verdade é que era de forma natural que Bolsonaro ia encaixando suas grosserias. Desse modo, ele acabou sendo visto como um sério demolidor do politicamente correto, implacável com os bandidos da política e também do crime comum, o homem que iria colocar o país numa era de equilíbrio moral e político. O candidato de uma direita tosca foi amoldado ao sonho conservador do fim do aparelhamento das instituições públicas e do desmascaramento do discurso esquerdista da proteção de minorias, eliminando de uma tacada esta ferramenta perigosa da instituição do comunismo em nosso país.

Claro que o que era atacado com grosserias e propostas simplórias por Bolsonaro tinha solidez real, como o que também ocorria com as questões resolvidas por Mr. Chance apenas com uma frase. Cabe fazer um paralelo entre ambos no prestígio alcançado sem exame algum dos problemas, apenas pelo entusiasmo popular produzido por comentários estúpidos. Porém, as semelhanças terminam quando Bolsonaro é obrigado a enfrentar a obrigação pessoal de demonstrar na prática o funcionamento de sua visão muito simples para a solução de complexos problemas nacionais. É neste segundo episódio do nosso Mr. Chance que estamos há um pouco mais de três meses. E até que não levou tanto tempo assim para os brasileiros perceberem que se enganaram com alguém que foi suficientemente estúpido para não medir as conseqüências de chegar a um cargo executivo de tanta responsabilidade, munido apenas de suas concepções do baixo clero da política.

Como eu disse, não houve um segundo episódio para Mr. Chance — quase escrevia “Mr. Chance real”. Na discussão crítica proposta no filme o protagonista idiota não assume responsabilidade direta por nenhuma de suas opiniões. Não é o caso de Bolsonaro, como os brasileiros assistem com um espanto que se aproxima cada vez mais do horror, até porque não dá para se entregar ao riso, já que nesta comédia grotesca não estamos no papel de platéia. É no palco que o nosso destino permanece ligado ao político colocado quase por acaso na Presidência da República — aí sim, temos o Mr. Chance “real”. O final deste enredo ninguém sabe, mas com certeza nenhum de nós se salva, muito menos os que abriram a possibilidade deste segundo episódio real e avassalador, colocando no poder um homem totalmente inepto para a comprovação de forma prática de tudo que na realidade ele não sabia como fazer.
.........................
POR José Pires


___________________

Imagem- Mr. Chance do filme e o Mr. Chance da nossa realidade, agora
em um terrível segundo episódio

quinta-feira, 4 de abril de 2019

A reforma da Previdência na voz pouco hábil de Paulo Guedes

O ministro Paulo Guedes é o pior defensor de suas próprias ideias. O problema começa pelo fato dele não ter a plena compreensão sobre seu papel político. Guedes é um sujeito de maus bofes, mas de qualquer modo, mesmo alguém de personalidade autoritária pode adquirir consciência sobre a forma de agir para atingir determinados objetivos. Para isso ele teria de ter uma boa assessoria política, sendo até provável que tenha, porém o ministro não parece ser do tipo que ouve críticas e acata as necessárias correções.

Não é pelo atrito e a discussão política de contornos ideológicos que ele poderá ter sucesso no convencimento sobre a importância da sua proposta de reforma da Previdência. O que se espera dele são explicações aprofundadas sobre o que tem em vista com esta reforma, não só do conteúdo específico da proposta como também de seus efeitos e de outras ações econômicas em paralelo, no aproveitamento na economia brasileira dos benefícios de uma nova Previdência e também no suporte à aplicação prática da reforma, caso seja aprovada pelo Congresso.

Guedes deve ter em andamento em seu ministério ações desse tipo — pelo menos é o que se espera dele, que ao contrário do que se vê até agora, não é só o ministro da Previdência, mas da economia como um todo. São estas questões, mais aprofundadas e ampliadas nas ações exigidas em nossa economia, que ele deveria trazer em suas explanações, concentrando esforço mais na qualidade técnica, sem cair nas provocações de tipos como Zeca Dirceu e seus companheiros. Mesmo se tiver razão, na sua posição Guedes não tem como se beneficiar de um debate pontual com políticos adversários de suas teses ou com inimigos inconciliáveis.

Com o debate ideológico, o ministro lança-se no terreno desejado pelos adversários, além de que para isso ele não tem traquejo. Guedes não é bom orador, não atingindo nem qualidade mediana na exposição de ideias e não tem o controle dos nervos. Perde facilmente as estribeiras e acaba atingindo em bloco a classe política quando é puxado por um adversário para uma discussão, que sempre acaba em um mal-estar geral mesmo quando sua opinião é a mais razoável.

Já correm pela internet vários posts produzidos pela máquina subterrânea de comunicação do bolsonarismo, naquela forma tosca de pensar que já é um padrão dessa gente. Em todas essas mensagens de propaganda que fingem ser políticas é o Guedes que leva a melhor, “calando” os adversários, “lacrando” ou dando-se bem, conforme é o estilo desses posts ridículos que a meu ver levam os governistas à crença equivocada de que as coisas estão indo bem.

A proposta de reforma da Previdência deste governo saiu menor desta audiência de Guedes na Câmara, com a revelação de mais defeitos que qualidades, pesando bastante nesta desproporção a atuação do próprio ministro, que é um desastre como comunicador e para lidar com os políticos. No entanto, se ele seguir a onda artificial das redes sociais vai acreditar que tudo está indo às mil maravilhas. Claro que isso deve piorar ainda mais o que já não vai nada bem.
.........................
POR José Pires