segunda-feira, 31 de agosto de 2020

O Brasil de Bolsonaro passando vergonha no mundo

A situação do Brasil no contexto internacional vai ficando cada vez mais parecida com uma piada pronta. Piada pronta de humor negro, assim é que está o nosso país no plano mundial. Entramos nesta segunda-feira com a notícia de que a Heckler & Koch (H&K), fabricante alemã de armas, vai suspender a exportação de armamento para o Brasil. A empresa é fabricante da arma que foi usada para matar a vereadora Marielle Franco, uma submetralhadora de uso restrito.

 

A suspensão da exportação de armas para o Brasil se deve a pressões de acionistas alemães, a partir de questionamentos da Associação Críticos na Alemanha feitos à direção da empresa. Este é um tipo de ação social já comum na Europa e nos Estados Unidos, com a pressão de ativistas sobre marcas e empresas, exigindo respeito ético na escolha de sua clientela, que neste caso da H&K atinge por inteiro um país tomado por barbaridades que arrasam com a nossa imagem no exterior.

 

Um porta-voz da fábrica de armas alemã disse que a situação política e a violência policial fizeram a H&K suspender a exportação das armas. Os bolsonaristas vão ficar irritados. A justificativa mira exatamente este governo que tem no comando esta figura execrável que se elegeu fazendo com as mãos um gesto de matar com arma de fogo.

 

Vejam o que disse o porta-voz da H&K: “Com as mudanças no Brasil, especialmente a agitação política de antes das eleições presidenciais e a dura ação da polícia contra a população, foi confirmada a decisão de não fornecer mais para o Brasil”.

 

Como eu disse, a notícia tem até um toque trágico de humor, no entanto tem consequências muito sérias, com a consolidação do Brasil como um estado pária no contexto internacional. Como por aqui se obedece cada vez menos a leis, regras ou normas, especialmente da parte das mais altas esferas, dos que têm dinheiro, poder e o domínio do uso da violência, as relações externas vão ficando cada vez mais difíceis.

 

Esta é a nossa imagem atual e ponto final. Vivemos em um país de tal forma descontrolado, que aos olhos estrangeiros não tem responsabilidade suficiente nem para comprar armas. E nada vai adiantar ficar buscando justificativas, que servirá apenas para o costumeiro auto-engano entre nós.

 

É preciso tomar decisões sobre o destino que se deseja afinal para este nosso país. O que ficou muito óbvio é que o Brasil não pode ser conduzido por um sujeito que podia até ser motivo de riso quando fazia suas besteiradas como político idiota do baixo clero, mas que na presidência da República arruína o futuro do país.

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POR‌ ‌José‌ ‌Pires‌


sábado, 29 de agosto de 2020

As várias tramas da rede que se apossa do dinheiro público

O caso de corrupção que levou ao afastamento do governador Wilson Witzel e à prisão do pastor Everaldo Pereira envolve o roubo de dinheiro da Saúde no governo do Rio de Janeiro, em contratos relativos à pandemia do coronavírus, que vem arrasando o país, com a Covid-19 matando e desestabilizando a convivência entre as pessoas, além de afetar tragicamente a economia.

 

Claro que políticos roubando até recursos emergenciais de uma pandemia é motivo para muita indignação, porém, um ataque mais rigoroso aos ladrões de dinheiro público exige que não se entre na onda de que casos como este pedem um tratamento especial, até com penas diferenciadas. Quando a corrupção atinge uma condição sistêmica, como aconteceu no Brasil, não é com ataques localizados que vai-se atingir um resultado mais abrangente na defesa do dinheiro da população.

 

Não faz sentido uma avaliação isolada de um fato, quando a corrupção se processa como uma rede com linhas que se intercomunicam não só na ação deletéria ao interesse e direitos da maioria, como também na defesa dos corruptos. E que não se caia também no engano de personalizar o dano em figuras como Witzel ou neste pastor Everaldo, muito menos de achar que é uma questão exclusiva da direita.

 

Eleito na onda de Jair Bolsonaro e fazendo campanha com o presidente, Witzel é meramente a continuidade da corrupção estabelecida anteriormente por Sergio Cabral e antes disso por Anthony Garotinho, ambos eleitos com o apoio direto e entusiasmado de Lula, que fortaleceu Cabral inclusive com verbas e sustentação política da parte do Governo Federal, enquanto ele esteve como presidente em paralelo com Cabral no governo do Rio.

A corrupção no Brasil junta a direita, a esquerda, além do centro e até da extrema-esquerda, às vezes até ingenuamente quando estes extremistas atuam dificultando o uso da mão forte da Justiça contra corruptos e quadrilheiros, ladrões e gente muito cruel — que cabe dizer que estão também entre os pobres e não depende da cor da pele nem da orientação sexual.

 

Não se pode criar uma pena exclusiva num ou noutro caso de corrupção e cabe até evitar que nossa indignação se torne seletiva, pois o crime contra os recursos emergenciais de uma terrível doença está interligado a toda atitude imoral que acontece nos serviços públicos e também na iniciativa privada.

 

Acontece do mesmo modo com a defesa da manutenção dessa corrupção sistêmica. Os corruptos estão sempre atuando para fortalecer o conjunto da trama que os defende em rede, que se entremeia no apoio mútuo, mesmo quando suas ações não se intercomunicam diretamente. A corrupção é sempre uma ação conjunta, independente de fatores geográficos e temporais e dos lados políticos de cada ladrão do dinheiro público.

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POR‌ ‌José‌ ‌Pires‌


Bolsonaro e suas companhias

Na sua live desta quinta-feira o presidente Jair Bolsonaro teve a companhia da ministra Damares Alves, com a óbvia intenção de descolar sua imagem da deputada Flordelis. Logo que a deputada foi apontada pela Polícia Civil do Rio e o Ministério Público como mandante da morte de seu marido, o pastor Anderson do Carmo, começaram a aparecer nas redes sociais vários vídeos de Damares fazendo emocionados elogios à acusada. Fotos de Bolsonaro com Flordelis também foram sendo publicadas.

 

Na live com o presidente, Damares veio com a conversa de que foi enganada por Flordelis, procurando colocar a relação dela com o governo no âmbito de relações formais em torno uma pauta específica. E isso não é verdade. Flordelis tinha relações preferenciais com sua pasta e teve um papel importante na campanha de Bolsonaro no Rio, onde foi muito bem votada. É muito clara a relação eleitoral entre ela e Bolsonaro na última eleição. Aquela base conceitual asquerosa é a mesma.

 

A deputada atuou intensamente para difundir os conceitos atrasadíssimos que fortaleceram Bolsonaro, em questões como o aborto e os direitos dos homossexuais, fortalecendo esta pauta eleitoral com a imagem mentirosa de líder religiosa. A família de Bolsonaro também parece ter proximidade pessoal com Flordelis. No dia em que o marido da deputada foi morto a tiros, Eduardo Bolsonaro afirmou em um post de condolências que ele era seu “amigo de futebol em Brasília”.

 

O que importa para Bolsonaro agora é livrar-se do comprometimento moral com as relações com a deputada caída em desgraça, mas nesta sexta-feira já apareceu a necessidade de explicação sua sobre uma relação ainda mais especial. A prisão do pastor Everaldo Pereira ocorrida hoje no Rio exige um esclarecimento, afinal foi ele quem batizou Jair Bolsonaro nas águas do Rio Jordão. Ora, se como dizem, pode-se conhecer alguém pelo nível de suas companhias, diga-me quem te batizaste que saberei ainda mais dizer quem tu és.

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POR‌ ‌José‌ ‌Pires‌


quinta-feira, 27 de agosto de 2020

Bolsonaro, o pior presidente do mundo na pandemia e sua falta de respeito com o sofrimento dos brasileiros

Jair Bolsonaro esteve nesta quinta-feira em Foz do Iguaçu, no Paraná, onde participou de cerimônia de lançamento da pedra fundamental para a duplicação da BR-469, que dá acesso às Cataratas do Iguaçu e ao Aeroporto Internacional. Ora, antigamente político inaugurando pedra fundamental acontecia mais em piadas, mas deixemos isso para lá, porque mesmo quase no meio do mandato ele não tem obra pronta para cortar fita.

 

O que chama a atenção nos eventos é que todos os participantes estão sem máscaras, com exceção do governador Ratinho Júnior. Bolsonaro evidentemente exibe a cara de pau descoberta e o histórico de atleta de flexão com o queixo, com aquele ar de ironia com os quase 120 mil mortos, seus parentes e amigos, já que na percepção torta dele quem não resiste ao vírus é “bundão”.

 

O Paraná chegou a 120 mil casos confirmados de Covid-19 e já ultrapassou o registro de 3 mil mortes, sem nenhuma perspectiva ainda de queda na curva. Curitiba tem quase mil mortes e o contágio não para de crescer, do mesmo modo que acontece em todo o interior do estado, assolado pelo vírus, com duras consequências econômicas, no convívio social e nas tarefas cotidianas, as dificuldades que todos sabem que o Brasil vem sofrendo há meses, cujo enfrentamento exige cuidados, entre eles o uso de máscara.

 

Vejam na fotografia distribuída pela Presidência da República apenas o governador do Paraná usando a defesa contra o vírus, que além do indiscutível fator sanitário é hoje em dia um símbolo de respeito ao próximo. A imagem serve como retrato da irresponsabilidade criminosa de autoridades públicas, neste difícil momento vivido pelos brasileiros, situação que é ainda mais complicada porque o país tem no comando o pior presidente do mundo nesta pandemia.

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POR‌ ‌José‌ ‌Pires‌


terça-feira, 25 de agosto de 2020

O bolsonarismo e os caminhos eleitorais do assistencialismo misturado com religião


Como se costuma dizer, baixou um silêncio ensurdecedor entre os bolsonaristas sobre a deputada Flordelis, da base política de Jair Bolsonaro e do partido que o elegeu presidente, acusada de ser a mandante da morte do marido, pastor Anderson do Carmo, assassinado com mais de 30 tiros na casa onde os dois moravam.

 

O assunto parece não ser do interesse das hostes bolsonaristas, sempre insuportáveis quando acontece qualquer coisa entre os adversários. Apesar de que para bolsonarista, se não tem um fato, inventa-se.

 

Contra os adversários vale tudo. Imaginem o furdunço que os bolsonaristas estariam fazendo com um caso como este, com um enredo que mistura religião com política, poder financeiro, relações próximas com o governo federal e um assassinato violento que envolve toda uma família, se o acontecimento envolvesse uma deputada de esquerda.

 

A deputada Flordelis sempre teve relações estreitas com o governo Bolsonaro, com pautas eleitorais em parceria com a ministra Damares Alves, em assuntos que envolvem a “defesa das mulheres e da adoção de crianças”. As aspas podem servir como alerta às feministas. A direita que mistura política com religião já descobriu a mina de ouro eleitoral que podem ser as pautas abertas pelo feminismo.

 

Como tem feminista pensando até em cota para eleger especificamente mulheres, cabe o aviso. Olha o que vocês podem aprontar: em pouco tempo poderemos ter no Congresso uma maioria de mulheres de direita eleitas por esta cota.

 

Mas voltando ao companheirismo entre Damares e Flordelis, a dobradinha das duas se dava em ritmo produtivo, com uma confiança plena da parte da ministra, como pode-se ver na mensagem da ministra pelo Twitter no dia da morte de Anderson do Carmo — veja na imagem. Por sinal, no dia em que foi feita a foto das duas (em fevereiro de 2019), na reunião estava presente o marido de Flordelis. Quatro meses depois ele foi assassinado.

 

É no ministério de Damares que se desenvolvem planos com metas eleitorais imediatas que pegam a população mais pobre nas suas necessidades psicológicas muito fortes, com a sedução política usando a extrema carência material e a absoluta desproteção da parte do Estado nos direitos mais essenciais.

 

Tem-se dado pouca atenção ao que se faz neste ministério e quando a imprensa toca neste assunto até se faz piada, mesmo porque Damares é caricatural. Porém, por ali podem estar sendo abertos canais políticos e culturais muito fortes entre os brasileiros mais pobres, basta ver que Flordelis era frequentadora assídua do gabinete de Damares.

 

A deputada Flordelis não era um peixe pequeno na bancada bolsonarista. Ela foi a quinta mais votada no Rio de Janeiro com 196.959 votos. Teve na sua frente apenas Helio Negão, que é amigo de Bolsonaro e fez campanha colado ao presidente, além de Marcelo Freixo (PSOL), Alessandro Molon (PSB) e Carlos Jordy (PSL). Flordelis não ficou longe em votação. Faltou apenas cerca de sete mil votos para ela tomar o quarto lugar de Jordy e o mais votado teve 345.234 votos.

 

Ou seja: ela estava em projeção política em seu estado, onde certamente ocuparia um papel de destaque nas eleições para governador, talvez até como candidata. Sem a encrenca do assassinato do marido, Flordelis tem características que a destacam no modo que anda a política hoje em dia, até mesmo podendo aproveitar-se do espaço aberto pelas feministas, como avisei acima às colegas. Cabe apontar também que é exatamente neste estado a base eleitoral de Bolsonaro e sua família.

 

A morte ocorrida no Rio de Janeiro, que segundo a polícia foi encomendada pela deputada bolsonarista, não é apenas um fato das páginas policiais. Envolve a construção de poder político em um âmbito cultural de um reacionarismo atroz, com a manipulação por meio da religião e do assistencialismo em comunidades carentes até do que é básico para sobreviver, que é exatamente onde politicamente o bolsonarismo tem o ambiente preferencial para o seu fortalecimento.

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POR‌ ‌José‌ ‌Pires‌


Bolsonaro e Al Gore: a dificuldade de entender um presidente que não sabe o que diz

Vem sendo bastante compartilhado o trecho do documentário alemão “O fórum”, com uma rápida conversa entre o ex-vice presidente Al Gore e o presidente Jair Bolsonaro, recém-eleito na época da filmagem. Embora não tenha visto o documentário, dá para prever que a pequena participação de Bolsonaro garante a ele um papel de protagonista na fita. Claro que no pior sentido.

 

Ganhador de um prêmio Nobel da Paz pela suas ações como ambientalista, Al Gore fala educadamente sobre sua preocupação com a Amazônia e recebe do presidente brasileiro uma tola resposta. Bolsonaro diz o seguinte: "A Amazônia não pode ser esquecida. Temos muitas riquezas e gostaria muito de explorá-la junto com os Estados Unidos".

 

A afirmação é tão fora de propósito que Al Gore resolve sair de perto de uma figura que evidentemente não é qualificada para um diálogo com um mínimo de lógica. “Eu não entendi muito bem o que você quis dizer”, ele diz. Os olhares que lança depois para Bolsonaro é mais ou menos a percepção de estranhamento que a platéia internacional terá sobre este presidente que tão erradamente foi eleito no Brasil.

 

O deslocamento de Bolsonaro entre os participantes do Fórum de Davos dá até vergonha alheia. É o tiozão do churrasco caindo na festa errada, em um ambiente culturalmente sofisficado demais para o que vai na sua cabeça e além disso com todos comunicando-se em uma língua que ele não entende.

 

No norte do Paraná nós temos uma forma de classificar um tipo como este. Bolsonaro é um jacu, expressão que usava-se antigamente para definir uma pessoa com dificuldade demais para relacionar-se e totalmente sem jeito para convenções sociais fora da sua percepção simplória de mundo.

 

Bem, com um presidente jacu é impossível que o Brasil conquiste respeito e se posicione com competitividade internacionalmente. Pior ainda se o sujeito além de jacu for um ladrão, como Bolsonaro faz suspeitar quando fica furioso com um jornalista e até ameaça dar porradas na sua boca apenas por perguntar-lhe “Presidente Jair Bolsonaro, por que sua esposa recebeu R$ 89 mil de Fabrício Queiroz?”.

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POR‌ ‌José‌ ‌Pires‌


segunda-feira, 24 de agosto de 2020

O enredo fatal da mistura de religião, poder financeiro e política na igreja da deputada Flordelis

A Polícia Civil e o Ministério Público do Rio de Janeiro concluíram o inquérito sobre a morte do pastor Anderson do Carmo, executado na garagem de sua casa com mais de 30 tiros em 16 de junho de 2019. Ele era casado com a deputada federal Flordelis (PSD-RJ), que foi indiciada como mandante do crime, ocorrido instantes depois dos dois chegarem juntos à casa em que moravam com a família, em Niterói. O crime aconteceu em um domingo, quando voltaram de uma confraternização em uma lanchonete.

 

Onze pessoas estão envolvidas no assassinato e nove delas foram presas. Foram para a cadeia cinco filhos e uma neta do casal. Um delegado fez as contas do enredo macabro: “Temos aí 11 pessoas respondendo criminalmente, levando em conta que a família são 55, nós temos 20% da família envolvida nesse crime”. A explicação é do delegado Antônio Ricardo Nunes, diretor do Departamento Geral de Homicídios e Proteção à Pessoa (DGHPP) da Polícia Civil do Estado do Rio de Janeiro.

 

Os 55 filhos são em sua maioria adotados. Três dos indiciados são filhos biológicos do pastor assassinado. Flordelis só não foi presa porque tem imunidade parlamentar, que permite a prisão apenas em flagrante por crime inafiançável.

 

Ela vai responder por homicídio triplamente qualificado (por motivo torpe, meio cruel e impossibilidade de defesa da vítima), associação criminosa, falsidade ideológica e uso de documento falso. Sim, neste país um parlamentar tem imunidade que o protege dessa porção de crimes. Segundo o G1, a conclusão do inquérito é que Anderson foi morto por questões financeiras e poder na família. Os dois comandavam uma igreja que estava em crescimento e era ele que controlava todo o dinheiro da organização.

 

Por esta conclusão da investigação da polícia e do MP, afinal o crime se enquadra na luta pelo comando neste universo obscuro que envolve relações políticas, poder pessoal e muito dinheiro, na proliferação de igrejas neopentecostais, algumas que na verdade mal podem ser qualificadas como seitas, de tão desarranjadas que são do ponto de vista teológico.

 

A igreja da deputada, que recebeu seu nome, teve origem com sua mãe em 1990, juntando pessoas para rezar na própria casa. A partir de um processo de ampliação tocado por ela e o marido assassinado, a igreja da deputada já estava com uma sede e cinco filiais no Rio de Janeiro. Duas foram fechadas depois do crime. Na época da morte de Anderson do Carmo, o casal construía uma sede com capacidade para cinco mil pessoas.

 

Flordelis tinha planos ambiciosos, além de já estar bem posicionada politicamente. Fazia parte da base política de Jair Bolsonaro, como deputada do partido comandado por Gilberto Kassab, cacique político com trânsito em vários governos, como os do PT e do governador João Doria, atualmente em negociações para ampliar sua participação no governo Bolsonaro.

 

A deputada é amiga de Damares Alves, ministra de grande prestígio pessoal junto ao presidente. Flordelis tinha uma grande influência política na área metropolitana de Niterói e já trabalhava para indicar uma pessoa de confiança nas eleições deste ano para prefeito de São Gonçalo, com 330 mil habitantes.

 

Alguém duvida do sucesso político de Flordelis se ela não fosse implicada neste crime? Com certeza estaria tendo participação fulgurante na chamada “Bancada da Bíblia”, claro que na qualidade do brilho deste grupo de políticos, cuja base moral pode ser conferida pelas bandeiras de um reacionarismo repugnante e pela condução por canais políticos usados quase que só em favor de interesses diretos de lideranças pretensamente religiosas, que na prática agem como proprietários privados, sem compromisso realmente coletivo com o interesse de uma comunidade religiosa.

 

A relação desses políticos na história recente vai de Fernando Collor a Bolsonaro, aliando-se com todos, inclusive Lula e Fernando Henrique Cardoso, dois presidentes que embora tendo sido eleitos para dar alguma ordem e decência neste tipo de relação política, agiram apenas para criar uma impressão artificial de que a coisa se desenvolve de forma, digamos, republicana. O período petista foi o que mais concedeu poder político para essas figuras que usam politicamente a fé das pessoas, manipulando em proveito próprio especialmente os mais pobres.

 

Não tem campanha eleitoral em que os templos desses auto-intitulados “pastores” não se tornem palanques eleitorais, com a aceitação de candidatos das mais diversas posições políticas. Qualquer um serve, desde que depois atenda aos chefes das igrejas. A sociedade civil segue procurando fazer de conta que não sabe do risco grave dessa mistura feita com toda má-fé entre religião e política, enquanto de forma sombria vai-se fortalecendo, gradativamente e em bloco, o peso dessa cultura na condução política e administrativa do país.

 

O tratamento dado a essas figuras maléficas é de uma condescendência perigosa, passando por cima de regras, até de leis e com certeza sem a atenção devida à obrigação do respeito à liberdade do indivíduo, além de no geral fechar-se os olhos até ao caráter totalmente anti-ético de muitas das ações. Com isso eles vão ganhando força, de forma muito parecida com o que se deu por décadas com um político desqualificado como Jair Bolsonaro, favorecido pela desatenção coletiva aos seus malfeitos, que nos conduziu a todos a uma condição terrível, como agora se sabe.

 

Pois o Brasil que se recomponha moralmente e na sua cultura, atentando melhor para a prevenção ao risco de um dia acordar com um país sob o controle dessa visão do atraso e da falta de respeito à liberdade, talvez até com um presidente da República sob as ordens diretas de uma dessas igrejas de fundo de quintal.

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POR‌ ‌José‌ ‌Pires‌

 

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Imagem- A deputada Flordelis durante um café da manhã de parlamentares com Jair Bolsonaro no dia 30 de maio de 2019; segundo a polícia, cerca de duas semanas depois seu marido foi morto a mando dela


Bolsonaro e sua indomável personalidade

Como se sabe, Jair Bolsonaro andava seguindo um plano de aparentar equilíbrio, evitando as confrontações, na maioria das vezes criadas por ele mesmo e sem resultado positivo que compense o desgaste. A estratégia funcionava relativamente bem, nada que o fizesse ser considerado um estadista ou convencesse parte considerável de seu eleitorado a voltar atrás no arrependimento de ter votado nele para presidente, porém já era um considerável avanço para um sujeito que se comporta como alguém que acorda pensando como tornar o dia dos brasileiros mais difícil do que já é normalmente.

 

O plano parecia estar funcionando de forma razoável, até que veio a agressão ao jornalista do jornal O Globo, na sua estúpida ameaça dizendo que tinha “vontade de encher sua boca de porrada”. Então a pergunta “Presidente Jair Bolsonaro, por que sua esposa recebeu R$ 89 mil de Fabrício Queiroz” virou um fenômeno nas redes sociais, sendo replicada aos milhões de várias formas

 

Bem, a estratégia de paz e amor era exatamente para evitar repercussões desse tipo. Mas o desgaste não parou por aí. Nesta segunda-feira, novamente em desrespeitoso ataque a jornalistas, o presidente ofendeu também a memória dos brasileiros que morreram de Covid-19 e os seus familiares e amigos, dizendo que não sobrevive à doença quem é “bundão”.

 

Claro que assessores já devem estar procurando convencê-lo a retomar a estratégia de procurar controlar o ofensivo destemperamento, mas não vejo possibilidade dessa mudança não topar novamente mais à frente com outra situação em que ele não tenha como evitar a explosão da sua verdadeira personalidade.

 

Bolsonaro me lembra bastante o protagonista do livro “O médico e o monstro”, romance excelente escrito pelo grande Robert Louis Stevenson, que além de ser uma leitura estilisticamente muito prazerosa serve também como um interessante estudo psicológico. Em resumo, é uma história sobre a dupla personalidade do Doutor Jekyll, médico de espírito nobre e sofisticado culturalmente, que costuma sofrer uma horrível transformação, tornando-se Mister Hyde, capaz de cometer crimes monstruosos.

 

Bolsonaro me lembra bastante este romance, que obriga o leitor a uma descida aos profundos meandros da natureza humana, na sua desagradável e temerosa ambiguidade. O romance sobre Doutor Jekyll e Mister Hyde serve para explicar este nosso presidente, mas com uma diferença moral muito importante: na personalidade de Bolsonaro só existe Mister Hyde.

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POR‌ ‌José‌ ‌Pires‌


quinta-feira, 20 de agosto de 2020

Steve Bannon e a degradação moral de ser pego surrupiando dinheiro do muro da direita

A prisão de Steve Bannon nos Estados Unidos, junto com o motivo que o mandou para a cadeia com indiciamento por dois crimes graves, levam à desmoralização da chamada pós-verdade, com suas técnicas do engano, da mentira e da manipulação das multidões. Bannon é uma estrela internacional desse sistema de desinformação, tendo ganhado fama mundial depois de chefiar a campanha vitoriosa de Donald Trump, de quem foi conselheiro na Casa Branca, até ser demitido com um pouco menos de um ano no cargo. O marqueteiro foi solto sob fiança de 5 milhões de dólares, mas vai responder por crimes que podem levar a 40 anos de prisão.

 

O que ocorreu é fatal porque atinge conceitos essenciais do sucesso de Bannon. Além da derrocada moral com a prisão e o processo que virá com a acusação de corrupção, o fato arrasa com as pregações políticas de Bannon e de seus seguidores, que se apóiam em um nacionalismo tacanho para colocar os americanos contra os imigrantes.

 

Este foi um dos pontos essenciais na campanha criada por ele para Trump, focando principalmente em imigrantes mexicanos a culpa pelo desemprego e a degradação social entre os americanos. Encaixou-se na propaganda eleitoral até mesmo a promessa da construção de um muro na fronteira, separando os Estados Unidos do México.

 

Pois Bannon foi preso hoje exatamente sob a acusação de embolsar 1 milhão de dólares de uma campanha de doações para construir um trecho de muro entre EUA e México. Ou seja: passou a perna em americanos que contribuíram para algo que simboliza materialmente seu ideario. É até engraçada a lição moral: acreditando na ameaça externa, os direitistas americanos dormiam em casa com o inimigo.

 

Bannon é um promotor internacional do ódio e da desconfiança, fomentando o desprezo aos que vem de fora em busca de uma vida melhor, sejam imigrantes ou refugiados políticos. Porém, este rechaço é estimulado apenas contra os mais pobres.

 

O estrangeiro rico e poderoso é sempre muito bem-vindo, como aconteceu com o próprio Bannon, recebido no ano passado com honras na embaixada brasileira em Washington pelo governo de Jair Bolsonaro, com a presença do próprio presidente, que tinha ao lado seu guru brasileiro Olavo de Carvalho, que pelo menos até esta prisão era um admirador entusiasmado de Bannon.

 

Até surgir este caso de corrupção o ex-conselheiro de Trump vinha sendo um líder poderoso em um movimento de fortalecimento internacional da direita, comandando a criação de uma organização política com uma penetração muito forte na direita européia e que tem o deputado Eduardo Bolsonaro como representante na América do Sul.

 

O filho de Bolsonaro foi colocado pelo marqueteiro americano na liderança do esquema político em nosso continente. Esses acontecimentos complicam bastante o avanço desse movimento, que fica difícil tocar sob a liderança de uma estrela mundial acusada de corrupção exatamente em uma arrecadação de fundos para o muro que simboliza o que eles defendem com tanto orgulho.

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POR‌ ‌José‌ ‌Pires‌

 

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Imagem- Bannon e Eduardo Bolsonaro: opa, parece que chegou a hora de apagar selfies nas redes sociais


Bolsonaro e a estratégia do levantamento de anão

Esse pessoal do jornalismo e desses programas de conversa fiada do rádio e da televisão que costuma ver grandes valores estratégicos por detrás das bobajadas de Jair Bolsonaro tem a obrigação de nos explicar qual é o segredo político que envolve esta atitude inusitada do nosso presidente de levantar anão em meio a seguidores fanáticos. 

 

Na segunda-feira, durante visita a Aracaju para a inauguração de uma usina termoelétrica, o presidente levantou um anão do chão. As imagens se espalharam pela internet nesta quarta-feira. A dúvida é se foi por incompetência até para a demagogia que Bolsonaro pegou no colo o homenzinho confundindo-o com criança ou o gesto foi premeditado, em um golpe de marketing com conteúdo simbólico que pode influenciar a seu favor o atual jogo de forças na política brasileira. 

 

É necessário esclarecer o peso estratégico desse negócio aí de levantar anão, que pode ser uma jogada inteligente, com um resultado que pode interferir nos rumos do país. Não é a primeira vez que Bolsonaro faz isso, o que permite longos debates sobre a intrincada arquitetura política que sustenta o que pode ser mais um plano genial do presidente. 

 

Até agora o Palácio do Planalto não lançou nota oficial. Também não se sabe como o STF avalia juridicamente o fato. Rodrigo Maia ainda não deu bola pro assunto. E como Caio Coppolla e Alexandre Garcia encaixam o gesto entre tantas sacadas geniais que afirmam que saem da cabeça privilegiada de Bolsonaro?  

 

A Globo News precisa também dedicar umas horinhas debatendo este levantamento de anão. Diga algo, Adrilles Jorge. Destrincha essa, Constantino. Explica, Fiuza. Augusto Nunes e seus colegas da Jovem Pan estão com a obrigação de dar a costumeira passadinha de pano para mais esse lance habilidoso do presidente. 

 

A questão também necessita de apreciações do ponto de vista científico. Leandro Karnal e o Pondé podem trazer a base filosófica de um evento tão transformador. Acadêmicos e cientistas precisam ser consultados. O Datafolha não vai sair em campo para comprovar, com números exatos, se os brasileiros aceitam esta nova forma de fazer política levantando anões?  

 

Para que a opinião pública tenha um entendimento pleno da situação espera-se a contribuição de jornalistas e especialistas que estão o tempo todo apontando um grande lance de Maquiavel onde não existe nada mais que um idiota do baixo clero da política a quem foi dada erradamente a faixa de presidente da República.

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POR‌ ‌José‌ ‌Pires‌


A prisão de Steve Bannon e suas fortes relações entre a direita brasileira

Steve Bannon foi preso e indiciado nesta quinta-feira nos Estados Unidos. O ex-conselheiro de Donald Trump na Casa Branca foi preso sob a acusação de que ele e outras três pessoas enganaram doadores de uma campanha de arrecadação de fundos para a construção de um muro na fronteira do México. A campanha, de nome "We Build The Wall” (Nós Construímos o Muro), levantou mais de 25 milhões de dólares.

 

A prisão é um golpe duro na tentativa de reeleição de Donald Trump. Bannon foi chefe da sua primeira campanha, onde começou esta onda mundial de fake news que depois invadiu também a política brasileira, resultando na eleição de Jair Bolsonaro, que por sinal teve uma ligação pessoal com o ex-conselheiro de Trump, que agora está preso.

 

Bannon foi recebido por Bolsonaro com honras na embaixada do Brasil em Washington, logo depois de ele assumir a presidência da República. O jantar oferecido pelo governo brasileiro em março do ano passado teve também a presença do escritor Olavo de Carvalho, que sentou ao lado direito de Bolsonaro. Bannon sentou do lado esquerdo. Não se sabe com exatidão como se dá a relação de Olavo com o marqueteiro americano, mas pelo que se observa do comportamento e do que escreve atualmente o guru de Bolsonaro, ele segue o padrão de comunicação de Bannon.

 

O ex-conselheiro de Trump tem também uma relação especial com o deputado Eduardo Bolsonaro. Foi a convite de Bannon que o filho de Bolsonaro assumiu o posto de representante na América do Sul do “The Movement”, grupo de direita de grande influência nos Estados Unidos. A aproximação entre o direitista americano, Bolsonaro e o filho se deu por intermédio do assessor de Bolsonaro para relações internacionais, Filipe Martins, discípulo de Olavo de Carvalho.

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POR‌ ‌José‌ ‌Pires‌


Luciano Hang e Bolsonaro: parceiros na mais absoluta inocência


Luciano Hang fez um pedido por meio de seus advogados para que dados da apuração interna do Facebook, que causaram a suspensão de perfis bolsonaristas, não sejam usados na ação do TSE sobre a contratação de disparos de mensagens em massa com informações falsas na campanha de 2018.

 

A chapa de Jair Bolsonaro e Hamilton Mourão teria sido beneficiada eleitoralmente pelos disparos. Claro que o dono da Havan alega inocência. Ele afirma também que não teme o compartilhamento de provas. Sua justificativa é de que não há conexão entre a investigação do Facebook e a ação que corre no TSE.

 

Pois eu discordo dessa conclusão e faço isso em favor do candidato apoiado por Luciano Hang. Se o dono da Havan passou a campanha publicando e repassando pelas redes sociais apenas coisas justas e verdadeiras, os dados da apuração interna do Facebook serão úteis para que ele compartilhe sua inocência com este outro grande injustiçado, que é Jair Bolsonaro.

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POR‌ ‌José‌ ‌Pires‌


As ambiguidades do eterno interino do Ministério da Saúde

Nesta quinta-feira o general Eduardo Pazuello vai deixar o comando da 12ª Região Militar. Ele já está no Amazonas para a passagem do comando, que abrange Amazonas, Rondônia e Roraima.

 

Pazuello mantém-se como ministro interino da Saúde, algo que em plena pandemia com um registro oficial já superando 110 mil mortes só é possível em um governo comandado por um sujeito inepto e irresponsável como Jair Bolsonaro, sobre o qual inclusive, já que falamos em saúde, pesam suspeitas de ser um psicopata.

 

Mas voltemos ao ministro interino — que chegou a ser oficializado por decreto. Ele é interino desde maio. Dentro de poucos dias a pasta vai completar 100 dias sem titular.

 

É óbvio que é uma condição de desprestígio, mas parece que a Pazuello bastam os ótimos proventos e a ilusão de poder pessoal. Tem também a grave questão do comprometimento da imagem do Exército Brasileiro na gestão de uma pandemia que internacionalmente é vista como uma das piores do mundo, mas dá a impressão de que isso não preocupa o general.

 

Com o anúncio de Luiz Eduardo Ramos de que vai para a reserva, Pazuello ficará como único general da ativa entre os ministros do governo, mas ele já afirmou que não pretende abrir mão da carreira no Exército, indo para a reserva, conforme já foi pedido pelas Forças Armadas.

 

Desse modo, criou-se uma situação até cômica: além de interino na Saúde, Pazuello é na prática um general interino.

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POR‌ ‌José‌ ‌Pires‌