terça-feira, 24 de setembro de 2019

Glenn Greenwald e seus parças hackers

A Polícia Federal vem descobrindo cada vez mais provas de que existe uma maquinação por detrás da exploração das mensagens roubadas de celulares de procuradores do Ministério Público, que vem sendo publicada pelo site The Intercept, do jornalista americano Glenn Greenwald. Desde que começou a publicação das mensagens, Greenwald insiste na história de que recebeu o material dos hackers sem que tivesse uma ligação direta com nenhum deles. Tudo teria ocorrido praticamente por acaso, a partir de um telefone ao jornalista por um dos participantes do esquema oferecendo o material.

Não é bem o que está sendo revelado, conforme avança a investigação da PF. Na semana passada foi preso mais um hacker, o estudante de direito Luiz Henrique Molição. Os policiais haviam chegado até ele a partir de um diálogo com um interlocutor com sotaque americano. E quem é nesta história que tem tal sotaque? Pois nesta segunda-feira o site O Antagonista deu a notícia de que os policiais concluíram que esta pessoa é mesmo Glenn Greenwald.

A prisão do hacker Molição reforçou a suspeita de que Walter Delgatti Neto, o Vermelho, primeiro hacker preso em 23 de julho, não agiu sozinho como ele dizia. Segundo os investigadores “a ação criminosa não foi obra de um indivíduo isolado”. Segundo O Antagonista, o diálogo entre Greenwald e hackers revela que ele falou com integrantes do grupo preso e também tratou com eles da estratégia da publicação do material roubado.

O relacionamento parece muito mais próximo do que a relação entre uma fonte jornalística e um profissional da imprensa, como alega Greenwald. A investigação da PF descobriu que até o humorista Gregório Duvivier manteve contatos com Walter Delgatti Neto. Duvivier articulava com o hacker e Greenwald a divulgação de mensagens em seu programa de televisão. Em áudio descoberto na investigação, Duvivier faz gracinha ao atender um telefonema de Delgatti. Demonstrando intimidade, o humorista cumprimenta com um “bom dia, hacker”.

As investigações prosseguem e certamente logo mais serão reveladas mais mensagens de conversas com os hackers. Acredito que o bom humor dessas figuras não deverá durar muito.
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POR José Pires

segunda-feira, 23 de setembro de 2019

Greta Thunberg, a cobradora do futuro

A imagem que publico aqui é da capa da revista italiana Internazionale, de março deste ano, bem antes dos reclamos da suequinha Greta Thunberg e da meninada toda ressoar dessa forma impressionante no mundo todo, agora adquirindo o tom correto para tratar da questão ambiental, que é o da voz dos que vão arcar com as consequências do está sendo feito agora com o planeta Terra. Agora Greta está com 16 anos e nesta foto é ainda criança. Já faz tempo que a Europa vem debatendo seriamente os riscos graves que afetam nosso planeta. O aquecimento global já é mais que uma discussão teórica. O problema já se apresenta entre os europeus, com temperaturas altas que começam a afetar a agricultura e a saúde humana.

Simbolicamente, Greta é a cara dessa consciência que espero que seja avassaladora, no seu melhor sentido, como um tsunami mundial de mudança de comportamento. Quando ela e o pessoal que hoje em dia está nesta faixa de idade tiverem alcançado idade madura, por volta dos 40 anos, se algo não começar a ser feito de imediato, esses seres humanos estarão desesperados em um futuro próximo, procurando sobreviver em um planeta com problemas graves não só no meio ambiente, mas de convivência entre os povos e na administração política, econômica e da cultura do nosso mundo.

Passamos esses dias com manifestações em todo o mundo, trazendo finalmente este tom mais adequado do questionamento político, que é o clamor dos mais jovens, na cobrança da responsabilidade dos mais velhos pelo que estaremos deixando para os que estarão vivendo quando não estivermos mais por aqui. Jair Bolsonaro, como presidente do Brasil, deve discursar na ONU nesta terça-feira. No ambiente político que ele vai encontrar não será possível o encaixe de discurso algum que sequer amenize o estrago criado por ele próprio e sua equipe na sua imagem pessoal, de seu governo e na posição do Brasil em relação ao perigoso desajuste climático no mundo.

Bolsonaro não tem o que falar para resolver suas encrencas internacionais, criadas por ele mesmo. Assumiu políticas erradas em relação ao meio ambiente, aplicadas com agressividade, de forma tosca e numa incompreensão tão triste desta questão que fere até o interesse de grandes empresários da agricultura e da pecuária. Bolsonaro e seu ministro do meio ambiente, além dos demais ministros e de militares da reserva que o cercam, entendem menos deste assunto que um fazendeiro focado na lucratividade. Esses, pelo menos sabem do efeito negativo internacionalmente, no aspecto político e econômico, do estrago que se faz atualmente com o meio ambiente no Brasil.

Chega a ser idiota que no ponto em que chegamos mundialmente o Brasil tenha um governo que recusa aceitar qualidades até mesmos naturais, no potencial geográfico deste nosso canto do mundo, com tantos recursos e de tanta beleza. E ainda faz isso de forma grosseira, atuando exatamente em contrariedade ao papel que pode dar ao nosso país maior relevância internacional, gerar tecnologia de altíssima procura em muitos anos à frente, podendo trazer lucratividade em vários setores da vida econômica.

Mas infelizmente este é o governo que nos coube, produto de um erro colossal que além de tudo ocorreu numa hora totalmente errada, quando o Brasil tem que obrigatoriamente tomar outro rumo, para o qual tem pouco tempo e escasseiam os recursos. Não há mais como adiar respostas exigidas em todo o mundo.

Bolsonaro errou a mão, em grande parte pelo descaminho de seguir localmente na sua toada agressiva de campanha, atuando para a porção radical, bruta e ignorante do que há de mais básico, no desconhecimento desinteligente, de que ele próprio é um espelho fiel. Em seu governo, ele fez a opção de manter o ritmo de campanha e se animou com um debate interno facilitado pela paralisação de uma sociedade civil prejudicada por um desmonte político, econômico e cultural como nunca se viu em nossa história.

Mas uma coisa é lidar com uma oposição desmobilizada e comprometida com erros graves do passado, como o PT e seus puxadinhos do tipo Psol, que além disso mantêm ligação com esquemas esquerdistas autoritários como o criminoso regime chavista da Venezuela. Outra coisa, bem diferente e que exige articulação política e capacidade intelectual muito acima dos predicados do bolsonarismo, é lidar com um debate internacional com governantes estrangeiros e uma sociedade civil aplicados com seriedade em uma questão que na atualidade não permite mais raciocínios forçadamente encaixados em lados opostos, em manipulação política oportunista e sem benefícios, a não ser para poucos.

Isto é o bolsonarismo, uma doutrina de bate-boca, sistema talvez assoprado nos ouvidos bolsonaristas pelo guru boca-suja, com seus recados de youtuber mandados de longe, da Virgínia. Será difícil para Bolsonaro encontrar palavras para expor na tribuna da ONU — onde estará, repito, por ser presidente do Brasil — aquilo que realmente seu governo pretende implantar em questões que afetam o mundo todo.

Bolsonaro nem sabe para onde quer ir, muito menos sua equipe tem a ideia de um sistema que vá além da desconstrução que é feita desde que subiram ao poder. Desmontam tudo, quebram e desconstroem, sem nenhuma preocupação em consertar o que está errado, dar continuidade ao que vinha sendo feito acertadamente e propor práticas de qualidade. O governo é da agressão e do desmonte, da destruição vazia, na hora em que o planeta mais precisa de cooperação e esforço construtivo.
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POR José Pires

sexta-feira, 20 de setembro de 2019

A família que virou piada

Corre pela internet muita piada sobre Bolsonaro e seus filhos. Algumas usam o PT como comparação, com a família do presidente como referência negativa. E o duro para o bolsonarismo é que as piadas são boas. Bolsonaro já vai mal em todas as pesquisas de opinião, mas ele e sua equipe tinham que prestar atenção a este fenômeno, para tomarem consciência de que é quase irremediável o desgaste de imagem.

Quando é possível comparar no sentido negativo a família de um presidente aos petistas e a piada ainda ficar boa isso é um perigoso sinal de que falta pouco para tudo estar definitivamente perdido para um governo.
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POR José Pires

Bolsonaro colhendo o que plantou nas relações exteriores

Jair Bolsonaro precisou de pouco tempo para obter os resultados da sua tresloucada política de relações exteriores, que tem seu filho Eduardo como ousado articulador, com poder que parece acima do próprio ministro das Relações Exteriores, o inacreditável Ernesto Araújo. Logo depois de botar na cabeça o boné de campanha da reeleição de Donald Trump para o ano que vem, o filho que Bolsonaro pretende nomear como embaixador nos Estados Unidos fez várias preleções sobre a política internacional. Em poucos meses, movimentações em vários lugares mostram que todas eram furadas.

Os problemas começam com o ídolo máximo da família Bolsonaro, o presidente Donald Trump, que ao contrário do que se pensava não tem uma reeleição garantida. O presidente americano já está tendo que lidar com graves questões econômicas causadas por equívocos de seu governo. Especialistas em economia alertam até para uma recessão nos Estados Unidos, que pode pegar Trump no meio da campanha.

E mesmo um ignorante total em economia como Bolsonaro, conforme ele próprio confessou, já deve estar sabendo do panorama perigoso na economia mundial, causado em grande parte pelos conflitos desastrados e desnecessários que foram sendo armados por seu ídolo americano. Com quem Trump não brigou até agora? Ah, sim: ele mantém uma amizade sólida com Kim Jong-um, da Coréia do Norte. As complicações externas dos Estados Unidos já afetam os negócios de uma parcela importante do eleitorado de Trump, com a queda da exportação agrícola para a China deixando enfezados seus simpatizantes no meio rural americano.

Bolsonaro também acenou com bravatas arriscadas, onde até então o Brasil não entrava em encrencas desnecessárias, como a mudança da embaixada de Tel Aviv para Jerusalém e a perigosa hostilidade com o governo da Venezuela. O conflito militar que o filho dele e o chanceler Araújo queriam com Nicolás Maduro felizmente foi barrado pelos militares brasileiros, que sabem melhor do custo inclusive em vidas que pode ter uma coisa dessas. Quase o Brasil vira joguete de Trump na América Latina. Mas o moço não se emenda. Há alguns dias o poderoso estrategista dizia que "diplomacia sem armas é como música sem instrumentos".

No Oriente Médio também ficou configurado um cenário que coloca no ridículo as opiniões de Eduardo Bolsonaro, com a desatinada estratégia dele e do pai para a região. Quando foi questionado sobre os problemas que inevitavelmente seriam criados com a mudança da embaixada brasileira em Israel, o deputado do PSL disse que bastava o governo brasileiro aproveitar-se de desavenças antigas entre os países árabes e o Irã, buscando dessa forma amenizar o problema. Com uma dica muito simples, o gênio deu uma destravada numa questão que é mais antiga que o Brasil.

Na verdade, a base da proposta da mudança vinha da confusa preocupação de políticos evangélicos com a cidade bíblica, além de ter uma forte relação da admiração irrestrita de Eduardo e seu pai pelo primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, o Bibi. A tentativa do alinhamento do Brasil de forma praticamente incondicional com este político direitista se deu pela tola convicção de uma política de relações externas tendo como base relações pessoais, quando se sabe que isso ocorre entre Estados. Governos passam, sem falar que “amizades” entre governantes também.

No Oriente Médio em menos de três meses a tese bolsonarista já furou. Havia uma admiração pelo pretenso poder político e eleitoral de Netanyahu, que aos olhos de Bolsonaro era um eterno vitorioso. Pois depois da última eleição em Israel é difícil que o ídolo do governo Bolsonaro se mantenha como premier. E com o ataque com drones em postos petrolíferos da Arábia Saudita, pode-se inclusive fazer um teste mais rigoroso da tese de Eduardo do aproveitamento da inimizade entre os países árabes e o Irã. Porém, acho muito difícil que o filho de Bolsonaro encontre um cabo e um soldado do Exército Brasileiro para irem com ele dar um jeito nesta situação no Oriente Médio.

Bolsonaro não colheu nenhum resultado positivo na reviravolta cretina que deu nas relações externas do nosso país. Com a Argentina possivelmente ele terá más notícias em breve, tendo que se acertar com um presidente que ele chamou de “bandido”. Nosso presidente tem dificuldade até de viajar para o exterior, pois onde colocar os pés, seja na Europa ou nos Estados Unidos, poderá encontrar manifestações de protesto.

Entre os europeus nem é preciso falar das encrencas com o ambientalismo, que na atualidade não tem lado político naquele continente. Depois do insulto à Brigitte Macron, Bolsonaro comprou briga com todo o mulherio daquele continente, também independente de posição política. Só falta Donald Trump não ser reeleito. E não é pequena esta possibilidade.

É difícil saber o que Bolsonaro e seu filho pretendiam lucrar ao comprar brigas com a União Européia, a China, a Argentina e posicionar o Brasil de forma nada diplomática em uma região explosiva, hostilizando o Irã e os países árabes. Mas já dá para ter um conhecimento perfeito sobre as perdas e danos que a dupla de trapalhões criou para o nosso país.
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POR José Pires

quinta-feira, 19 de setembro de 2019

Bolsonaro e seu governo onde é difícil trabalhar a sério

Como já se sabe, Jair Bolsonaro começou a manhã desta quinta-feira com a notícia da Polícia Federal vasculhando o gabinete de seu líder do governo, senador Fernando Bezerra, do MDB de Pernambuco. Com autorização do STF, a polícia cumpriu mandado de busca e apreensão contra a liderança do governo no Senado, no gabinete no Congresso e nas casas dele em Brasília e Recife. Ele foi alvo da operação Desintegração.

Bezerra foi ministro da Integração Nacional, no governo da ex-presidente Dilma Rousseff (PT). O esquema criminoso de pagamento de propinas pagas por empreiteiras teria ocorrido entre 2012 e 2014.  Na decisão que autorizou as buscas, o ministro Luis Roberto Barroso diz que Bezerra e um filho teriam recebido um total de R$ 7 milhões. Barroso também autorizou o interrogatório do líder do governo Bolsonaro e de seu filho.

Logo cedo, Bolsonaro convocou auxiliares para uma reunião de avaliação da operação policial. Segundo o que se diz, o presidente ainda estava em dúvida sobre a saída de Bezerra da liderança. O site O Antagonista noticiou que na avaliação de interlocutores de Bolsonaro a eventual saída de Bezerra da liderança do governo no Senado “seria uma perda significativa para o Palácio do Planalto”. Bem, este é o tipo de dúvida para o qual só dá para fazer piada. Que deixem Bezerra na liderança. Um senador que acaba de sofrer uma ação da PF é de fato o líder ideal para um governo como este.

Mas o problema de Bolsonaro não é apenas a saída do político pernambucano suspeito de corrupção pesada, mas quem colocar em seu lugar. Onyx Lorenzoni e Davi Alcolumbre avaliam que ficou difícil a permanência do senador emedebista no cargo, mas ambos disseram à revista Crusoé que existe dificuldade de encontrar um substituto.

Na minha opinião, essa dificuldade de substituição de pessoas é hoje em dia um problema grave do governo Bolsonaro como um todo. No Senado, a bancada do PSL está em crise, com Flávio Bolsonaro desunindo a bancada em vez de trabalhar para fortalecer a base política do pai. Ele destratou aos berros a senadora Selma Arruda, que trocou o PSL pelo Podemos. O primogênito de Bolsonaro brigou até com o senador Major Olímpio, que teve votação histórica em São Paulo. “Que se dane se é filho do presidente”, disse o senador. Segundo Major Olímpio, a presença de Flávio no partido dá "muita vergonha a nós".

Qual seria o político disposto a encarar a liderança do governo neste ambiente de completa cizânia estimulada pelo próprio filho do presidente da República? E a complicação é ainda maior. Já pensaram que bacana entrar no lugar de um colega que acaba de ser acossado pela Política Federal e o MP? E isso em um ano pré-eleitoral.

O governo de Jair Bolsonaro está numa condição precária já no primeiro ano do mandato. É geral a dificuldade de encontrar gente qualificada para encarar pepinos. Não é só no Legislativo. Passada uma semana da demissão de Marcos Cintra da Receita Federal, o ministro Paulo Guedes ainda não anunciou um substituto. E do modo que ocorreu a demissão de Cintra, em repetição da humilhação pública feita por Bolsonaro com Joaquim Levy, fica mesmo difícil encontrar alguém qualificado que arrisque sua imagem profissional. Em época de desemprego generalizado, quem é bom de serviço nem quer saber de vaga no governo Bolsonaro.
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POR José Pires

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Imagem- Bolsonaro e Fernando Bezerra, em imagem de vídeo feito pelo senador pernambucano em maio deste ano; Bezerra havia acabado de ter R$ 258 milhões em bens bloqueados pelo TRF-4, mas Bolsonaro diz na gravação que ele é um “homem que realmente está fazendo pelo Brasil”.

Marilena Chauí: o sumiço da autora da filosofia do ódio à classe média

Falando sobre figuras cuja ausência preenche uma lacuna — como dizia o grande Stanislaw Ponte Preta —, lembrei de Marilena Chauí, que sumiu de cena. A professora de filosofia da USP teve participação intensa no debate político até um pouco antes do impeachment de Dilma Rousseff e depois disso não deu mais deu as caras. Ou o que ela andou falando não recebeu a mesma atenção de antes. Tudo anda tão amalucado no Brasil de uns tempos para cá que um doido a mais não faria diferença e talvez até por isso sua ausência não seja notada. Mas o fato é que faz tempo que não aparece algo dela de grande repercussão.

Marilena Chauí teve contribuição importante para a democracia brasileira, trazendo ao debate nacional uma tese que serviu para ampliar a rejeição ao PT. Foi a do ódio à classe média, exposta por ela com excitação em uma palestra com a presença de Lula, na época ainda a salvo da polícia, que no palco saboreava com evidente satisfação a descoberta fantástica de uma intelectual de grande importância no projeto de poder do partido.

Na época em que Marilena Chauí trouxe esta tresloucada tese o que o PT mais precisava era ampliar seu eleitorado, de modo que caiu bem para a democracia os rompantes gravados em vídeo. Foi um sucesso impactante nas redes sociais. E a classe média respondeu na mesma moeda da professora Chauí, passando a odiar o PT como nunca. Até hoje o partido do Lula se ressente eleitoralmente desse ódio correspondido, que, por sinal, Jair Bolsonaro amou.

Pois a mulher sumiu. Com certeza deve estar fazendo alguma coisa pelo partido, como todo intelectual petista, mas nenhuma dessas atividades tem tido repercussão. Que eu saiba, Marilena Chauí sequer fez uma visita ao Lula depois dele ter sido preso por corrupção. É um caso até de falta de curiosidade filosófica, pois como também é da professora da USP a emocionada constatação de que a presença de Lula é tão forte que chega a iluminar um ambiente (sic), ela podia pelo menos verificar se o fenômeno ocorre também na cadeia.
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POR José Pires

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Imagem- Marilena Chauí no dia da exposição da sua tese mais lembrada, a do ódio à classe média,
com Lula aplaudindo a filosofia do salto carpado (e escarpado) no abismo

segunda-feira, 16 de setembro de 2019

Flavio Bolsonaro pelo telefone e o bolsonarismo revelando sua verdadeira cara

O telefonema do senador Flávio Bolsonaro à senadora Selma Arruda, sua colega de partido desde a última eleição, deixou claro na semana passada qual é exatamente o lado do governo de Jair Bolsonaro, além de ter sido uma demonstração também evidente de método e da séria preocupação de Flávio não só com o governo do pai como também com sua própria situação.

Como se sabe, o governo Bolsonaro não quer de jeito nenhum a instalação da CPI da Lava Toga e para isso vem fazendo alianças com o que há de pior no Judiciário e no Legislativo, em contradição com o que levou uma grande parcela de eleitores a depositar seu voto em Bolsonaro. Flavio é um dos agentes dessa maquinação contra a CPI. E tem a mão pesada. Por telefone, ele pressionou a colega senadora aos gritos e falando palavrões. Como se diz, então: tal pai, tal filho.

A senadora Selma — que nesta quarta-feira está de mudança do PSL para o Podemos — contou para a revista Veja sobre a brutalidade do telefone de Flávio. O palavreado chulo do senador foi republicado depois em vários lugares. A senadora é juíza no Mato Grosso, não só por coincidência terra de Gilmar Mendes, onde segundo o sumido Joaquim Barbosa, o ministro do STF tem “seus jagunços”. Ela teve o mandato cassado em primeira instância no estado do ministro Gilmar. Segundo ela, antes já havia sido ameaçada de não receber o apoio do governo nem de seu partido se não retirar sua assinatura no pedido da CPI da Lava toga.

O jogo é pesado e conforme o que ela conta, a grosseria é explícita. O palavreado de Flavio Bolsonaro exige um pedido de compreensão para ser publicado, como costuma acontecer com as coisas da família Bolsonaro. Então relevem. A senadora, que está com 56 anos, ouviu do filho de Bolsonaro o seguinte: “Vocês querem me foder! Vocês querem foder o governo!”. Selma Arruda já confirmou o diálogo outras vezes, uma delas em entrevista a uma emissora de rádio. Ela disse também que Flávio teve o mesmo comportamento com outros políticos do partido de Bolsonaro. “Ele gritou comigo, com a Soraya [Thronicke] e com o Major [Olímpio]", ela disse.

O senador Major Olímpio confirmou o telefonema e os termos. “O tom foi muito ruim. Para mim, o Flávio não existe mais”, ele disse. Nesta segunda-feira, o senador disse ao Estadão que tentou convencer Selma a não sair do partido. Segundo ele, “quem tem que cair fora do PSL é o Flávio, não ela”. Ele afirmou ainda que gostaria que o filho de Bolsonaro “saísse hoje mesmo”. Por sinal, Major Olímpio foi quem até agora definiu melhor os lances desesperados da família Bolsonaro em razão das encrencas do próprio clã, que podem ser até maiores do que até então se suspeitava. Olímpio não aceita o nome de “acordão” para o que os Bolsonaro estão fazendo. “É um quebra-galho-geral”, ele diz.

De fato é muito precária a condução dos acertos políticos. Ficaram visíveis os andaimes da armação, de tal modo que muitos que votaram em Bolsonaro se sentiram trapaceados. Hoje em dia o bolsonarismo vem conseguindo manter apenas a porção radicalizada de seus eleitores, sem ter conseguido se estabelecer como movimento político. O desmonte vai com certeza trazer problemas sérios para Bolsonaro. Nominalmente o governo pode ser dele, mas terá de ceder a maior parcela do poder.

Já está inviabilizado o projeto de governar com a pressão popular, ideia que tem muito a ver com o que pensa Olavo de Carvalho, o guru da família do presidente. Das bandeiras que levaram Bolsonaro ao Palácio do Planalto, os estragos dos últimos gestos políticos do presidente fizeram ate o antipetismo deixar de fazer sentido. E a relação com a Lava Jato agora se dá de forma inversa, com o governo envolvido em parcerias para acabar com o rigor contra a corrupção.

A péssima diplomacia do senador Flavio Bolsonaro não causa surpresa, já que quando foi deputado estadual no Rio de Janeiro chegou a fazer discurso favorável às milícias, inclusive conceituando este esquema paramilitar como importante na segurança pública. O pai também já expressou publicamente esta admiração pelo uso da força sem apoio legal. Bem, é difícil supor um político que defende em público uma atividade repressiva extrajudicial vá se comportar com respeito à legalidade na obscuridade dos bastidores. Pode estar aí uma causa do desespero expressado nos berros do senador.

Acuados pelo passado e temerosos de serem contidos na ambição do que ainda pretendem fazer, o presidente e seus filhos foram criando lances políticos do jeitão deles, de uma forma que foi desmontando a imagem que junto com uma mistura das casualidades políticas deu a vitória a Bolsonaro na eleição passada. O projeto de poder agora não se sustenta mais com o processo natural que levou Bolsonaro ao governo. E nem se pode dizer que o bolsonarismo virou suco. Pelo jeito, está mais para chorume.
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POR José Pires

quarta-feira, 11 de setembro de 2019

MBL: um movimento que se perdeu no caminho

A imagem parece uma gozação de adversários com o MBL, mas foi mesmo o movimento de Kim Kataguiri o criador dessa coisa muito estranha. Sintam o apelo: Michel Temer é atração do 5º congresso nacional do MBL. E os rapazes parecem entusiasmados com a confirmação da presença. Vai bombar: garanta já o seu ingresso.

É por coisas desse tipo que vem a obrigação de questionar em que mundo afinal vive esse pessoal do MBL, que aliás virou algo que ninguém mais sabe exatamente para que serve. Perdeu o sentido com o final do governo do PT e depois do grupo aderir ao governo de Jair Bolsonaro para logo mudarem de ideia. Garotada precoce: tão novos e já com uma baita crise de identidade.

Estão totalmente isolados: não atrairam intectuais, artistas, ninguém com um trabalho de destaque juntou-se ao grupo. Até uns dias atrás falava-se que pretendiam formar um partido a partir do mesmo nome, porém Kim Kataguiri já informou que por enquanto a ideia está descartada. Na prática, isso os fez virarem políticos do DEM, o que não me parece soar como algo de muito futuro.

O MBL não serve mais como movimento de rua porque perdeu o caráter apartidário e também não se reformulou como grupo político. Ficou travado na imagem daquilo que lhe deu projeção, mas acontece que mesmo essa atividade exigiria uma reformulação que eles não tiveram capacidade nem de saber afinal qual seria. As últimas tentativas de organizar grandes manifestações não deram muito certo, exatamente porque querem continuar fazendo de uma forma que já não confere com o que vive hoje o nosso país.

Atualmente o MBL é nada mais que o movimento dos deputados Arthur Mamãe Falei, em São Paulo, e de Kim Kataguiri, em Brasília, sem ter tido uma transformação com a ampliação de sua representatividade. Eles se mantêm como meros criadores de memes nas redes sociais, quando deviam ser proativos, agregando pessoas com participação política consistente.

Mas é claro que não do jeito desta promoção especial com Michel Temer. Outras figuras foram convidadas, mas com Temer como destaque nem é preciso saber dos outros. Essa bobeira demonstra uma falta de sintonia impressionante com o momento atual brasileiro. Acho que nem o DEM pensaria em tentar se apoiar numa atração como esta hoje em dia.
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POR José Pires

Augusto Aras, o procurador-geral de Bolsonaro pede a benção para o PP

Nos entendimentos para ser o novo procurador-geral da República, Augusto Aras teve um jantar nesta terça-feira na casa de Ciro Nogueira, senador da cúpula do PP. Durante o rega-bofe, Aras voltou a dizer que é contra “excessos” da Lava Jato. Foi o senador Vanderlan Cardoso, do PP de Goiás, que contou para o site O Antagonista. O pepista aprovou Aras. “Gostei muito dele, deu respostas firmes, se mostrou conhecedor”, ele disse.

Não há dúvida de que Augusto Aras pode contar com os votos dos cinco senadores do PP, partido que tem o falecido José Janene e Paulo Maluf como símbolos. Pode-se dizer que as necessidades do indicado à PGR se ajustam às da cúpula do PP. Do Oiapoque ao Chuí, o partido de Ciro Nogueira vive encrencado em denúncias de corrupção. De fato é um caso de “excesso”, mas de roubalheira. É o partido com maior número de investigados na Lava Jato e teve também sua cúpula envolvida no mensalão, com várias condenações.

O próprio Ciro Nogueira é réu no STF pelo chamado “quadrilhão do PP”, esquema que captou pelo menos R$ 377 milhões de empresários beneficiados por contratos da Petrobras. A abertura do processo criminal pela Segunda Turma do STF teve o voto favorável do ministro Edson Fachin, acompanhado de Celso de Mello e Cármen Lúcia. É claro que Gilmar Mendes e Ricardo Lewandowski foram contrários. Nogueira é presidente do PP, partido que, por sinal, teve o deputado Ricardo Barros como relator da lei de abuso de autoridade, feita para emparedar a Lava Jato.

O prejuízo da Petrobras com o superfaturamento do “quadrilhão do PP” é calculado em R$ 5,5 bilhões. Ciro Nogueira é também do lobby da legalização dos jogos de azar, que entre outras jogatinas libera a abertura de cassinos no Brasil. Ele teve um projeto nesse sentido recusado no Senado, mas vive fazendo pressão junto ao governo.

Em abril, Nogueira teve seu apartamento funcional e o gabinete alvos de mandado de busca e apreensão da Polícia Federal. A investigação do “quadrilhão do PP” está em andamento, do mesmo modo que segue firme a articulação contrária à punição de corruptos. A Procuradoria-geral da República é essencial nesta disputa. A animação do PP com o nome indicado por Jair Bolsonaro serve como referência da desvantagem dos cidadãos de bem nesta luta.
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POR José Pires


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Imagem- O senador Ciro Nogueira fala em reunião da executiva do PP, tendo à esquerda
o deputado Ricardo Barros, relator da lei do abuso de autoridade e sentado ao seu
lado Francisco Dornelles, atual governador do Rio de Janeiro, que tomou posse com a
prisão do governador Luiz Fernando Pezão.
Foto de Antonio Cruz, Agência Brasil

segunda-feira, 9 de setembro de 2019

Michele Bachelet e o governo da Venezuela

Michelle Bachelet denunciou a ditadura da Venezuela nesta segunda-feira. A alta comissária das Nações Unidas para os Direitos Humanos acusa o governo de Nicolás Maduro de assassinato, tortura e de maus-tratos nos últimos meses. Segundo a ex-presidente do Chile, apenas neste mês de julho foram registrados 57 supostos casos de tortura. Bachelet denuncia também o aumento de execuções extrajudiciais, ou seja, os seguidores do ditador venezuelano sequestrando e matando oposicionistas nas ruas.

O novo relatório sobre violações cometidas pelo regime de Nicolás Maduro foi apresentado durante reunião do Conselho de Direitos Humanos da ONU. Em discurso na 42ª sessão do conselho, em Genebra, Bachelet disse o seguinte: “Meu escritório continuou documentando casos de execuções extrajudiciais cometidas por membros das Forças de Ação Especiais da Polícia Nacional em algumas comunidades do país. A deterioração dos Direitos Humanos continua afetando milhões de pessoas na Venezuela, e isso tem claros impactos desestabilizadores na região”.

Então vamos ficar aqui — sem pipoca, pois o assunto é muito grave — esperando a militância bolsonarista descer a lenha nessa comunista da Bachelet, que depois do ataque ao governo brasileiro agora difama também o presidente de um país amigo.
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POR José Pires

Paulo Guedes, o "Posto Ipiranga" que não emplacou

O ministro Paulo Guedes não consegue ser aprovado nem em um simples teste de rua. Neste domingo ele passeava à tarde no calçadão do Leblon, no Rio de Janeiro, quando um grupo gritou para ele: “Que feio, hein ministro? Que vergonha!”. A notícia é da coluna de Ancelmo Gois, em O Globo.

As pessoas que interpelaram Guedes se referiam, claro, aos comentários absurdos dele sobre a aparência da primeira-dama francesa Brigitte Macron. De início, o ministro até que reagiu bem. Foi até as pessoas e disse “que foi muito feio”. “Na verdade, coisa de brasileiro”, ele justificou. No final da conversa, no entanto, Guedes ameaçou mais uma vez que caso seja muito questionado pode ir embora do governo.

“Na terceira abordagem como essa, eu largo tudo e vou embora. E aí vocês vão ver o que é bom, como é que fica”, ele disse. Parece até piada. Magnânimo, ele ainda dá uma chance ao povo brasileiro. Pode ser interpelado uma terceira  vez antes de pedir o boné. Outra coisa engraçada é que o ministro parece que acreditou mesmo na conversa de Jair Bolsonaro de que ele é um “Posto Ipiranga”.

Bem, até agora não apareceu a comprovação dessa qualidade máxima. Ao contrário, enquanto empresários e trabalhadores se desesperam com a falta de medidas de estímulo à economia e contra o desemprego, Guedes, até o momento, só conseguiu trazer a velha proposta de uma nova CPMF.

Outra conversa mole sua é esta justificativa de que o insulto feito a Brigitte Macron é “coisa de brasileiro”. Não é a primeira vez que ele vem com essa tolice, que acaba piorando a imagem do país no exterior. Fica parecendo que é uma prática nacional o comportamento que ele teve no dia em que em vez de “Posto Ipiranga” comportou-se como um puteiro de beira de estrada. É seu jeitão de consertar um erro cometendo outro. Na ajuda ao chefe chucro deu outra patada na mulher de Emmanuel Macron. E ainda diz que os brasileiros são assim mesmo.

Este é o velho Guedes, que impulsivamente se entregou durante a palestra, no meio de um chororô de que a imprensa se concentra em fatos menores. Absolutamente, não é algo menor um presidente da República postar um insulto à primeira-dama de um país estrangeiro, como também é muito grave um ministro repetir a grosseria.

Parece um método de se complicar cada vez mais. É a atitude de quem está sempre fazendo o conserto de forma errada. E não pode ter chamada sua atenção, senão ele vai embora. Mas sua grosseria só surpreendeu quem ainda acredita na história de que ele é um “Posto Ipiranga”. Considerando sua produtividade neste primeiro ano que já vai para o final, até Bolsonaro já deve estar duvidando dessa qualidade.
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POR José Pires


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Imagem- Foto de Fabio Rodrigues Pozzebom, Agência Brasil

domingo, 8 de setembro de 2019

Chico César, caça-fascistas de araque brincando com o perigo

O cantor Chico César lançou nesses dias uma música que vai criar polêmica, até porque foi para isso mesmo que ela foi feita. A intenção é claramente de provocação. E ele foi cutucar exatamente no clima de violência do debate político, que pelo menos até agora se mantém nos bate-bocas das redes sociais, em manipulações de fatos e da informação, além de ameaças de todo tipo, contando com a animada e costumeira verborragia irresponsável do boquirroto presidente Jair Bolsonaro. Já é duro de aguentar, mas pelo menos não temos violência física generalizada nas ruas.

Todo mundo sabe que Bolsonaro vive desse clima ruim que tomou conta do país. Ganhou a eleição exatamente por conta disso e segue sendo uma figura desagradável, até porque politicamente não sabe ser outra coisa. Não há surpresa em suas grosserias. O que não faz sentido é que um artista venha se contrapor a Bolsonaro, fazendo exatamente seu jogo sujo, que tem a desarmonia, a exaltação da violência e a crueldade como a base do discurso. É isso que Chico César faz com a música que está lançando, que já começa a percorrer o circuito esquerdista nas redes sociais, pregando que se vá para o pau contra Bolsonaro e seus seguidores.

O baixinho quer arrumar briga. Ele fez um reggae com o título é “Fogo jáhhh”, trocadilho bobinho com Jah Rastafári, a divindade da religião rastafári, que tem a crença de que esse deus encarnou em Haile Selassié, ditador da Etiópia até 1974, um dos tiranos mais cruéis do sofrido continente africano. Outro símbolo do rastafári, também muito ligado ao reggae é a maconha, com certeza a razão mais importante desse ritmo musical ter se entranhado na cultura musical brasileira.

Musicalmente “Fogo jáhhh” é uma diluição do reggae, já de origem uma música muito simples. No caso desta música encrenqueira ficou bastante simplório. Tem cara de jingle comercial. A pegada forte da composição de Chico César é a provocação de conflito, o chamado para a reação violenta a algo que ele chama de “fascista”.

O cantor avança para um terreno perigoso. Atiça a massa para dar “pedrada” no governo. No refrão, ele canta “Fogo nos fascistas; Fogo, Jah!” e claro que este “fogo” soa como o ato de dar um tiro com uma arma. Bolsonaro faz gesto de arminha com as mãos. Chico César manda seus companheiros atirar de volta. Quando cantado o efeito é exatamente este, de mandar fogo neles. Vejam o refrão, que é repetido várias vezes:

“Mas nós temos a pedrada pra jogar
A bola incendiária está no ar (vai voar)
Fogo nos fascistas
Fogo, Jah!”

O efeito é bastante pesado na música. O refrão evidentemente foi criado para envolver a platéia e ser gritado em coro por todos. Este apelo à violência é espantoso, não só porque espera-se de um artista a compreensão da necessidade do cuidado para não empestear ainda mais esta atmosfera terrível da política brasileira. É também uma surpresa que venha de Chico César, que sempre me pareceu um sujeito pacífico. Nesta música lamentável sua mensagem é do ataque, de mandar fogo nos que ele estigmatiza tolamente como “fascistas”.

De qualquer jeito seria uma reação despropositada, mas o apelo é ainda pior porque não se deu de fato nenhuma agressão que justifique mandar “fogo” no adversário, mesmo que na cabeça de Chico César eles sejam “fascistas”, na justificação ridícula de bravateiro que não enfrenta de verdade nenhum perigo. As instituições ainda permanecem vivas, mesmo algumas estando alquebradas, de modo que não temos bandos políticos violentos se enfrentando nas ruas. No popular, Chico César está viajando. Mas é uma viagem perigosa, que pelo caminho pode estimular a violência.
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POR José Pires



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Imagem- Post do Facebook de Chico César como fã apaixonado, em visita a um ídolo
político na véspera dele ir cumprir pena na cadeia por corrupção

sexta-feira, 6 de setembro de 2019


O embaixador que não pode sair do país

A Embratur apresentou nesta quinta-feira a nova identidade visual da autarquia e um projeto de marketing de divulgação do turismo no exterior. A campanha tem como atração o ex-jogador Ronaldinho Gaúcho como embaixador do turismo do Brasil.

Porém, só tem um probleminha. Ronaldinho está proibido de sair do país. A medida do STJ vale até que o ex-jogador e o irmão dele paguem uma dívida de R$ 8,5 milhões, devido à condenação por dano ambiental no lago Guaíba, em Porto Alegre. A proibição de realizar viagens internacionais está em vigor desde o fim do ano passado.

O governo Bolsonaro é ruim de doer, mas pelo menos tem a vantagem de facilitar a vida dos humoristas mandando a piada prontinha no release da assessoria de imprensa.
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POR José Pires


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Na foto de José Cruz, da Agência Brasil, o presidente da Embratur, Gil Machado Neto, e o
embaixador do turismo brasileiro que não pode por o pé fora do país.

quinta-feira, 5 de setembro de 2019


A triste sina de ser bolsonarista

Jair Bolsonaro cria expectativas em excesso para qualquer medida que vai tomar e no final sempre dá problema, independente da qualidade da sua decisão. O presidente causa suspense demais e estimula um clima de polêmicas vazias, causando até conflagrações na sua base de apoio e entre seus seguidores. Tem também a vergonha que os bolsonaristas acabam passando, mas parece que os que ainda estão com ele já se conformaram com isso.

Na escolha do novo procurador-geral da República teve esta confusão desnecessária, causada basicamente pela inabilidade política de Bolsonaro. Foi produzido até dossiê entre deputados bolsonaristas contra Augusto Aras, que afinal acabou sendo indicado para suceder Raquel Dodge.

O novo procurador-geral é tido como esquerdista pelos bolsonaristas, o que causou insatisfação nos seguidores de Bolsonaro. Deputados encaminharam diretamente ao presidente um documento com a ficha do procurador, indicando a incoerência política entre sua história pessoal e os alegados propósitos do governo.

Aras já defendeu até o MST e fez isso em discurso inflamado em uma comissão da Câmara, quando disse que o movimento comandado por João Pedro Stédile “trouxe maior politização às comunidades operárias e trabalhadoras”. O nome indicado por Bolsonaro tem também relação estreita com Jaques Wagner, senador e ex-governador da Bahia, político petista historicamente ligado a Lula. A indicação é tida como um golpe contra a Lava Jato, trazendo riscos à independência do Ministério Público. Aras também não é um nome aprovado por Sérgio Moro.

Como eu disse, que bom que os seguidores de Bolsonaro já se acostumaram a passar vergonha. Até porque esta semana o vexame está pesado. Houve também a publicação dos vetos à Lei de Abuso de Autoridade, cujo processo rolou com o mesmo sensacionalismo que antecipou a indicação de Aras, produzindo do mesmo modo muita polêmica e emoção, para acabar em uma baita decepção.

Os bolsonaristas se animaram com a pretensa disposição de Bolsonaro de vetar a lei articulada na Câmara contra a Lava Jato. Esperava-se o veto como um posicionamento do presidente a favor do combate à corrupção. Correu pelas redes sociais o alarido exigindo o veto integral, que é claro que acabou não acontecendo.

Mas, enfim, o baque sendo duplo, com Aras na Procuradoria-Geral e sem o veto à Lei de Abuso de Autoridade, pelo menos facilita aos fanáticos seguidores bolsonaristas enfiarem goela abaixo o desaforo de seu amado capitão.
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POR José Pires

quarta-feira, 4 de setembro de 2019

Um candidato a embaixador de pouca diplomacia

Jair Bolsonaro já deve estar procurando um jeito de recuar da indicação de seu filho Eduardo Bolsonaro como embaixador nos Estados Unidos. O presidente terá que mudar de ideia ou encarar uma derrota quase certa no Senado, onde vai ser muito difícil emplacar Eduardo como embaixador. Os encargos assumidos ao avalizar a ida do filho do presidente para Washington são muito pesados, mesmo para uma instituição que tem grande parte de seus membros à disposição para uma barganha de vantagens pessoais.

Como grave risco político para os senadores já bastaria o nepotismo e a falta de qualificação para ser um embaixador e ainda mais em um lugar de tal importância, mas a personalidade de Eduardo pode trazer problemas sérios na própria função. O filho de Bolsonaro tem pretensão de ser uma liderança internacional da direita organizada. Esse grupo é chamado de “O Movimento” e tem por detrás a Cambridge Analytica, de Steve Bannon, que foi um dos articuladores da candidatura de Donald Trump, mas teve que sair do governo em agosto de 2017 rompido com o presidente eleito.

Eduardo Bolsonaro é o homem deste movimento direitista comandado por Bannon na América Latina, estabelecendo linhas de atuação continente a partir do Brasil. Agora pretendem fortalecer sua imagem com este cargo nos Estados Unidos, onde como embaixador evidentemente ele pretende dar continuidade à militância política de direita. É óbvio que uma embaixada não é o lugar adequado para esta atividade política, mas Eduardo não tem compromisso algum com qualquer forma de sensatez.

Falta-lhe senso estratégico mesmo no próprio interesse. No popular, o sujeito é mesmo doidão. Bem, parece que isso está no DNA da família. Próximo da análise de seu nome pelo Senado, ele resolveu dar um apoio ao desastrado ataque de seu pai a Michelle Bachelet, feitos pelo Twitter e no Facebook. Ela foi presidente do Chile e atualmente é comissária da ONU para os Direitos Humanos.

Bolsonaro postou uma foto da posse de Bachelet como presidente, acompanhada de Cristina Kirchner e Dilma Rousseff, na época presidentes da Argentina e do Brasil. Ele também ataca o pai da ex-presidente chilena, preso durante a ditadura de Agusto Pinochet. No post, Bolsonaro afirma que na ONU a agenda dela de direitos humanos é “de bandidos”. A truculência do presidente já provocou forte reação no Chile. A rejeição geral vem criando um clima internacional de solidariedade a Bachelet.

Com a mesma dificuldade tática do pai, Eduardo deu continuidade aos ataques. Claro que na embaixada brasileira em Washington ele vai continuar agindo do mesmo modo, o que prenuncia problemas sérios nas relações externas do Brasil. Será que o Senado encara assumir mais este desgaste? Eu acho bastante complicado para uma instituição que já tem problemas de sobra em sua imagem. É mais provável que numa negociação de bastidores Bolsonaro seja convencido a desistir do presente prometido ao filhão.
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POR José Pires