sexta-feira, 27 de novembro de 2009

Mais uma para Lula explicar

Nada do que vem do lulo-petismo me espanta. Costumo até dizer que, passado este período político que estamos vivendo, ainda há de surgir revelações das mais absurdas sobre esta gente que está no poder. O que dizer de um líder político sob tantas suspeitas, tantos casos inexplicados, enredos que não fecham?

As contradições de Lula vem de longe e fizeram estrago já na primeira eleição disputada por ele em 1984. Nunca tive nenhuma confiança nele, mas quem é que podia esperar aquela denúncia feita pela campanha de Fernando Collor, sobre a filha que ele mantinha escondida?

Na época muita gente acreditou que aquilo era golpe eleitoral, coisa de campanha suja, mas no final vimos que a história era mesmo verdadeira. Lula se fez de vítima, mas acabou confirmando. E mesmo a acusação de que ele teria pressionado para que a criança fosse abortada ficou entre a palavra dele e a da acusadora, Miriam Cordeiro.

Em quem acreditar? Bem, com o que veio depois, o desmanche impressionante que ele e seu partido fizeram de suas próprias histórias, em Lula é que não dá para crer.

A incoerência tem este preço alto. Como inexiste qualquer integridade em Lula, as histórias mais bizarras são recebidas com o maior desembaraço pela opinião pública. Dizem que Lula tem “teflon”, que nada cola nele. Tudo bem, pode até não afetá-lo eleitoralmente, mas no que importa realmente em política, que é a continuidade histórica que vai moldar sua imagem, ah, disso ele não escapa.

Bem, estou escrevendo essas coisas para encaixar este assunto bizarro que está rolando na internet desde cedo. É o artigo de Cesar Benjamin, publicado hoje pela Folha de S. Paulo, no qual ele conta que o presidente Lula disse a um grupo de pessoas que tentou estuprar um companheiro de cela quando esteve preso por 30 dias em 1980.

Benjamin foi fundador do PT e se desfiliou do partido em 1995. Desde então, vem sendo um dos críticos mais sérios do governo petista e dos embaralhamentos ideológicos da esquerda brasileira.

Poderia haver algum motivo para que ele inventasse uma história como essa? Aparentemente não há nenhum. Benjamin faz oposição ao governo, mas mesmo em suas críticas mais contundentes mostra sensatez e equilíbrio. Até neste texto, com uma revelação tão extraordinária, ele mantêm a mesma linha, contando os fatos sem nenhuma interferência com peso pejorativo.

Benjamin é um intelectual sério. É proprietário da Contraponto, editora de bons títulos e também muito bem editados. Ele próprio edita diretamente alguns deles e até traduz os textos, como foi o caso de uma ótima antologia do filósofo italiano Norberto Bobbio.

Isto é para situá-lo bem. Mostrar que ele não é mais um dos insensatos gerados pela esquerda brasileira. Até porque ele saiu do PT, me parece que é um homem muito são.

Algo que parece bem certo é que ele só pode estar bem cercado de provas, pois sem uma base concreta uma acusação como esta daria graves complicações jurídicas para o autor. Outro fato, muito preocupante para Lula e o PT, é que esta revelação bateu na opinião pública sem nenhuma reação de escândalo ou espanto e muito menos de repúdio.

O lulo-petismo, que solta foguete pra tudo, até deve comemorar o que parece ser mais uma efeito da "blindagem" na imagem de Lula. Mas eu acho cedo para isso. O que pode estar acontecendo é um efeito até da estratégia muito bem elaborada por eles, mas com um efeito nada bom para Lula e seu partido: quando se refere à eles, qualquer absurdo é recebido como se fosse algo normal e sempre na condição de uma possível verdade.

Mas vamos ao que César Benjamin escreveu na Folha:

"São Paulo, 1994. Eu estava na casa que servia para a produção dos programas de televisão da campanha de Lula. Com o Plano Real, Fernando Henrique passara à frente, dificultando e confundindo a nossa campanha.

Nesse contexto, deixei trabalho e família no Rio e me instalei na produtora de TV, dormindo em um sofá, para tentar ajudar. Lá pelas tantas, recebi um presente de grego: um grupo de apoiadores trouxe dos Estados Unidos um renomado marqueteiro, cujo nome esqueci. Lula gravava os programas, mais ou menos, duas vezes por semana, de modo que convivi com o americano durante alguns dias sem que ele houvesse ainda visto o candidato.

Dizia-me da importância do primeiro encontro, em que tentaria formatar a psicologia de Lula, saber o que lhe passava na alma, quem era ele, conhecer suas opiniões sobre o Brasil e o momento da campanha, para então propor uma estratégia. Para mim, nada disso fazia sentido, mas eu não queria tratá-lo mal. O primeiro encontro foi no refeitório, durante um almoço.

Na mesa, estávamos eu, o americano ao meu lado, Lula e o publicitário Paulo de Tarso em frente e, nas cabeceiras, Espinoza (segurança de Lula) e outro publicitário brasileiro que trabalhava conosco, cujo nome também esqueci. Lula puxou conversa: "Você esteve preso, não é Cesinha?" "Estive." "Quanto tempo?" "Alguns anos...", desconversei (raramente falo nesse assunto). Lula continuou: "Eu não aguentaria. Não vivo sem boceta".

Para comprovar essa afirmação, passou a narrar com fluência como havia tentado subjugar outro preso nos 30 dias em que ficara detido. Chamava-o de "menino do MEP", em referência a uma organização de esquerda que já deixou de existir. Ficara surpreso com a resistência do "menino", que frustrara a investida com cotoveladas e socos.

Foi um dos momentos mais kafkianos que vivi. Enquanto ouvia a narrativa do nosso candidato, eu relembrava as vezes em que poderia ter sido, digamos assim, o "menino do MEP" nas mãos de criminosos comuns considerados perigosos, condenados a penas longas, que, não obstante essas condições, sempre me respeitaram.

O marqueteiro americano me cutucava, impaciente, para que eu traduzisse o que Lula falava, dada a importância do primeiro encontro. Eu não sabia o que fazer. Não podia lhe dizer o que estava ouvindo. Depois do almoço, desconversei: Lula só havia dito generalidades sem importância. O americano achou que eu estava boicotando o seu trabalho. Ficou bravo e, felizmente, desapareceu."



O texto de Benjamin foi escrito a propósito do filme “Lula, o Filho do Brasil”, que narra a biografia de Lula até ele tornar-se presidente da República. Noutro trecho, Benjamin faz uma alusão ao tratamento que o filme dá ao período de prisão de Lula:

“A todos, autênticos filhos do Brasil, tão castigados, presto homenagem, estejam onde estiverem, mortos ou vivos, pela maneira como trataram um jovem branco de classe média, na casa dos 20 anos, que lhes esteve ao alcance das mãos. Eu nunca soube quem é o “menino do MEP”. Suponho que esteja vivo, pois a organização era formada por gente com o meu perfil. Nossa sobrevida, em geral, é bem maior do que a dos pobres e pretos.

O homem que me disse que o atacou é hoje presidente da República. É conciliador e, dizem, faz um bom governo. Ganhou projeção internacional. Afastei-me dele depois daquela conversa na produtora de televisão, mas desejo-lhe sorte, pelo bem do nosso país. Espero que tenha melhorado com o passar dos anos.

Mesmo assim, não pretendo assistir a “O Filho do Brasil”, que exala o mau cheiro das mistificações. Li nos jornais que o filme mostra cenas dos 30 dias em que Lula esteve detido e lembrei das passagens que registrei neste texto, que está além da política. Não pretende acusar, rotular ou julgar, mas refletir sobre a complexidade da condição humana, justamente o que um filme assim, a serviço do culto à personalidade, tenta esconder.”


Esta é a história. Só não é de cair o queixo porque vem de onde já apareceu a Miriam Cordeiro, como já citamos, o estranho assassinato de Celso Daniel, a morte de Toninho do PT, a Lubeca, os dólares na cueca, os aloprados, os compadres, a firma prodigiosa do herdeiro, o mensalão, e muitos outros fatos, tantos que até ocupariam espaço demais.
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POR José Pires

quarta-feira, 25 de novembro de 2009

Currículo de peso

Cada dia vão descobrindo mais grosserias do economista Luiz Gonzaga Belluzzo, que virou presidente do Palmeiras com a promessa de elevar o nível no futebol brasileiro. Agora surgiu um vídeo de 17 de outubro deste ano onde ele aparece numa festa de aniversário de uma das torcidas organizadas do clube, onde faz um discurso e grita "vamos matar os bambis".

"Bambi" é como os palmeirenses chamam o São Paulo. Os dois times estavam em disputa pela liderança do Brasileirão.

É realmente um nível baixo, o que não é surpresa numa festa de torcida organizada. O problema dos torcedores é que eles entram para uma torcida organizada que os aceitam como sócios. Só pode dar em..., bem, deixa pra lá, mas o fato é que a coisa pode sempre piorar, principalmente se o presidente do clube pede a morte da torcida adversária.

Não deixa de ser uma irresponsabilidade, mas acho espantoso que haja surpresa do Belluzzo se comportar desse modo. O Brasil é mesmo um país muito estranho, distraído demais, sem memória, cego de tudo.

Pois vejam: Belluzzo foi secretário de Ciência e Tecnologia durante toda a gestão de Orestes Quércia no governo de São Paulo. Era um dos mais próximos do governador, lutou para que Quércia subisse ao poder e subiu com ele. Foi também secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda durante o governo de José Sarney. E apóia o governo Lula desde o primeiro mandato.

E estavam esperando boas maneiras de alguém que já fez tudo isso?
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POR José Pires

Triste trópico

Ainda sobre este filme terrível chamado "Lula, o Filho do Brasil", a coisa lembra aquele velha frase de Bertolt Brecht — que aliás é um herói literário da esquerda. Brecht dizia: "Infeliz do país que precisa de heróis".

E se um país precisa do Lula como herói, bota infelicidade nisso.
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POR José Pires

Cinema-verdade

É claro que não vou assistir "Lula, o Filho do Brasil". E olhem que tenho até muito interesse em filmes em que o bandido vence no final.
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POR José Pires

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Dívidas de amizade


A blogosfera lulo-petista adora uma campanha internacional. Qualquer fato, como os acontecimentos em Honduras, por exemplo, junta seus blogs numa corrente artificial com palavra de ordem, logotipagem, todo o aparato técnico de uma campanha de marketing.

Depois eles esquecem. Vide o cocaleiro Evo Morales. O boliviano era tratado como um ponto de apoio essencial no equilíbrio internacional e agora a coisa passou. Foi de Morales para Zelaya, sabe-se lá o que os dois teriam em comum.

Tudo vira campanha. Para fazer isso, é claro, eles têm seus recursos humanos, gente pendurada em cargos oficiais, em sindicatos, e até profissionais pagos por fora.

Em todo o segundo governo de George W. Bush eles fizeram a festa, usando sua reeleição fraudada o tempo. Até hoje, como ainda não podem atacar Barack Obama, o ex-presidente sempre está de volta para respaldar a fragilidade de seus argumentos anti-americanos.

Mas o interessante é que o presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, também foi eleito por meio da fraude e até com consequências internas piores do que teve a eleição de Bush. Nos Estados Unidos pelo menos não teve adversário preso, assassinado ou torturado nas prisões.

Dá para fazer uma lista de práticas do governo iraniano que comprovam seu caráter ditatorial. Prendem e matam homossexuais. Reprimem minorias religiosas. Não admitem sequer protestos de rua: divergências do tipo são tratadas a bala pelo governo. As mulheres também tão tratadas como seres inferiores, o que coloca a esquerda brasileira numa situação até cômica. Cadê a bancada de mulheres do PT, que ameaçou de cassação o ex-deputado Clodovil apenas porque ele chamou uma petista de feia? E não foi de pleonasmo que acusaram o falecido deputado. Tentaram fazer de Clodovil um opressor dos direitos da mulher, o que foi uma bobagem sem conta. E sobre o presidente do Irã, nada?

Ahmadinejad é uma fraude. E no entanto em nenhum blog chapa-branca apareceu sequer uma nota de protesto. Por que será? Ou o lulo-petismo deve alguma coisa ao Irã ou é mesmo uma questão de pele.
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POR José Pires

Agora vai

Lula é um portento. E as relações exteriores do lulo-petismo é algo que realmente nunca se viu neste país. Depois de intervir na política interna de Honduras e estabelecer um revolucionário sistema − o primeiro governo no exílio dentro do próprio país −, Lula resolveu também o problema do acordo militar entre Colômbia e Estados Unidos. Depois de enquadrar Uribe e Obama, o presidente inzoneiro agora parte para dar uma solução definitiva ao conflito no Oriente Médio.

Como o governo petista é muito habilidoso e não quer desperdiçar seu poder internacional em situações facilitadas, Lula investe no caminho mais difícil, o Irã.

O presidente iraniano Mahmoud Ahmadinejad disse em entrevista que ele e Lula são amigos. Como não existem razões históricas nem geográficas para isso, esta bela amizade deve vir da simpatia mútua, uma questão de pele, entende? E como as questões internacionais se resolvem com o olho no olho, na conversa fraterna e no abraço amigo, já deve ter palestino arrumando as malas para voltar para casa.
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POR José Pires

sexta-feira, 20 de novembro de 2009

Atentado contra Camus

Cesare Batistti é um criminoso comum. Se os seus colegas brasileiros que pegaram em armas para implantar um regime ditatorial aqui no Brasil tiveram a desculpa de que vivíamos então numa ditadura, o italiano nem pode dizer isso. Quando ele matou pessoas por lá, a Itália vivia uma democracia.

Mas não é só contra a democracia que Batistti perpetra seus crimes. Numa carta enviada ao presidente Lula e tornada pública depois da sentença do STF, o italiano atenta contra a memória do escritor francês Albert Camus.

No texto, o criminoso condenado na Itália afirma que o terrorismo é responsável por “muitas conquistas sociais” hoje presentes naquele país. Acima da carta, Batistti usa como epígrafe uma citação de Camus — “Trinta anos mudam muitas coisas na vida dos homens, e às vezes fazem uma vida toda”.

A desonestidade não é inesperada, mas é de uma leviandade sem tamanho. Albert Camus foi um dos primeiros intelectuais a se insurgir contra a empulhação do bolchevismo e se colocou com coragem contra a tentativa de filósofos como Jean-Paul Sartre de estabelecer uma aura humanística em regimes políticos que eram nada mais que ditaduras sanguinárias.

Batistti parece ser um delinqüente trapalhão, um criminoso que viu nas ações armadas italianas primeiro uma possibilidade de faturar um pouco mais e depois, contando inclusive com a ajuda de companheiros brasileiros, um meio para escapar da punição por seus crimes.

O crime dele é comum e o de alguns de seus companheiros italianos e daqui são classificados como políticos. Mas a raiz é a mesma. Do espectro ideológico do bolchevismo é que saíram criminosos do seu tipo e criminosos apoiados em um discurso ideológico baseado no comunismo.

Camus não tem nada a ver com nenhum desses tipos de criminosos.
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POR José Pires

Um caso sem solução

É até bacana querer um Supremo Tribunal Federal melhor, mas em casos como o de Cesare Batistti temos que contar com o que temos. Concordo que concedendo ao presidente da República a prerrogativa da extradição do delinquente italiano o STF se coloca na posição de mero parecerista de Lula.

Porém, antes até do advogado do PT José Antonio Toffoli virar ministro eu já não punha fé alguma no STF. Toffoli se absteve no julgamento de Batistti, mas o que interessa mesmo é se ele se manterá fora do julgamento do caso do mensalão. Eu tenho a opinião que esta é uma das motivações da sua presença absurda naquele tribunal. Mas veremos.

O caso de Battisti é apenas uma das manifestações do mau andamento da Justiça. Que o julgamento da extradição de um criminoso comum tenha se transformado em um caso internacional, mostra que a nossa Justiça abre facilidades para a politização de suas pautas, fato aliás já demonstrado em outas situações como, por exemplo, os habeas corpus para Daniel Dantas e a absolvição de Antonio Palocci no episódio da quebra do sigilo bancário do caseiro Francenildo.

A verdade é que o STF não deu solução ao caso. Se era para passar a decisão às mãos do presidente da República, dá para desconfiar que nem era preciso botar a toga para discutir coisa alguma. São coisas do Brasil e até poderia ser engraçado se não vivessemos na piada. É efeito também de uma questão ainda maior: um país sem solução para problema algum.

Os ministros do STF trabalham de menos e falam demais. Se manifestam inclusive sobre questões que estão fora de sua alçada. O ministro Gilmar Mendes veste toga de magistrado mas usa o verbo de político provinciano, mas este não é um problema exclusivo seu. Outros ministros, como Marco Aurelio Mello, também são falastrões que se metem até na política cotidiana.

Aurelio Mello aliás é da estirpe de um Toffoli. Nomeado pelo primo Fernando Collor, ele é parte da linha evolutiva imprimida por presidentes da República que usam o poder da nomeação para defender seus próprios interesses.

O que aconteceu neste julgamento é rídiculo, mas não daria para esperar coisa melhor de um tribunal que dá espetáculos como aquela discussão recente entre Gilmar Mendes e Joaquim Barbosa. Como a má-qualidade por aqui comanda e se torna norma, o país até já esqueceu do barraco, mas como era mesmo aquela história de "Vossa Excelência não está falando com seus capangas do Mato Grosso"? Pois, isso é o STF. Até me surpreende que o ministro Gilmar Mendes não tenha se candidatado nestas eleições. deve ficar para a próxima.

Eu já disse que o melhor seria que o STF despachasse Batistti de vez. Mas se fosse assim, nem estaríamos discutindo o destino desse sujeito medíocre, num caso evidentemente inflado por seus colegas brasileiros do lulo-petismo. De qualquer forma, a solução criada torna o problema maior para Lula. Já que fizeram a política se imiscuir nos assuntos do Direito, bem feito para eles.

Se extraditar Batistti, Lula fica mal com os seus. Se o mantiver aqui em liberdade fica mal internacionalmente e ainda gruda sua imagem ao italiano para a vida toda.

A decisão do STF não é o que de melhor poderia ter acontecido, se formos pensar em uma qualificação da Justiça e na respeitabilidade do nosso tribunal maior. Mas espera aí, desse modo seríamos outro país, certo? Sendo assim, esta sentença pelo menos vai proporcionar um espetáculo divertido com a decisão de Lula. Qualquer uma que ele tome.

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Um pepino italiano para Lula

No aspecto prático seria melhor que o Supremo Tribunal Federal despachasse sem intermediários Cesare Battisti para ele pagar por seus crimes em seu país de origem. Já temos no Brasil criminosos demais que não vão para a cadeia, inclusive criminosos políticos que posam de estadistas.

Mas a decisão do STF, passando a decisão para o presidente Lula, pode ser a melhor neste momento histórico. Vai ajudar a definir o conceito de governo do lulo-petismo, com Lula sendo obrigado finalmente a tomar uma decisão de fato e arcar com as responsabilidades.

Em sua passagem recente pela Itália, Lula foi questionado por Massimo D'Alema sobre a decisão quanto à extradição de Battisti. Os dois se reuniram para discutir os rumos da esquerda no mundo. Lula é esperto o suficiente para ter entendido que o seu rumo político no mundo depende desse caso. D'Alema foi líder comunista italiano e hoje é uma liderança importante da esquerda européia.

Está claro que parte expressiva desta esquerda quer Battisti cumprindo pena na Itália. Só a esquerda abrigada no PT não percebe que é uma fria política manter-se ligado a criminosos que tentam inocentar seu passado por meio da política. Falo aqui inclusive de gente que busca aplicar um golpe na História fingindo-se de lutadores pela democracia depois de ter tentado implantar regimes criminosos por meio do terrorismo e da guerrilha.

D'Alema levou a Lula uma posição favorável à extradição, o que bota por terra a conversa fiada de Tarso Genro e do lulo-petismo sobre uma conspiração da direita italiana contra Battisti. A coisa ficou até engraçada: se Lula decidir contra a extradição ficará mal com a direira e a esquerda européia.

Na conversa com D'Alema, o presidente Lula foi o Lula de sempre. Fugiu do assunto. O dirigente político italiano disse o seguinte sobre a posição do presidente brasileiro: “O presidente me explicou que a questão está nas mãos dos magistrados. Caberá à magistratura decidir nos próximos dias”.

Está aí. Lula estava rezando para que o STF tirasse o pepino italiano de suas mãos. Daí ficaria bem com todos e falando mal das posições divergentes nas conversas reservadas com grupos contra e grupos a favor da extradição. É o cara de sempre, como todos sabem.

Com diz a rapaziada, o STF foi na veia: Lula está colocado em uma situação que terá com certeza desdobramentos internacionais. Se ficar com o criminoso Battisti protegido sob suas asas alinha-se definitivamente no time de gente como Hugo Chávez, assume de vez seu papel subalterno na política da região. Terá sempre sobre sua figura a lembrança desse ato que para muitos não é justo, sendo até vil em muitas opiniões.

E o problema maior é que sua história ficará ligada à história de Battisti., um assassino covarde. Até que um dos dois morra, Lula torna-se responsável pelo que o italiano fez e pelo que ele fará no futuro. E ficando solto, ainda mais no Brasil, eu não tenho dúvida alguma que Cesare Battisti vai fazer muita besteira.
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POR José Pires

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Rodando como eles gostam

“O Brasil está na direção certa”. Tem muita gente no exterior animada com o governo Lula. E a frase é de um desses fãs do estilo do lulo-petismo. Os poderosos fazem questão até de patrocinar prêmios para expressar sua satisfação, como foi com o Prêmio Chatham House que Lula foi pegar em Londres na semana passada. Publiquei aqui a lista dos patrocinadores da premiação, mas outra boa expressão do fato são as fotos dos banqueiros confraternizando com o presidente da República na entrega do prêmio.

Teve uma época em que o PT achava um horror esse negócio de banqueiro premiando político. Imaginem o que a oposição faria se um banqueiro patrocinasse um prêmio dado ao presidente da República se este presidente se chamasse Fernando Henrique Cardoso. Ou Serra, por que não? Um já foi presidente e sentiu na pele o que é ter o que hoje está em falta no Brasil: oposição. O outro pode vir a ser presidente. E aí o Brasil verá novamente o que é oposição.

Por enquanto está uma calmaria. Os presidentes dos bancos patrocinadores fizeram questão de viajar para Londres para dar um abraço no premiado. Estavam satisfeitos, mas verdade é que estão assim no Brasil em qualquer situação, pois nunca se viu neste país banqueiros mais satisfeitos com um presidente. E não é pra menos.

Nossos comerciais, por favor: vamos falar de apenas dois patrocinadores. O Santander anunciou um lucro de US$ 9,9 bilhões nos nove meses deste ano. O Brasil contribui com 20% dsta bufunfa. O restante da América Latina entrou com 15% do lucro e o Reino Unido com 16%. Já o Bradesco fechou o terceiro trimestre com lucro líquido de 1,81 bilhão de reais.

Um cara como Lula merece mesmo ser premiado. Este é o rumo certo, como disse o presidente da Pirelli. O italiano Marco Tronchetti Provera falou o que os maiorais internacionais pensam. É claro que um fabricante de pneus tem que aplaudir um governo desses. E aplaudir de pé.

Provera também ficou famoso pelos escândalos em que esteve envolvido. São questões de espionagem área da telefonia, que ele sempre negou, é claro. Não deve ter visto nada, mesmo sendo presidente da Telecom Itália, empresa acusada de espionagens que teve até o brasileiro Daniel Dantas no rolo.

“O Brasil está na direção certa”, é claro. Com os pneus do Provera.
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POR José Pires

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Afinidades

Não é só de escândalos com vestido vermelho que se faz a história da Uniban. O partido da bandeira vermelha e também dos escândalos faz parte dessa história. Luiz Marinho, que já foi ministro do Trabalho de Lula e o deputado Vicentinho, amigo íntimo de Lula, até já fizeram propaganda da universidade.

Não sei em que o marqueteiro da propaganda pensou quando criou a frase ambígua do outdoor e nem quero acusá-lo de ser tucano , mas quando em política se fala em "contribuição", logo se pergunta "quanto".
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POR José Pires

sábado, 7 de novembro de 2009

Uma voz dos tenebrosos tempos colloridos

Eu nem sabia que o ex-deputado Cleto Falcão estava vivo. Falcão não foi repórter Esso, mas acabou sendo testemunha ocular de histórias muito interessantes, algumas até horripilantes. Hoje ele é assessor parlamentar na Assembléia Legislativa de Alagoas, há duas décadas foi articulador importante da candidatura de Fernando Collor à presidência da República. Com Collor já presidente, ele ocupou na Câmara dos Deputados o posto de líder do PRN, o notório partido usado por Collor para ser presidente.

Quem descobriu Cleto Falcão em Alagoas foi o jornalista Geneton Moraes Neto, um bom caçador de notícias exclusivas e até de furos jornalísticos. Neste sábado, às sete e meia da noite, ele apresenta uma entrevista com o ex-deputado na Globonews. Tem reprise no domingo ao meio-dia e meia e na segunda, às três e meia da tarde.

É até uma surpresa receber uma notícia de alguém daquele grupo sem que seja de sua morte. Como morre aquele pessoal. O mais importante deles, o tesoureiro PC Farias, foi um dos primeiros a morrer. Falcão acha que acreditar que, conforme a versão oficial, sua amante Suzana Marcolino pegou um revólver e o matou é como acreditar em Papai Noel. Bem, também a torcida do Corinthians não acredita em Papai Noel.

Recentemente morreu outro da turma, o advogado José Guilherme Villela. Foi um crime de livro de Georges Simenon. Mataram Villela, sua mulher e a empregada. Ninguém viu nada. O advogado atuou na defesa de Fernando Collor e na década de 80 foi ministro do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Não só levou muita coisa para o túmulo como é possível que por isso mesmo é que tenha ido mais cedo para lá.

Foi um crime de Simenon, mas por aqui não temos nenhum inspetor Maigret. Então deve ficar por isso mesmo. Mas se algum meganha brasileiro ligasse para Maigret certamente ele diria que a empregada provavelmente conhecia o assassino, senão poderia ter sido poupada.

Mas vamos ver o que Cleto Falcão tem a dizer sobre aqueles tempos. O que o Brasil tem de absurdo é em boa parte fruto dessa época. O período ajudou inclusive a reforçar o mito do homem que perdeu para Collor e depois que se elegeu presidente da República fundou o lulo-petismo e fez até pior do que condenava então.

Teremos com certeza uma entrevista histórica. A parte mais difícil para mim, então, é que talvez tenha que ver televisão. Como perder um negócios desses? Mas pelo menos com o Geneton é garantido que não vai ser chato. Leio os textos e livros dele há bastante tempo, são sempre bons. Sempre gostei bastante de seu trabalho e me aproximei ainda mais do que ele faz depois que soube da sua amizade com Joel Silveira, o grande Joel Silveira, imenso de talento, de alma — uma das mais especiais personalidades brasileiras e, além de tudo, um humorista de primeira no texto e na fala.

Geneton tem uma habilidade rara hoje no jornalismo. Descobre coisas incomuns entremeadas nas banalidades do cotidiano. Sei que é um paradoxo hoje existir no jornalismo poucos com algo tecnicamente tão básico, mas são coisas de uma profissão em crise.

Muita gente sabia que Cleto Falcão estava por aí. Ir atrás dele e convencê-lo a falar é que faz a diferença que qualifica o bom repórter. Como eu já disse, Geneton é um dos bons.

A conversa com Cleto Falcão está muito boa. Garanto isso não só pelo histórico do jornalista, mas porque ele já antecipou uns bons trechos em seu blog.

As histórias daqueles tempos tenebrosos são muitas, mas numa delas Geneton conseguiu extrair do ex-deputado a frase definidora do período Collor. Foi na tomada de decisão de levar ao ar o depoimento em que a ex-namorada de Lula, que se candidatava pela primeira vez à presidência da República, o acusava de esconder a existência da filha que tivera com ela e também de ter pedido que ela abortasse a criança.

Falcão estava na reunião para avaliar se a fita seria usada no programa eleitoral. Ele conta na entrevista que Collor decidiu exibir o depoimento com a seguinte frase: “A fita vai ao ar. Quem quiser ficar comigo fique. Quem não quiser f……-se !”.

É a frase definitiva de seu período. F……-ram-se todos. Inclusive o Brasil.
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POR José Pires

Revolução de 360 graus

A entrevista com o ex-deputado collorista Cleto Falcão feita por Geneton Moraes Neto vem lembrar que a disputa eleitoral entre Collor e Lula vai fazer 20 anos. O tempo não só passa, mas até atropela a esperança.

sexta-feira, 6 de novembro de 2009

Os nossos patrocinadores

A blogosfera chapa-branca está toda animada com o prêmio recebido ontem por Lula em Londres, um tal de Prêmio Chatham House. No site da organização responsável pela premiação está publicada a lista de patrocinadores do prêmio.

Creio que a transcrição dos nomes já diz tudo. Aí vão eles.

Petrobras SA
Banco do Brasil
Banco Itau
BNDES - Brazilian Development Bank
Bradesco
HSBC
Santander
TAM Airlines
Telefonica
Royal Dutch Shell plc (lead sponsor)
Anglo American plc
BG Group
Bloomberg
British American Tobacco
Chevron Ltd
Chivas Brothers
Eni S.p.A.
GlaxoSmithKline
Rolls-Royce plc
Santander
TAM Airlines
Telefonica

Dica de leitura



Tem aquela velha piada sobre o sujeito flagrado com a revista Playboy na mão (epa!) que se justifica dizendo que comprou para ler a entrevista do mês. Isso mostra como a piada é velha: é do tempo em que a Playboy publicava entrevista boa.

Pois as fotos da apresentadora Fernanda Young na edição deste mês permitem uma renovada na piada: comprei a revista para ler as tatuagens da Fernanda Young.
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POR José Pires

Jota e as honoráveis memórias

A serpente de bigode

O livro “Honoráveis Bandidos” não está à venda nas livrarias de São Luís, a capital do Maranhão. Nenhuma livraria de lá aceitou colocar a obra na vitrina. Nem nas estantes, é claro. O medo de represálias da família Sarney pode explicar esta recusa, mas esta não é uma justa expressão, pois acaba sendo sempre um caminho fácil para justificar a covardia. Livraria é basicamente uma casa de idéias. Então, se nela não tem a matéria-prima da liberdade de expressão, então é caso até de Procon.  

Mas o fato é que não adianta procurar “Honoráveis Bandidos” nas livrarias ludovicenses. Como? Ah, o natural da capital maranhense é denominado “ludovicense”. Mas deixemos esta estranheza de lado: ao livro. Ontem finalmente aconteceu o lançamento em São Luís, que teve uma manifestação de boas vindas ao estilo da família Sarney.

Como nenhuma livraria aceitou abrigar o lançamento, ele acabou acontecendo na sede local do Sindicato dos Bancários, que foi invadida por manifestantes ligados ao sarneysismo. Eles depredaram a sede do sindicato, onde até uma porta foi quebrada, e jogaram ovos e tortas no jornalista Palmério Dória, autor do livro.

A Folha de S. Paulo, que traz a notícia, não informa se os objetos acertaram o alvo, mas o próprio jornal errou na chamada da matéria: “Acaba em pancadaria lançamento de ‘Honoráveis Bandidos’ em São Luís”.

Nada disso, editor. A chamada certa é: “Lançamento de ‘Honoráveis Bandidos’ em São Luís acaba em agressão”. Ou então, para situar melhor o leitor: “Lançamento de ‘Honoráveis Bandidos’ em São Luís acaba em agressão feita por partidários do senador Sarney”. Ou até mesmo: “Lançamento de ‘Honoráveis Bandidos’ em São Luís acaba em agressão feita por partidários do nosso colunista, o senador Sarney”. Esta última com um tom mais aproximado à política editorial do jornal.

O importante é chamar o fato pelo nome. Se não dermos a essas patifarias sua definição certa a tendência é sempre levar mais calor ao ovo da serpente. Neste caso, de bigode.

O uso da violência é sempre lamentável, mas nesta situação houve até uma metalinguagem que engrandece o lançamento de “Honoráveis Bandidos” e robustece conceitualmente o livro. A agressão mostra a obscura face interna do afável senador José Sarney — a verdadeira, que conquistou e mantém de fato a estrutura de seu poder. Este senhor com ares pacatos que vemos em Brasília é só a imagem trabalhada e visível da dominação. Ou alguém pensa que, tanto no Amapá, estado que ele usou para obter o mandato, quanto no Maranhão, o patriarca Sarney mantém o poder com sorrisos?

Nada disso. É no pau, mesmo. Da mesma forma que aconteceu agora no lançamento de um livro que desagrada aos interesses de seu clã.
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POR José Pires

quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Falando no honorável

O jornalista Palmério Dória lançou “Honoráveis Bandidos”. O tema central é o senador José Sarney e seu clã que dominam o pobre do Maranhão há mais de quatro décadas. O livro vai para a biblioteca da Fundação José Sarney ou qualquer outro memorial em que ele coleciona bagulhos? Duvido.

Em “Honoráveis Bandidos”, Palmério conta a história do poder regional da família Sarney e também lances reveladores sobre os métodos do atual presidente do Senado e ex-presidente da República para empalmar o poder no nível federal, desde sua altamente lucrativa vassalagem com a Ditadura Militar, passando pela tretas no Maranhão e chegando até os arranjos com o lulo-petismo para afastar os riscos de que a cadeia também passasse a fazer parte da história do clã.

É Palmério quem conta no livro: “Em 2008, o senador José Sarney voltou a ser manchete, principalmente das páginas policiais, quando revelada a organização criminosa da qual seu filho fazia parte. Para não deixar o filho ir para a cadeia, ele teve de disputar no ano seguinte a presidência do Senado. Foi preciso colocar a cara para bater. O poderoso coronel voltou para dar forças aos filhos, para salvá-los".

Daí foi o que se viu. Uma vergonhosa associação entre a esquerda estabelecida no poder e o setor mais atrasado da política brasileira para defender Sarney nos escândalos que começaram a surgir depois que ele sentou pela terceira vez na cadeira de presidente do Senado. Até a candidata de Lula à presidência, Dilma Rousseff, se encalacrou na maracutaia, com o pedido para que a Receita Federal aliviasse a situação da família Sarney.

Não deixa de ser triste o que se passou. Em razão do interesse pessoal de Lula, blogs da internet, políticos que até então se mantinham fora da esfera sarneysista, e também diversos jornalistas e acadêmicos saíram na defesa direta de Sarney ou em manobras asquerosas para embaralhar os fatos, com tentativas inclusive de desqualificar os críticos da corrupção sarneysista.

O pessoal é malandro e só vê seus interesses pessoais, eu sei. Mas o que acontece é que isso destrói conceitos sociais de ética muito preciosos e que nesses anos todos exigiram muito esforço para sua construção.

Acho até que o reguardo petista de Sarney foi bem além do que poderia ser aceito como tática política. Até revogou-se o irrevogável. E saiu da boca volúvel de Lula a notória definição de Sarney como alguém acima das “pessoas comuns”. Muita gente vê nos gestos do lulo-petismo de defesa das falcatruas do senador maranhense eleito pelo Amapá apenas como uma tática como parte do plano para criar uma forte base para a estratégia eleitoral de 2010.

Eu não vejo assim. E acho que a análise indo por este lado até qualificaria esta atitude nojenta de Lula e seus companheiros. Isso até valorizaria Lula e o bando de sem-vergonhas à sua volta. O que Lula tem mesmo é muita dívida com Sarney. Costumo dizer que mais que um arquivo vivo, Sarney é do tipo que é um arquivo muito vivo. A impressão que dá é que ele tanto sobre o petista e seus companheiros que basta pegar o telefone e ligar para o presidente da República exigindo solidariedade.

Mas voltemos a “Honoráveis Bandidos”. Palmério Dória conta a história de Sarney, mas não esperem aquela biografia linear, com a ponderação do jornalista vestindo casaca de historiador, algo muito comum em livros sobre a nossa política.

O título do livro já mostra o que tem dentro. “Honoráveis Bandidos” é uma maravilha de nome, que fecha o conceito sobre esta cambada de ladrões de forma admirável. E a foto de capa dá até vontade de perguntar para o Palmério como é que ele conseguiu convencer Sarney a posar em estúdio para colaborar na edição do livro.

Palmério tem estilo destravado. Sabe extrair sabor, expõe com ironia o cotidiano farsesco dessas pessoas que fingem ser altas figuras. Dessa forma, o que ele escreve acaba sendo bom de ler, em um ritmo que envolve o leitor e revela muito, mas muito mais mesmo do que certos livros que observam a História com formalismo.

Tenho uns trechos de “Honoráveis Bandidos” para mostrar pra vocês. Cliquem aqui e folheiem esta ótima obra, antes que o Sarney mande censurar.
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POR José Pires

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Os russos na torcida

Sempre que se comenta sobre alguma estratégia política, principalmente quando ela é despropositada, vem à cabeça a genial sacada do jogador Garrincha em sua interpelação a um técnico que propunha incríveis jogadas para vencer o adversário: você já combinou isso com os russos?

Neste caso, é algo especial essa estratégia do DEM de estimular a candidatura de Aécio Neves, que perde em qualquer pesquisa, e desqualificar a de José Serra, que vence em todas as situações. Nem precisa combinar com os russos, no caso, o presidente Lula.

Mas se quiser combinar, o lulo-petismo não só apóia como é capaz até de arrumar financiador para a campanha.
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POR José Pires

Governado pela piada

O governador Roberto Requião deve pensar que é um gênio do marketing. Ontem ele lançou no Paraná um programa de prevenção do câncer, algo que parece sério, mas nada que mereça uma atenção maior da mídia nacional.

Pois o fato virou notícia destacada em sites nacionais e nos jornais. O problema é que o enfoque foi dirigido à piada infeliz que ele soltou enquanto falava da ação de governo.

Vejam o que ele disse: "A ação do governo não é só em defesa do interesse público. É da saúde da mulher também. Embora câncer de mama seja uma doença masculina também, né? Deve ser consequência dessas passeatas gay".

Nem é engraçado. Mas uma fala tola tirou toda a atenção do lançamento do programa de saúde. Requião é aquele tipo de chefe que deve fazer seus subordinados pensar todos os dias em como seria bom poder pedir demissão.
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POR José Pires

terça-feira, 27 de outubro de 2009

Estranhas memórias

Newton Morato mandou um comentário interessante sobre as memórias que o senador eleito pelo Amapá, José Sarney, quer perpetuar no Maranhão. Leiam abaixo.

"Quero lembrar uma coisa aqui a propósito desta nota. Estive em São Luis em 2003. Visitei o centro histórico da capital maranhense e outras atrações turísticas. Quero me deter num ponto: visitei também o museu do Sarney por insistência de um parente.

Era localizado (talvez ainda esteja lá) no centro da cidade, em um prédio antigo, por entre ruas apertadas, contudo área nobre da cidade. Estava exposto, dentre outras bugigangas, o berço em que a sua mamãezinha o embalava. Lembro-me de ter perguntado ao guia do "museu" como era custeado aluguel, despesas, etc. Respondeu-me que era de doações de amigos, do que obviamente duvidei e continuo a duvidar. Vou procurar saber se o tal "museu" continua ainda lá ou se também foi fechado com a sua Fundação, e depois informo aqui.

É bom não perder de vista a definição de museu, e daí a razão de eu colocar a palavra entre aspas.
Museu:
1. Lugar destinado ao estudo das ciências e das artes.
2. Lugar onde se reúnem curiosidades de qualquer espécie ou exemplares científicos, artísticos, etc.
Não creio que aquele amontoado de quinquilharias amolde-se a estas definições."

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Desinaugurando obras

Esta é para não dizerem que só apareço pra dar notícia ruím. O senador José Sarney decidiu fechar a Fundação José Sarney, onde está o acervo do período em que ele ocupou a Presidência da República. Será que tem botton de "Fiscal do Sarney"? Será que que tem chifres dos bois confiscados no pasto. Não sei, mas dizem que está lá até o mausoléu onde Sarney queria ser enterrado.

Bem, Sarney agora talvez tenha que ser enterrado como pessoa comum. Mas a ocasião do fechamento da Fundação que leva seu nome bem que podia ser aproveitada pelo marketing do presidente Lula. Um evento comemorando o fechamento dessa coisa pode ser um sucesso.

Lula pode fazer uma desinauguração, levando para lá sua candidata, Dilma Rousseff, e até o Ciro Gomes, o candidato-a-qualquer-coisa-que-pintar. Uma desinauguração dessas terá com certeza muita atenção da mídia. E garanto que o fechamento da Fundação José Sarney vale em popularidade pelo menos umas três usinas hidreléricas.
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POR José Pires

sábado, 24 de outubro de 2009

Porque amanhã é domingo

Curitiba é uma cidade com a sorte de ter dois fortes times, o Coritiba e o Atlético, sempre entre os primeiros do Campeonato Paranaense e às vezes também jogando bonito no Campeonato Nacional. Isto criou entre os curitibanos uma rivalidade histórica que, quando levada na esportiva, traz sempre uma boa qualidade cultural e acaba fortalecendo a imprensa local, com os jornais podendo investir mais e criando com isso maior qualidade profissional.

Uma cidade com o privilégio de ter chargista esportivo próprio é sempre melhor, ou no mínimo mais divertida que as outras. E o Tiago Rechia, da Gazeta do Povo, é chargista dos bons. Não chego a invejá-lo, pois não suportaria a tarefa indispensável para fazer boa charge esportiva, que é acompanhar futebol, mas admiro bastante o que ele faz.

Tiago Rechia faz humor com futebol desde o jeito mais escrachado até sofisticadas metáforas visuais, ou metalinguagens bem boladas como esta abaixo, com os dois enamorados torcedores de times rivais imitando o famoso beijo entre Clark Gable e Vivien Leigh em "E o Vento Levou". É que amanhã é o dia do clássico enfrentamento na capital.

O chargista deixa claro sua intenção em seu blog, mas não publica a foto do beijo, o que fazemos aqui.

É provável que Tiago Rechia não pretenda tanto, mas sua charge fica ainda mais interessante para quem conhece as histórias em torno da filmagem da histórica obra — ainda a maior bilheteria do cinema e que foi recusada antes por outro estúdio.

Apesar do profissionalismo do beijo, Clark Gable e Vivien Leigh passaram toda a filmagem se odiando e numa rivalidade danada para um aparecer mais que o outro. E o canalha do Gable ainda atormentava a moça, comendo cebolas antes das cenas mais coladinhas. É como a situação do casal de torcedores quando a relação salta do amor para o estádio.

E o título do post peguei do Milton Ribeiro (sei sim que antes ele pegou do Vinícius), que vive noutra cidade que tem a alegria de ter dois times importantes, Porto Alegre, e que faz um dos melhores blogs da internet brasileira, onde se pratica aliás um sabatismo dos mais saudáveis.
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POR José Pires




sexta-feira, 23 de outubro de 2009

Sarneyzice

Oito meses depois de ter prometido reformas administrativas para a redução dos gastos da Casa e não as ter tirado do papel, o senador José Sarney diz que reforma no Senado não se faz em 24 horas. A desfaçatez já é tanta que o senador maranhense eleito pelo Amapá está trazendo pronta a piada.
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POR José Pires

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

Lula sem medo de ser chato

O presidente Lula deu uma entrevista a Kennedy Alencar, jornalista da Folha de S. Paulo. A falta de escrúpulos de sempre é a tônica. Lula não tem apego sequer à verdade histórica. Acha que ele e seus companheiros podem reescrever à vontade o que se passou nos últimos anos no Brasil e até mesmo retocar qualquer acontecimento de Cabral para cá. (Ele sempre coloca Cabral no início do período, o que não dá para entender; se é para reescrever, por que não aproveita e começa do período jurássico?)

Mas, a entrevista, falemos dela. Rola até entre cabeças ditas pensantes que Lula tem o discurso certo para cada público. Que saberia falar ao empresário, ao acadêmico, enfim, para cada setor o presidente inzoneiro teria charme e inteligência de sobra.

Não é verdade. O que Lula tem é a chave do cofre e a caneta que encaminha para cargos, abre canais de financiamento ou até mesmo libera diretamente as verbas que garante simpatias.

No mais, o cara é um chato. E não digo isso pela minha conhecida aversão ao que ele representa. Nem todo canalha é chato, assim como nem todo chato é canalha. A história mostra que Lula junta os dois elementos em sua personalidade desde seus tempos de metalúrgico.

Já na década de 70 achava uma tremenda chatice suas entrevistas posando de trabalhador consciente, ele que comprovadamente pisou pouco o chão de fábrica para trabalhar. Acontece que o chato teve uma habilidosa blindagem de seus pares, de acadêmicos e de setores da esquerda que viram nele a possibilidade de acesso ao poder que, já na época, parecia bem mais indicado aos políticos próximos do que viria a ser o PSDB.

Mas o fato é que se trata de um tremendo chato. E que continua tendo sua ignorância e chatice blindada, inclusive pela imprensa. Gostaria de ler na íntegra, sem a revisões de praxe, o que Lula falou. Quanto será que Kennedy Alencar, que inclusive já foi seu assessor, consertou da fala de Lula? Não é que seja um defeito de Alencar e isso ocorra somente com Lula. Nossa mídia edita todas as falas dos políticos, uniformizando as declarações. Tanto que todos falam da mesma forma, perdendo-se não só os erros e a ignorância, mas também as peculiariedades da fala de cada um.

Um exemplo de como o cara é chato. Em julho deste ano ele esteve no lançamento do Vale-Cultura em São Paulo. Pois ele conseguiu encher o saco até do intelectual Antonio Candido, seu histórico defensor.

Enquanto Lula, como sempre, falava besteiras, Antonio Candido manteve-se em silêncio durante todo o evento. No final, abordado pela reportagem da Folha de S. Paulo, ele disse apenas: “Já passei vergonha o bastante por hoje”. O professor, que tem 90 anos, referia-se as brincadeiras e elogios feitos a ele por Lula.

E essa chateação de Antonio Candido saiu onde? Apenas na Folha e sem destaque. O cara é blindado até na chatice? Não. É que Lula já está naquela categoria do chato que não tem mais conserto, mas que não pode ser expelido do grupo. E ainda é o chato com a caneta! É claro que não deixará de ser convidado para nenhuma festa ou mesa de bar.

Esta é uma das consequências daquela tática idiota dos tucanos de esperar que o adversário "sangre" políticamente por contra própria. Lula está até hoje torrando a nossa paciência.
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POR José Pires

Jesus Cristo no Planalto

Se Lula tem habilidade para falar para qualquer público, esconde isso muito bem nas entrevistas a imprensa. A conversa com Kennedy Alencar é a mesma de sempre, com as terríveis imagens futebolísticas, o papo raso de boteco. Boteco de baixo nível, é claro.

A entrevista da Folha não é o local para este papo mole. A situação é de um diálogo com um público mais qualificado. Mas Lula consegue elaborar alguma frase sem cair no lugar comum, na metáfora pobrinha? Sabe nada. Mas sua máquina de propaganda é tão forte que até essa habilidade inexistente é propalada como uma qualidade sua. E não tem até intelectuais, gente como Marilena Chauí, que vêem luzes quando ele fala? Teremos de esperar seus 90 anos, para ver se, a exemplo de Antonio Candido, ela acorde para perceber que o cara, na verdade, é um chato.

Mas, ainda a entrevista. O desrespeito de Lula também é do mesmo nível de conversa de bêbado. Ele traz Jesus Cristo novamente para seus negócios políticos. Coloca o filho de Deus no Palácio do Planalto, e sem o chicote descendo na cacunda da tigrada. Acho que qualquer cristão deve se incomodar com essa mistura desavergonhada.

Num dado momento lá vem ele com o velho papo. Para justificar suas concessões políticas ele diz: “Se Jesus Cristo viesse para cá, e Judas tivesse a votação num partido qualquer, Jesus teria de chamar Judas para fazer coalizão”. Ou seja, Lula parte para uma estranha teologia. Põe Jesus Cristo na presidência da República e ainda interpreta como ele se posicionaria.

No mesmo campo das concessões, falando sobre a fraterna relação com o Fernando Collor, soltou uma resposta que deve ter feito gargalhar até o ex-desafeto. Lula define a relação como atitude de chefe de Estado e a compara com situação dos dirigentes europeus, mais exatamente a França e a Alemanha, criando a União Européia.
É neste momento que qualquer diretor diria Corta! e passaria para a cena de Fernando Collor caindo na gargalhada em Alagoas.

Falando nisso, a revelação mais interessante da entrevista de Lula é quando ele conta que depois que fez o pronunciamento oficial na televisão pedindo para as pessoas comprarem, ele próprio, para colaborar, comprou uma geladeira mova.

Nos velhos tempos, o agora companheiro de relações entre estadistas, Fernando Collor, perguntaria se ele não comprou também um novo aparelho som.
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POR José Pires