sábado, 31 de outubro de 2020

Mais uma uma viagem fora de hora do governo Bolsonaro

Na semana que vem, diplomatas vão acompanhar o vice-presidente Hamilton Mourão em uma viagem de avião pela Amazônia. A ideia foi de Mourão, que sempre aparece com algo do tipo em suas falas, quando reage contra críticas sobre a falta de ação do governo quanto à destruição do meio ambiente. Mourão quer demonstrar na prática que tudo vai bem com a Amazônia. Ele é chegado nesse tipo de desafio e até já fez o mesmo com o ator Leonardo di Caprio, que não lhe deu ouvidos.

A justificativa para esta viagem é uma grande bobagem. Ninguém precisa ir até a Amazônia ou para qualquer outra parte do país para saber se tudo vai bem ou mal com o meio ambiente. Para isso existem estudos técnicos. Pelo empirismo besta de Mourão teríamos de dar uma observada in loco nas geleiras da Antártida antes de emitir qualquer opinião sobre o aquecimento global.

O mais absurdo nesta viagem sem sentido é que vários diplomatas toparam acompanhar Mourão nesta aventura insensata e até perigosa. Existe uma regra de segurança de grandes empresas que proíbe mais de um alto executivo em um mesmo vôo, para evitar que um acidente acabe com a estrutura de comando. Grandes bancos brasileiros já cometeram essa imprevidência e perderam quase toda a diretoria em desastre aéreo. Será que alguém pensou nisso?

O vice-presidente Mourão pretende fazer a viagem pela Amazônia com os diplomatas durante três dias. São representantes de 10 países: África do Sul, Alemanha, Canadá, Colômbia, Espanha, França, Peru, Portugal, Reino Unido, Suécia. Embaixadores da União Europeia e da Organização do Tratado de Cooperação Amazônica (OTCA) também devem participar da viagem. Devem representar o governo brasileiro na viagem os ministros Tereza Cristina (Agricultura), Ricardo Salles (Meio Ambiente), Ernesto Araújo (Relações Exteriores), Eduardo Pazuello (Saúde), Augusto Heleno (Gabinete de Segurança Institucional) e o chefe do Estado-Maior das Forças Armadas, tenente-brigadeiro do ar Raul Botelho.

É uma viagem tão fora de hora que nem cabe lembrar que embora este governo seja negacionista a pandemia está à toda no mundo. Ora, se houver um acidente aéreo acaba o governo brasileiro. E imaginem o choque internacional caso aconteça algo parecido com todos esses diplomatas. Bem, espera-se que não embarquem no mesmo vôo, mas certamente não terá um avião ou helicóptero para que um de cada vez dê uma sapeada em cima das matas. Para mim, uma viagem como esta mostra que em matéria de prevenção não é só em relação ao meio ambiente que este governo Bolsonaro é totalmente incapaz.

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POR‌ ‌José‌ ‌Pires‌


quinta-feira, 29 de outubro de 2020

Glenn Greenwald se demite do The Intercept e acusa colegas americanos de censura

Como se dizia antigamente: extra, extra, extra! O jornalista Glenn Greenwald, um dos fundadores do The Intercept, pediu demissão do site nesta quinta-feira. Fundado em 2013, o site foi criado por ele e os jornalistas Jeremy Scahill e Laura Poitras. Greenwald alega ter sofrido censura dos colegas, que o impediram de publicar um texto no The Intercept com críticas ao candidato Joe Biden, que ainda segundo o que ele diz, é apoiado por todos os editores de Nova York do The Intercept.

Ora, ele pretendia bater em Biden, o que evidentemente, mesmo fingindo inocência o tempo todo, Greenwald sabe muito bem a quem favorece. Era capaz até do agraciado escrever um agradecimento no Twitter.

Greenwald divulgou hoje uma explicação sobre sua saída do The Intercept em um texto publicado no Substack, site onde vai passar a colaborar. O tom é de rompimento com a esquerda, que nos Estados Unidos são definidos como liberais. Ele classifica a censura que alega ter sofrido como um componente dos “vírus que contaminaram praticamente todas as principais organizações políticas de centro-esquerda, instituições acadêmicas e redações”.

Ele também acusa os colegas fundadores do The Intercept de estarem atrelados ao Partido Democrata e atuando profissionalmente com “um medo profundo de ofender o liberalismo cultural hegemônico e os luminares de centro-esquerda do Twitter”. O jornalista diz também que os colegas têm medo de desagradar aos “guardiões da ortodoxia liberal”.

Ao que parece, ao se negarem a publicar o texto de Greenwald os outros co-fundadores procuram evitar que o The Intercept fique marcado definitivamente como linha-auxiliar da direita dos Estado Unidos, o que poderia enterrar a credibilidade do site. O texto de Greenwald explora o episódio da acusação contra o candidato democrata e seu filho Hunter Biden, de terem feito negócios escusos com a Ucrânia.

Mesmo depois do governo ucraniano ter negado os boatos de que o filho do candidato da oposição tenha praticado qualquer corrupção naquele país, o tema vem sendo repetidamente usado na campanha por Donald Trump sem apresentar nenhuma prova, numa tentativa desesperada para reverter a vantagem de Biden que podem obrigá-lo a se mudar da Casa Branca.

Esta demissão de Greenwald deve transformar radicalmente sua imagem junto à esquerda brasileira. Haja “deslikes”, ainda mais sua saída tendo como motivo um texto que sem dúvida nenhuma favorece Trump e se alinha com o esforço que a imprensa de direita vem fazendo para levantar material negativo contra Biden, mesmo que tenham que inventar notícias.

Jornalistas e comentaristas políticos tratam de requentar qualquer coisa a poucos dias da eleição, com uma preferência por este assunto que vem sendo manipulado de forma agressiva por um presidente que usa de tudo para ser reeleito. Ao publicar algo que fortalece Trump quando ele mais precisa, o ex-editor do The Intercept vai deixar de ser adorado por esquerdistas embasbacados com um espalhador de e-mails hackeados. Além disso, poderemos ter em breve outras revelações sobre esta polêmica que mal começou, talvez com a divulgação de novidades que abalem ainda mais sua credibilidade

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POR‌ ‌José‌ ‌Pires‌


A governadora bolsonarista e sua dificuldade em condenar o nazismo

A governadora interina de Santa Catarina, Daniela Reinehr, que assumiu cargo com o afastamento do governador Carlos Moisés, negou-se a responder se concorda com ideias neonazistas e negacionistas do holocausto judeu. Existem fatos históricos que pela complexidade e possibilidade de variadas versões não admitem um sim ou não, mas não é o caso do que foi perguntado a ela.

Geralmente quem se recusa a responder a perguntas desse tipo está fazendo o papel do gato escondido com o rabo de fora — a candidata comunista Manuela D´Ávila, por exemplo, não aceitou em uma entrevista ao Roda Viva posicionar-se quanto aos crimes de Stálin, na antiga União Soviética.

Quando uma pessoa não admite expressar com clareza sua opinião sobre fatos históricos relacionados a genocídios comprovados, cabe a suspeita de que faz isso em razão de algum sentimento muito forte, que é difícil supor que seja de solidariedade e respeito para com as vítimas.

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POR‌ ‌José‌ ‌Pires‌




A liberdade de todos nós defendida pela França

A liberdade esteve sob ataque novamente na manhã desta quinta-feira. A França foi o alvo de atentados ocorridos em três lugares, certamente com uma organização em comum. Um ataque terrorista a faca deixou três mortos e vários feridos em Nice, no Sul da França. O agressor foi ferido a tiros pela polícia e está preso. Os assassinatos foram cometidos na Basílica de Notre-Dame. Em Avignon, também na França, houve outro ataque sem deixar vítimas. Um homem que tentou esfaquear várias pessoas foi morto a tiros. E no consulado francês em Djeddah, na Arábia Saudita, um vigia foi atacado com uma faca.

Nos dois atentados na França, os agressores gritavam “Alá é grande”. O objetivo do terror é calar a liberdade de expressão. E que ninguém pense que esta determinação autoritária se restringe à França. O plano com esta pressão criminosa e traiçoeira é fazer os franceses se dobrarem, para em seguida espalhar pelo mundo um domínio sobre o pensamento da humanidade. Neste momento os franceses lutam por todos nós.

A França resiste bravamente à tentativa de uma religião se sobrepor ao direito das pessoas se expressarem com liberdade, procurando interferir no comportamento de um país que já tem plenamente estabelecido o direito de um cidadão se expressar do jeito que quiser, seja falando, escrevendo, cantando e dançando, pintando, fotografando, editando livros e fazendo filmes ou desenhando cartuns e dando aulas, duas atividades humanas que deixaram irritados os terroristas islâmicos.

Na França, com a corajosa defesa do Estado laico que está sendo mantida por seu povo e pelo governo de Emmanuel Macron, luta-se igualmente pela defesa do direito de crença. O laicismo existe também para impedir que se estabeleçam teocracias ou mesmo sistemas de governos sob o domínio de determinada religião, porque quando isso acontece não só acaba-se a liberdade de expressão. As religiões que estão fora do poder passam a ser perseguidas e sofrer repressão feroz.

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POR‌ ‌José‌ ‌Pires‌


quarta-feira, 28 de outubro de 2020

Charlie Hebdo e a morte do professor Samuel Paty alertam sobre o inimigo que ameaça a democracia por dentro

O presidente turco Recep Tayyip Erdogan está irritado com o jornal francês Charlie Hebdo por causa de uma charge publicada na capa da mais que polêmica publicação de humor. Por motivos que certamente a redação do jornal dispensaria, o Charlie Hebdo tornou-se um símbolo da liberdade de expressão, algo que adquiriu um sentido ainda mais forte para os franceses depois do assassinato do professor Samuel Paty, morto por um terrorista islâmico. Paty foi decapitado depois de ter sido vítima de uma campanha pelas redes sociais, movida por islâmicos acolhidos pela França, indignados porque o professor havia mostrado as controvertidas caricaturas de Maomé publicadas anos atrás pelo Charlie Hebdo. O heróico professor fez isso em uma aula dedicada exatamente à liberdade de expressão.

Erdogan é um autocrata que tem o plano de não sair mais do poder na Turquia e está envolvido em uma tentativa de islamizar o país. Recentemente ele transformou em mesquita basílica de Santa Sofia, cujo prédio desde 1935 era usado como museu. Erdogan usa a religião como justificativa para estender o domínio absoluto sobre a população e para desviar a atenção da sua responsabilidade pessoal no estabelecimento de uma ditadura. A charge é sobre a hipocrisia de Erdogan e evidentemente serve como crítica a todo tipo de autocrata, especialmente de regimes sustentados por fanatismo religioso. Sua raiva deve ter sido ainda maior porque o desenho é assinado por uma mulher — a jovem cartunista Alice. As mulheres, como se sabe, recebem um tratamento de ser inferior em países onde esta religião tem influência sobre o sistema de governo.

Durante os funerais de Samuel Paty, o presidente Emmanuel Macron afirmou que “não renunciaremos às caricaturas”, uma fala admirável, ainda mais porque sabe-se muito bem que o Charlie Hebdo não poupa ninguém e nenhuma religião, tendo publicado muitas caricaturas sobre o próprio Macron tão agressivas quanto esta de Erdogan na capa desta semana. A fala de Macron: "Nós continuaremos, professor. Nós defenderemos a liberdade que você ensinava tão bem e nós levaremos a laicidade. Nós não renunciaremos às caricaturas e aos desenhos".

O conceito essencial é o da liberdade de expressão, historicamente de um valor especial para a França, que tem seu povo não só na origem do direito de se expressar como na sua defesa através dos séculos, como acontece até agora quando a liberdade corre riscos no mundo todo. Outro conceito essencial é o da laicidade, que hipocritamente os muçulmanos procuram demonizar, procurando esconder que na verdade a laicidade é uma proteção a todas as religiões, inclusive para impedir que uma religião se aposse do Estado e passe a perseguir todas as outras crenças, que é o que o islamismo vem fazendo em vários países.

No caso da França e de vários países europeus, há um aproveitamento das próprias liberdades desses países para uma gradativa ocupação das instituições, com o evidente objetivo de um domínio pleno, em um processo desenvolvido com a paciência milenar de uma religião autoritária. O massacre na redação do Charlie Hebdo em 2015, quando terroristas islâmicos mataram 12 mortos pessoas e deixaram 11 feridos graves, serviu para apontar que este fundamentalismo é fortalecido de dentro das comunidades islâmicas, inclusive entre refugiados acolhidos generosamente pela França.

A ironia é que são pessoas protegidas pelo Estado francês de violências que sofriam em seus países de origem, praticadas na maioria das vezes entre os próprios islâmicos, que se matam há séculos por causa de divergências históricas dentro da própria religião. A morte do bravo professor francês mostrou a necessidade do governo francês criar precauções contra o uso da democracia para o aniquilamento progressivo dela própria. O jovem terrorista que matou Paty era de origem chechena e sofreu a influência de islâmicos que não se apresentam como fundamentalistas, mas não aceitam se submeter às leis e costumes dos países onde são acolhidos. Isso serve inclusive ao domínio opressivo e degradante sobre as mulheres nas comunidades islâmicas.

Ao que parece os franceses acordaram ao fato de que levam para dentro de casa graves problemas, importando conflitos e costumes intolerantes que podem arrasar com a qualidade da vida na França. Nesta semana, por exemplo, foram expulsos cinco bósnios, membros da família de uma adolescente muçulmana contra a qual praticaram crueldades em nome da religião, castigando a jovem porque ela namorava um rapaz sérvio. Seria interessante acompanhar como os valentes vão se dar com a vida na Bósnia, região de massacres recentes por causa de religião.

Medidas mais amplas estão em andamento contra fundamentalistas que usam associações como escudo para suas atividades. Alguns desses organismos chegam a receber dinheiro público, como um tal de Coletivo contra a Islamofobia na França (CCIF). Gostaram desse “coletivo”? Ganha uma camiseta do Che Guevara grafitado pelo Banksy quem adivinhar qual é a ideologia do grupo solidário. Mas a própria esquerda francesa vem repensando sua complacência excessiva com o islamismo, agora que a coisa definitivamente está muito perigosa. Outra associação que o governo pretende fechar é chamada Baraka City.

As ações cruéis recentes dos fanáticos muçulmanos mostraram a necessidade de medidas rigorosas contra o terror e suas redes de sustentação dentro do país. É óbvio que este será um assunto importante nas próximas eleições, do mesmo modo que a questão da imigração ressurgirá com a compreensão mais acentuada sobre a necessidade da administração de riscos muito graves. A realidade mostrou aos franceses que a demolição da liberdade não vem apenas do fundamentalismo organizado do exterior, podendo nascer entre vítimas de violência em outras países, que não aceitam se adequar aos costumes e leis do lugar onde tem o acolhimento.

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POR‌ ‌José‌ ‌Pires‌



quarta-feira, 21 de outubro de 2020

Kássio Marques: o STF ganha um ministro com um currículo à altura da instituição

A aprovação do nome de Kássio Marques pelo Senado seguiu à risca o velho modelo de uma instituição que finge que cumpre sua função, mas que todo  mundo sabe que aprova qualquer indicação que o Palácio do Planalto mandar. Vem até a tentação de dizer que é uma desmoralização política uma aprovação como esta de um sujeito que é um plagiador e que mente sobre seu currículo. Mas pensando melhor: quem é que leva a sério o Senado brasileiro? Até para caso de colega que enfia dinheiro no rabo é preciso que o STF tome uma decisão no lugar deles.

 

É interessante a coincidência entre o placar desta votação e a de outro indicado que também não tinha os predicados para ser ministro do STF. Aliás, não os tinha para ser juiz de lugar algum, já que havia sido reprovado em dois concursos da magistratura paulista. Estou falando de Dias Toffoli, que tem tudo para fazer uma boa parceria com Marques, até porque ambos subiram na vida graças ao PT.

 

A indicação de Toffoli foi confirmada em setembro de 2009 por 59 votos a favor, nove contrários e três abstenções. A votação em Marques foi de 57 votos a favor, 10 contra e uma abstenção. E olha que a composição atual do Senado tem uma ligeira diferença com a de 2009. 

 

O indicativo parece ser o de que no Senado só se deve contar com cerca de 10 parlamentares que decidam assuntos importantes tendo em vista ao menos a lógica. Bem, pelo menos fica-se sabendo um motivo essencial do Brasil ir se afundando em um atraso que está próximo do irremediável, que é a falência da classe dirigente. Na vida pública ou na iniciativa privada, em termos de capacidade e de visão, o cenário é de terra arrasada.

 

Nesta encenação do Senado o que há de se lamentar é que a autorização para Kássio Marques vestir aquela toga cafona não tenha tido também o voto de Chico Rodrigues, aquele nobre colega do dinheiro nas nádegas, impedido neste caso pela suspensão determinada pelo ministro Luís Roberto Barroso. A ausência não permitiu que a confirmação do novo juiz do Supremo se desse em sua completude. O senador que foi pego pela polícia com dinheiro escondido naquele lugar poderia ter dado o voto de honra nesta aprovação.

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POR‌ ‌José‌ ‌Pires‌

 

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Kássio Marques durante a sabatina desta quarta-feira; Foto de Marcos Oliveira, Agência Senado


segunda-feira, 19 de outubro de 2020

O senador bolsonarista do dinheiro nas nádegas e as tentativas no Senado de abafar o indefensável

É lamentável, ainda que não cause surpresa, as tentativas de senadores para defender o colega Chico Rodrigues, mas sem tocar no ponto que realmente importa, seu flagrante policial com dinheiro entre as nádegas, que só pode ser dinheiro público roubado ou então o nobre parlamentar encontrou uma forma excêntrica demais de substituir o uso da carteira.

Na tentativa de abafar o caso sem tocar na situação de um político pego pela polícia metendo a mão em verbas de emergência destinadas a uma pandemia que já matou mais de 150 mil brasileiros, colegas seus fazem críticas à decisão de Luís Roberto Barroso da suspensão do mandato, alegando que isso fere a independência entre os poderes. De uma suja ladroagem, vejam só, faz-se um debate institucional.

Ora, parece claro que a decisão do ministro Barroso foi tomada porque se fosse depender do Senado não haveria nenhuma providência para conter os arroubos de Rodrigues. A classe política fez do Congresso Nacional um clube exclusivo, com Câmara e Senado defendendo seus integrantes mesmo quando são descobertas escandalosas barbaridades. Nas duas casas domina o mais baixo espírito corporativista, além de uma grave falta de empenho quanto aos problemas nacionais.

Foi por causa dessa constante prevaricação dos parlamentares que o STF avançou sobre os sérios problemas dos esquemas políticos por detrás das chamadas “fake news”, com os grupos montados para atacar adversários, espalhar calúnias e difamações e acossar as pessoas nas redes sociais. Como foi descoberto depois da abertura do inquérito no STF, tem inclusive lavagem de dinheiro neste esquema nefasto, que até deu sossego aos internautas decentes depois de prisões e a derrubada de páginas que promoviam absurdos nas redes sociais.

É o que ocorre com a suspensão do senador Chico Rodrigues, que não teria sido contido e estaria na ativa até agora se dependesse do Senado. Já existe uma sórdida maquinação entre senadores para esta denúncia ter o andamento de tantas outras, que são roladas com vagareza até que caiam no esquecimento. Mas será difícil fazer esta manipulação, não só pela desmoralização da imagem de uma instituição que já não vai nada bem perante a opinião pública, mas porque este é um caso em que as provas abundam.

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POR‌ ‌José‌ ‌Pires‌


A vitória do candidato de Evo Morales na Bolívia e a esquerda latinoamericana atolada em seu próprio atraso

Pelos números que chegam da Bolívia, a eleição presidencial traz de volta ao poder Evo Morales, com a vitória de Luis Arce, que é seu poste. A própria presidente interina Jeanine Añez reconheceu que o resultado deu a vitória a Morales e seu partido. Pesquisa de boca de urna mostra que Arce foi eleito com 54% dos votos, contra apenas 31,5% de seu principal adversário, Carlos Mesa.

O resultado não é uma surpresa, pois seria mesmo difícil vencer um partido com fortes raízes populares, o Movimento pelo Socialismo (MAS), que esteve 14 anos no governo desenvolvendo um projeto político sem nenhuma abertura para a alternância no poder. Morales foi mudando as regras, até tentar ao abuso de quarto mandato para ele próprio.

Arce participou de todo este processo, que sob o comando de Morales estendeu sobre a Bolívia um domínio político quase absoluto, usando a organização e experiência adquirida pelo mesmo MAS, em décadas de trabalho político, com intensa penetração entre os mais pobres, sabendo inclusive combinar com habilidade o discurso político com o imaginário ancestral daquele país, no mito das civilizações anteriores e na relação com a colonização espanhola.

O candidato vencedor é tido como responsável pela política econômica durante o período de governo de Morales.A campanha de Arce teve a coordenação de Luis Arce, que foi vice-presidente de Morales e é o principal ideólogo do grupo do ex-presidente.

Não acho que seja um exagero lamentar pela pobre Bolívia, não só pela vitória de um grupo com o velho espírito caudilhesco da América Latina, agora encarnado por um índio boliviano com colar de folhas de coca no pescoço. O próprio candidato que ficou em segundo lugar era um político da antiga. Não dava para ter muita esperança de algo melhor com Carlos Mesa. Não dá ter expectativas positivas com o grupo de Morales, assim como não caberia esperar algo efetivamente de qualidade com a vitória da oposição. Além disso, tudo indica que se infernizariam mutuamente seja quem fosse o ganhador.

Mesa já foi vice-presidente, tendo assumido o cargo quando o titular, que não importa o nome, renunciou em meio a graves distúrbios em todo o país. O próprio Mesa foi também obrigado a renunciar em 2005, depois de conflitos populares com 80 mortos, com protestos e greves, causados exatamente pelo mesmo MAS, comandado por Morales, que preparava o caminho para subir ao poder.

No final, a única vantagem até o momento é que o MAS foi obrigado render-se ao menos formalmente ao ritual da democracia, que é óbvio que também não é grande coisa na Bolívia. O plano era ter Morales em um quarto mandato consecutivo, porém ele foi obrigado a renunciar em novembro do ano passado. Vamos ver como é que fica, mas também é evidente que permanece com ele como um poder pessoal a ponte da relação com o eleitorado, especialmente os pobres, que nesta América Latina é quase todo mundo.

A esquerda da América Latina vai se animar, já que esse pessoal é ligado nessa mistura de populismo com toques socialistas. A direita vai dizer que são comunistas tomando o poder, uma teoria que me parece que Lênin não aceitaria, além de que o comunismo na Bolívia animaria nem o Fidel Castro dos velhos tempos, pois o país não tem dinheiro para mandar pra Cuba.

Mas o PT e seus puxadinhos tentarão lacrar, que é só isso que fazem hoje em dia. O índio Morales assenta bem na permanente ilusão histórica da esquerda sobre um idílico mundo pré-hispânico, de povos criadores de uma sofisticada civilização, violentada depois pela maldade vinda da Espanha.

Nesta história nunca se fala nas incessantes guerras de conquista, no domínio brutal de um povo sobre os outros, em sacrifícios humanos em rituais religiosos, fatos tratados como meros detalhes. A teoria histórica é sempre de uma cultura destruída por bárbaros vindos de caravelas de outro continente, mas, bem, como deveria dizer Eduardo Galeano antes de escrever livros que antes de morrer ele mesmo admitiu que eram equivocados, ninguém é perfeito.

O triste é que o modelo que surge com esta eleição reprisa a incorrigível dificuldade de setores progressistas e ainda mais da esquerda de estabelecer sistemas partidários modernos e eficientes, abertos à democracia e a organicidade política. Sempre tem um caudilho por detrás, seja no espírito ou na presença material, como pode-se ver na Argentina com os Kirchner ou no Brasil, com o mandonismo de Lula sobre seu partido e o destino da esquerda brasileira.

Eu disse “pobre Bolívia”, como um lamento sobre um povo empacado no atraso cultural e técnico de classes políticas e dirigentes que não entenderam nada lá atrás, no século vinte, obrigando todo um país a bater a cara na porta de entrada do Terceiro Milênio. Mas, ora, o mesmo lamento serve para nós todos aqui em nosso pobre Brasil, especialmente agora que praticamente toda a classe política — esquerda com direita, em união estável com os porcalhões do centrão — parece ter abraçado de vez o modelo da plutocracia, onde dinheiro enfiado nas nádegas é mera formalidade.

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POR‌ ‌José‌ ‌Pires‌



 

sábado, 17 de outubro de 2020

Fernando Haddad versus Robinho: a esquerda sempre mirando nos alvos mais fáceis nas suas lacrações

A esquerda brasileira gosta de temas que facilitem seu espírito lacrador, no embalo regozijante que faz de uma condenação um autoelogio, na linha do “olha como eu sou superbacana” me colocando contra isso. Pelo jeito, o alvo agora é o jogador Robinho, por causa da condenação por estupro na Itália. O caso é asqueroso. Estupraram em grupo uma mulher completamente bêbada.

Só por estar em uma situação como esta e não intervir em defesa da vítima, o jogador já teria demonstrado a péssima qualidade de seu caráter. Mas tem mais: ele admite que levou a vítima do estupro coletivo a praticar sexo oral nele. Mas para Robinho “isso não significa transar”. Esta confissão está em um áudio que vazou e piorou a situação do jogador junto à opinião pública.

Em um trecho da conversa entre cafajestes, um músico que tocava na boate na noite do estupro avisa Robinho sobre a investigação. A resposta do jogador serve como prova incriminadora: “Estou rindo porque não estou nem aí, a mulher estava completamente bêbada, não sabe nem o que aconteceu”. Sua condenação em primeira instância é de nove anos de cadeia. Ao contrário do que acontece só aqui, na Itália o condenado vai preso na segunda instância. Este parece ser o destino mais provável de Robinho.

Como eu disse, o caso de Robinho é fácil para lacradores da esquerda, até porque toca em um eleitorado importante, o do voto feminino. Até Manuela D’Ávila deu seu recado de gente do bem nas redes sociais, entrando na onda da incriminação do jogador, ela que já se recusou a condenar até o ditador comunista Stálin, que teve a responsabilidade direta pela morte de milhões de pessoas durante seu governo na antiga União Soviética, muitas vítimas inclusive caçadas em outros países — claro que a conta macabra inclui estupros de mulheres dissidentes.

O petista Fernando Haddad é outro que tentou tirar uma casquinha lacradora, mas quebrou a cara porque tentou fazer um jogo de palavras muito idiota e trombou com a militância racialista, essa parcela intolerante de uma esquerda mal-humorada e ignorante que tenta aparelhar também a língua portuguesa.

Procurando pegar carona em um vídeo de Casagrande que está bombando na internet, ele tentou fazer graça com uma associação entre o nome do jogador e a “casa grande” das fazendas da época da escravidão. Então passou a ser tachado de racista. Haddad se acovardou e excluiu a mensagem, mas nada desaparece na internet. Veja na imagem.

Haddad é um dos grandes responsáveis por este clima opressivo que acossa qualquer um que pense com liberdade no Brasil. Sempre tem alguém trazendo picuinhas idiotas que fogem ao tema debatido e implicam até com determinadas palavras da língua portuguesa, desqualificando quem não aceita determinadas posições de esquerda ou medidas que embora até pareçam justas servem na verdade para beneficiar grupelhos, prejudicando a igualdade de direitos e de oportunidade.

Haddad levou cacetadas dos setores patrulheiros que estimulou como ministro da Educação e prefeito de São Paulo. Por ironia do tempo, agora ele está preso no próprio universo intolerante de que foi um dos criadores, sofrendo ataques que pensava que atingiriam apenas os adversários. E que ele se dê por feliz por seu plano não ter dado certo por completo, pois em países onde isso aconteceu, muitos mestres do autoritarismo como ele acabaram sendo mortos ou passaram a vida aprisionados em gulags comunistas.

Este sujeito que não conseguiu obter apoio eleitoral em um segundo turno nem disputando com um candidato asqueroso como Jair Bolsonaro condena com facilidade um jogador envolvido em um estupro, tentando lacrar com um jogo de palavras que é uma bobajada, mas em entrevista num recente Roda Viva, ao ser perguntado se condenaria as atitudes do ditador Nicolás Maduro, da Venezuela, onde francos-atiradores governistas matam nas ruas manifestantes pacíficos, ele preferiu falar mal da oposição venezuelana. Claro que além de atirar no povo, as milícias de Maduro não deixaram de estuprar mulheres da oposição.

E tem outro ponto importante para apontar nesta hipocrisia dessa esquerda que gosta de lacrações fáceis. Durante sua campanha para presidente da República, Haddad viajava regularmente à Curitiba, para receber ordens de um presidiário famoso, o ex-presidente Lula, condenado por corrupção e lavagem de dinheiro já na segunda instância e respondendo a outros processos. Na Itália, Lula seria mantido no xilindró, mas ainda hoje, ao contrário do que fazem com Robinho, essa esquerda exalta o chefão do PT. E vejam que a condenação do jogador ainda é de primeira instância.

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POR‌ ‌José‌ ‌Pires‌


sexta-feira, 16 de outubro de 2020

Charlie Hebdo: um professor morre pela liberdade na França

Um professor foi morto nesta sexta-feira na França em um atentado terrorista islâmico. O homem que cometeu o crime foi morto por policiais. A vítima foi decapitada, perto do colégio onde lecionava. O professor de história foi assassinado por mostrar durante a aula os desenhos que satirizam Maomé e fazem críticas ao extremismo religioso, publicados pelo Charlie Hebdo, o semanário francês que teve sua redação metralhada por terroristas islâmicos em janeiro de 2015, com 12 pessoas mortas e cinco feridas gravemente. Na época, os três terroristas foram abatidos pelas forças de segurança.

No atentado ao Charlie Hebdo morreram dois cartunistas mais antigos que fundaram o jornal, Cabu e Wolinski, desenhistas geniais, respeitados no mundo inteiro. Da nova geração foram metralhados e mortos Charb, editor da publicação, e Tignous, que foi um dos grandes cartunistas da atualidade, humorista genial e desenhista habilidosíssimo de cartum. Dois policiais também foram assassinados pelos extremistas religiosos.

Como o atentado foi durante uma reunião de pauta, os terroristas islâmicos acabaram com o corpo editorial do semanário, porém o Charlie Hebdo não se rendeu, nem a França. O jornal é publicado até hoje, mantendo o mesmo espírito satírico de conteúdo crítico muito forte e explícito nas imagens, que é uma das marcas do humor francês, muito próprio de um país que teve uma história com o vigor da França, onde cabeças já rolaram literalmente por causa de filosofia e política e que chegou até a ser ocupado pelos nazistas durante a Segunda Guerra Mundial.

Novos desenhistas apareceram no Charlie Hebdo, tem gente nova escrevendo no jornal. É um pessoal de coragem e precisamos de gente assim hoje em dia, senão esses criminosos que usam a religião para fazer da nossa vida aqui na Terra um inferno acabam vencendo. As críticas do Charlie Hebdo prosseguem no mesmo tom, cabendo aqui lembrar que usam com os cristãos a mesma acidez crítica dirigida aos islâmicos.

No mês passado, o jornal publicou uma capa com os cartuns que causaram o ódio dos terroristas islâmicos. A capa traz doze dos desenhos que se tornaram históricos na luta contra o obscurantismo religioso, tendo com destaque um ótimo cartum de Cabu. Veja todo este material na imagem.

Ainda tem pouca informação sobre o ataque terrorista contra o professor de história, que por sinal ocorre duas semanas depois de duas pessoas terem sido esfaqueadas e feridas gravemente perto da antiga redação do Charlie Hebdo. Nesses dias também estão sendo julgadas 14 pessoas que forneceram armas aos terroristas que cometeram os ataques ao jornal e em um supermercado kosher dois dias depois.

O presidente da França, Emmanuel Macron, em visita ao local do crime, definiu com perfeição o atentado de hoje. "Um de nossos compatriotas foi assassinado hoje porque ele ensinava seus alunos sobre liberdade de expressão, liberdade de crer ou de não crer", ele disse.

A França reage aos criminosos a serviço do que há de pior numa religião e também age politicamente e culturalmente para afastar a ameaça do extremismo e a intromissão dos islâmicos na vida francesa. As mulheres vêm sendo uma força essencial nesta mobilização que é bastante forte hoje em dia, mesmo porque são as mulheres que mais sofrem quando o islamismo adquire poder sobre uma sociedade.

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POR‌ ‌José‌ ‌Pires‌


quinta-feira, 15 de outubro de 2020

Triste fim do PT na cidade em que o partido do Lula nasceu

O PT pressiona Jilmar Tatto, seu candidato à prefeitura de São Paulo que já foi abandonado por personalidades de esquerda ligadas ao partido e lideranças petistas. Segundo a Folha de S. Paulo, Lula e Gilberto Carvalho admitem a possibilidade de retirar a candidatura de Tatto em favor de Guilherme Boulos. O jornal afirma que o PT já impôs prazo até outubro para que o candidato petista atinja dois dígitos nas pesquisas, uma posição que com este clima fica ainda mais difícil de alcançar.

Esta condição precária do PT em São Paulo não é muito diferente do que acontece em outras capitais e nas grandes cidades do país. Aquele partido vigoroso de outrora esfarelou-se por completo em todo o território nacional, como pode-se observar por esta pindaíba em que ele ficou na cidade em que foi criado e onde Lula firmou a base de sua carreira política e do crescimento partidário que levou o partido a ocupar por quatro vezes a Presidência da República.

É injusto colocar em Jilmar Tatto a culpa exclusiva por uma candidatura que não decola, como muitos petistas já estão fazendo. A falência petista vem das dificuldades criadas pela desonestidade de Lula e de muitos de seus companheiros, que fizeram o PT virar um partido que ninguém sabe mais o que representa de fato. Em São Paulo, na eleição passada, já havia acontecido o desastre eleitoral, com a derrota na tentativa de reeleição de Fernando Haddad para prefeito. Ele perdeu no primeiro turno.

Depois, o próprio Haddad como marionete política de Lula foi para o segundo turno na eleição presidencial, quando ficou demonstrado o absoluto isolamento do PT, que não conseguiu formar alianças nem contra Jair Bolsonaro, o candidato mais horroroso que já apareceu em eleições presidenciais neste país. A origem deste desastre tem um nome: Lula.

O líder corrupto da esquerda só não está preso porque foi derrubada no STF a prisão em segunda instância, a partir de acordos obscuros que são mantidos até hoje e que coloca os petistas ao lado das forças mais nefastas da política brasileira, juntando-se a salafrários que também temem ir para a cadeia e que jogam pesado para que o país volte aos tempos da impunidade para quem tem poder político e pode pagar advogados de escritórios milionários. Vale tudo para livrar Lula, mesmo ficar ao lado de Bolsonaro contra a Lava Jato. O PT abriu mão de qualquer diferencial em matéria de partido, alinhando-se com figuras que se lixam para o interesse público.

Até mesmo o crime organizado parece fazer parte desse plano para bandido não ter medo de ser feliz. E criminosos já colhem benefícios do sistema criado para fazer a justiça andar para trás. A imagem do PT ficou abalada com a obrigação de colar-se aos problemas de Lula e houve também um pesado desgaste por causa da roubalheira instalada nos governos petistas, além de que pesam a incompetência demonstrada no governo federal e a traição às bandeiras históricas que fizeram o partido crescer. O fiasco político em São Paulo é um retrato do que os petistas enfrentarão sucessivamente, a cada eleição.

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POR‌ ‌José‌ ‌Pires‌


Os bolsonaristas e a tarefa cada vez mais difícil de passar pano

Todos sabem que hoje em dia não está fácil pra ninguém, mas com certeza poucos enfrentam dificuldades como as que caem todos os dias sobre os seguidores de Jair Bolsonaro, os remanescentes desse fenômeno nascido nas eleições para presidente, que foi se desmontando gradativamente desde que esse sujeito sem noção ocupou o poder. Vejam só: Bolsonaro e os bolsonaristas de raiz afirmavam que iriam desmontar tudo que significava a chamada “velha política” e o que acabaram fazendo foi uma destruição daquilo que poderia constituir a base de um projeto político deles próprios.

As agruras pessoais do que sobrou da militância bolsonarista foram se acumulando com a montoeira de trapalhadas e traições feitas por Bolsonaro, com o abandono de importantes bandeiras de campanha. Não sobrou nem a Lava Jato, depois que forçado pela necessidade de blindar os filhos e ele próprio para não acabarem na cadeia, o presidente se aliou até a Lula e seu partido, para acabar com o rigor que promotores e a Polícia Federal trouxeram contra a corrupção no Brasil.

Eu disse que não está fácil para bolsonaristas. Pois nesta semana apareceu mais uma complicação para uma militância necessitada de tantas justificativas teóricas para seguir passando pano para os abusos de Bolsonaro e seu governo tresloucado. Rachadinhas, depósitos de Queiroz na conta de Michelle, juiz de garantias, mudança do Coaf, restrições à preventiva e delação, inimigo da Lava Jato na PGR, fundão de R$ 2 BI, acordão com Toffoli, boicote da CPI da Lava Toga, interferência na PF, Kassio no STF — haja pano, companheiros direitistas.

E agora ainda aparece este episódio grotesco do senador bolsonarista Chico Rodrigues, flagrado com dinheiro nas nádegas durante busca e apreensão feita pela Polícia Federal em investigação feita para apurar desvio de verba de emendas para o combate à pandemia de coronavírus. O sujeito é vice-líder do governo no Senado. E o dinheiro metido naquele lugar, cabe ressaltar, é de verbas de emergência retiradas de uma economia quebrada, para tratar de uma doença que já matou mais de 150 mil brasileiros.

Chico Rodrigues é bem próximo da família de Bolsonaro, tendo até dado um cargo muito bem pago em seu gabinete para Léo Índio, que por sua vez é também chegadíssimo do primo Carluxo. O senador até já recebeu homenagem do presidente. Com essa intimidade, ele não é alguém para descartar com facilidade, mas também fica difícil justificar um companheiro de luta que é pego pela polícia com dinheiro na bunda.

Se for para bolsonarista passar pano mais uma vez será necessário encontrar um discurso convincente que justifique um negócio desses, que sem dúvida é muito pior do que dólares em cueca de petista, aquele caso do qual até hoje os bolsonaristas gostam de fazer gozação.

Acredito que nem Olavo de Carvalho pode ajudar para que se encontre um ponto de apoio filosófico que permita sair dessa enrascada que causa até vergonha alheia. Líder bolsonarista com dinheiro no rabo creio que é muito até para a escatologia estilística do mentor dessa maçaroca que é a direita brasileira. Colocar a culpa nos comunistas chineses não vai colar. Das reuniões do Foro de São Paulo com certeza bunca saiu nenhum documento sobre esse tipo de infiltração. O bolsonarismo encontrou um tema que dificulta qualquer exercício da ciência política, da filosofia e mesmo da astrologia.

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POR‌ ‌José‌ ‌Pires‌

 

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Imagem- Bolsonaro e o vice-líder do governo que escondeu dinheiro na nádegas; Bolsonaro já disse ter “quase uma união estável” com Chico Rodrigues


quarta-feira, 14 de outubro de 2020

Desvio de recursos públicos para os fundos de senador bolsonarista

A Polícia Federal fez nesta quarta-feira em Roraima uma operação contra um esquema de desvio de recursos públicos destinados à pandemia da Covid-19. A PF esteve de manhã em Boa Vista, na casa de um dos vice-líderes do governo Bolsonaro no Senado, o senador Chico Rodrigues (DEM). Segundo a PF, foram desviados R$ 20 milhões em emendas parlamentares.

Chico Rodrigues é um político que defende com firmeza o governo e tem laços estreitos com a família Bolsonaro.  O senador emprega em seu gabinete Léo Índio,  com salário de mais de 20 mil reais. Ele é primo dos filhos do presidente e muito próximo de Carlos Bolsonaro, o Carluxo.

A operação policial teve um lance inusitado durante as buscas: agentes da Polícia Federal encontraram dinheiro escondido nas nádegas do senador Chico Rodrigues. A informação é da revista Crusoé. Ao todo, a PF apreendeu R$ 30 mil na casa do parlamentar, claro que fazendo parte o dinheiro escondido no nobre traseiro de Sua Excelência.

Creio que isso é coisa que não se vê desde a época de Vespasiano, imperador romano do início da era cristã. E o que Vespasiano tem a ver com isso? O imperador ficou famoso por causa de uma frase, repetida até hoje: “Dinheiro não tem cheiro”. Vespasiano disse isso para justificar a cobrança de tributos aos usuários de banheiros públicos.

A expressão é inclusive um princípio de direito tributário, que afirma que o tributo deve incidir não só sobre as atividades lícitas como também naquelas consideradas ilícitas ou imorais.

Mas não é por isso que lembrei da frase “Dinheiro não tem cheiro” quando li a notícia sobre o senador escondendo dinheiro nas nádegas. É que imaginei que ao criar uma frase tão definidora, Vespasiano jamais poderia ter imaginado que ela abrangeria até um negócio maluco como este, de um político bolsonarista escondendo dinheiro no rabo.

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POR‌ ‌José‌ ‌Pires‌

 

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Imagem- Na foto patriótica, Léo Índio, o amigão de Carluxo com cargo nomeado bem pago no Senado, junto com o chefe Chico Rodrigues