sexta-feira, 6 de outubro de 2023

E o Nobel da Paz saiu para Narges Mohammadi, da oposição aos parceiros de Lula no Irã

Extra, extra, extra: Lula não ganhou o Prêmio Nobel da Paz! Esta deveria ser a chamada, nesta sexta-feira, em publicações que facilitam bastante para o petista nas suas armações para manter-se na mídia como alguém altamente prestigiado e de grande poder de articulação internacional. Parece que, se for o Lula, qualquer bobajada é aceita como se ele fosse um inimputável. Passamos os últimos meses tendo que ver esta lorota rasteira de propaganda ser tratada como se fosse algo sério, em alguns casos com o assunto colocado como parte de uma grande capacidade estratégica de Lula.


A premiação do Nobel foi exatamente no sentido contrário do que o chefão petista pensa de política internacional ou de paz, indo contra sua posição histórica de apoio a governos que desrespeitam os direitos humanos, com especial apreço pelo Irã, o que faz tempo que me parece suspeito. O Prêmio Nobel da Paz de 2023 foi concedido à iraniana Narges Mohammadi, engenheira e ativista política de 51 anos. Ela ganhou o prêmio pela sua luta pelos direitos das mulheres no Irã. É uma brava combatente pela democracia, em um país onde isso exige coragem de fato.


Essa notícia deve aumentar o ressentimento de Lula. E claro que, para o nosso alívio, acaba com essa conversa fiada de ele ganhar o prêmio. O petista tem uma ligação antiga com o regime teocrático islâmico do Irã, uma ditadura que pela base doutrinária religiosa tem um foco especial na opressão às mulheres. Mesmo nas piores fases da repressão do regime dos aiatolás, Lula tinha uma palavra de apoio aos aiatolás e fazia restrições à oposição democrática do país, até fazendo gozação sobre pessoas que eram presas e até mortas por se opor a uma ditadura.


Ficou famosa internacionalmente uma declaração sua, feita no seu segundo mandato, em 2009, quando seu governo estreitou relações com o Irã. Na época, ele tinha um grude especial com Mahmoud Ahmadinejad, eleito presidente com fraude. Enquanto a oposição iraniana era massacrada por forças policiais e de milícias governistas nas manifestações de rua contra a eleição roubada, sofrendo mortes e prisões, Lula comparou os manifestantes a uma torcida de futebol perdedora. Isso é “apenas como uma coisa entre flamenguistas e vascaínos”, ele disse.


Pois agora a valorosa oposição foi honrada com o prêmio. Este Nobel da Paz será um incômodo para os petistas. A pauta é difícil para a esquerda engolir. A retórica antiocidental de Lula tomou na cara. Neste sábado, a Fundação Nobel retirou o convite feito aos representantes da Rússia, Belarus e Irã para assistirem às cerimônias de entrega deste ano. Todo o clima político bate de frente com a política da cervejinha entre vítima e agressor, na receita de Lula que, tempos atrás, ele alegava que podia também ser uma solução para os iranianos.


Segundo os organizadores do Nobel, o prêmio foi pela luta de Narges Mohammadi pelos direitos das mulheres no Irã contra a “sistemática descriminação e opressão do regime iraniano”. Isso levanta um interessante questionamento direto a Lula, obrigatório do ponto de vista jornalístico, embora eu não acredite que seja feito — mesmo por mulheres, que atualmente parece que são maioria na profissão. As de esquerda não tocarão no assunto, afinal o relativismo faz esse pessoal defender que espancar e levar para a prisão por motivos alegadamente religiosos uma mulher — e até matá-la, como aconteceu no Irã — é um traço cultural que deve ser respeitado.


De qualquer modo, a relação do Nobel da Paz deste ano com a luta contra a opressão no Irã marcará um pouco mais a imagem de Lula no plano internacional, em razão da sua ligação com a ditadura dos aiatolás, sempre usando de forma hipócrita o conceito de autodeterminação dos povos, que na sua lógica torta cria uma equivalência entre invasor e país agredido, como ele já afirmou, referindo-se à guerra da Rússia contra a Ucrânia. 


Por sinal, a perseguição cruel do regime islâmico iraniano a Narges Mohammadi tem até uma coincidência curiosa para o PT: ela já foi presa 13 vezes no Irã e condenada a 31 anos. Nesses anos todos, a esquerda brasileira fala pouco, quase nada mesmo, desse assunto. Tampouco criticaram os absurdos que seu chefe diz. Só alguém muito cruel pode fazer piada com torcida de futebol sobre o que acontece no Irã, desde que os aiatolás subiram ao poder. 


Ali temos uma ditadura inclemente. As lembranças da ativista são terríveis, a partir da revolução islâmica de 1979, quando os aiatolás tomaram o poder. De uma família envolvida com política, um tio ativista e dois primos de Mohammadi foram presos. Ainda criança, todas as semanas ela ia para visitas à prisão com seu irmão e sua mãe, para ouvir numa televisão os nomes de prisioneiros executados. Numa tarde, o apresentador disse o nome do seu primo.


Mohammadi tem dois filhos gêmeos de 16 anos, Ali e Kiana. A última vez que ela esteve presencialmente com o filho e a filha foi há oito anos. Os dois vivem com o marido da ativista, Taghi Rahmani, 63 anos, também escritor e ativista que teve que fugir com as crianças para a França depois de ter ficado preso por 14 anos no Irã. Em 24 anos de casamento, apenas cinco ou seis foram de vida em comum com o marido.


De maio a outubro de 2020, Mohammadi esteve presa por acusações de ter "formado e liderado um grupo ilegal". O grupo defendia a abolição da pena de morte no país. Em maio de 2021 foi novamente condenada, desta vez a 80 chicotadas e 30 meses de detenção. A acusação: "propaganda contra o sistema" e "rebelião" contra a autoridade prisional. Por último, em novembro de 2021 foi detida perto de Teerã. Ela apenas assistia a uma cerimônia em memória de um homem morto em uma manifestação de 2019 contra o aumento dos preços dos combustíveis. Em janeiro do ano passado, a Prêmio Nobel foi condenada a mais oito anos de prisão e a 70 chicotadas.


As prisões iranianas são muito duras, especialmente para oposicionistas políticos, sem o respeito a certos direitos básicos, comuns em “democracias burguesas” ou de “europeu safade”, como costumam falar esquerdistas da nossa terra. A vida cotidiana do povo iraniano é de pressão constante. Os vigilantes oficiais do comportamento da população interpelam as pessoas, reprimindo qualquer comportamento tido como irregular, do ponto de vista político ou religioso, que no Irã é praticamente a mesma coisa.


Foi por pouca coisa que mataram Mahsa Amini, de 22 anos, em setembro do ano passado — no dia 13, vejam só! — foi exatamente depois dela ter sido presa porque havia deixado uma mecha de cabelo aparecer, saindo do hijab, véu islâmico obrigatório por lei. A pena pode chegar a 10 anos de prisão. Sua morte levou a protestos de rua contra o uso obrigatório do hijab que — olha que coisa! — no Brasil, entre a esquerda, defendem como um “traço cultural”.


Prender uma mulher por ela ter expressado suas opiniões também faz parte desse modelo de civilização que deve ser aceito passivamente? Esta é uma questão que Lula e seus companheiros precisam explicar. Que tipo de gente são essas militantes da esquerda brasileira, que aceitam sem um pio a liderança de um homem que apoia desse jeito a opressão contra as mulheres?


Entre as mulheres do Irã a opinião é de que a liberdade de escolha é que deve imperar. Elas também não aceitam o conceito absurdo de que não passa de uma questão de culturas diferentes. Pode acontecer de uma mecha de cabelo ser a diferença entre ser feliz ou não. A morte de Mahsa Amini acendeu no espírito das mulheres uma capacidade de luta e a coragem de queimar hijabs em manifestações de ruas e soltar os próprios cabelos, pois nem isso é permitido pela teocracia islâmica.


Nas cadeias, as mulheres que não querem se submeter às imposições do regime sofrem abusos, “espancadas e machucadas, com os ossos quebrados”, como escreveu a Prêmio Nobel em um artigo publicado no mês passado no New York Times. No texto, ela conta que conheceu muitas prisioneiras que foram abusadas sexualmente. Disse também que nada quebra o anseio de liberdade que o mulherio revigorou no Irã, depois de mais de 40 anos de uma das piores ditaduras do mundo. Da prisão, ela sintetizou a energia que emanou das manifestações femininas contra o véu imposto por um regime de força absolutamente cruel e desastroso para a vida dos iranianos: “O governo não compreende que quanto mais de nós eles prendem, mais fortes nos tornamos”.

. . . . . . . . . . . . . . .

Por José Pires

sexta-feira, 29 de setembro de 2023

Janja, a cara-metade de Lula invade a vaga de Geraldo Alckmin

O presidente Lula tem uma longa fama de ser um chefe implacável na humilhação de seus aliados de governo, mas o que ele fez com o vice Geraldo Alckmin nesta semana foi tão aviltante que até levanta a suspeita de que a relação dos dois não anda bem. Quando está no poder, o petista trata os comandados do mesmo jeito que faz no seu partido, às vezes com uma brutalidade que deixa fácil de entender que é ele quem manda.


Ah, sim: Lula só humilha quem se submete aos seus caprichos, por lealdade ou necessidade, como já ocorreu no passado com companheiros históricos de jornada, como o ex-ministro Cristovam Buarque (demitido por telefone), ou na demissão recente da ex-jogadora de vôlei Ana Moser, substituída pelo deputado André Fufuca, do PP do Maranhão, numa mera troca por votos entre os mais imorais deputados no Congresso. Neste segundo caso, por exemplo, a nomeação passando por cima da ex-atleta foi uma imposição do Centrão, que o petista teve que atender sem chiar.


Neste governo, Lula também expôs publicamente Simone Tebet e Marina Silva, colocando as duas, uma contra a outra, em disputa de cargos no governo. O posto de ministra do Meio Ambiente, que por merecimento técnico e político era de Marina, foi oferecido antes para Tebet, com a evidente intenção de submeter ambas a um confronto em que ficava estabelecida sua posição de chefe absoluto. Lula tinha que impor o seu “quem manda sou eu”, embora tenha sido fundamental o apoio de cada uma delas para a vitória eleitoral contra Jair Bolsonaro, que ainda assim foi por pouco.


Nesta semana, com o vice Geraldo Alckmin a atitude de Lula teve ares de golpe. Uma tremenda injustiça, diga-se, com alguém com disposição de ajudá-lo a “voltar à cena do crime”. Antes de se submeter a uma operação cirúrgica que vai impossibilitar que ele exerça integralmente o cargo por alguns dias, Lula mandou a esposa Janja em viagem ao Rio Grande do Sul para a primeira-dama acompanhar o apoio do governo federal ao governo gaúcho na recuperação de cidades atingidas pelo ciclone extratropical.


Foi um claro abuso ao direito constitucional do ex-tucano Alckmin, que tem o direito de substituir o titular em missões desse tipo, quando o presidente está fisicamente impossibilitado. Este é mais um disparate de Lula, mas não surpreende, ainda mais com a bolivarianização quase completa do petista depois de ganhar a eleição. 


Na prática, desse jeito a entrada em cena de Janja quebra a linha sucessória. Além disso, em vez de indicar para os brasileiros uma relação de mútua confiança entre vice e titular, Lula acena exatamente o contrário: parece mais um caso da amarga inveja política do petista, que tem se manifestado bastante em situações internacionais, mas que não é incomum que aconteça nos acontecimentos por aqui, na nossa terra.


Lula estaria com temor do acolhimento político que Alckmin teria no Rio Grande do Sul, com um destaque nacional na imagem  de um político com espírito de solidariedade e sentimento humanístico? Foi isso que faltou a Lula, que demorou demais para dar uma posição plena de apoio de seu governo. O presidente não foi ao sul do país, assolado por chuvas e ventanias violentas, com o alagamento e destruição de moradias, prédios comerciais e industriais, causando também o arrasamento de plantações agrícolas e da criação de animais. O desprezo aos que sofrem lembra bastante a falta de empatia de Jair Bolsonaro.


Já chegava a 50 o número de mortes quando Lula mandou Janja para o Rio Grande do Sul em vez do processo se dar em um ritmo normal e justo, com Alckmin assumindo o cargo de presidente para cumprir a função legal que lhe cabe, na impossibilidade do titular atender a esta necessidade. Janja não chegou a passar nem o dia inteiro entre os gaúchos, além de que ela não tem capacidade técnica nem direito legal de desenvolver medidas de colaboração do governo federal para amenizar o sofrimento do povo gaúcho. Primeira-dama não é cargo público, nem tem função administrativa. Aliás, nem se sabe o que é exatamente isso.


Já a vice-presidência tem um papel constitucional muito claro. Que Lula desrespeita. Estará querendo criar sua Evita? Talvez até nisso ele experimente uma semelhança com Bolsonaro. Pode ser também que neste ponto ele tenha tomado consciência de que esteve iludido sobre a real força política de Alckmin. Já se contou muita lorota sobre a aliança que juntou Lula com Alckmin, inclusive a mais risível delas, com Lula no papel de estadista e democrata aberto ao esquecimento de antigas desavenças.


Mas a verdade é que a entrada do ex-tucano na chapa presidencial teve muito mais a ver com a retirada dele como candidato ao governo de São Paulo, para facilitar a vitória de Fernando Haddad. A falta de uma vitória no governo de São Paulo é um sério baque na auto-estima de Lula e de todo o seu partido, daí o arranjo especial no cenário político paulista, tirando do páreo além de Alckmin, outro candidato que parecia também muito forte, Márcio França, que no final perdeu até a eleição para senador.


E mesmo Alckmin não tinha esse poder decisório no voto dos paulistas, que a derrota do candidato de Lula demonstrou. O preço dessa aliança estadual acabou ficando caro, com o agravante de ter faltando o benefício que viria em troca, o que aumenta o desconforto do petista com seu vice. O esforço agora é o de não abrir espaço para uma exposição pública positiva de Alckmin, ainda mais com a dificuldade do chefão petista em conquistar simpatia fora do seu círculo político e eleitoral, o chamado eleitor lulopetista, que comprovadamente não dá segurança para derrotar nem adversários asquerosos como o presidente anterior.

. . . . . . . . . . . . . . .

Por José Pires

sexta-feira, 22 de setembro de 2023

Volodymyr Zelensky, o brilho que ofusca a projeção internacional de Lula

O presidente Lula demorou para ter um encontro com Volodymyr Zelensky, presidente da Ucrânia, mas enfim apareceu ao lado dele. Não teve como fugir ao ao compromisso, afinal cumpria o protocolo histórico, como presidente brasileiro, de abrir a 77.ª Assembleia-Geral da ONU. A cara amarrada não se devia apenas ao desconforto da pose com um estadista que faz sombra ao papel de alta relevância que Lula pretendia ter internacionalmente. Aconteça o que for nesta agressão da Rússia ao seu país, Zelensky já é um dos grandes homens deste século. Já está inscrito na história mundial como governante que enfrenta com rara coragem a violência autoritária de um país muito mais poderoso em vários aspectos, até armas nucleares.


A cara amarrada é o estado natural de Lula, desde que tomou posse, além do estilo tosco de falar o tempo todo como se estivesse pronto pra sair no braço com alguém. Foi assim até no discurso inaugural da sessão da ONU. Por que falar desse jeito, com tanta irritação? É o vício do palanque, da técnica manjada de superdimensionar adversários. É também uma dificuldade de reconhecer que o microfone é uma invenção para que não seja preciso acabar com as cordas vocais, que é o que ocorre com o gogó do chefão petista. Não é uma praga, mas é um espanto que Lula ainda tenha alguma capacidade vocal.


A má-vontade de Lula na recepção a Zelensky contrasta com a atitude de outras personalidades que estiveram na ONU, a começar pelo presidente americano Joe Biden — que depois recebeu em Washington o presidente ucraniano, que estava acompanhado da mulher, Olena Zelenska. Estava presente a primeira-dama Jill Biden, que nesta visita não estava indisposta, como aconteceu quando Lula e Janja apareceram na Casa Branca. O casal ucraniano esteve também no Canadá, com o primeiro-ministro Justin Trudeau.


É visível o entusiasmo das pessoas que recebem o presidente da Ucrânia, personalidades das mais diversas, representantes de missões diplomáticas, chefes de Governo e de Estado, claro que como demonstração de apoio e compromisso com alguém que enfrenta bravamente uma guerra de agressão, cometida, além de tudo, com a crueldade de bombardear premeditadamente a população civil para tentar vencer impondo o terror a inocentes.


Acompanho Zelensky e sua esposa no Instagram. Sigo também fotógrafos que cobrem a agressão russa. É de chorar o que se vê todos os dias. A Rússia faz uma guerra terrorista, genocida, até mesmo com os sequestro de crianças em território ucraniano, milhares delas, para “russificá-las” com educação forçada. Esta política étnica racista e imperialista vem dos tempos do czarismo, foi reforçada depois com o comunismo e segue até agora com Putin.


O discurso de Zelensky na Assembleia-Geral da ONU foi aplaudido de pé na quarta-feira por dezenas de delegações internacionais. Foi clara a manifestação coletiva de apoio ao povo ucraniano, ressaltada inclusive pelo comportamento da delegação russa, que não se levantou, nem aplaudiu o discurso. Foi a primeira vez, desde o começo da guerra com a invasão feita pela Rússia em fevereiro, que Zelensky se dirigiu aos líderes mundiais na ONU. Era também a chance de Lula ser o protagonista no palco da ONU.


Esta foi uma coincidência que obviamente deve ter desagradado o petista. Do ponto de vista internacional a pauta foi de Zelensky. Este é um ponto essencial na má-vontade de Lula com o presidente da Ucrânia. Podem existir também outras obrigações, talvez haja alguma dívida histórica ou mesmo recente que explique a submissão abjeta e explícita a Vladimir Putin, mas isso fica apenas no terreno de suspeitas. A inveja ressentida a Zelensky, no entanto, é certeza absoluta. Não seria o megalomaníaco Lula, acostumado a atuar incansavelmente para derrubar quem pode atrair mais atenção do que ele ou mesmo na mesma intensidade, que iria aceitar o fantástico brilho político do presidente ucraniano.


E não é a primeira vez que Lula tem que enfrentar uma situação em que surge uma figura política que ofusca sua imagem, exatamente quando parecia que ele se projetaria internacionalmente. Quem não se lembra quando Barack Obama, durante um almoço de líderes do G-20, disse de forma brincalhona que Lula “é o cara”? Foi em abril de 2009. A cena reservada foi captada de longe por jornalistas e depois vazada na internet. Mas a intimidade entre Lula e Obama não foi adiante. A inveja do brasileiro não deixou.


Com a eleição de Obama, em novembro do ano anterior, não havia espaço na mídia para ninguém mais que o primeiro presidente negro dos Estados Unidos. Como é que Lula iria gostar de um cenário internacional assim? Além disso, o perfil liberal de Obama também atrapalhava muito o prestígio do petista na América Latina e claro que também no Brasil, onde é essencial exibir um discurso anti-americano, não só para faturar votos internamente com uma coragem fácil de ostentar, como também para colher apoios esquerdistas na região e evitar o enfrentamento de fato dos problemas de cada lugar.


Nessa época, Lula estava no penúltimo ano de seu segundo mandato, muito encalacrado com a corrupção do mensalão. Internacionalmente havia dissipado o prestígio da sua primeira eleição. Acabou fazendo sua sucessora. Voltou depois ao poder, agora no ano passado — com uma variedade de maquinações e articulações de interesses a meu ver moralmente condenáveis. No entanto, não apagou a imagem de chefe político corrupto, de república bananeira, uma fama que fica ainda mais marcada em razão das parcerias políticas com o que há de pior na política da América Latina, além dos apegos a ditadores de outros continentes.


Neste ano, é certo que Lula exagerou bastante em anacronismos, na sua dificuldade de perceber como o mundo mudou. Parece um presidente bolivariano, com o agravante da imagem de presidente submisso à China e à Rússia de Vladimir Putin. O desgaste é antigo. A imagem que ficou pode ser observada no último livro de Obama, de 2020, memórias que incluem os anos em que esteve na Casa Branca. Duvido que Lula tenha lido, mas deve saber da breve citação ao seu nome. Breve e esclarecedora.


Vamos a ela. Obama descreve resumidamente o brasileiro como um “ex-líder sindical grisalho e cativante, com uma passagem pela prisão por protestar contra o governo militar, e eleito em 2002, tinha iniciado uma série de reformas pragmáticas que fizeram as taxas de crescimento do Brasil dispararem, ampliando sua classe média e assegurando moradia e educação para milhões de cidadãos mais pobres”. O ex-presidente americano fecha com o seguinte: “Constava também que tinha os escrúpulos de um chefão do Tammany Hall, e circulavam boatos de clientelismo governamental, negócios por baixo do pano e propinas na casa dos bilhões”.


“Tammany Hall” é uma relação feita de Lula com uma lembrança histórica muito pejorativa de um grupo que que dominou a política da cidade de Nova Iorque entre a segunda metade do século 19 e o início do século 20, que nos Estados Unidos é a imagem da mais baixa corrupção. Não se deve ter dúvida de que Obama ponderou bastante sobre a publicação em livro desta analogia condenatória. Para isso não deve ter faltado relatórios e documentação demonstrando o que ocorreu nos governos de Lula, do mensalão ao petrolão. Talvez Obama saiba até sobre coisas que ainda desconhecemos. Vale lembrar que a Odebrecht teve que pagar multas bilionárias por condenações na justiça americana.


Esse tipo de material chega nas mãos de políticos em cargos importantes de vários países. Do mesmo modo que chegam transcrições do que Lula e outros governantes falam sobre temas do interesse internacional. Já escrevi aqui que políticos estrangeiros em posição de destaque em seus países devem ficar surpresos com as platitudes de propaganda de Lula nas suas falas e devem rir das tantas asneiras e propostas sem nenhuma sustentação teórica ou mesmo prática na realidade.


No ponto em que estamos, esta é a imagem internacional de Lula. Claro que vai haver sempre uma relativa contemporização com os despropósitos do petista, afinal nos outros países, em muitos deles, não se mistura temperamento e melindres pessoais com o interesse nacional. Eles devem dar boas risadas das asneiras e depois partem para os negócios e a realpolitik. Fica feio para o Lula. Ele tinha que consertar os estragos na sua imagem, que de fato, está no nível do escrúpulo de “um chefão do Tammany Hall”, como escreveu Obama.


Na idade em que Lula está pode ser até desesperador a avaliação da diferença na ampulheta entre a areia da parte de cima e a de baixo. A concertação de interesses — para mim, na maioria escusos — permitiu sua eleição mais uma vez, criando uma abertura para uma guaribada na imagem, talvez até com a possibilidade de deixar para trás tanto lamaçal, ao menos na opinião pública mais ampla e com menos acesso ao que é real, aquela que não recebe relatórios reservados contando tudo que aconteceu.


De qualquer modo, esta reposição da marca política não seria uma tarefa fácil, demandando muita organização e criatividade, com pautas relevantes e conclusivas, de realizações de fato e não o mero lero-lero de palanque, que é muito mais difícil de emplacar internacionalmente do que com plateias locais, engabeladas pela propaganda paga e a imprensa chapa-branca idem. É sempre uma trabalheira retrabalhar no plano mundial uma imagem tão arruinada. E claro que fica mais complicado se exatamente nessa hora aparece um Volodymyr Zelensky. É por isso que Lula anda com a cara tão amarrada.

. . . . . . . . . . . . . . .

Por José Pires

sexta-feira, 15 de setembro de 2023

Lula, o fiel aliado de Vladimir Putin e suas mensagens de apreço ao agressor da Ucrânia

Na última terça-feira, Vladimir Putin disse uma frase que pode ser útil ao presidente Lula, na sua intensa tarefa de sair pelo mundo papagueando a propaganda do governo russo e da China, como afirmou o próprio governo americano. Foi o porta-voz do Conselho de Segurança Nacional dos Estados Unidos, John Kirby, que apontou para o presidente brasileiro como apoiador da Rússia na agressão à Ucrânia, uma posição lamentável nesta disputa fundamental da geopolítica internacional. 


Durante um foro econômico na Rússia, o presidente russo falou sobre a agressão militar à Ucrânia, afirmando que não negociará com Kiev enquanto as forças ucranianas mantiverem a luta. “Como podemos deter as hostilidades se a outra parte está fazendo uma contra ofensiva?”, disse Putin. É a lógica torta do invasor, queixando-se da reação do país agredido. Lula pode sair por aí papagueando mais essa justificativa de agressão, evidentemente até que a pendenga seja resolvida numa conversa regada com cerveja brasileira, na brilhante estratégia diplomática do petista.


O presidente brasileiro não poderia ter voltado da Cúpula de Líderes do G-20, em Nova Délhi, na Índia, sem trazer o rastro de mais uma asneira internacional, prejudicando mais um tanto o Brasil. Lula disse que, com ele como presidente, Putin não seria preso no Brasil. Ele não permitiria o cumprimento da ordem de prisão do Tribunal Penal Internacional (TPI) por crime de guerra, caso Putin venha para a reunião do G-20, marcada para novembro do ano que vem.


Foi uma bravata com mais de um ano pela frente, tão difícil de realizar que no mesmo dia o próprio Lula deve ter sido alertado por quem conhece de fato o assunto. Daí, voltou atrás, se fazendo de sonso como de costume. Ele chegou a alegar que desconhecia a existência do Tribunal Penal Internacional, o que é uma confissão de ignorância que na prática o desqualifica para a função de presidente do G-20, que assumiu nesta viagem. É até engraçado, pois numa empresa privada a escandalosa revelação de incapacidade técnica poderia resultar na sua demissão.


Mas por que tanta insistência em demonstrar publicamente a fidelidade ao autocrata russo? É muito amor. No mês passado, durante encontro do Brics, na África do Sul, Lula havia lamentado a ausência de Putin, impedido de comparecer por causa do mandado de prisão do TPI. Ainda se fazendo de sonso, ele disse que gostaria de discutir “pessoalmente com o presidente Putin” temas como “a paz e a luta contra a desigualdade”. De fato, são discussões fundamentais hoje em dia, mas existem outros temas, como agressão militar, a falta de democracia, massacres étnicos, genocídio e outros debates no âmbito de instituições como o TPI — uma das acusações durante a invasão à Ucrânia a Putin é o de sequestro de crianças ucranianas, milhares delas, com o plano do governo de “russificá-las”.


Olha com quem Lula procura relação preferencial, tendo do outro lado do braço a China. Parece que a meta do petista é situar o Brasil no bloco de governos comandados por autocratas, alinhado de modo submisso a governantes que atuam todo o tempo para desestabilizar o mundo, fortalecendo a corrupção e o crime nos países onde exercem influência. Lula quer o Brasil confrontando as democracias ocidentais. É um vício. Até no plano internacional, o governante do mensalão e do petrolão quer um “Centrão” para chamar de seu. Parece uma tara este gosto pessoal de — lá fora e aqui dentro — buscar “governabilidade” com ladrões e repressores de seus próprios povos.


A parceria com ditaduras é confortável para Lula, ele que já foi “amigo e irmão” do ditador líbio Muammar Kadhafi e apoiador da teocracia do Irã, chapinha de ditadores africanos, comunistas ou não, além de ter participado a vida toda do beija-mão frequente ao ditador Fidel Castro, juntando-se em Cuba à companheiros de vassalagem ideológica como Evo Morales, Daniel Ortega, grupo de que participava, um pouco antes, o falecido Hugo Chávez, substituído depois por Nicolás Maduro.


Tem gosto pra tudo. Lula se sente muito bem com governantes antidemocráticos. Essa proximidade deve satisfazer o seu forte sentimento anti-americano, ainda mais agora que ele ressurge com intenso espírito bolivarianista, capaz até de atuar como conselheiro de narrativas para o ditador Maduro. Mas como fica nisso o nosso Brasil? É esta pergunta que não vem sendo feita com o rigor merecido, enquanto o chefão petista vai colocando o nosso país numa barca perigosa, muito mais ainda porque atualmente, nas relações internacionais deve ser considerada a projeção de um mundo cada vez mais carente de recursos naturais, com necessidade de gestão cuidados de alimentos, energia, com o esgotamento de terras, tudo isso em conjunto com o grave problema do aquecimento global, que pode levar a disputas de territórios. A própria sobrevivência de alguns povos ou mesmo a ambição imperialista vão trazer muitas complicações.


Estes acenos à alianças totalmente equivocadas demonstra como um político salafrário pode hipotecar o futuro de gerações e talvez complicar irremediavelmente negociações cruciais que podem vir a ser necessárias proximamente. É preciso ficar alerta com o que Lula e seu partido estão fazendo com o Brasil. Esta instigante questão geopolítica pode ser resumida numa pergunta retórica: se houver um embate mais sério em torno da Amazônia por causa de agravamento climático, sua preferência seria resolver a questão no nível de sistemas políticos e de visão do direito internacional das democracias ocidentais ou de governos como os da Rússia e da China?


Nem é preciso ter um vasto conhecimento de política internacional — podendo até ser ignorante a ponto de desconhecer o Tribunal Penal Internacional — para ter a consciência de que, mais do que nunca, na atualidade é necessário fortalecer organizações que exigem responsabilidade e respeito democrático mútuo entre as nações, especialmente no que toca ao território geográfico de cada país, que é algo que tipos como Putin não respeitam.


Qual é o governante de um país de baixo poder econômico e de estrutura militar precária que, no passo em que anda o mundo, seria idiota de levantar uma pauta que atende ao interesse de diminuir o poder de investigação e penalização internacional sobre autocratas invasores de terras estrangeiras, acusados de desrespeito aos direitos humanos, genocídio e crimes de guerra? Tinha que ser o Lula, claro.

. . . . . . . . . . . . . . .

Por José Pires

sexta-feira, 8 de setembro de 2023

Lula e Janja e suas viagens para fora da realidade

E lá foi o Lula bater perna no exterior. Eu já disse aqui que o chefão petista vive exclusivamente em um mundo próprio, uma bolha, como se diz hoje em dia, onde não se dá importância ao que não é do interesse exclusivo dele. E aí está a Janja que não me deixa mentir. A primeira-dama está no mesmo tom. Logo que o casal apartado da realidade chegou à Índia nesta sexta-feira, ela postou nas redes sociais um vídeo comemorando. Na gravação, gargalhando de alegria, ela grita para a câmera: “Me segura, que eu já vou sair dançando”.


O vídeo foi retirado pouco depois da postagem, porque começaram a aparecer comentários condenando a atitude da primeira-dama, fazendo referência ao descaramento de um negócio desses quando toda uma região do Brasil sofre os efeitos de um terrível desastre natural.


A eufórica desavisada publicou essa coisa desrespeitosa exatamente em meio às críticas que Lula vem recebendo por não ter ido ao sul do país acompanhar o atendimento às vítimas do ciclone extratropical, que destruiu estradas e pontes, acabou com residências e locais de trabalho em várias cidades, desabrigou milhares de pessoas e já matou mais de quarenta pessoas.


Coitada da deslumbrada primeira-dama, ela só queria lacrar para ajudar sua cara-metade. Janja não larga o pé do seu coroa. Até agora não perdeu nenhuma viagem ao exterior. Engraçado que isso me trouxe a lembrança de uma época em que Lula tinha uma passageira clandestina nos voos da comitiva presidencial. A história acabou vazando depois, até com o nome da acompanhante que a FAB não registrava entre os passageiros.


Era uma presença assídua nas viagens de Lula ao exterior. Onde andará a Rose? Ela viajou ao lado de Lula para 24 países entre os anos de 2003 e 2010. Até para Cuba ela foi, sempre recebendo o pagamento de diárias em cada viagem. Em 2008, foram pagos 9.500 reais. Cito a quantia sem correção monetária. Neste ano ela acompanhou Lula a Gana, Peru, Espanha, Portugal, El Salvador e Cuba. Em 2010, as diárias chegaram a 15.000 reais. Sete países foram visitados: Cuba, México, El Salvador, Rússia, Portugal, Moçambique e Coréia do Sul. A então primeira-dama Marisa permanecia no Brasil, talvez em Atibaia com os netos, naquele sítio que não é do Lula.


As viagens de Rose — Rosemary Nóvoa Noronha, no oficial — foram descobertas a partir de um levantamento feito pela ONG Contas Abertas, depois de e-mails delas terem sido interceptados pela Polícia Federal na Operação Porto Seguro, de novembro de 2012. A operação a derrubou de um cargo de nomeação direta de Lula, feita em 2005, como chefe de gabinete da Presidência da República em São Paulo. Escutas telefônicas da PF haviam flagrado Rose usando o nome de Lula para fazer tráfico de influência no escritório da Presidência na capital paulista.


Em setembro de 2013 a Controladoria-Geral da União (CGU) decidiu demiti-la do serviço público, o que impede que ela volte a ocupar um cargo público federal. E desde então, Rose evaporou. Sumiu. Nunca mais foi vista viajando em comitiva oficial do governo brasileiro.


Mas isso são coisas do passado. Ou narrativas, como se diz agora, que podem até ser refeitas, mudando totalmente os papéis, como o próprio Lula disse em público — ou confessou, para definir melhor seu ato falho — contando aos brasileiros que ele chegou a dar esse conselho ao ditador venezuelano Nicolás Maduro, talvez para que o autocrata criminoso dê um bom retoque no que andou fazendo com o povo da Venezuela, recontando melhor as prisões e torturas ou os tiros mortais em jovens manifestantes desferidos por milicianos governistas.


Na visão de Lula, a História, assim com agá maiúsculo, é um processo manipulável, conforme a ocasião e as alianças que podem ser feitas com as mais diferentes áreas de poder, quando ocorre uma sintonia entre os interesses em acabar com esse anacronismo de querer prender corruptos. Como sempre andou rodeado de esquerdistas, nesses anos todos Lula andou pegando de ouvido aquele conceito da história repetida como uma farsa. Claro que ele não deu bola alguma para o fato de que aquilo era uma crítica. Como diz a patroa, "me segura, que eu já vou sair dançando".

. . . . . . . . . . . . . . .

Por José Pires

quarta-feira, 6 de setembro de 2023

Lula e as responsabilidades de decisões que ele não quer que os brasileiros conheçam

Lula parte para o exterior nesta quinta-feira e o que pode-se dizer de mais esta viagem é que, em vez de soltar por aqui suas asneiras, ele vai outra vez expor idiotices internacionalmente. Quando voltar, certamente trará com ele mais algumas encrencas para o nosso país. Em poucos meses de governo, Lula já marcou o Brasil internacionalmente como aliado de regimes comandados com mão de ferro por autocratas como Vladimir Putin, Xi Jinping e más companhias mais antigas, como Daniel Ortega, Nicolás Maduro e outros bandidos investidos de poder.


Talvez para compensar sua partida, Lula soltou nesta terça-feira uma declaração da pesada. O petista disse que, por ele, os brasileiros não deveriam saber os votos dos ministros do STF. Ele justificou sua proposta como uma forma de controlar a “animosidade” popular contra a instituição. É óbvio que, nesta visão, a população deveria ficar distante das decisões dos outros poderes.

 

Na fala de botequim de Lula fica melhor explicada sua concepção de fortalecimento das instituições. Ele disse o seguinte: ““Para a gente não criar animosidade, eu acho que era preciso começar a pensar se não era o jeito de a gente começar a mudar o que está acontecendo no Brasil. Do jeito que vai, daqui a pouco um ministro da Suprema Corte não pode mais sair na rua, não pode mais passear com a sua família, porque tem um cara que não gostou de uma decisão dele”.


Na verdade, o que Lula está propondo é um golpe contra a transparência das instituições. Na minha opinião foi um ato falho de um político que além de desonesto sempre teve ambições autoritárias. No ano passado, em razão de termos no poder um presidente estúpido como Jair Bolsonaro, andaram falando de que no fundo o petista seria um democrata. Pois isso ele nunca foi. O que me dizem do “mensalão”? Este esquema de suborno de parlamentares no seu primeiro governo foi não só compra de votos. Era também um cala-boca no Congresso Nacional para o PT ir aos poucos impondo um governo todo poderoso e nunca mais saírem do poder.


A ideia de um STF em que as decisões e seus autores permaneçam em segredo faz parte desse projeto autoritário de poder, que Lula nunca deixou para trás e pelo qual ficou mais animado, por causa do jeito que conseguiu sair da cadeia e ainda voltar à cena do crime, como bem falou seu vice Geraldo Alckmin.


Agora, já na idade avançada, em que o tempo acossa os seres humanos, o chefão petista está mais apressado A ansiedade pode explicar o ato falho. Medidas de anulação de qualquer tipo de transparência são fundamentais para seu delírio de grandeza e algumas dessas decisões antidemocráticas vêm sendo colocadas em práticas, a começar, é claro, pelo clima de intimidação contra a discussão crítica entre a opinião pública.


Um STF ditando regras em segredo teria efeitos importantes para os planos de Lula, com a anulação de condenações de aliados e o tratamento amigável de processos do interesse dele e de seus cupinchas, sendo também muito útil para condenar adversários que ele e seu partido não conseguem comprar. Não que isso já não esteja ocorrendo. O STF já não se envergonha de liberar criminosos, mesmo os do crime organizado, que por sinal está cada vez mais parelho com a bandidagem de colarinho branco.


No entanto, o ato falho da proposta de um STF que funcione como um clube secreto acabou tendo um efeito contrário ao que ele com certeza vinha procurando articular. A determinação constitucional de transparência do Judiciário

acabou ficando fortalecida. Houve uma reação bastante forte, com quase nenhum apoio a esta ideia esdrúxula, própria de um traidor da pátria, no sentido da grande frase de Ulysses Guimarães, que disse no final da Assembleia Constituinte que “Traidor da Constituição é traidor da pátria”.


Uma boa referência da má intenção de Lula é uma figura destacada nos últimos tempos, que defendeu de imediato o que ele falou. Para o ministro da Justiça, Flávio Dino,colocar sob sigilo os votos de ministros do STF é um “debate válido” e disse que “em algum momento esse debate vai se colocar”. Isso é o que se chama “lugar de fala”: Dino passou a vida no PCdoB, partido que chegou até a fazer guerrilha para presentear o Brasil com um regime espelhado no comunismo chinês.


Para não perder a ocasião, Dino aproveitou para mentir sobre o tema. O ministro disse que na Suprema Corte dos Estados Unidos a decisão também é secreta. Na verdade, não é assim: o nome dos ministros e a posição de cada um é revelada em qualquer decisão.


Para mim, o ato falho de Lula é apenas a exposição pública do que pode estar sendo tramado desde a conquista deste terceiro mandato, com a promessa da defesa da democracia e contra o fascismo, o genocídio e outras ameaças terríveis. Alguém duvida que este plano contra a transparência e a democracia estava em andamento e que Lula apenas se adiantou bestamente na questão?


Não é a primeira vez que Lula apronta algo parecido, como se estivesse alienado do que passa à sua volta. Ultimamente ele vive dando essas bolas foras, colocando em risco planos mais elaborados, como ocorreu recentemente nas suas asneiras sobre a agressão da Rússia contra a Ucrânia, que ele afirmava ser culpa dos países ocidentais e ser possível resolver com uma cervejinha.


Como ele próprio diz, estará com “um parafuso solto”? Nada disso. É apenas consequência do petista viver em um mundo próprio, onde as palavras e a relação com o próximo obedecem apenas ao objetivo de enganar as pessoas e obter ganhos na maior quantidade possível. Lula sempre fez tudo “de ouvido”, como se diz. O problema é que isso parece ter ficado mais difícil de ser feito.


Na própria live semanal em que soltou essa proposta indecente de um STF secreto, ao falar da prematura reforma de ministérios de seu governo, ele saiu-se com a velha comparação com futebol, que ele usa para qualquer assunto. Tudo bem, releve-se o universo cultural muito restrito. Mas ao que parece, até futebol é algo que ocupa sua cachola de forma superficial. 


Para encaixar a comparação entre esporte e a substituição de ministros, o petista fez uma pergunta ao âncora da live: “Você assiste futebol”? Pois o tal âncora é o jornalista Marcos Uchôa, que trabalhou na Rede Globo por mais de três décadas, onde cobriu várias copas do mundo, inclusive em que a Seleção Brasileira foi a vencedora.

. . . . . . . . . . . . . . .

Por José Pires

quinta-feira, 17 de agosto de 2023

Javier Milei: a surpresa política que deu um susto em Lula e no peronismo argentino

As burradas internacionais de Lula acabaram causando mais um prejuízo para o Brasil, desta vez com a vitória de Javier Milei, na acachapante derrota do peronismo kirchnerista na primária eleitoral das eleições deste ano na Argentina. O presidente brasileiro se envolveu diretamente na eleição, de modo até intromissivo, chegando a fazer promessas de ajuda financeira ao governo de Alberto Fernández, obviamente na tentativa de criar um cenário político favorável para os governistas nesta eleição.


Os petistas estavam preocupados com a aliança conservadora liderada por Mauricio Macri, que governou a Argentina de 2015 a 2019. Pois terão que se ver não com uma, mas duas candidaturas fortes à direita, depois do sucesso surpreendente de Milei nas primárias partidárias.


Milei, da coalizão “Liberdade Avança” recebeu 30,04% dos votos, à frente dos 28,27% de Patricia Bullrich, da “Juntos pela Mudança”, do ex-presidente Macri. A coalizão de governista de esquerda “União Pela Pátria”, do candidato Sergio Massa, ficou com 27,27%.


No sistema eleitoral da Argentina, as primárias oficializam nos partidos a indicação para concorrer à presidência da República e ao Legislativo. O voto nas primárias é obrigatório, de modo que serve como avaliação da preferência da população nas eleições gerais, marcadas para 22 de outubro. Em um segundo turno, os eleitores da oposição juntem seus votos numa derrota quase certa para o peronismo kirchnerista.


Com dois candidatos fortes de direita já consagrados pelo voto popular pode-se prever uma campanha difícil para o candidato governista, que tem como obrigação dar resposta para uma carrada de problemas muito graves, entre outras coisas pelos resultados econômicos desastrosos do governo de Alberto Fernández, o amigo do Lula que durante essas primárias oferecia ao debate uma inflação de 113%, número que tem até uma coincidência irônica com o aliado brasileiro.


A inflação impressionante é apenas um sintoma de um desastre estrutural como nunca se viu antes na Argentina, espalhando a miséria entre a população. São muito tristes as cenas que podem ser vistas nas redes sociais, de famílias inteiras passando a viver nas ruas.


Já souberam de algo parecido? Pois é. Também conhecemos de perto uma outra questão muito grave que apavora os argentinos: o avanço da criminalidade, com o domínio do narcotráfico e de milícias, que também por lá já estendem seu violento poder para a política.


A criminalidade em alta explica em parte a boa votação da candidata Patricia Bullrich, que foi ministra da Segurança no governo Macri. Ela implantou uma linha dura no combate ao crime, apoiando o rigor da polícia, além de endurecer a posição do governo em relação à imigração ilegal. 


Milei vai por este mesmo caminho, propondo tolerância zero com o crime. Mas que não se faça por isso um paralelo dele com Jair Bolsonaro, como se vê algumas pessoas fazendo na imprensa e nas redes sociais. Milei não finge que é um idiota em economia. Ele tem formação nesta área. O argentino também nada tem da característica de tiozão abestado de Bolsonaro, com as caricatas preocupações morais do ex-presidente brasileiro.


O sucesso junto aos eleitores se deve ao seu perfil de rompimento total com a política tradicional, que ele chama de “casta política”. Milei é um extremista também na economia. Ele é um “libertário”, uma linha radical da economia que tem como proposta a abolição do Estado em quase tudo na vida pública. Se for presidente, com certeza fará a esquerda ter saudades dos “bons tempos” do que chamam de neoliberalismo. Com essa linha econômica há meio-termo, não só na aplicação de medidas governamentais como também no debate político.


Foi o que ocorreu durante sua campanha na Argentina. Lula, que se abraçou literalmente com o presidente Fernández para ajudá-lo nesta eleição, pode esperar consequências disso logo mais, por aqui, nas nossas eleições municipais do ano que vem. Depois do exemplo argentino, os petistas e seus companheiros — ou camaradas — da esquerda podem ter que enfrentar uma oposição mais rigorosa no debate da economia e da gestão de governo.


Na minha opinião, este pode ser o efeito mais forte do sucesso da direita argentina. Uma transformação no método do debate político, com a consagração da consciência prática de que as políticas de esquerda devem ser tratadas de modo mais duro. Milei, por exemplo, não faz nenhuma concessão ao identitarismo e ao politicamente correto, muito menos com políticas sociais que, por décadas, o petismo vem usando desavergonhadamente com mero propósito eleitoral.


É impressionante um vídeo de Milei que foi muito compartilhado durante estas primárias, onde ele vai retirando da parede nomes de ministérios — saúde, educação desenvolvimento social, ciência e tecnologia, trabalho, emprego e assistência social, cultura, ambiente — e gritando “fora!”, enquanto joga tudo para o alto.


Esta é exatamente a visão de economia e gestão de um libertário. A ideia é a defesa da liberdade individual como um valor absoluto. Milei já foi explícito ao falar em dolarizar a economia argentina, acabando com o peso e fechando o Banco Central. Nesta visão econômica existe até mesmo a proposta de substituir a segurança do Estado por polícias privadas. Pode-se dizer que um libertário é alguém que acha um pouco moles figuras como Friedrich Hayek, Ludwig von Mises e outros grandes pensadores liberais do século XX, embora os respeitem.


Tem que se duvidar que, sendo eleito, Milei vá mesmo colocar em prática tamanha radicalidade econômica. Eu tenho muita desconfiança sobre as possibilidades técnicas dessa aplicação em uma economia arrasada, ainda mais em um país com pouco patrimônio público para colocar à venda. No entanto, já se tem a comprovação da eficiência disso como discurso, conforme os números eleitorais até agora. Podem esperar, que haverá bastante espaço para essa conversa por aqui, em nosso país, contando com o governo de Lula na desmoralização feita de forma tão absurda no papel de empresas estatais, de cargos políticos e da própria governabilidade.


A esquerda colabora bastante para que surja esse tipo de candidato “mucho loco”, que instiga delírios coletivos. Sabemos muito bem como é que esses ambientes de insanidade se abrem, a partir dos cenários de imoralidade, incompetência e criação de conflitos que são construídos por governos de esquerda. Da mesma forma que ocorreu na Argentina, vivemos por aqui este anacrônico renascimento de ideias totalmente fora de sentido, seja no aspecto econômico, geográfico, político ou mesmo do contexto da própria subsistência humana. 

. . . . . . . . . . . . . . .

Por José Pires

domingo, 30 de julho de 2023


 

sexta-feira, 28 de julho de 2023

Os sonhos de Lula com as magias de Marcio Pochmann com números no IBGE

Lula atropelou a autoridade da ministra Simone Tebet e nomeou o economista Marcio Pochmann para a presidência do IBGE. Foi uma humilhação pública para Tebet, como de hábito com Lula, que na chefia costuma ser cruel ao tratar com aliados mais fracos. Primeiro ele faz uma fritura lenta da vítima, em vazamentos e declarações maldosas, com certa ambiguidade. 


No caso de Tebet, o anúncio do nome de Pochmann veio de outro ministro — que nada faz sem o consentimento de Lula — cuja função no governo não está ligada diretamente ao IBGE. A confirmação no cargo foi dada por Paulo Pimenta, ministro da Secretaria de Comunicação. Na imprensa já aparecem várias vozes que apontam o procedimento como “um erro”, também amenizam a responsabilidade de Lula, mas na minha opinião isso tudo é de caso pensado.


Uma das melhores explicações sobre o risco de Pochmann no IBGE veio de Edmar Bacha, que tem um currículo que dá credibilidade à contestação, além de não ser uma “voz da direita”, ou “fascista”, “genocida”, como reagem atualmente os petistas no seu plano de criar um clima de intimidação. Economista respeitado, ex-presidente do órgão estatístico, Bacha é um dos formuladores do Plano Real que sustentou o governo petista até Lula resolver fazer as coisas do seu modo e estragar tudo.


Outras vozes de respeito levantaram-se contra, com um repúdio bastante forte ao novo nome no IBGE. Pochmann é apontado entre economistas como um “terraplanista econômico”, uma classificação de quem se guia por um anticientificismo grotesco e arriscado. A economista Elena Landau definiu a nomeação feita por Lula como “um dia de luto para a estatística brasileira”, afirmando que foi uma “posição partidária pura e absoluta”. 


A economista deu razões concretas para a rejeição, lembrando que foi “desastroso” o período de Pochmann à frente do Ipea. “Ele demitiu técnicos da maior qualidade, interferia nas pesquisas, por uma razão puramente ideológica”, disse Landau, questionando também sobre a garantia de que “ele não vai fazer isso no IBGE”. Ela também está blindada contra acusação de ser uma economista “de direita”. Foi a responsável pelo programa econômico de Simone Tebet à presidência e criticava o ex-ministro Paulo Guedes antes mesmo da eleição de Jair Bolsonaro.


Para sintetizar a capacidade de visão de Pochmann como economista, cabe lembrar que ele foi contra a criação do Pix, expressando sua contrariedade em outubro de 2020 com o característico antiamericanismo rastaquera da esquerda, afirmando que o Banco Central dava “mais um passo na via neocolonial”. Ora, levando em consideração o prestígio concedido a ele por Lula, não há exagero em pensar que não haveria Pix se o governo fosse do PT.


A impressão que tenho dessa nova etapa do PT no poder é que seus dirigentes não estão nem um pouco interessados em correção de rumo. A verdade é que nunca tiveram interesse numa discussão crítica sobre o que fizeram nos governos anteriores, de Lula e Dilma, que na verdade são um mesmo governo na extensão dos quatro mandatos. Faz tempo que acompanho de fora essa tigrada: seus seminários, encontros ou qualquer outra forma de debate partidário resulta apenas em aplausos ao que são.


O que dizer de um pensamento político que apoia-se no crescimento de ajuda assistencial aos mais pobres? Depois de quatro governos petistas, eles se gabam disso. Parece humor negro: quanto mais pedidos de socorro, melhor o governo. É isso? Ah, sim: as pessoas desesperadas por um prato de comida é culpa dos outros, a menos que esses “outros” apoiem o governo petista.


Não há como esperar uma produção de qualidade de um partido que não se renova, vivendo de apontar o dedo para governos anteriores, sem nenhuma consistência histórica e até fora de lógica. Com o tempo, a manipulação narrativa ficou até engraçada. O olhar para o passado fecha-se em períodos no salto do governo Temer para os de Lula, com preferência pelo primeiro mandato. Os governos de Dilma Rousseff só são vistos quando precisam usá-la como vítima de um golpe que nunca houve.


Nunca acreditei na regeneração petista, até porque o partido de Lula esteve sempre atrasado na necessidade de modernização, em debate na esquerda especialmente nessa nossa época de tantas transformações. Lula vive no passado, de braços dados com a ala ortodoxa do PT, que manda no debate interno do partido. Eles são bem bolivarianistas, com origem nos laços suspeitos com Cuba, como eu já sabia e pode-se ver na prática nas relações externas deste governo, que traz de volta as alianças com ditaduras, com a predileção do partido pela relação com governos criminosos da América Latina e de outros cantos do mundo, como se vê na estreita ligação com ditaduras da África, no apoio ao Irã dos aiatolás, a Vladimir Putin e ao governo chinês.


Para isso, é preciso ter o domínio da narrativa, como já disse Lula, em um conselho para ninguém menos que o ditador Nicolás Maduro. Elena Landau tem razão nas suas críticas. Pochmann entra no IBGE exatamente para fazer das estatísticas e números econômicos um instrumento de governo favorável ao PT.


Nisso, não há nada de novo. Desde o começo desse governo trabalham com uma estratégia de domínio da informação e da articulação política, apoiada na criação de um ambiente artificial. Isso vai contra as motivações criadas junto aos eleitores para a eleição de Lula, então o que temos agora é uma mudança de sentido na máquina de propaganda. A transformação é na narrativa e não na forma de lidar com a realidade. O interesse é pelo confronto, com a criação de ameaças que exigem um salvador, que é vocês sabem quem. O pacificador dos contrários, aquele amoroso inimigo da intolerância, imagem meramente de palanque, ah, isso ficou para trás.


Eu só estranho a atrapalhação na ordem do processo. Colocaram o pé no acelerador. A nomeação de Pochmann parece uma emergência para manobrar na área econômica, em que nada que tenha a cara do projeto petista foi apresentado. O que temos é mais do mesmo, com um peso em excesso do poder de bancadas clientelistas no Congresso, além da falta de uma interferência de qualidade da parte da bancada governista, que no geral é tão desagradável quanto os mais direitistas. Lula precisa gastar. Do modo que as coisas andam, não sobra dinheiro para isso. Então por que não resolver esta matemática  mexendo na forma de somar?


Reparem que esta nomeação, com Lula atravessando Tebet no ministério do Planejamento, desarruma a convivência que vinha sendo criada por Fernando Haddad, de razoável equilíbrio com o mercado econômico e forças políticas da sociedade civil e de partidos, colocadas à direita do PT. A decisão de Lula não foi bem recebida nem no Ministério da Fazenda e do jeito que veio apagou até a notícia positiva para o governo, que foi a elevação da nota de crédito do Brasil por parte da agência de classificação de risco Fitch.


A desmoralização direta foi de Simone Tebet, mas o tapa na cara atinge uma articulação delicada que vinha sendo feita. Neste ponto, a abertura essencial de diálogo e cooperação era dada pela participação de Simone Tebet, no Planejamento, em dupla com Haddad, na Fazenda. Tebet teve sua credibilidade esvaziada por Lula. A ministra não serve mais como intermediária para qualquer forma de diálogo fora do governo.

 

Na avaliação do que houve agora, vai estar certo quem quiser colocar nesta análise os ciúmes políticos de Lula e sua percepção do crescimento da imagem de Tebet, numa projeção eleitoral já a partir das eleições municipais do ano que vem. Que outra liderança nova com penetração política mais ampla neste ministério, nos seis meses deste governo cheio de complicações, a começar pelas asneiras retóricas do presidente? Só tem Simone Tebet. E Lula sabe muito bem disso. 


Outra razão importante para a pressa está na realidade temporal do próprio Lula. São coisas da vida. O chefão petista está numa idade em que o tempo é incluído obrigatoriamente em qualquer questão existencial ou do cotidiano, como sabe muito bem qualquer pessoa que esteja vivendo entre os cinquenta e sessenta anos. Nessa hora, autocratas costumam tentar acelerar os processos políticos. Lula tem pressa. E como ele nunca se preocupou a respeito do interesse dos outros mortais, que dane-se quem ficará por aqui.

. . . . . . . . . . . . . . .

Por José Pires