quarta-feira, 7 de novembro de 2012

Bom de voto

Paulo Francis não iria gostar nem um pouco do resultado das eleições nos Estados Unidos e muito menos do que vou dizer agora: o melhor artigo de tantos que li até o momento sobre a vitória de Obama é do jornalista Caio Blinder. Infelizmente Francis não viveu para ver nem a primeira vitória de Obama. Com certeza estaria pensando o oposto do que Blinder publicou nesta manhã no site da revista Veja. Os dois não se bicavam no balcão inteligente do programa Manhattan Connection, quando Francis ainda estava vivo. Divergiam em tudo. No final, até já atuavam como personagens, batendo boca porque era isso que a platéia pedia.

Caio Blinder não esconde que foi eleitor de Obama nas duas eleições. Ele vive e trabalha nos Estados Unidos o que dá também ao seu texto um tom de testemunho. Este Obama que temos agora nada tem a ver com aquele do primeiro mandato, que entrou na Casa Branca cercado de uma expectativa muito acima do que qualquer um poderia realmente fazer na situação em que pegou os Estados Unidos.

No discurso de agradecimento de hoje Obama ainda fala de um lugar onde “você pode ter sucesso se você tentar”, mas ele sabe que na atual situação não se encaixa mais esta antiga retórica da terra onde todos os sonhos são possíveis.

Blinder, que é um “obamista” de carteirinha, diz em seu texto que gostaria de ver avanços no segundo governo, mas é francamente realista sobre o que pode vir pela frente: “temo que caminhemos para um período sem mudança e sem esperança”.

Mas com o Blinder tão desesperançado mesmo com a reeleição de seu preferido, então o Francis é que estava certo? Nada disso. A derrota de Mitt Romney foi um alívio para o Caio, como ele era chamado pelo amigo Francis mesmo quando era até destratado em frente às câmeras. E na minha opinião foi também um alívio para o mundo, como escrevi ontem num post que está logo abaixo.

Existe um tipo de liberal que pratica às avessas aquilo que critica nas esquerdas e no determinismo marxista. Faz das regras da economia liberal um dogma, como se o mercado livre tivesse capacidade de organizar até as forças da natureza. Mas dá para ver que está acontecendo o contrário. Liberal que não reformula suas idéias neste caso é burro ou trabalha apenas no interesse de grupos e grandes corporações. Este seria o caso do bom e velho Romney na presidência.

Especificamente sobre esta eleição o que dá para apreender de tantos outros artigos e reportagens que li nesses dias — além do excelente texto de Blinder — é que existe hoje uma América de uma diversificação étnica e de uma amplidão de necessidades que o Partido Republicano não entendeu ainda. Eles não sabem como extrair votos dessa nova realidade que se sobrepõe à sua antiga e conservadora base eleitoral. Este já não é o caso dos democratas e de Obama, um craque em eleição que alcançou a vitória mesmo numa situação econômica extremamente adversa para sua administração.
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POR José Pires

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Imagem: O cara em ação. No dia da eleição, o candidato telefona para agradecer e estimular voluntários de sua campanha (“Aqui é Barack Obama. Sabe, o presidente...”). A foto é de seu site de campanha.

terça-feira, 6 de novembro de 2012

Apoio ecológico a Obama

O apoio do prefeito de Nova York, Michael Bloomberg, a Barack Obama pode ser visto como uma das boas indicações do crescimento da consciência da necessidade de agir com prevenção para que o planeta tenha um futuro diferente das previsões catastróficas que já mostram que estão à caminho. O apoio de Bloomberg foi divulgado cinco dias antes da votação, que ocorre hoje. Para justitificar a decisão, ele citou a importância da atuação de um governante como Obama para o enfrentamento dos problemas climáticos que já se apresentam. Nesses dias o mundo viu o furacão Sandy arrasar Nova York e parece que a tragédia aguçou a preocupação do prefeito com os efeitos da mudança do clima no mundo.

No dia do apoio a Obama a cidade mais rica do planeta estava tomada pela água, com vastas áreas sem iluminação e a população fazendo fila em postos para comprar combustível. Havia o risco de uma invasão por ratos. O prefeito elogiou a atuação do governo federal na emergência exigida pela destruição feita pelo furacão e falou também dos avanços de Obama na prevenção aos efeitos das mudanças climáticas. O furacão que caiu sobre a cidade trouxe um problemão para Mitt Romney. Ele vinha dizendo que a atuação em situações desse tipo devia ser transferida do governo federal para os estados. Obama defendia o contrário. As necessidades criadas pelo furacão forçaram o republicano a mudar de posição.

O prefeito de Nova York hoje é um independente, mas no passado esteve alinhado com o Partido Republicano. Por ele ser um conservador é que destaquei a importância do seu apoio escorado em preocupações ecológicas. Isso pode ser uma demonstração de que o tema finalmente começa a ser percebido com mais respeito mesmo em setores ideológicos que até agora menosprezavam os riscos produzidos pela ação humana sobre o planeta. E mesmo que o desvio seja um fator meramente político, Blomberg deve estar agindo em conformidade com o que sente na opinião pública americana e isso não deixa de ser também muito importante.

Não é possível avaliar o peso que a ecologia pode ter nesta eleição, mas com o ritmo cada vez mais acelerado da destruição ecológica no mundo o tema deveria ocupar o centro dos debates. Não vou entrar na polêmica sobre o aquecimento global. Sei que muitas pessoas respeitáveis discordam em pontos importantes desta questão, que não me parece uma discussão prioritária em razão dos riscos que já temos pela frente.

O fato essencial é o esgotamento dos recursos naturais, cujo uso precisa ser equilibrado com urgência ou então vão aparecer problemas bem graves e dos mais variados em menos de duas décadas. Pensem num planeta com a metade do petróleo que temos agora e com a água escassa e terão uma visão das dificuldades econômicas que estaremos enfrentando. Isso é para logo e não podemos chegar lá com esses hábitos de agora, senão será o caos.

A polêmica sobre os aspectos científicos do aquecimento global desvia a atenção de perigos urgentes. Vou propor uma forma simples de análise. Em qualquer cidade que você estiver, tente imaginar seus arredores dentro de poucos anos. Em quase todas elas, no ritmo atual de destruição ecológica uma criança hoje com dez anos terá um local difícil para viver quando estiver na idade madura dos quarenta anos. Este é o nosso problema imediato que não pode ser atrapalhado pela polêmica científica sobre o derretimento de geleiras.

É preciso equilibrar o gasto dos recursos naturais e isso tem que ser feito antes de tudo nos Estados Unidos, país que não só consome recursos naturais de forma impressionante como também é responsável pelo espalhamento da cultura do desperdício pelo mundo. Se não é possível brecar o gigante, ao menos é preciso desacelerá-lo. É claro que isso começa na economia e é aí que a administração Obama fez alguma diferença. Ainda é pouco, mas é bastante para um país que não vinha fazendo nada nas mãos dos republicanos. Com eles novamente no governo voltaria toda a cultura da gastança que deu no tsunami da crise, com a consequente destruição ecológica produzida por uma economia predatória.
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POR José Pires 

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Imagem: Capa da revista New Yorker desta semana mostrando com humor como deve ser a votação em Nova York. A revista publicou um editorial nesta edição com declaração de apoio a Obama.

segunda-feira, 5 de novembro de 2012

Nos palanques de Obama e Romney


Dois apoios indesejáveis na campanha presidencial americana: o senhor Burns e o venezuelano Hugo Chávez.

Todos devem saber que o senhor Burns é o dono da usina nuclear de Springville, onde trabalha Homer Simpson. Seu apoio é para Mitt Romney e aconteceu num dos espisódios da série, que é transmitida pela Fox, rede de TV que apóia de fato o candidato republicano.

No desenho animado, o senhor Burns chama o cachorro Shamus para decidir entre Obama e Romney, manipulando descara
damente o teste para favorecer seu preferido. Dois empregados disfarçados de candidatos trazem pratos de comida para o cão. “Broccoli” Obama oferece a verdura, um trocadilho infame com o nome de origem queniana do presidente. Já “Meat” Romney traz um apetitoso filé. “Meat” é carne em inglês. A escolha parece evidente, mas Shamus foge desesperado depois de arrebentar uma janela.

O outro apoio indesejado é o do presidente Hugo Chávez, da Venezuela, que não sabe mesmo se calar. Para azar de Obama, o apoio é dele. Naquela sua informalidade que fica sempre uns bons pontos acima da irresponsabilidade, Chávez andou falando que votaria em Obama se estivesse nos Estados Unidos. Também com cara de pau deu a certeza de que na Venezuela Obama votaria nele para presidente.

A declaração gravada em vídeo foi transmitida muitas vezes nas emissoras americanas, em propaganda de ataque a Obama paga pelo partido Republicano. A peça da campanha de Romney liga o adversário também a Fidel Castro e Che Guevara. Todo falado em espanhol, o vídeo foi veiculado para criar uma rejeição a Obama junto ao eleitorado latino.

O nível dos Republicanos em eleição tem sido sempre este. Quem não se lembra da campanha anterior, quando Sarah Palin, vice-presidente na chapa de John McCain, atuou como franco-atiradora fazendo ataques sórdidos ao candidato democrata? É claro que ninguém pode querer o apoio do senhor Burns, um plutocrata cínico que faz questão de afirmar que acredita apenas no poder para os mais ricos. Mas não resta dúvida sobre quem ele apoiaria se existisse na vida real.

Já a esquerda latino-americana está no papel de sempre. A dúvida é se de fato desconhecem sua influência negativa ou estão agindo de má fé. Uma tal de Mariella Castro, sobrinha do ditador Fidel Castro, aparece no vídeo republicano dizendo que votaria também no presidente que busca a reeleição. Ela é filha de Raúl Castro. A propaganda dos republicanos contra Obama cita também um e-mail enviado pela Agência de Proteção Ambiental, que trazia a foto do Che Guevara e a conhecida frase “Até a vitória, sempre". A agência afirma que a mensagem foi enviada sem aprovação oficial por um funcionário. Vê-se que até lá nos Estados Unidos a militância azucrinadora faz das suas.
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POR José Pires

quinta-feira, 25 de outubro de 2012


quarta-feira, 24 de outubro de 2012

O nome certo de cada coisa


O ex-procurador-geral da República Antonio Fernando de Souza fez um serviço para a democracia brasileira quando concluiu o inquérito do mensalão, entregue ao Supremo Tribunal Federal em março de 2006, ocasião em que ainda ocupava o cargo. Além dessa louvável contribuição para o nosso país, Souza deu um toque precioso para dar fim à linguagem do juridiquês que sempre foi a marca dos documentos que tramitam em nossos tribunais. O juridiquês é aquela língua obscura praticada por
 advogados, que torna impenetráveis processos, ações, petições e tantos papéis escritos que dão forma ao universo jurídico. Essa fala, muitas vezes permeada de um latinório pernóstico, é parecida com a linguagem rebuscada e imprecisa de outros setores, tal como acontece na economia, onde se impõe muitas vezes o economês como barreira para impedir o acesso do leitor a assuntos que mexem até com o pão que precisamos comer.

Quando li a apresentação do inquérito do mensalão assim que o material foi divulgado em 2006 logo vi que havia ali um estilo que contribuiria muito para dar um foco mais claro sobre os efeitos da corrupção no país. Veja no link o material na íntegra. Este documento histórico da nossa República é relativamente curto (136 páginas) e de uma facilidade de leitura que o torna um dos textos mais apreciáveis dos últimos tempos. Eu mesmo já o reli muitas vezes, até para não deixar brechas para chicanas jurídicas tramadas por quadrilheiros.

O linguajar simplificado que se viu nesses dias entre alguns juízes do Supremo Tribunal Federal que trataram de forma direta os crimes arquitetados contra a democracia, entre outras coisas chamando pelo nome certo de delinquentes os dirigentes nacionais do PT que compraram votos de deputados, tudo isso está na apresentação escrita por Fernando de Souza e entregue ao STF em 2006.O documento apresentado pelo então procurador-geral trouxe também uma afirmação que abriu espaço para jornalistas independentes se referirem com clareza ao papel do ex- ministro José Dirceu da Casa Civil de Lula, presidente da República enquanto o mensalão era posto em prática. O deputado cassado que foi parceiro de Lula antes até da fundação do PT já era definido por Fernando de Souza como o chefe da quadrilha do mensalão. Aquilo liberou o uso da palavra que define bem seu papel. Havia sempre a obrigação do uso das aspas para evitar que bancas de advogados muito bem pagos armassem processos que serviam de cala-bocas. Mas de qualquer forma isso permitia passar ao leitor o que estavam fazendo contra o país. Com a condenação caem as aspas, permitindo que o quadrilheiro que foi capitão da equipe de Lula seja citado como tal. Naquela época Fernando de Souza já fazia a denúncia da conspiração que a cúpula do PT tramou contra a democracia brasileira. Está muito bem definido na escrita direta do procurador o sentido político do trabalho sujo dos delinquentes: a perenização do PT no poder.Por ser um processo da mais alta instância jurídica do país, certamente a apresentação do inquérito do mensalão teve uma influência sobre grande parte do Ministério Público em todo o país. Eu mesmo peguei em mãos processos posteriores de procuradores estaduais que já vinham com linguagem mais aberta, narrando em linguagem comum os crimes contra o patrimônio público.A partir da análise do inquérito da Procuradoria-Geral da República, alguns ministros do STF deixaram de lado o juridiquês para falar em linguagem popular sobre a corrupção. Os assaltantes dos cofres públicos deixaram de ser tratados em razão de seus cargos ou do poder que ainda detém no governo federal. A começar pelo relator do processo, Joaquim Barbosa, quadrilheiros deixaram de aparecer na linguagem do tribunal como se fossem excelências, numa confusão que muitas vezes dava a impressão de estarem em nível parecido aos ministros da nossa mais alta Corte.Com o julgamento do mensalão o STF trouxe uma importante transformação de linguagem aos brasileiros. Tiraram as aspas do tratamento dado ao crime cometido por políticos. E isso não deixa de ser uma vitória para a igualdade. Afinal, quem rouba tem que ser chamado de ladrão em qualquer situação.


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POR José Pires

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Imagem: Capa do inquérito do mensalão. Distribuímos este material em praça pública em Londrina logo que ele foi entregue ao STF, em 2006. Como se vê pela arte que fiz na época, para evitar processos de bancas de advogados muito bem pagos, até na peça do procurador coloquei aspas por prudência.

sábado, 20 de outubro de 2012


Negócios do comunismo

Grande capa da revista alemã Der Spiegel, com o líder comunista chinês Mao Tsé-tung como um magnata endinheirado. A edição traz uma reportagem sobre o clima de morte e corrupção, que não é novidade no regime chinês, mas que ficou bem destacado com os acontecimentos recentes que levaram à prisão de um alto dirigente do Partido Comunista. O caso envolve também sexo e o assassinato de um estrangeiro.

Bo Xilai é o dirigente que caiu em desgraça depois de sua mulher ter sido acusada da morte de um britânico. Os três tinham boas relações e o assassinato aconteceu após divergências financeiras. Bo Xilai já foi expulso do poliburo do PC chinês, sua mais alta instância, o que encerra uma carreira brilhante no partido. Atualmente o PC chinês vive uma de suas lutas políticas importantes, que sempre ocorrem na véspera de um grande congresso. O partido vai renovar sua direção, quando uma nova geração de políticos chegará ao poder. Bo Xilai era um desses novos líderes para os próximos dez anos.

O que vem acontecendo na China é o desfecho prático de uma teoria política anunciada como a redentora do mundo e que resultou em crimes horrorosos e no estabelecimento de ditaduras que não conseguiram nem resultados econômicos apreciáveis. A China é o último país comunista de peso, mas hoje vive um sistema híbrido em que busca resultados capitalistas usando como base o domínio marxista da população como um meio político.

Seu crescimento econômico é baseado num sistema que chega a ser escravista, de salários baixíssimos e poucos direitos trabalhistas ou de liberdade de expressão dos trabalhadores e de qualquer outro setor. O lema embaixo do retrato de Karl Marx é “trabalha e não bufa”. Grandes projetos de desenvolvimento são tocados sem a possibilidade de debate algum. Isso já deu em mortandades de milhões de pessoas, inclusive por falta do que comer. O país também está destruído ecologicamente, com regiões inteiras sem água e com a natureza destruída por planos econômicos que esgotaram os recursos naturais.

O que o velho Marx iria achar disso? Sua teoria serve como base da mais violenta espoliação de direito dos trabalhadores. A opressão da classe pobre na Inglaterra do século 18 era fichinha perto do fazem hoje os marxistas chineses. Uma lembrança que me veio ao ver esta capa é que já entre o final dos anos 70 e os anos 80 ela seria tachada pela esquerda como calúnia do capitalismo internacional. Foi dessa forma que naquela época eramos impedidos de aceitar o óbvio caráter destrutivo dos direitos humanos que foi instalado pelo comunismo em vários países. Por isso esta idéia ultrapassada durou tanto tempo no Brasil, de uma forma tal que até hoje ainda tem quem a defenda. Mas o mundo girou bastante desde então e surgiram revelações de muitos outros crimes sustentados pela teoria marxista, além dos tantos que já eram conhecidos naquele tempo. A capa da Der Spiegel é um retrato perfeito do comunismo.
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POR José Pires

sexta-feira, 12 de outubro de 2012


terça-feira, 9 de outubro de 2012

O corrupto ativo do mensalão

José Dirceu foi condenado hoje pelo Supremo Tribunal Federal por corrupção ativa. Junto com Delúbio Soares, Dirceu foi condenado por comprar apoio ao governo Lula no esquema do mensalão.

A imagem é um recorte do site do Estadão de domingo, quando Dirceu foi votar no final do dia para evitar a criação de um fato político que prejudicasse os petistas candidatos nas eleições municipais. Ele estava protegido por seguranças e militantes do PT que impediram com socos, cotoveladas e empurrões a aproximação dos jornalistas.

Também no domingo, o advogado de Delúblio Soares disse que "jornalista bom é jornalista morto". O advogado é filiado ao PT em Goiânia. Com a má repercussão da frase, ele tentou consertar depois dizendo que era uma "brincadeira". Eu chamaria isso de outra coisa: ato falho. Parece a expressão verbal de um forte sentimento dos petistas em relação à imprensa.
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POR José Pires

Aliança com o PT faz mal para malufista

O vereador Wadih Mutran (PP) pode ter sido vítima do acordo entre Paulo Maluf e Lula em torno da candidatura de Fernando Haddad para a prefeitura de São Paulo. Mutran é um aliado histórico de Maluf e um veterano ganhador de eleição para vereador. Está há 29 anos na Câmara, mas exatamente neste ano em que o PP de Maluf e o PT de Lula se juntaram ele acabou não sendo eleito.

Pode-se até pensar em coincidência, mas acontece que o próprio Mutran parece ter detectado de imediato a rejeição que poderia haver em seu eleitorado ao acordo com o partido que antes do beija-mão de Lula com Maluf tratava os malufistas de ladrão pra baixo. Logo que foram divulgadas as fotos que mostravam malufistas e petistas festejando a aliança no jardim da mansão de Maluf, o vereador distribuiu uma nota alegando que a coligação era uma decisão de seu líder Paulo Maluf e que “como vereador e membro do partido há tantos anos” cabia a ele acatar. A nota foi publicada também em seu site político. Veja na imagem.

É claro que Wadih Mutran percebeu o risco que sua carreira corria com a possível rejeição de seus eleitores ao acordo feito entre Lula e Maluf, mas não adiantou a explicação que deu depois que saiu nas fotos junto com os petistas. Ele perdeu a eleição. Até para seus eleitores malufistas a coligação com o PT foi além do limite da imoralidade.
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POR José Pires

segunda-feira, 8 de outubro de 2012

O mito Lula se desfaz


Os petistas tentarão amenizar as perdas eleitorais que sofreram em todo o país e para isso vão usar a vasta rede de que dispõem na internet, mas as derrotas do partido têm um grave peso simbólico que deve afetar a imagem que eles vêm tentando impor até agora. O partido perdeu em locais onde foi forte o dedaço dos caciques chefiados pelo ex-presidente Lula. O que aconteceu nestas eleições de primeiro turno já exercem um peso definitivo na quebra de um mito no qual os petistas se escoram até agora: o mito da figura do ex-presidente Lula como influência decisiva junto ao eleitorado.

Em lugares onde Lula meteu seu dedaço inclusive passando por cima de lideranças políticas essenciais na formação do PT o resultado foi um fiasco. E é claro que em cada lugar que as pesquisas deram o prenúncio do desastre que viria nas urnas Lula se comportou como sempre, abandonado ligeiro os companheiros. Foi o que fez com Humberto Costa, em Recife. O senador petista virou candidato do partido por imposição de uma birra de Lula, que expulsou da disputa o atual prefeito recifense petista. E o PT perdeu no primeiro turno.

O chefão do PT teve a mesma atitude com seu amigo Patrus Ananias, abandonado logo que começou a cair nas pesquisas e que acabou sofrendo derrota acachapante na disputa da prefeitura de Belo Horizonte.

Na própria São Paulo, onde Lula fez acordo até com Paulo Maluf e chutou a candidata natural Marta Suplicy para colocar Fernando Haddad em seu lugar, a batalha contra José Serra vai ser dura. Mesmo usando a máquina do Governo Federal para rearrumar a seu gosto o quadro eleitoral paulistano e comandando uma das mais caras campanhas municipais da nossa história política, o petista viu seu candidato ir para o segundo turno atrás do tucano. E agora na capital paulista, numa mera eleição municipal, Lula corre o risco de perder de vez todo seu cacife de líder político que chega e resolve tudo.

Mas neste domingo Lula e seus companheiros tiveram pelo menos uma boa notícia: na Venezuela o PT ganhou a eleição.
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POR José Pires

sexta-feira, 5 de outubro de 2012

Um estilo que o PT não esperava


Um dia ainda vamos saber a causa de ter dado errado o plano do PT em relação ao julgamento do mensalão pelo Supremo Tribunal Federal. Os petistas vinham tranquilos até meses atrás quando afinal os juízes do STF resolveram encarar o processo. O melhor termômetro para notar que algo estava sendo arranjado para que pelo menos os maiorais não fossem condenados era o comportamento do ex-presidente Lula. Ele não demonstrava nenhuma preocupação. E o Lula só fica desse jeito quando o mundo está girando a seu favor. Do contrário ele fica azedo, deixa de falar com a imprensa, some do noticiário por semanas. E dizem que faz o cotidiano de seus subalternos virar um inferno, já que na intimidade ele não é essa doçura da propaganda. E Lula estava animado até os juízes começarem a se debruçar sobre o processo. Era todo prosa até mesmo quando um jornalista trazia o mensalão para a conversa.

Outro que demonstrou que os petistas tinham razões de sobra para serem otimistas quanto ao andamento do processo foi Delúbio Soares, o ex-tesoureiro do PT. No final de 2005 ele chegou a dizer que o caso acabaria virando “piada de salão”. Apesar de transitar entre os graúdos do partido e ter um papel expressivo no esquema, Delúbio não faz parte da chefia. A razão de sua tranquilidade só podia ter por base o que ele deve ter ouvido nas altas rodas do partido e do governo.

Mas no STF o mensalão não está com cara de piada de salão. Então vem batendo o desespero nos petistas. Hoje Gilberto Carvalho, da Secretaria-Geral da Presidência e que estava ao lado de Lula e José Dirceu quando o esquema foi descoberto, confessou que está de coração partido. Ao pedido dos jornalistas para que comentasse a situação complicada de José Dirceu ele respondeu: “A dor me impede de falar, neste momento, desta questão”.

Carvalho estava na abertura da exposição das obras do italiano Michelangelo Merisi Caravaggio, em Brasília. Caravaggio é um pintor do século XVI e início do XVII que ficou conhecido por colocar a verdade acima da beleza e foi bastante criticado pelos acadêmicos da época por procurar incorporar o gesto verdadeiro na pintura, em oposição às encenações que eram mais bem vistas pelas autoridades religiosas. Foi até censurado por isso, mas no final seu pensamento acabou prevalecendo e até contribuindo para a formação do que hoje é a Igreja Católica.

É claro que aqui já estou indo para uma interpretação pessoal. Não tenho dados para saber se Gilberto Carvalho conhece algo de Caravaggio. Ele podia estar na inauguração da exposição por mera formalidade. E apesar de ser um ex-seminarista, pode ser que ele não tenha prestado maior atenção a este grande pintor religioso. E Carvalho também não me parece um sujeito a quem a verdade emocione de maneira honesta.

Mas podemos relacionar a dor que ele sente à obra deste pintor do qual se conta que era um grande atrevido também em sua vida pessoal. Os petistas esperavam um STF que viesse com um formalismo que disfarça com rituais e maneirismos a falta de vigor para encarar a vida de forma realística e trazendo o mesmo padrão clássico que nunca toca com vigor verdadeiro nos atos humanos. O PT não estava preparado para uma Corte que neste julgamento do mensalão está mais para um Caravaggio.
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POR José Pires


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Imagem: Na impressionante tela de Caravaggio (pintada em 1600), São Tomé mete o dedo nas chagas de Cristo para crer que ele de fato ressuscitou.


quarta-feira, 3 de outubro de 2012

Mensaleiro pra debaixo do tapete

Depois do julgamento no Supremo Tribunal Federal, o deputado João Paulo Cunha tem que ser mantido escondido. Com a condenação por corrupção e peculato no processo do mensalão, Cunha teve que renunciar à candidatura de prefeito de Osasco e nem pode ser citado na campanha. Para o PT ele não existe mais. Ontem em comício na cidade Lula e altos dirigentes do PT nacional não falaram nem sequer uma vez o nome do companheiro que caiu em desgraça. E isso quando Lula fez o discurso mais longo em comícios até agora. Isso é coisa que se faz com um companheiro como o mensaleiro, que antes era comparado geneticamente até ao Che Guevara?

Isso mesmo: Che Guevara. Uma propaganda no site de campanha para prefeito de Osasco antes de Cunha renunciar afirmava que os dois tinham o mesmo dna político. É claro que já tiraram todo o material, mas como andei acompanhando a campanha em Osasco antes do resultado do julgamento, fiz uma limpa no site e guardei as propagandas. Mostrarei depois o “Che” do PT que agora tem que ficar quietinho no porão.

Tenho também esta propaganda com Lula e Dilma mandando o osasquense votar em João Paulo Cunha, o candidato que ia “fazer mais por você”. Hoje desmoralizado e a um passo do xilindró, o ex-candidato Cunha nem pode ser citado em palanque. Vejam só o que Lula ia fazer por Osasco.
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POR José Pires


A doce recompensa de Reinaldo Azevedo



A vida de quem passa bastante tempo lidando criticamente com as tretas petistas também pode ter seu lado doce. Os belos cupcakes da imagem foram o presente de uma leitora ao jornalista Reinaldo Azevedo, que lançou ontem em São Paulo o livro “O País dos Petralhas II – O inimigo agora é o mesmo”. A notícia é amarga para os petistas, mas o livro está vendendo que nem pão quente. Mais de 500 pessoas passaram pela livraria Cultura, localizada na Avenida Paulista. A fila de leitores buscando um autógrafo era de dar a volta no quarteirão. O livro já está na lista dos mais vendidos de várias publicações.

O sucesso de Reinaldo Azevedo é merecido, sendo fruto de trabalho feito com empenho e inteligência. Pode-se até não gostar de sua opinião, mas é impossível desconsiderar a qualidade do que ele faz. Isso nem os petistas conseguem, mesmo com toda a conhecida má-fé que eles costumam usar no ataque aos adversários. Foram os petistas, por sinal, que deram origem ao neologismo do título do livro, que Reinaldo também usa o tempo todo para se referir a eles. Foi de outra quadrilha de safados, a dos Irmãos Metralhas, de Walt Disney, que o jornalista tirou a palavra “petralha”, que para desespero dos petistas já está incorporada à nossa fala cotidiana.

O delicado agrado da leitora que mandou para a livraria os docinhos feitos à semelhança da capa do livro do Reinaldo é também sintomático do respeito que hoje ele tem junto a um público que é atraído por suas análises inteligentes, feitas num texto muito bem estruturado e que permite uma leitura fluente. Resumindo: o cara escreve bem paca, na linha dos grandes textos do jornalismo brasileiro que comunicam de forma clara, porém sem abdicar da qualidade da análise e do conteúdo.

O jornalista vem fazendo o blog de maior sucesso da internet brasileira, com uma audiência imensa e qualificada. Hoje seu blog, que é publicado no site da revista Veja, tornou-se uma referência no debate sobre uma variedade de assuntos importantes da atualidade. E não é só de petralhas que ele fala. É espantosa sua capacidade de escrever sobre uma porção de assuntos, sempre com inteligência, originalidade e trazendo muita informação.

Sua capacidade de produção é admirável. Ele renova o conteúdo durante todo o dia, depois de oferecer ao leitor um monte de textos na madrugada. Um inimigo poderia dizer até que ele só faz isso, mas de vez em quando aparecem no blog suas 'Reinaldas", para mostrar que Reinaldo também tira um tempo para se dedicar ao mulherio que tem na família. Mesmo que forçado, de vez em quando um intelectual tem que ir à praia.

Reinaldo escreve bastante e faz isso muito bem. Com isso, virou o centro das atenções tanto da oposição ao governo quanto da militância petista, principalmente os que são pagos para falar bem de tudo que o PT faz e atacar todos que buscam exercer um ponto de vista crítico sobre o que acontece no país e no mundo. São os petralhas, que fazem parte desse seu segundo livro com a compilação do melhor que escreveu nos últimos meses. E melhor, no caso do Reinaldo Azevedo, é porque é bom mesmo.
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POR José Pires

sexta-feira, 21 de setembro de 2012

Humor explosivo

A capa do semanário de humor francês Charlie Hebdo que criou preocupação no governo pela possibilidade de represália de grupos fundamentalistas islâmicos. Embaixadas francesas estão sob alerta e algumas delas estão fechadas em países onde é maior o risco de terrrorismo. A edição vem a propósito do escândalo forjado em torno de "A inocência dos muçulmanos", um filme que passaria desapercebido se não tivesse sido usado como pretexto de grupos fundamentalistas islâmicos para fazer terrorismo.

Sobre isso o editor-chefe da publicação, Gérard Biard, deu uma boa definição em entrevista para a imprensa após a polêmica. Ele respondeu a um jornalista que questionou se a publicação do material sobre Maomé era para exercer  a liberdade de expressão ou provocar: “Nos situamos no âmbito do nosso trabalho e da liberdade de expressão. No caso de notícias com um potencial tão conflituoso, a saber, um filme imbecil que gerou tumulto em quase todas as partes do mundo e que resultou em mortos e embaixadas queimadas: se nós, jornalistas, comentaristas da atualidade, não devemos comentar isso, o que então? Eu rejeito o termo "provocação". Não se trata de jeito nenhum de provocação, se trata de fazer nosso trabalho de jornalistas, de comentaristas da atualidade”.

O jornalista trouxe também uma outra questão muito importante em relação ao clima de chantagem que o extremismo islâmico vem criando no mundo: "Se começamos a questionar o direito de caricaturar ou não Maomé, se é perigoso ou não fazê-lo, a questão seguinte será se poderemos representar os muçulmanos no jornal. Depois vamos perguntar se podemos mostrar seres humanos, etc, etc. E no final não mostraremos mais nada. Neste caso, a minoria de extremistas que agitam o mundo e a França terão ganhado".
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POR José Pires

quarta-feira, 19 de setembro de 2012


Refúgio seguro

Começou o julgamento pelo Supremo Tribunal Federal do núcleo político do mensalão. No inquérito do ex-procurador-geral da República Antonio Fernando de Souza o mensalão é dividido em núcleos, sendo o núcleo político a peça principal do esquema criminoso. Segundo o documento, “o núcleo principal da quadrilha” era composto por José Dirceu, Delúbio Soares, Sílvio Pereira, e José Genoíno, todos dirigentes mais importantes do PT na época. Dirceu é identificado como “chefe da
quadrilha”.

Dirceu diz hoje em entrevista ao jornal Folha de S. Paulo que não vai fugir do Brasil se for decretada sua prisão. Sua condenação pelo STF parece inevitável, mas ele tem razão de não se preocupar. São mínimas as chances dele ir para a cadeia mesmo que haja a condenação. E alguém vai para a cadeia no Brasil quando seu crime envolve uma cadeia de interesses de setores poderosos da política?

Na verdade o Brasil vive há tempos a situação de refúgio de criminosos ou de pessoas condenadas em outros países. Nisso a nossa fama é internacional. Temos inclusive o caso do terrorista Cesare Battisti, defendido e acolhido aqui por Dirceu, Lula e seus companheiros para não ir para a cadeia na Itália. A fama de terra sem lei até virou chavão de filme americano. Sempre tem um mafioso ou qualquer outro tipo de criminoso em filmes ou séries de TV que planeja sua fuga para a impunidade garantida nessa terra tropical.

A situação é explorada até em histórias em quadrinhos. O desenho da imagem é de uma ótima série de quadrinhos criada pelo desenhista Jordi Bernet e o roteirista Antonio Segura. Os dois são espanhóis. A Espanha tem ainda hoje um bom mercado de história em quadrinhos, com excelentes desenhistas. No país criou-se até esta indispensável parceria entre desenhista e roteirista, sendo Segura um dos mais criativos. Algumas de suas histórias se nivelam por cima com grandes filmes de aventura. Infelizmente, Segura morreu em janeiro deste ano, mas Bernet continua em forma. Tem um desenho simplificado, de alto poder de envolvimento do leitor.

O quadro destacado na imagem é de Kraken, série que se passa nos esgotos de uma grande cidade, onde vive um ser monstruoso que jamais aparece. E nem precisa, como sabe qualquer um que viva numa cidade com seus Krakens. O esgoto é patrulhado por um grupo de militares comandado pelo tenente Dante. Claro que o nome não é por acaso. O criminoso que planeja fugir para o Brasil é um embaixador envolvido com tráfico de drogas que forja o próprio sequestro. No final, o tenente resolve o problema de forma, digamos assim, pragmática. Ele elimina os bandidos todos e sabe que o embaixador pode ficar livre usando seus laços políticos. Então dá um tiro mortal no embaixador, que já começava com ironias. Desse problema pelo menos o tenente Dante livrou o Brasil.
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POR José Pires
 


— Então o Brasil tem que fugir do José Dirceu...

domingo, 16 de setembro de 2012

O banco dos mensaleiros


O mensalão foi muito mais do que um simples suborno de deputados do Congresso Nacional. O esquema articulado no início do primeiro mandato de Lula por altas lideranças do PT foi um crime contra a democracia brasileira. Para mim sempre foi óbvio que Lula, como presidente, tomou conhecimento de tudo. Era o chefe de todos os implicados na sujeira. Só pode tê-los comandado também na articulação da trama.

No inquérito do mensalão, o então procurador-geral da República, Antonio Fernando de Souza é muito claro sobre o que pretendia a cúpula petista, na época composta por José Dirceu, Delúbio Soares, Sílvio Pereira e José Genoíno. A compra do apoio dos deputados para o governo tinha como objetivo a perpetuação do PT no poder.

Os crimes levantados pelo procurador-geral da República já eram de arrepiar os cabelos, mas o espanto vai aumentando cada vez mais com o que vem sendo descoberto depois do início do julgamento pelo Supremo Tribunal Federal.

Além da matéria que mostra a responsabilidade de Lula no mensalão, a Veja desta semana traz uma entrevista com Lucas da Silva Roque, que foi superintendente do Banco Rural em Brasília. E ali temos uma outra informação chocante sobre a ousadia do bando que pretendia tomar de assalto a República. O ex-superintendete revela que havia um plano do grupo do mensalão de montar um banco popular que juntaria o Rural e o BMG com a CUT, a central sindical petista. O esquema financeiro só não foi adiante porque aconteceu a denúncia do mensalão. Com o escândalo, abortaram o plano.

A CUT participaria direcionando beneficiários do INSS para tomar empréstimos consignados na instituição que seria formada. O projeto teria capital inicial de R$ 1 bilhão. A central sindical governista foi entusiasta da criação dessa modalidade de crédito pelo presidente Lula. O empréstimo realizado por aposentados e pensionistas do INSS é uma minha de ouro da qual participam os sindicatos: no ano passado o volume de crédito foi quase R$ 30 bilhões.

Dá para imaginar o estrago para a nossa democracia se o grupo tivesse concretizado o plano do banco popular. Além do domínio político do Congresso, a canalha contaria com muito dinheiro para o financiamento.de seus planos. Além, é claro, das fortunas que teriam certamente separado para o enriquecimento pessoal de cada um.
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POR José Pires