quinta-feira, 30 de abril de 2020

O bolsonarismo na zombaria à dramática crise do coronavírus

Dentre as barbaridades do bolsonarismo sobre o coronavírus destaca-se uma idiotice dita pela deputada Carla Zambelli que em entrevista no programa Pânico, da rádio Jovem Pan, disse que quer logo ser contaminada pelo vírus. Ela disse o seguinte: “Eu queria abraçar alguém com o coronavírus pra pegar logo e tirar isso da minha cabeça”.

Embora seja uma afirmação idiota demais até para alguém da bancada do “E daí?”, do Bolsonaro, ela disse mesmo essa bobagem. Já fui conferir. Carla acredita também que tomaria a cloroquina e logo estaria livre da angústia causada pelo vírus. É sério: foi o que ela falou. Também conferi.

Bem, a deputada bolsonarista poderia resolver sua ansiedade pedindo uma audiência e dando um abraço no governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel, que voltou a testar positivo para a Covid-19. Witzel havia anunciado no dia 14 de abril que estava infectado pelo novo coronavírus e agora fez outro teste que deu positivo novamente.

A situação de Witzel mostra que esta doença não é tão simples como pensam os insensatos conduzidos por Bolsonaro. Imaginem a angústia — aí sim com uma aflição verdadeira — de alguém que pega este vírus e a doença não passa, como vem acontecendo com o governador e tantos outros brasileiros.

Figuras como a deputada Carla Zambelli e também os otários direitistas que repassam esse descaso do presidente do “E daí?” pelo coronavírus nas redes sociais estão na prática zombando do sofrimento de seres humanos que sofrem com uma doença que não permite nem o consolo ao paciente de ter um apoio pessoal ao lado da cama de hospital e em caso de morte não permite nem a presença de amigos e parentes no enterro.
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POR José Pires

Bolsonaro, um presidente sem embaixador no país de Donald Trump

O problema do coronavírus serviu para revelar que o Brasil ainda não tem embaixador nos Estados Unidos. Como se sabe, o presidente Jair Bolsonaro queria nomear para a embaixada em Washington o seu filho, deputado Eduardo Bolsonaro, conhecido como Eduardo Bananinha, mas teve que voltar atrás diante da dificuldade na aprovação no Senado.

Nesta quarta-feira apareceu no noticiário Nestor Foster, substituto no cargo que Bolsonaro sonhava para o filho. Foster surgiu com um pedido por carta ao governador da Flórida, Ron De Santis, para que não sejam suspensos os voos entre os Estados Unidos e o Brasil.

Foi uma tentativa de amenizar o desgaste do governo Bolsonaro depois que o presidente Donald Trump, em encontro com De Santis, disse que se houver um pedido do governador  o governo americano pode restringir os vôos para o país. Na ocasião, Trump disse que estava preocupado com o avanço do coronavírus no Brasil e a dificuldade do governo brasileiro no controle da contaminação.

Bolsonaro vivia se gabando das relações próximas com Trump e do presidente americano ter a maior simpatia pelo seu filho que, ainda segundo o presidente, “é amigo de familiares dele”. Pelo visto, faz tempo que ele e o deputado Bananinha não conversam com o poderoso amigão.

Na divulgação da carta da embaixada brasileira ao governador da Flórida, Foster aparece como “chefe da embaixada brasileira em Washington”. É que Foster foi aprovado para o cargo de embaixador, mas seu nome passou apenas pela Comissão de Relações Exteriores do Senado, faltando ainda ser ratificado pelo plenário da Casa.

Isso mesmo: Jair Bolsonaro se gaba das relações especiais com Donald Trump, mas já com quase um ano e meio de mandato seu governo ainda não tem oficialmente um embaixador no país do amigão americano.
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POR‌ ‌José‌ ‌Pires‌

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Imagem- O deputado Bananinha em reunião com o presidente Donald Trump, em março do ano passado, quando ele esteve no Salão Oval da Casa Branca, ocupando o lugar do chanceler brasileiro Ernesto Araújo. Claro que Bananinha estava lá oficialmente como filho do presidente brasileiro.

Nelson Teich, um ministro sem explicação

Algo que não se pode negar ao ministro da Saúde, Nelson Teich, que substituiu Luiz Henrique Mandetta no cargo, é a intranquilidade que ele passa toda vez que fala em público. Com a falta de firmeza do ministro ficamos todos inseguros. Ele nada traz de efetivo sobre o que afinal o governo de Jair Bolsonaro faz para enfrentar o coronavírus, principalmente sobre o planejamento governamental para ao menos controlar a dramática situação que já se prevê com o avanço da doença em vários estados.

Sua condição desde que assumiu o cargo parece ser a de quem está tomando conhecimento da situação. Isso inclusive é o que ele costuma dizer. Bem, independente de apenas há duas semanas ter aceitado fazer uma substituição decidida de forma irresponsável por Bolsonaro, como profissional da área esperava-se que Teich estivesse mais informado sobre o combate ao coronavírus.

Além disso, que se saiba é Bolsonaro que não tem capacidade de ler e interpretar documentos, conforme ele mesmo disse, alegando que não consegue ler textos de vinte (eu disse vinte) páginas. Espera-se de um ministro da Saúde mais dinamismo na leitura e, claro, capacidade de interpretação.

A reunião virtual de Teich com os senadores foi nesta quarta-feira, dia em que o Brasil bateu um recorde de mortos, com 474 vítimas fatais. Na videoconferência, o ministro não conseguiu dar respostas a perguntas objetivas dos senadores. Tampouco fez uma explanação mais explicativa sobre os afazeres oficiais da sua pasta.

Teich não trouxe dados importantes sobre ações do ministério, tendo dificuldade de esclarecer qual é a condição atual no Brasil do grave problema que causa medo nas cidades brasileiras, as ações planejadas pelo governo e o que tem sido colocado em prática no âmbito nacional. O ministro não conseguiu sequer responder quais são três ações concretas do governo federal no combate ao coronavírus. Perguntado objetivamente sobre isso, não falou nem de uma.

A videoconferência promovida pelo Senado deixou a impressão de que seria mais esclarecedor se em vez de dar respostas o ministro Nelson Teich fizesse perguntas aos senadores.
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POR José Pires

quarta-feira, 29 de abril de 2020

O bolsonarismo e seu incorrigível hábito de piorar o que já não vai bem

Corre pela internet uma espantosa movimentação contrária à ideia do isolamento social como medida de tentativa de controle da contaminação do coronavírus. Este movimento tem um motor bem azeitado, com a máquina de comunicação bolsonarista fabricando fake news e uma tremenda desinformação que provoca um comportamento social de desunião entre os brasileiros, do confronto violento para agredir e desmerecer quem pensa de forma diferente.

Tudo bem, sem a discussão de ideias é difícil fazer algo direito, mas isso precisa ser feito de forma horrorosa? Já vimos algo muito parecido vindo da esquerda e agora temos o mesmo incômodo provocado pela direita, espantosamente de forma mais agressiva do que era feito pelos petistas. E agora tem o problema adicional dessa chateação se dar em meio a uma pandemia que não se sabe ainda exatamente como fazer nem o controle de danos.

Este vírus é uma incógnita, tanto na sua transmissão aos humanos como no comportamento nos diferentes organismos. A cada dia surgem mais hipóteses, sempre muito preocupantes, deixando as pessoas com mais medo, nessa condição absurda em que fomos envolvidos, em um mundo em que dá medo até tocar com a mão o corrimão de uma escada.

Na minha opinião, cabe sim ter a maior prevenção em relação ao vírus, sendo que neste caso já se tem vasta experiência de que o isolamento é que permite amenizar o trágico efeito da doença. Neste caso não dá para ter dúvida: países que não fizeram isso acabaram tendo péssimos resultados, com muita contaminação e mortes. Tudo bem, sei que pode haver divergências, mas o debate só será produtivo se for feito com equilíbrio, até pelo fato de que não é possível desconhecer que o país enfrenta um inimigo em comum: o coronavírus.

Já é grande demais a intranqüilidade causada pela doença para que tenhamos que suportar também esta beligerância insensata, colocada por bolsonaristas também sobre esta questão. Ora, em uma situação tão difícil no aspecto sanitário e econômico, ainda mais em um país que já vive há décadas em uma trágica desestruturação, evidentemente é melhor que seja aplicado o óbvio, que é a união para enfrentar objetivamente um problema com um terrível impacto atual e duras consequências que vão exigir muito trabalho por muitos anos à frente.

Creio também que como a contaminação e mortes já causam muito sofrimento entre nós, aqui no Brasil, é no mínimo razoável que se tenha compaixão com as vítimas e as pessoas que vivem diretamente nesta dramática situação. E esse comportamento de respeito humano não vem sendo observado entre os que apóiam a visão equivocada de Jair Bolsonaro, em seu conturbado governo.

Ao contrário, em ações espelhadas no comportamento lamentável do presidente, o que se tem é uma triste desumanidade que chega ao desrespeito pessoal, sem o sentimento de compreensão pelas perdas em vida e a condição terrível provocada mesmo entre os que se curam de uma doença que exige total isolamento dos pacientes e não permite nem rituais funerários.

União entre os brasileiros, senso de humanidade, compaixão, respeito pelo próximo em suas dores e nos temores sobre um risco invisível que não permite mais nem o abraço nos amigos ou o carinho nas pessoas que amamos. Será que é tão difícil ter um comportamento digno em meio a uma pandemia?

De virulência já basta a do próprio vírus. Ninguém precisa ser horrível como este insensato presidente. Esta é a receita para estes tempos difíceis. No enfrentamento deste colossal problema em um momento tão difícil para todos os brasileiros, creio que cabe ter em mente o poema emocionante de John Donne e ouvir o dobrar dos sinos pelos mortos sabendo que eles dobram por todos nós.
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POR José Pires

terça-feira, 28 de abril de 2020

Carla Zambelli, Valdemar Costa Neto e Roberto Jefferson: a base que garante o futuro de Bolsonaro

Só mesmo rindo com as análises que saem por aí sobre o futuro do governo de Jair Bolsonaro. Este governo simplesmente acabou, mesmo no âmbito ordinário da política local, bastando observar as figuras da sustentação pretendida por Bolsonaro depois do desmoronamento total da sua base, com o destaque para Valdemar da Costa Neto e Roberto Jefferson, notórios mensaleiros metidos até o pescoço nas falcatruas dos governo de Lula e Dilma Rousseff e mesmo depois, com a entrada de Michel Temer tomando o lugar de Dilma.

Alguém sabe de um governo que tenha adquirido solidez com essas mãos solidárias? E junto com essas complicadas adesões, Bolsonaro terá de administrar politicamente o que restou da sua base política, que nunca foi grande coisa, mas decaiu bastante, sobrando para ele figuras políticas de pouca experiência política, sem a mínima inteligência política e até mesmo com dificuldades de compreensão que pelo menos, em tese, simplesmente por serem adultas, não deveria lhes faltar.

Uma delas é esta deputada Carla Zambelli, a articulada intermediária de Bolsonaro no convencimento ao então ministro Sergio Moro, para que ele aceitasse negociar com o presidente a mudança do comando da Polícia Federal, substituindo o diretor-geral Maurício Valeixo por Alexandre Ramagem, amigão da família Bolsonaro.

Todos sabem que a história terminou com a demissão de Moro, que revelou depois as mensagens da deputada bolsonarista pedindo que ele aceitasse a troca de Valeixo por Ramagem (que ela escreve erradamente “Ramage”), recebendo para isso uma vaga no STF.

A genial articuladora então mostrou-se surpresa de saber que suas mensagens foram printadas por Moro. De fato, realmente é surpreendente que um ex-juiz federal da Lava Jato, com duas décadas como protagonista de importantes investigações contra a corrupção política e o crime organizado tenha o hábito de documentar o que acontece no seu cotidiano, até mesmo as trocas de mensagens com uma parlamentar da base de um presidente que todo mundo sabia que estava pronto para dar-lhe uma rasteira.

Mas se alguém ainda tem dúvida de que Carla exige de Bolsonaro um cuidado que o presidente não tem capacidade de dedicar nem a si próprio, nesta terça-feira ela trouxe mais uma, digamos, pérola política da sua especialidade. Em entrevista à rádio Jovem Pan, com ataques pesados ao ex-ministro Sergio Moro, a deputada dedicou também algumas palavras ao ministro Alexandre Moraes. “Sobre o Alexandre de Moraes, me desculpa, mas às vezes acredito que a ligação dele com o PCC era verdadeira”, ela disse.

Isso mesmo: a parlamentar mais próxima atualmente do presidente da República associou um ministro do STF a uma das facções mais perigosas do crime organizado. E cabe contextualizar um pouco mais a ousadia desta mulher que não só não teme como até gosta de correr riscos. Alexandre Moraes é relator do inquérito do STF sobre fake news, um dos maiores problemas do presidente Bolsonaro, com investigações no rastro dos seus filhos. Moraes relata também outra encrenca grave do governo, que pode atingir diretamente o presidente: as virulentas manifestações bolsonaristas a favor do AI-5 e contra o STF.

Ninguém vai negar que é muito singular a técnica de diálogo político da deputada bolsonarista. É com coisas desse porte que vai sendo elaborada a sustentação do futuro do governo de Jair Bolsonaro, cujo sucesso depende até de chefes mensaleiros que saem dos obscuros bastidores da política para destacar-se como, digamos, neobolsonaristas. Só não ri de um horizonte político desses quem está totalmente por fora ou é pago para fingir que tudo vai dar certo.
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POR José Pires

segunda-feira, 27 de abril de 2020

O Brasil sem comando nacional na luta contra o coronavírus

O Libération publica matéria sobre o plano de desconfinamento na França, chamado pelo jornal de “Plano D”. Nesta terça-feira o governo francês vai apresentar no parlamento do país as medidas para relaxar a política sanitária de restrição, que devem começar a ser aplicadas gradativamente a partir de 11 de maio. Em busca do Plano D, diz a manchete sobre o plano governamental.

Toda a França está em confinamento desde o dia 17 de março. Nas últimas 24 horas houve o registro de 242 novos óbitos devido à Covid-19. O total até agora é de 22.856 mortes, com uma queda progressiva em mortes e número de pacientes. Os indicativos são de um achatamento da curva de contaminação e mortes, após um esforço nacional comandado pelo governo francês.

Enquanto isso, por aqui, no Brasil, o esforço geral é pelo convencimento de um presidente negacionista e atrapalhado até em questões básicas de administração pública para que ele compreenda a necessidade de fazer seu governo ser mais efetivo nas ações para conter a propagação do vírus mortal.

O Brasil registra mais de 4 mil mortes, com o sistema hospitalar de grandes capitais próximo do esgotamento, convivendo em algumas cidades com cenas de sepultamento coletivo em fossas comuns para vítimas do vírus. Manaus bate o recorde de enterros: 140 em 24 horas. Antes da pandemia era de 30 por dia.

A tragédia nacional se desenrola, com todo o país ameaçado pela contaminação e as mortes, no entanto vai-se relaxando o confinamento em muitos municípios brasileiros, com a abertura do comércio e a volta ao trabalho ocorrendo sem planejamento e controle. Tudo isso estimulado por Jair Bolsonaro, um negacionista quinta-coluna que sabota o empenho dos brasileiros.

Mesmo diante do sofrimento da população com as mortes e internações, o presidente ainda faz piada com o coronavírus, que para ele continua sendo uma “gripezinha”. Desonestamente, ele ainda procura colocar a opinião pública contra dirigentes públicos que com seu trabalho contribuíram para que situação não ficasse pior do que já está, com os governistas usando para esta difamação inclusive esquemas de criação de fakes news.

A ação do vírus ainda exige cuidadosa atenção do governo em países com muito mais recursos que o Brasil e também muito mais experiência no enfrentamento coletivo de ameaças à população, como é o caso da França, que somente depois de quase dois meses de confinamento colocará em prática seu “Plano D”, mas com tudo pronto para reverter ao confinamento. Enquanto isso, por aqui o governo Bolsonaro não tem nem um “Plano A”.
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POR‌ ‌José‌ ‌Pires‌

Clima quente para Regina Duarte no governo Bolsonaro

Já se diz que Regina Duarte pensa em sair do governo Bolsonaro. “Isolada e com medo, Regina Duarte deu sinais de que pode abandonar o barco”, publica o site da Veja. Republicando a informação, O Antagonista diz que esta “é a última chance que ela tem”, no que eles tão muito certos. A saída de Moro é a oportunidade para uma justificada fuga de um lugar onde ela nunca deveria ter entrado.

Antes mesmo de assumir a Secretaria da Cultura, Regina teve a oportunidade de conhecer o nível das reações de apoiadores do governo em razão de qualquer divergência de opinião, por mínima que seja. Foi violentamente atacada, recebendo ofensivas porretadas do próprio Olavo de Carvalho, guru de Bolsonaro e de seus filhos.

Neste domingo apareceu um recado duro de como será o clima no governo. O presidente da Fundação Palmares, Sérgio Camargo, escreveu no Twitter: “Quem nomeia esquerdistas no governo Bolsonaro deveria ter vergonha na cara, retirar-se com sua turma e tentar voltar somente em 2022 por meio do voto! Se é um recado para a atriz? Sim!”.

A partir daí, Camargo seguiu em diálogo com internautas, em conversas que parecem combinadas, em um nível equivalente ao caráter do bolsonarismo, sempre rastejando na sarjeta. Em troca de mensagens, ele critica a atriz por não ter ido ao pronunciamento atrapalhado de Bolsonaro na última sexta-feira, que deveria ser uma resposta às acusações de Sergio Moro. Camargo ironizou a ausência: “Cuidando dos gatos”.

Regina está em isolamento social no Rio de Janeiro. Com 73 anos, ela faz parte do grupo de maior risco de morte pelo coronavírus. Como já se sabe desde a viagem de Bolsonaro aos Estados Unidos, quando duas dezenas de pessoas da sua equipe voltaram com o vírus, a área de contaminação mais arriscada hoje em dia no Brasil é próximo dos perdigotos do presidente.

Noutra mensagem, em resposta a uma internauta sobre as ações da Secretaria comandada pela atriz, Camargo procura criar uma confusão ética, atacando medidas de Regina para atenuar os efeitos da pandemia no setor cultura. “Flexibilizou a prestações de contas da muito lei Rouanet, beneficiando a sórdida classe artística”, escreveu. É óbvia a intenção de acusar a atriz de cumplicidade com abusos no uso de dinheiro público.

Em tese, o presidente da Fundação Palmares é um subordinado da atriz, mas apenas em tese. Essa é uma das formalidades sem nenhuma validade no governo Bolsonaro. Camargo obedece apenas ao presidente e a seus filhos, o que deixa claro que sem uma autorização deles jamais usaria o tom dos recados para aquela a quem deveria respeitar como chefe. Foi uma tuitada mostrando publicamente que a carta branca de Bolsonaro para Regina vale tanto quanto a de Moro.
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POR‌ ‌José‌ ‌Pires‌

sábado, 25 de abril de 2020

O coronavírus salva Bolsonaro do grito revoltado da voz das ruas

Jair Bolsonaro está sendo beneficiado por algo em que ele não acredita: a pandemia de coronavírus. Se não fosse o risco mortal deste vírus, com a complicação social causada pela contaminação, já estariam começando a acontecer manifestações de rua pedindo seu afastamento da Presidência da República.

A consciência dos opositores desse governo tresloucado e incompetente, no respeito ao próximo e atenção à saùde pública, acaba evitando maiores dissabores para o presidente, pelo menos enquanto não se tem ainda o controle dessa doença. Os brasileiros insatisfeitos com o governo deste político insensato conhecem o efeito desastroso da propagação do vírus, no risco do colapso do sistema hospitalar e o terrível sofrimento humano provocado por esta doença.

Aos seguidores de Bolsonaro nada disso importa. Empurrados feito manadas, eles vão para as ruas, mesmo que seja agora em menor número do que havia quando a enganação do mito ainda era forte, criando aglomerações favoráveis ao vírus e inclusive disputando a exposição aos perdigotos do líder mais fora de prumo que já apareceu neste país.

Envolvido com propaganda e a promessa de soluções fáceis, o fanático anula até o instinto de sobrevivência, o que obviamente não é o caso de quem ainda não perdeu a capacidade de pensar de forma razoável.

É até um paradoxo interessante que seja exatamente a qualidade da sensatez que esteja evitando que as ruas brasileiras comecem a receber manifestações exigindo o fim desse governo que trouxe perturbações tremendamente danosas ao nosso país, com um projeto de poder incapaz até de tocar o que é básico na administração do governo federal.

Quanto a manifestações públicas, por enquanto Bolsonaro só tem a temer o bater de panelas, cada vez mais sonoras nas mãos de brasileiros forçados a um isolamento para que o país não adoeça literalmente, panelaços que se multiplicam apelando desesperadamente para que as lideranças políticas livrem o país desse governo que atrapalha que o país encontre um razoável equilíbrio para os brasileiros poderem trabalhar por um lugar mais decente para viver.

As ruas terão de esperar, não se sabe ainda quanto tempo, por isso seria uma atitude ajuizada de políticos e demais figuras representativas que apurassem os ouvidos para o que já se ouve das vozes dessas mesmas ruas, por enquanto não de corpo presente, mas em tons virtuais.

Jair Bolsonaro é um problema sério. Dependendo da sua vontade e necessidades até de livrar-se da Justiça e proteger da lei seus malcriados filhos, enquanto puder ele atravancará todo trabalho necessário para que o Brasil saia do buraco em que foi metido pelos governos do PT e que esta direita estúpida cavou mais fundo.

Como Sergio Moro ressaltou bem ao sair do Ministério da Justiça, Bolsonaro é um político capaz de tentar aparelhar até a Polícia Federal, crime que nem os petistas ousaram cometer. Caso a classe política não se ocupe o quanto antes da sua obrigação de livrar democraticamente o país desse sujeito sem noção, com certeza mais adiante as ruas voltarão a receber as vozes dos brasileiros dizendo chega.
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POR‌ ‌José‌ ‌Pires‌

sexta-feira, 24 de abril de 2020

A saída de Sergio Moro e o fim de Bolsonaro, o presidente fake news

É a primeira vez na história da República que um ministro demite um presidente. Pois isso é o que foi feito por Sergio Moro na coletiva de imprensa desta sexta-feira sobre sua saída do Ministério da Justiça. Pelo que Moro falou, o processo de impeachment de Jair Bolsonaro já está pronto para ser encaminhado, com quase nenhuma chance dele não ter o mandato cassado.

A Bolsonaro restam as opções de encarar um processo em que será muito difícil ele não sofrer o impeachment ou renunciar ao mandato de presidente da República. A decisão seria difícil para qualquer um, mas o dilema é ainda mais complicado para um homem com o lamentável caráter de Bolsonaro.

Seja que rumo Bolsonaro tome, o Brasil será beneficiado livrando-se de um presidente que já quase no meio de seu mandato só trouxe desgraças para um país que já vinha de inúmeros prejuízos causados pelo longo período de incompetência e roubalheira dos governos petistas de Lula e Dilma Rousseff.

Bolsonaro é um presidente fake news. Será lembrado como um erro lamentável que atrapalhou demais em um país com tanto para consertar. Depois de seu final, restará a todos nós brasileiros trabalhar duro para juntarmos os cacos da quebradeira causada primeiro pela esquerda e depois pela direita, nessa tarefa que parece interminável, de um povo sofrido tentando construir um país mais decente.
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POR José Pires

quinta-feira, 23 de abril de 2020

A demissão de Sergio Moro e o abalo no governo Bolsonaro

O ministro Sergio Moro pediu demissão a Jair Bolsonaro. A notícia foi publicada em vários sites. O pedido de Moro ocorreu na manhã de hoje, depois do presidente comunicar ao ministro da Justiça que vai trocar a diretoria-geral da Polícia Federal, atualmente com Maurício Valeixo.

Um motivo para Bolsonaro querer tirar Valeixo é porque a PF desvendou o funcionamento da milícia digital do bolsonarismo, que tem uma sala ao lado do presidente, ocupada por um grupo de assessores, conhecido como "Gabinete do ódio". Segundo o site O Antagonista, descobriram até quem são os financiadores da milícia digital.

Moro pediu demissão do cargo e Bolsonaro está tentando reverter a decisão do ex-juiz federal da Lava Jato. Veremos o poder de convencimento de Bolsonaro, que aparentemente foi longe demais no seu despropositado autoritarismo. Seja como for, qualquer decisão de Moro leva o presidente a ter um problema sério.

Se a sua saída for evitada, estará oficializado que o governo tem um ministro com mais força política que o presidente. E se a demissão for mantida, bem, nesse caso cresce a possibilidade de Bolsonaro ter que esvaziar suas gavetas logo depois de Moro ir embora.
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POR José Pires

O fim do Posto Ipiranga chamado Paulo Guedes

Sempre que leio por aí que o chamado núcleo militar do governo de Jair Bolsonaro vai enquadrá-lo para que a condução do país siga por um melhor caminho não posso deixar de rir, às vezes perguntando quando é que afinal se dará esta equilibrada mudança e se ainda existe tempo para isso, já que o mandato desse presidente inepto já vai quase pela metade.

Bolsonaro é um homem tão desqualificado que, perto dele, qualquer pessoa destoa pela qualidade, o que favorece até os militares pegos por ele para compor um governo que já pode ser visto como o pior que este país já teve. O título é pelo conjunto de obra, sabendo-se que com Bolsonaro tudo acaba piorando, de modo que é praticamente certo que ele usará sua capacidade de estragar tudo para tornar as coisas muito piores do que já estão.

Com um ex-capitão de qualidade tão lamentável, seus colegas da oficialidade da caserna passaram a ser vistos como sumidades dotadas de admirável equilíbrio e alta capacidade de resolução, ainda que parte desses generais que Bolsonaro levou para o lado dele estejam mais para sargento de anedota.

Bem, para ter a percepção de que isso está mais para habilidade em javanês, basta observar o estado lamentável deste governo, que deve ser o que mais teve militares em altos postos, com a óbvia exceção do período militar, ainda que tenha-se que admitir que mesmo naqueles tempos ditatoriais certos setores ficaram sob a responsabilidade de lideranças civis, como é o caso da economia, que agora no governo Bolsonaro virou um assunto de guerra.

Nesta quarta-feira tivemos outra intervenção militar — com o perdão da má palavra — pelo bem do governo de Bolsonaro, desta vez em terreno bastante impróprio, atingindo a credibilidade e o prestígio do ministro Paulo Guedes, com este plano que pretende turbinar a economia com orçamento estatal a partir de grandes obras, em uma ideia que já vem acertadamente sendo comparada com o PAC dos governos de Lula e Dilma Rousseff, que deram no que todo mundo sabe: só mais contas para pagar e ainda mais desestruturação espalhada pelo país.

Outra parecença dessa joça está na fixação positivista dos nossos militares de que basta planejamento e aplicação da técnica para resolver qualquer questão. Isso lembra os planos mágicos da ditadura militar, cujos maus resultados foram se acumulando, até o General Ernesto Geisel ter a sensatez de perceber que era hora da volta para a caserna.

Não é bem uma visão militar a mais apropriada para que as coisas se resolvam na política, ainda menos na área econômica, com menos chance ainda de dar certo aplicando-se modelos que poderão não ter razão de ser no mundo pós-coronavírus, que só vislumbraremos em parte quando puder ser compreendida a situação criada por este vírus e, claro, quando sua ação mortal e demolição de hábitos e valores em grande escala estiver de fato situada como algo anterior.

Já se fala que Paulo Guedes foi atropelado pelo general Walter Braga Netto, chefe da Casa Civil colocado por Bolsonaro no comando de um plano que seria da esfera do Ministério da Economia. A ideia já veio com marca publicitária, com o nome pomposo de “Pró-Brasil”, que até lembra aquele outro slogan verde-amarelo, o inesquecível "Pra frente, Brasil!".

O lançamento foi feito sem nenhum representante da Economia. De fato a avaliação certa é de atropelamento, com a desmoralização daquele que já foi chamado pelo próprio presidente, na sua visão filosófica fundamentada em propaganda de TV, como “Posto Ipiranga”. O canetaço de Bolsonaro, apontando no general Braga a solução para os problemas econômicos criados pelo coronavírus rasura bastante o currículo de Guedes.

Colocando o orgulhoso Paulo Guedes sob a tutela de seus militares, Bolsonaro demole um símbolo fundamental da ilusão da sua governabilidade, a do ministro que sabe tudo de economia, tendo toda capacidade de dar um rumo de sucesso ao Brasil. Guedes perdeu credibilidade de um modo que prejudica a condução da economia até no plano internacional e evidentemente desarranja de vez a compreensão sobre o que deseja de fato fazer este governo.

Ao ministro da Economia é imposto também o humilhante dilema de rebaixar-se para se manter no poder ou ter a dignidade de sair logo do governo, condição aliás muito comum para qualquer um da equipe de Bolsonaro.
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POR‌ ‌José‌ ‌Pires‌

segunda-feira, 20 de abril de 2020

Bolsonaro apronta como mau militar no QG do Exército

Quem conheceu muito bem Jair Bolsonaro foi o general Ernesto Geisel, penúltimo governante do ciclo da ditadura militar e articulador da saída dos militares do poder. O poder passou dele para o general João Batista Figueiredo, que de 1979 a março de 1985 deu os toques finais da retirada. Geisel governou de 1974 a 1978, morreu em setembro de 1996.

Bolsonaro aparece rapidamente em um relato de Geisel em um livro muito bom, escrito por Maria Celina D’araújo e Celso Castro. É uma longa entrevista com o general, muito bem feita, de edição tecnicamente primorosa, com o registro de um importante relato sobre o período militar, feito por uma liderança de grande peso em nossa história recente, um homem que, como eu disse, foi quem protagonizou do lado dos militares os lances essenciais para o país ter de volta sua democracia.

Geisel afirma textualmente que Bolsonaro era um “mau militar”. O general disse isso em julho de 1993, já afastado do poder. Estava no governo o presidente Itamar Franco. Portanto, já havia transcorrido o julgamento de Bolsonaro pelo Supremo Tribunal Militar, sob a acusação de ter planejado explodir bombas em unidades da Vila Militar, da Academia Militar das Agulhas Negras, em Resende, no interior do Rio de Janeiro e em vários quartéis. Bolsonaro relatou seu plano para a revista Veja, alegando que procurava chamar a atenção para os baixos salários dos militares.

Bolsonaro foi absolvido em junho de 1988 em sessão secreta do STM por 8 votos a 4, em julgamento onde prevaleceu o espírito de corpo para preservá-lo. Mas houve a exigência da sua saída do Exército, o que ele fez seis meses depois. No entanto, não foi este episódio grotesco (o plano terrorista tinha até um nome estranho: “Beco sem saída”) que fez Geisel falar de Bolsonaro durante o depoimento para o livro, produzido e publicado pela Fundação Getúlio Vargas.

O general cita Bolsonaro em um momento em que comenta sobre os apelos para que ele liderasse um golpe militar, vinda de gente que o procurava pedindo a volta da ditadura militar.

Já como deputado federal, Bolsonaro era uma dessas “vivandeiras batendo nos portões dos quartéis”, conforme o próprio Geisel classifica essa corja, lembrando que era dessa forma que o general Castelo Branco os chamava quando falava dos acontecimentos anteriores ao golpe de 1964.

“Vivandeiras”, o ex-presidente explica, eram as mulheres que acompanhavam o Exército na Guerra do Paraguai. Eram as lavadeiras que ficavam perto das tropas. Neste trecho, Geisel comenta sobre militares envolvidos com política, mas exclui Bolsonaro de imediato como representante militar, dizendo que ele “é um caso completamente fora do normal”, quando diz que ele “inclusive é um mau militar”.

Como eu disse no início, foi perfeita a avaliação de Bolsonaro feita por Geisel. Neste domingo, o capitão que teve que dar o fora do Exército mostrou que continua sendo uma “vivandeira”, ao levar seu bando de histéricos fanatizados para pedirem intervenção militar na porta do Quartel General do Exército, em Brasília.

Ele inclusive saudou o bando de golpistas agarrados desonrosamente à bandeira brasileira. Bolsonaro mostrou mais uma vez que mantém-se como “mau militar”. Promoveu a manifestação golpista exatamente no Dia do Exército, colocando os militares em uma situação vexatória inclusive internacionalmente, envolvendo a imagem das Forças Armadas com a ideia de um golpe contra a democracia em plena pandemia que vem matando centenas de brasileiros todos os dias.
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POR‌ ‌José‌ ‌Pires‌

quinta-feira, 16 de abril de 2020

Bolsonaro, o presidente que não gosta de ministro que trabalha direito

Desde ontem Jair Bolsonaro vem bombando no item de busca do Google como “Pior presidente do mundo”. Nosso presidente se destaca como o pior na sua visão política do combate ao novo coronavírus. Como de costume, Bolsonaro fez tudo errado, escolhendo um caminho totalmente diferente de todos os governantes de países vitimados por este vírus que assola o mundo.

Não é pouca coisa ser o “pior presidente do mundo”, mas para a nossa desgraça bastaria que ele fosse nosso pior presidente, o que já está devidamente configurado, não só pelos seus grosseiros equívocos na guerra para evitar a contaminação em massa, com o consequente colapso do sistema sanitário, um duro combate em que o ex-capitão do Exército Brasileiro atua como quinta-coluna, sabotando o bravo esforço da população brasileira. Bem que o general Ernesto Geisel já havia afirmado que Bolsonaro era um “mau militar”. Pois agora revelou-se também um traidor do interesse coletivo do nosso país.

Para lembrar o mote daquele ex-presidente gatuno idolatrado pela esquerda, nunca antes neste país se viu algo como este mandato deplorável de Bolsonaro como presidente da República. Mas espera aí: não seria um exagero a consagração de Bolsonaro como o pior presidente, considerando os feitos de Lula e seu partido durante os quatro mandatos até Dilma Rousseff sofrer o impeachment, quando implantaram no governo brasileiro um esquema de corrupção como nunca houve em nossa história?

Não depois dessa lamentável performance de Bolsonaro durante a crise do coronavírus, quando ele definitivamente comprovou uma inacreditável incompetência, além da grosseria e até de uma desumanidade que parece provir de alguém com falta de empatia com o sofrimento do próximo. Não resta nenhuma dúvida de que Bolsonaro coloca em perigo o nosso país.

Mesmo depois que for assegurado o controle da contaminação deste vírus letal, manter este sujeito sem noção como presidente da República seria um atentado à razão, além do Brasil passar a ser considerado internacionalmente uma ridícula republiqueta, sob o comando do “pior presidente do mundo”.

Bolsonaro não consegue ser efetivo nem para o alcance de seus próprios objetivos. Ainda que na maioria dos casos suas intenções sejam politiqueiras, teoricamente bem fáceis de emplacar entre esta cada vez mais decadente classe política brasileira, o processo sempre esbarra na sua personalidade tomada por conflitos que, mais que um tratamento psicológico, parece exigir uma camisa-de-força.

O presidente é um homem gravemente perturbado por fantasmas que não cabe ao país ter sob seu cuidado, muito menos toda a sociedade civil aceitar o convívio cotidiano com os melindres de uma figura ressentida com qualquer coisa e que como chefe está fadado a se cercar de uma corte de puxa-sacos, levado por este seu defeito até risível como comandante, na constrangedora perturbação com o sucesso das ações de seus subordinados.

Bolsonaro trabalha com uma perspectiva muito simples — primeiro o que é dele e da família —, o jeito como sempre construiu sua carreira. A cantilena de “Deus acima de todos”, assim como o slogan “Brasil acima de tudo”, que virou marca de seu governo depois de ter sido arrotada incessantemente na sua campanha, tudo isso é mera propaganda política.

Na sua insensata hipocrisia, Deus pode ser trocado pelo gesto da arminha na mão, da cloroquina ou mesmo da pílula milagrosa que currava o câncer — Bolsonaro foi um dos autores do projeto que passou por cima da Anvisa, fazendo a Câmara avalizar aquela fraude. Qualquer lorota serve, se isso servir ao seu interesse imediato, perseguido de forma conturbada.

Mas ele se ressente quando vê pela frente a necessidade do trabalho duro, de perspectiva de longo prazo, sem a garantia ainda que ilusória do ganho rápido. Esta é a divergência dele com seu ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, e o trabalho da equipe do ministério no ataque ao coronavírus.

Bolsonaro é o homem dos ruídos, o que mantém o país nesta terrível dificuldade de encontrar um discurso unificado mesmo frente ao perigo de um problema dramático como a pandemia do coronavírus. Se os brasileiros não se conscientizarem de que o Brasil precisa se livrar de forma democrática deste sujeito que complica o que é de sua obrigação descomplicar, teremos sofrimentos demais pela frente, mesmo depois do país ter vencido este vírus.

Não basta achatar a curva maléfica do coronavírus. O mandato incompetente de Bolsonaro também precisa sofrer um achatamento.
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POR‌ ‌José‌ ‌Pires‌

terça-feira, 14 de abril de 2020

O destaque mundial de Bolsonaro como governante isolado e desacreditado

Ontem o deputado Osmar Terra mandou um áudio pelo WhatsApp para Flávio Bolsonaro dizendo que a pandemia do novo coronavírus está “desabando”. O vídeo de quase nove minutos foi divulgado pela revista Época. Nele, Terra, que é ex-ministro de Bolsonaro, diz para o senador e filho do presidente: “A epidemia não está caindo, está desabando”.

Pois nesta terça-feira o Ministério da Saúde atualizou os números do coronavírus para 1.532 mortes. Em relação ao dia de ontem, da comemoração de Terra, foram registradas mais 204 mortes. Foi o primeiro registro de mais de duas centenas de mortes em um dia. Temos também 1.832 novos casos confirmados, saltando de 23.430 para 25.262. O aumento é de 7,8%. Levando em consideração que são números altamente subestimados, teme-se pelo pior.

Claro que se dependesse do otimismo interesseiro de tipos como o deputado Osmar Terra a situação no Brasil estaria totalmente fora de controle. O deputado é um dos que atuam contra o esforço nacional para conter a contaminação. Ele se alinha com Jair Bolsonaro, na ação deste quinta-coluna contra o isolamento social. O ex- ministro vive dizendo que a gripe H1N1 foi muito mais letal do que o coronavírus. A OMS já divulgou que o coronavírus é dez vezes mais letal, mas não adianta: Terra insiste no fake-news.

A situação não está nem um pouco tranquila, mas teria sido um desastre se tivesse prevalecido a posição do deputado, que sempre foi contrário ao isolamento social e por isso agora conta com a simpatia de Bolsonaro, depois de ter sido demitido desonrosamente do Ministério da Cidadania no mês retrasado. Com as idéias fora de lugar desse ex-ministro, imaginem como estaria hoje a imagem do governo brasileiro mundialmente.

E não é que sua imagem esteja grande coisa, mas seu desprestígio seria ainda maior. O posicionamento anti-científico frente ao coronavírus deixou o presidente numa situação de grave descrédito no plano internacional, a ponto do jornal americano Washington Post, em editorial na edição de hoje, ter colocado Bolsonaro entre os governantes de Belarus, Turcomenistão e da Nicarágua. Estes são os negacionistas que sobraram no mundo, com Bolsonaro em destaque no texto do jornal, que classifica como sendo, “de longe, o caso mais grave de má conduta”.

O Washington Post lembra que quando a infecção começou a se espalhar pelo Brasil, Bolsonaro falou do coronavírus como “uma gripezinha” e exortou os brasileiros a “enfrentar o vírus como um homem”. Claro que o presidente tomou este rumo equivocado seguindo sugestões de uma equipe de desqualificados, acatando palpites de tipos como Terra, além da filosofia sem fundamentos do guru Olavo de Carvalho, que se revelou um desastre como mentor de um presidente.

Bolsonaro poderia ter se dado razoavelmente bem, transitando por esta crise apenas fazendo o papel cerimonial do governante ocupado com o bem-estar de seus concidadãos. Bastaria ter deixado o ministro Luiz Henrique Mandetta fazer seu trabalho sem ser incomodado.

No entanto, ele resolveu se fazer de conhecedor de política sanitária, uma sumidade da infectologia, sem igual no mundo todo. Fez isso seguindo péssimos avaliadores e planejadores ainda mais incompetentes, como Olavo de Carvalho, que vivia falando do idiota político, sempre em tom crítico, mas acabou criando o maior deles, um idiota político no poder, com uma capacidade de demolição do próprio mito.
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POR‌ ‌José‌ ‌Pires‌

O Brasil relaxando com o alerta ao novo coronavírus

A população brasileira começa a relaxar no isolamento social, antes da avaliação do resultado do que foi feito até agora e de qualquer planejamento para o abandono gradativo da quarentena, evidentemente se fosse esta a decisão viesse a partir de uma avaliação criteriosa feita por especialistas.

Pior ainda, este relaxamento começa a ocorrer exatamente quando todos que de fato conhecem o processo de uma epidemia dizem que a previsão para o Brasil é de que os próximos dias serão muito difíceis, com a possibilidade de um agravamento no contágio e no número de mortes. Depois de tanto empenho até agora, este abandono é até uma tolice — equivaleria a morrer na praia, sem querer fazer trocadilho.

Fiquemos com a opinião de quem conhece o assunto, um deles no comando do combate ao coronavírus no Brasil. Em entrevista ao site UOL, o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, foi muito claro: a normalidade só deve voltar em agosto ou setembro. E o médico Jean Gorinchteyn, do Instituto Emílio Ribas, avisa que “a progressão da doença deve assumir um platô no mês de junho”. No entanto, ele esclarece que para isso acontecer não se deve “abrir as portas”, expressão dele, muito boa para alertar que não se deve relaxar a quarentena, que é exatamente o que vem acontecendo.

Gorinchteyn, que é médico infectologista e professor, é absolutamente claro sobre a conseqüência com essas portas se abrindo em todo o país para o vírus: “neste caso muita gente ficaria doente e muita gente morreria nos próximos dois meses”.

Há cerca de duas semanas eu já havia lido em vários lugares que as pessoas começavam a sair às ruas, encarando a quarentena como se fosse um período forçado de férias. Vi em páginas de Facebook o relato sobre grupos em praças, na praia, idosos reunidos para bater papo ou em volta de uma mesa com esses jogos que os mais velhos gostam.

Também andei observando nos últimos dias este relaxamento, que agora se amplia perigosamente. Eu mesmo, saindo estritamente para necessidades, tive que me proteger de perdigotos de pessoas pouco precavidas, de gente passando correndo ao meu lado em exercícios físicos e de desconhecidos que não respeitam a distância cautelar.

Claro que esta quebra prematura da quarentena vem sendo estimulada por comerciantes, industriais e a construção civil, sempre levados pelos dirigentes políticos desses setores, lideranças que no geral permanecem há décadas em um estágio pré-capitalista, de modo que não seria agora que agiriam com sensatez, embora seja espantosa esse abandono da precaução em meio à mortandade de uma pandemia que assola o mundo, desgraçando até países mais poderosos economicamente que o nosso, como Espanha, França, Itália ou mesmo os Estados Unidos, cujas populações sofrem exatamente por terem menosprezado a prevenção do isolamento, como começa a ser feito por aqui.

Fala-se demais no efeito negativo da quarentena na economia, sendo trágico como se perde com isso a oportunidade de debater o estrago da própria doença, que será muito pesado nos próprios custos médicos, com os gastos em saúde, pensões, na perda de mão de obra qualificada e tantos outros problemas econômicos centrados na própria ação do vírus e não no efeito econômico dos procedimentos para conter a contaminação.

Sou da opinião de que tenta-se impor a discussão do assunto errado, fugindo-se do objeto para a conseqüência, com uma pauta que atravessa o sentido da melhor condução para enfrentar o contágio e as mortes pelos vírus e os danos na vida do país, mas isso não é incomum em nosso país e tampouco se desenvolve pela boa-fé.

Este erro colossal do abandono da quarentena é movimentado por interesses de uma minoria que detém muito poder e dinheiro, vivendo neste estágio pré-capitalista de que falei, de uma ambição que mira o lucro no curto prazo, com muito pouca e às vezes até nenhum projeção da dificuldade de sustentação de seus ganhos imediatistas. Pelo visto encontraram um estimulante reforço no quinta-coluna Jair Bolsonaro, que atua a favor do vírus.

Não se sabe desta vez quanto será o custo se prevalecer este desatino, mas, se for quebrado de fato o isolamento, com certeza o país terá de se haver logo mais com uma conta pesada em vidas perdidas e o sofrimento humano terrível causado por uma doença que não permite nem a presença de familiares e amigos em volta do pobre do paciente e impede até os ritos fúnebres das vítimas fatais deste vírus mortal.

Não só pela dor e pelas lágrimas, vai custar bem mais que os efeitos colaterais na economia provocados pelos dias parados.
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POR‌ ‌José‌ ‌Pires‌