quarta-feira, 30 de novembro de 2011

O mistério da tesoura do Planalto

Já se sabia que o ex-presidente Lula não é chegado a livros. Ele sempre fez questão de alardear isso e até veio com aquela relação irônica entre livro e esteira de ginástica, dizendo que preferia enfrentar uma esteira do que ler um livro. Pura figura de linguagem, é claro, pois o barrigão sempre mostrou que ele nunca fez nenhuma das duas coisas.

Mas agora na nova denúncia que apareceu do sindicalista que foi achacado no ministério do Trabalho dá para ver que Lula não lia absolutamente nada quando esteve na presidência da República.

O sindicalista Irmar Silva Batista foi ao ministério do Trabalho registrar um novo sindicato e um assessor do ministro Carlos Lupi exigiu dele R$ 1 milhão de reais para liberar o registro. Batista então mandou uma carta para Lula relatando o caso de corrupção. Nunca recebeu resposta.

O sindicalista mandou a carta por e-mail também para a presidente Dilma Rousseff. Com a publicação da reportagem com a denúncia na Veja desta semana, a assessoria de Imprensa da Presidência informou que nada foi feito porque o trecho da denúncia acabou sendo cortado na mensagem recebida. Foi passada uma tesoura no que mais importava na mensagem. E aí surgiu mais uma questão que ainda não foi explicada.

Uma mensagem como esta passa pelo secretário-geral da Presidência, Gilberto Carvalho, antes de chegar a Dilma. A dúvida que fica é se a carta já chegou na mão de Carvalho com o corte do trecho que continha a denúncia de corrupção ou se a presidente Dilma foi a única pessoa no Palácio do Planalto que recebeu a carta depois de passarem a tesoura na denúncia.
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POR José Pires

terça-feira, 29 de novembro de 2011




Pra haver debate tem que ouvir o outro

Antes de bater qualquer letrinha nesta tela de vídeo (que aceita tudo, né?), deixo claro que sou contra a construção da Usina de Belo Monte. Já escrevi muito sobre temas ecológicos aqui no blog, de forma que basta o leitor ler os textos para ver que me alinho sempre pela defesa do meio ambiente. Escrevo e atuo em ecologia há muito tempo, bem antes de surgir qualquer emoção incontida com árvores derrubadas em qualquer lugar desta cidade. É que assim que alguém traz um pensamento na tal da rede social, logo se juntam alguns comentaristas para atacar a pessoa ou tentar fazê-la mudar de idéia, uma besteira danada, pois, se a tela do computador aceita tudo, antes de chegar a ela, o tema passa pelo meu cérebro. E ele não aceita tudo.

Mas, ao tema: o vídeo abaixo foi feito por alunos da Engenharia Civil da Unicamp. É um bom material nesta discussão sobre a usina. Já é um sucesso na internet e veio evidentemente como resposta ao vídeo do movimento Gota D’Água, que trouxe vários artistas de televisão contrários à usina de Belo Monte. E é excelente por um aspecto importante que vai além da construção da usina: traz de fato o debate sobre a arriscada construção desta usina. Arriscada no meu entender, é claro. Os alunos da UNICAMP pensam o contrário e trazem seus argumentos. Já tem gente buscando desqualificá-los, alegando ignorância quando eles dizem que energia hidrelétrica é energia limpa. Bem, aí é ignorância do uso da linguagem.

Os alunos estão fazendo uma boa argumentação utilizando uma barbeiragem danada do vídeo dos artistas contrários a Belo Monte. Naquele vídeo eles dizem que este tipo de energia não é limpa. Tentaram criar uma brincadeira de texto, mas não foram eficientes ao passar para o vídeo. Tornar claro o argumento exigiria tempo demais para um clipe. Foi uma questão de linguagem também, mas acabaram abrindo um flanco para ataques certeiros dos que aceitam a usina. Este dos alunos da Unicamp usou bem esta falha e deu um chute certeiro. Azar. É pegar a bola no fundo da rede e seguir o jogo. Mas com cuidado. Este adversário não é ignorante. Eles jogam bem. E para haver debate o outro tem que ser ouvido.

O vídeo dos alunos da Unicamp tem uns defeitos de direção, o que torna menos eficiente a fala dos alunos. Mas essas coisas são assim mesmo. No outro eles melhoram. O que esta manifestação dos alunos da UNICAMP traz de muito bom é realmente criar um debate sobre o assunto. Quem é contra a usina terá de se esforçar um pouco mais.

O vídeo faz o que o governo do PT não fez, pois tanto Lula quanto Dilma impuseram a construção deste projeto absurdo neste país, além de forçarem outras coisas também, mas aí são outras arbitrariedades. Lula impôs o projeto e desrespeitou opiniões contrárias. Dilma segue a mesma linha. A meu ver, quem é petista deveria discutir o assunto no foro do partido. Vão lá cobrar de seus dirigentes, agitem politicamente a militância. Preferia até que todos os petistas fossem a favor da usina, pois o PT tem desmoralizado muitas causas boas neste país e podem desmoralizar também a ecologia. Não venham encher o meu picuá.

Mas, deixando de lado a hipocrisia de certos petistas, o bom deste vídeo é que parece o começo de um debate de fato sobre a questão. Temos enfim o outro lado, como se costuma dizer. E eles não são ignorantes, não. Vão dar um trabalho danado, pois podem conquistar uma boa parcela da população que é propensa a aceitar não só a usina, mas outros projetos arriscados para o meio ambiente.

Uma questão essencial hoje para o Brasil é fazer este debate. Os estudantes da Unicamp criaram um bom site (que pode ser acessado no próprio vídeo). Foi aberto há quatro dias e o vídeo já tem 78.686 exibições só por meio deste site. Certamente vai bombar no Youtube. O site também está aberto a comentários e já traz muitos argumentos contra a usina de Belo Monte, o que é muito bom. O caminho da sociedade civil tem que ser este: do debate aberto, franco e aprofundado. É o caminho para se construir um país.
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POR José Pires

sábado, 26 de novembro de 2011




Estilo de governo

O governo Dima Roussef inovou bastante. É um governo com 40 cargos com nível de ministro, cá entre nós um número bastante significativo. "Abre-te Sésamo!". E não é que abre mesmo?

Parte considerável dos ministros que a presidente tem veio do governo Lula. O método acompanha, é claro. Aí se pode falar em herança maldita de fato: já caíram cinco por corrupção e um foi obrigado a sair porque falou q...ue estava cercado de idiotas e Dilma, na dúvida se isso era com ela ou não, resolveu que Nelson Jobim tinha que sair de perto dela.

Mas tem a inovação: fala logo. Pois a inovação de Dilma é que agora ministros flagrados com a mão na cumbuca permanecem no cargo. Eles vão ficando. Carlos Lupi, do Trabalho, disse que não saía nem "abatido a bala" e declarou seu amor, estranho amor, à Dilma. Parece que deu liga e ele vai ficando. Agora já aparecem denúncias de corrupção braba no ministério das Cidades, tocado pelo pepista Mário Negromonte , mas esse também dá a impressão de que vai acabar ficando.

Mudou a forma de Dilma lidar com as denúncias. É óbvio que alguém avisou que se for tirando ministro por causa de corrupção não demora muito para ela acabar sozinha no Palácio do Planalto. Pois agora Dilma tem um ministério que vai ficando.
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POR José Pires



Mexendo no que já está pronto

O palito de dentes é uma daquelas invenções, como o guarda-chuva ou o pente, que já nasceu pronta. Existem na vida objetos práticos que não permitem avanços. Ou alguém já ouviu falar de um modelo novo de guarda-chuva? Pode-se mudar a cor, aumentar a circunferência, mas na essência a técnica é a mesma, inclusive com os defeitos de sempre, aos quais a gente acaba se acostumando como um componente inseparável.

Vários desses objetos práticos que não admitem mudanças nos cercam desde sempre e mesmo que uma ou outra empresa procure um jeito novo de fazer a coisa, logo o consumidor é obrigado a voltar ao modelo antigo.

É assim com o saleiro de lanchonete. Aquele de vários furinhos, a maioria de plástico, que até mudam bastante nas mãos de designers, mas nunca dão certo. Já vi até o saleiro de um furo só. No final, porém, a gente acaba precisando de mais buraquinhos para poder salgar a salada. E então o lindo modelo platinado de saleiro que custou os tubos acaba abandonado na gaveta depois de ser trocado pelo bom e velho saleiro de plástico.

Poderíamos ficar muito tempo na recordação dessas coisas prontas que o pessoal vive buscando um jeito de inovar, mas sempre estão quebrando a cara. A bisnaga de mostarda, escorredor de macarrão, abridor de garrafas, abridor de latas, a conversa vai longe.

Bares e lanchonetes andam substituindo a bisnaga de mostarda por saches, que trazem também ketchup ou maionese. Mas fizeram um objeto tão inviável que em alguns lugares o sache é acompanhando por uma tesourinha. O desperdício também deve ser imenso. Boa parte do conteúdo da mostarda ou de qualquer outro condimento acaba ficando dentro do plástico. O consumidor gosta também de levar uns dois ou três saches para casa, que depois acabam sendo esquecidos até irem para o lixo com a perda da validade.

Outro dia fiquei matutando sobre este desperdício multiplicado por milhares, milhões de consumidores. É de espantar a perda fantástica de alimento. E, claro, tem também o problema do sache ser de plástico, que é uma das questões mundiais mais graves apontadas pela ecologia.

Mas eu comecei pelo palito de dentes, um das coisas mais práticas que os bares e restaurantes oferecem ao cliente. O palito serve para fazer lindas estrelas sobre o prato, que vão se formando quando você joga algum líquido nos cantos quebrados. Dá para fazer o truque do copo. Os palitos ajudam muito a conter a impaciência enquanto o pedido não vem. Você vai quebrando um a um, riscando com eles a toalha, formando bem equilibradas composições. E não podemos esquecer o jogo de palitos. Enfim, são muito úteis como terapia de bar ou restaurante e até em casa quando falta assunto na relação com a patroa.

Só não servem para palitar os dentes, pois isso os dentistas não recomendam de forma alguma.

E o palito vem no paliteiro, é claro, já que estamos falando de objetos práticos aqui nesta crônica. Ou vinham, pois já faz algum tempo que venho me deparando por aí com algo muito curioso que é o palito com camisinha. Tirei a foto e a imagem está lá em cima para poupar mil palavras. Fizeram uma inacreditável embalagem individual de palito. É mais uma tentativa de mudar o que estava dando certo. E neste caso também é outra invenção com mais gastos e desperdícios para mexer no que já estava resolvido.

O pessoal não desiste de planos para reinventar a roda. Não vou me espantar se um dia desses eles aparecerem com uma embalagem para a banana. Isso depois de jogar fora a embalagem natural que a bananeira dá.
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POR José Pires

sexta-feira, 25 de novembro de 2011





Definitivamente estou mesmo ficando velho...


Um cartum em preto e branco, feito com lápis, pincel e tinta e que ainda por cima tem um cara lendo um jornal! Puxa vida, só falta o pijama...

A "burrice" do Ziraldo

O cartunista Ziraldo foi condenado por estelionato. A sentença é da Justiça Federal do Paraná e se deve negócios irregulares com dinheiro público. O cartunista recebeu R$ 75 mil para criar a logomarca de um salão de humor bancado pela prefeitura de Foz do Iguaçu. A cessão da marca obviamente era da prefeitura, mas Ziraldo registrou a marca como sua no Instituto Nacional de Propriedade Industrial.

Outras cinco pessoas também foram condenadas, inclusive o irmão de Ziraldo, o também cartunista Zélio Alves Pinto, que foi acusado de receber em duplicidade pagamento da prefeitura.

Ziraldo vai recorrer, é claro. O cartunista tem como advogado um sobrinho, Gustavo Teixeira, que já disse ao Estadão que o tio ficou "extremamente revoltado", o que dá pra entender. Sentença por estelionato revolta mesmo. Teixeira admitiu ao jornal que Ziraldo pode ter registrado a marca, mas vê o gesto do tio mais como “burrice” do que como dolo.

Está aí uma novidade jurídica e até muito boa para justificar qualquer tipo de corrupção. Tem sido usual políticos dizerem que nada sabiam do que aconteceu: a lorota do “não vi nada”. Agora podem dizer que “foi burrice”. O mensalão? Ah, foi “burrice”.

Mas, voltando à condenação por estelionato do pai do menino maluquinho, o juiz também definiu na sentença um agravo de conduta pela notoriedade do réu, destacando que a atitude de Ziraldo pesa ainda mais devido ao fato de ele ter “representatividade perante o público infantil”.

O sobrinho advogado também criticou essa parte, mas isso também não é inesperado. Advogado de condenado é sempre muito crica: nunca vê nada de bom na sentença. Mas eu estou de acordo com o juiz, afinal se a Branca de Neve começa a fazer maldades por aí o delito é sempre mais grave do que quando vem da Bruxa Malvada.

É claro que o Ziraldo não é nenhuma Branca de Neve, muito longe disso, mas como é que a gente vai explicar pra criançada que o cara que fez o Menino Maluquinho está metido com estelionato com dinheiro público? Nem podemos justificar pra meninada que foi só por “burrice”, senão vai dar um trabalhão danado para explicar para os petizes a diferença entre a “burrice” do tio Ziraldo e a “burrice” do tio Sarney.
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POR José Pires

quinta-feira, 24 de novembro de 2011





Ordem na farra

A corrupção no governo Dilma Rousseff exige um esforço danado para acompanhar. A gente está escrevendo sobre um caso e logo aparece outro e logo mais outro. Estamos ainda nas tretas do ministro Lupi e já aparece outra denúncia de corrupção, desta vez no Ministério das Cidades. Assim ninguém agüenta.

Governo desorganizado dá nisso: cadê a “gerentona” que não faz logo uma agenda da corrupção?
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POR José Pires

quarta-feira, 23 de novembro de 2011



Será que vai dar praia?

As manchas de óleo do vazamento do poço da Chevron, na bacia de Campos, podem chegar ao litoral do Rio de Janeiro e do Espírito Santo. O Ibama informou que é provável que o óleo alcance as praias.

É óbvio que o melhor seria que isso não acontecesse, mas como o brasileiro costuma ficar desatento às conseqüências e riscos futuros logo que um desastre tem seu desenlace, a visão das praias do Rio com o petróleo derramado poderia dar uma motivação para um envolvimento mais sério da sociedade civil no debate, com o aprofundamento da discussão sobre o perigo que o Brasil corre com esta falta de controle por parte do governo do PT em setores de alto risco.

Com o petróleo vazado no desastre da Chevron se diluindo no mar e sendo afastado das costas brasileiras o assunto logo vai virar jornal velho e seguir o rumo de tantos problemas brasileiros: a gaveta. Até o momento em que algo aconteça novamente, talvez até com mais gravidade.
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POR José Pires

Gramática oficial

Vindo do PT nada me surpreende, mas o projeto de lei que torna obrigatório chamar a presidente Dilma Rousseff de "presidenta" é aquele tipo de barbaridade que parece demais até para um petista.

O projeto é da ex-senadora Serys Slhessarenko (PT-MT), que tentou ser deputada depois do final do mandato no Senado, mas felizmente o eleitor do Mato Grosso teve o bom senso de não elegê-la para mais nada.

O projeto está na pauta da Comissão de Constituição e Justiça da Câmara dos Deputados, de onde espera-se que o bom senso encaminhe um negócio desses direto pro lixo. Até porque fica uma curiosidade sobre a penalidade que sofreriam os que, como eu, jamais escreverão "presidenta".

Seremos presos? Deportados, talvez? Então será a pena política mais engraçada da nossa história. É presidente Dilma Rousseff. E ponto final.
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POR José Pires

Dando uma força pro vilão do Senado

O melhor que todo artista pode fazer é fugir de qualquer partido. E dos políticos. A destruição de valores da nossa política já provou muito bem provado que quando tem político no meio é bom desconfiar até mesmo de boas causas. Mas o que faz um ator com dezenas de anos de carreira apoiar um político imoral em rede nacional?

O ator Milton Gonçalves fez o papel de coadjuvante do senador José Sarney em programa gratuito do PMDB veiculado na televisão. Ele serve de escada para o senador do Maranhão eleito pelo Pará, com a seguinte pergunta: "Presidente Sarney, mais de 50 anos de vida pública: desse tempo todo ficou alguma mágoa?"

Sarney entra em seguida e evidentemente diz que não guarda mágoa alguma e manda ver um trololó demagógico. Está fazendo o papel dele. E para isso é só caprichar no óleo de peroba na cara antes de gravar a farsa.

Mas e o ator Milton Gonçalves? Por que faz um negócio desses? É o tipo de coisa do qual a única saída é dizer logo que o trabalho foi feito só pelo dinheiro. Se a participação num negócio desses foi pela causa, aí a desmoralização é total.
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POR José Pires

Alertas vermelhos em vários cantos

O governo do PT está num bate-cabeças interminável desde a posse de Dilma Rousseff. É um descontrole administrativo e político que até faz a gente perguntar quando afinal é que vai começar o governo Dilma. E cadê a “gerentona”? Faltam menos de dois meses para que sua posse complete um ano e até agora ainda não se sabe o que é este governo, além do acúmulo de corrupção que já levou à queda de cinco ministros e dificilmente não resultará na degola de um sexto corrupto, o ministro do Trabalho, Carlos Lupi.

Sempre é bom lembrar que este é um governo de continuidade, que tem no seu, digamos assim, “comando”, uma presidente que vem de cargos decisivos dos dois governos de Lula.

Mas além das denúncias sucessivas de corrupção, o governo Dilma se envolve noutro bate-cabeças com o desastre ambiental do vazamento do poço da Chevron, na Bacia de Campos. Até o momento não se tem conhecimento nem da dimensão exata do desastre, que pode ser bem maior do que se sabe até agora.

O que se sabe com certeza é que o governo petista não tem o controle da exploração do petróleo no Brasil nem nos aspectos mais básicos: não fiscaliza, não acompanha o cotidiano das perfurações, e por isso só ficou sabendo do desastre pela imprensa. Dilma e seus ministros também dão a impressão de que depois do desastre é também pelos jornais que acompanham tudo

Já escrevi aqui sobre o vazamento deste poço de petróleo. Na minha visão o alerta é vermelho e mostra o risco que os brasileiros correm com a exploração deste recurso natural feita sem planejamento e controle. Neste desastre o governo do PT só atua depois dos acontecimentos, mostrando que não acompanhava de forma preventiva a exploração de petróleo e não tem a atenção nem a regulamentos necessários em uma atividade de tamanho risco.

Depois da divulgação do desastre surgiram várias revelações de que a conhecida falta de rigor do governo é a mesma também nesta área. O Brasil acabou sabendo até de um Plano de Contingência Nacional contra o derramamento de óleo que nem sequer está regulamentado. O plano é previsto em lei de 2000, mas, passados quase nove anos de governo do PT, até agora sua implantação nem começou. Ou seja: não se cuida de nada num setor de alto risco e de grande peso na economia brasileira.

A discussão sobre Plano de Contingência Nacional que se mantinha engavetado apareceu de forma bem tímida no ano passado, quando ocorreu o vazamento da British Petroleum , a BP, no Golfo do México, que lançou no mar cerca de 60 mil barris de petróleo por dia durante quase três meses. Mas naquela época o governo do PT e seus seguidores ficaram preocupados em criticar o governo Obama e não houve continuidade na discussão do caso brasileiro. O pré-sal era também uma importante moeda eleitoral e precisava ser vendido como a redenção econômica do país.

É preciso lembrar também que vivemos no Brasil nesses quase nove anos um período em que a prevenção na área ambiental e a aplicação de leis e regulamentos sofre o menosprezo oficial e até ataques. O próprio ex-presidente Lula atacava de forma raivosa leis ambientais que, para ele, impediam o progresso econômico.

E hoje um setor tão decisivo e até crucial como o da energia está nas mãos do grupo do senador José Sarney, como resultado do loteamento político que o PT estabeleceu como forma de governo no país. O ministro é o senador licenciado Edison Lobão, que na sua posse no ministério de Minas e Energia confessou que até então acompanhava este assunto apenas pelos jornais.

Quando aconteceu o desastre nuclear no Japão eu escrevi uma série de artigos em meu blog, onde, entre outras coisas, alertava que Lobão era a garantia da segurança do projeto nuclear brasileiro. É claro que a escolha do ministro Lobão é apenas simbólica sobre a irresponsabilidade que governa o país. Seu chefe é Dilma Rousseff e o chefe anterior foi Lula. Mas o símbolo permanece: ainda é esta a única garantia.

O alerta vermelho do poço da Chevron continua apitando. Outros alarmes sobre diversos riscos estão por aí, muitos deles da mesmas cor do desastre da Bacia de Campos. E é preciso ver neste alerta também a necessidade da atenção de que este governo toca outros mega-projetos de grande risco na atualidade e especialmente para o futuro das novas gerações.

Um dos símbolos deste desatino governamental, que só pode ser explicado pelo interesse direto na dinheirama movimentada, é o da Usina de Belo Monte, um projeto com resultados terríveis em danos ambientais e sociais e de comprovada ineficácia na geração de energia.

O governo do PT também dá seguimento ao projeto nuclear implantado na ditadura militar No governo Lula retomaram a construção de Angra 3 e o PT mantém esta insana idéia de usar energia nuclear em um país com tantas outras fontes. O governo pretende ainda a implantação de outras usinas nucleares espalhadas pelo país, projeto mantido em compasso de espera depois do desastre nuclear no Japão, mas que sempre pode ser retomado. Às pressas e sem planejamento e controle, como é o estilo desse governo.
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POR José Pires

sábado, 19 de novembro de 2011

O futuro chegou vazando óleo

O vazamento de petróleo na bacia de Campos deve ser visto como um alerta sobre a exploração deste recurso natural nas costas brasileiras, especialmente dos campos de pré-sal, que são motivo de propaganda eufórica do governo federal, sem nenhuma atenção para as questões ambientais que envolvem um assunto de tamanho risco.

O descoberta de petróleo nas camadas do chamado pré-sal foi uma grande moeda eleitoral do PT na última eleição para presidente. Naquela campanha e num período anterior de pelo menos um ano o governo Lula fez uma maciça propaganda da nova descoberta, aclamada como uma redenção econômica do país.

A conhecida irresponsabilidade deste governo em assuntos que exigem um debate mais aprofundado e a abertura para visões críticas bateu forte também neste debate. Também na questão do pré-sal o governo do PT estabeleceu um discurso apologético e agiu para desqualificar as pessoas e instituições que alertavam para as dificuldades da extração deste petróleo e de seus riscos ambientais. A tônica do discurso oficial era que o futuro do país estava assegurado com a descoberta do pré-sal. O então presidente Lula chegou a dizer que o Brasil entraria para a OPEP, a organização mundial dos grandes produtores de petróleo.

De forma injusta e desrespeitosa, quem levantava uma crítica podia ser tachado de pessimista e inimigo do país.

O vazamento de petróleo ocorre no campo de exploração da Chevron, na bacia de Campos, no litoral norte do Rio de Janeiro. A Chevron está na quarta colocação no ranking mundial dos produtores de petróleo e gás. Esta empresa, que já era grande, cresceu ainda mais a partir de 2002 com a megafusão com a Texaco. Estas fusões apertam ainda mais o controle sobre este combustível gradativamente escasso. As antigas “sete irmãs” do petróleo agora são cinco. O poder se concentra ainda mais.

Uma megacorporação é sempre negativa para o livre comércio e até para o interesse da humanidade. No campo do petróleo é um pouco pior, pois estabelece regras próprias em uma área de altíssimo risco e força o consumo de um recurso natural que deveria ser consumido de forma equilibrada.

A Chevron afirma que a mancha de petróleo localizada a 120 quilômetros da costa brasileira se desloca na direção sudeste. Vai para a África, o que deve amenizar a discussão sobre o problema aqui no país. Não deveria ser assim. Já é muito grave o que aconteceu no poço da Chevron, mas o desastre é só um aviso de que algo muito pior pode ocorrer.

A sujeira do vazamento estaria indo em direção contrária à costa brasileira. A Chevron naturalmente estima para baixo o volume de óleo vazado. A empresa petrolífera afirma que o volume é de 330 barris por dia, ou 52.465 litros, um número dez vezes mais baixo do que o apurado pela ONG SkyTruth, especializada em interpretação de fotos de satélites com fins ambientais.

A Sky Truth informou que a taxa de vazamento é de 3.738 barris por dia, ou 594.294 litros. A ONG chegou a esta conclusão a partir da análise de imagens da Nasa, de 12 de novembro, As imagens mostram que a mancha de óleo se estende por 2.379 quilômetros quadrados

Pelo cálculo da ONG o vazamento do poço no Campo Frade já derramou no mar cerca de 15 mil barris de óleo — 2.384.809 litros.

O vazamento foi uma grande surpresa para todo mundo e inclusive para as instituições do governo que, em tese, deviam estar fiscalizando o cotidiano da extração do petróleo no Brasil. Tradicionalmente regulamentos não costumam ser levados a sério no Brasil. Este é um traço muito ruim das nossas instituições e de um peso negativo já bem antigo, mas que foi bastante aprofundado por este governo, que teve por oito anos um presidente ironizando regras e leis das mais variadas e procurando desmontar tentativas de fiscalização sérias com a argumentação de que regras e leis impedem o progresso.

É preciso mudar este pensamento. Com o que se prevê em esgotamento de recursos naturais e problemas ambientais para um futuro próximo, a necessidade de aplicação em fiscalização e controle passam a ser uma questão de vida ou morte. A imensa destruição provocada pela Chevron bem próximo das costas do nosso país deve ser vista como um sinal de que no meio ambiente não temos mais problemas para o futuro. Eles já estão aí.

Questões como a da exploração do pré-sal, da pecuária, da agricultura e de tantos empreendimentos econômicos necessários ao país exigem um debate democrático que conclua não só pelos ganhos imediatos, financeiros ou eleitorais. É preciso buscar o equilíbrio entre a necessidade econômica e o respeito à vida.

É preciso atentar que o lucro imediato terá sempre adiante um custo bem alto, que na maioria das vezes não compensa o ganho anterior. No Brasil esta conta foi sempre creditada ao futuro, mas o problema é que agora este futuro já está à vista dos nossos olhos.
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POR José Pires

quinta-feira, 17 de novembro de 2011



Menos por mais

Apresento uma relíquia do mercado de consumo brasileiro: o copinho de iogurte de 200 ml. Aproveite enquanto é tempo. A Vigor é a última indústria que ainda não aderiu à norma geral de se aproveitar da desatenção do brasileiro para ganhar mais com menos conteúdo. O empresariado brasileiro vem fazendo isso em vários setores, diminuindo progressivamente a quantidade em produtos que tradicionalmente apresentavam determinado conteúdo.

A forma de engabelar o consumidor é vergonhosa. Primeiro apresentam um produto de fantasia relacionado à marca de sempre, porém com o conteúdo bem menor. Por exemplo, oferecem um iogurte com algum apetrecho ou suposta vitamina da mesma marca do produto tradicional. O conteúdo é menor. E logo depois diminuem também o conteúdo do produto tradicional. O método de enganar é perfeito, até porque as embalagens nada mudam.

E criou-se também nos copinhos esta inversão de valores tão brasileira, que torna extraordinário o que já foi regular. Hoje quem destaca o conteúdo são os que ainda mantém o tradicional copinho de 200 ml. Quem diminuiu o conteúdo tornou também bem menores as letrinhas que identificam a quantidade.

Hoje no mercado é muito difícil distinguir o conteúdo deste iogurte da Vigor das outras marcas (Nestlé, Batavo, etc.), todas elas com bem menos conteúdo, mas todas também com o preço parecido. Foi assim com papel higiênico e toalhas de papel, que foram perdendo metragem. Tem sido do mesmo jeito com tantos outros produtos brasileiros.

Dessa forma, o empresariado vai destruindo relações com o consumidor que levaram décadas para serem estabelecidas. E com essa atitude criam a exigência da intervenção do Estado onde já havia um processo natural muito bem definido. Se o livre mercado não tem bom senso para impedir esse tipo de corrupção moral, que venha o Estado.

Mas, por enquanto o governo só assiste ao engodo, sem normatizar de fato o que é oferecido ao consumidor. Não me espantaria se logo aparecer o litro de leite de 800 ml.

E um ou outro leitor pode falar também da dúzia de ovos de dez, mas aí infelizmente a brincadeira vem com atraso. No mercado brasileiro, já existe a dúzia de dez. E como nós aqui falamos e logo provamos, daqui a pouco eu mostro a foto.
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POR José Pires

quarta-feira, 16 de novembro de 2011




De olho em Manet

"Flores em um vaso de cristal", pintado por Edouard Manet em 1882. Não se fixe no título do quadro. Não são poucas as obras de arte que receberam títulos muitos anos depois de pintadas e são na maioria dos casos apenas uma forma de catalogação, indispensável na identificação, até para que possamos encontrar essas pinturas inclusive em nossa memória. Mas a maioria dos títulos diz tanto quanto eu me chamar José e não outro nome qualquer.

Clique na imagem para vê-la aumentada. Antes, veja o detalhe dela lá embaixo. Observe bem como as formas são construídas com pinceladas firmes e muito hábeis que pedem uma concentração na pintura e não no objeto.

Isto não é um vaso de cristal com flores. Isto é uma pintura.
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POR José Pires

Questão de justiça

Um rapaz de 29 anos foi condenado em São Paulo à pena de um ano e seis meses de prisão por chegar atrasado a uma audiência. O rapaz é acusado de tentar furtar quatro latas de atum e uma lata de óleo. É de R$ 20,69 o total do roubo que nem foi concretizado.

A prisão foi decretada pela juíza Patrícia Alvares Cruz. A Defensoria Pública chegou a explicar para a juíza que o rapaz é pobre, mora na Zon...a Leste de São Paulo e por depender de transporte público demorou três horas para chegar ao Fórum da Barra Funda. Mas não teve jeito. A juíza manteve a prisão W. C. — as iniciais do rapaz preso por tentar roubar as quatro latas de atum e uma de óleo.

E também não adiantaria W. C. declarar amor à presidente Dilma Rousseff ou alegar perseguição da imprensa. Até agora a militância petista não começou nenhuma manifestação nas redes sociais em defesa do rapaz.
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POR José Pires

domingo, 13 de novembro de 2011



sábado, 12 de novembro de 2011

Um amor de governo

Está acontecendo algo muito sério com o governo de Dilma Rousseff. Com cinco ministros saindo correndo do governo por causa de denúncia de corrupção e o sexto já para cair na caçapa, desfaz-se o mito da gerentona que a propaganda tentou colar em Dilma Rousseff.

Ela pode sempre apelar para o que seu mestre fazia e dizer que não viu nada. Mas não viu cinco, seis vezes? Aí vai se se encaixas no perfil dos idiotas a que se referiu o ex-ministro da Defesa Nelson Jobim. Mas se não se escudar numa asnice como justificativa Dilma acaba sendo suspeita de ser conivente com a ladroagem ou, pior ainda, fazer parte dos bandos.

Entre a descoberta da gatunagem e a saída do governo tem sempre um período de desculpas esfarradas em que a imagem de Dilma cai no ridículo. Dos cinco ministros anteriores não teve um que soubesse cair com, digamos assim, alguma dignidade, pelo menos livrando a chefa de ser prejudicada com o desenrolar das denúncias de maracutaias.

Todos os ministros de Dilma fizeram o favor para a imprensa de alongar a ridícula queda, com alguns até mesmo com o ex-presidente Lula a tiracolo para ajudar na besteirada. Quem não se lembra do Lula telefonando aos companheiros do PCdoB para estimular que eles resistissem bastante para não entregar o ex-ministro do Esporte?

Este governo tem sido patético desde o começo, mas o ministro do Trabalho, Alberto Lupi, superou bastante os colegas em patetice com a declaração pública de amor à Dilma, que soa até desrespeitosa, pois afinal além de se referir à presidente da República, o ministro está falando de uma senhora. E uma senhora descasada. Estará gozando a companheira Dilma?

Com um absurdo desses, dá para pensar muitas coisas enquanto a gente ri. Mas o espetáculo fica ainda mais cômico quando, em vez de integrantes do governo pelo menos abafarem a besteira, vem o ministro Paulo Bernardo e diz: "Quem não fica contente com uma declaração de amor?"

São coisas assim que mostram que o ex-ministro Nelson Jobim sabia muito bem do que estava falando quando fez aquela queixa sobre estar num governo cheio de idiotas.
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POR José Pires