quinta-feira, 25 de junho de 2015

Na batida das patrulhas

Acho que estou mesmo ficando velho, porque venho sentindo que conceitos básicos vão ficando para trás, num desmonte moral, político e até mesmo de conhecimento prático da vida que já pareciam muito bem estabelecidos entre os brasileiros. Num antigamente que não está tão longe assim na rabeira do tempo, por exemplo, ninguém procurava dar outro significado às conversas informais que não fosse exatamente o da despretensão que permite inclusive a falação de bobagens, aceitáveis num contexto em que todos sabem qual é o sentido moral da existência de cada um que está na roda. Hoje em dia existe o perigo da desmoralização de toda a carreira de uma pessoa apenas com o uso de qualquer besteira falada num papo informal ou de um trecho de texto.
As militâncias, qualquer uma delas, costumam fazer bastante isso. Certos grupos de militantes negros, do feminismo, de trabalhadores ou de alguma dessas atividades que a esquerda inventa para evitar que se fale de seus próprios defeitos, andam sempre em busca de alguma picuinha para fazer um estrago na vida de quem eles julgam como adversário.
O aspecto mais triste dessa patrulhagem é que o resultado é sempre ruim para os segmentos sociais que esses cretinos dizem defender. Com o clima de intimidação que foi sendo criado, vimos nos últimos tempos um crescimento enorme de forças reacionárias, algumas delas baseadas em conceitos de seitas, com visão tão estreita que prejudica até o papel social das religiões. Os setores que de fato têm componentes discriminatórios e utilizam preconceitos como forma de se fortalecer politicamente e ganhar dinheiro só têm se beneficiado com a agressividade que esta militância impõem aos debates. Ocuparam um poder político que nunca se viu anteriormente, inclusive com o poder de influenciar decisivamente a proposição e mudança de leis no Congresso Nacional.
Numa ironia que não é nenhuma surpresa para quem tem experiência de vida, as agressões rotineiras desses bandos de militantes afetam apenas quem procura fazer política com bom senso, buscando extrair do debate nacional um equilíbrio de convivência e o conserto do que existe de ruim em nossa vida. É lógico que a feminista não tem a possibilidade de atingir com sua agressividade o machão. Sofrem, então, os homens de espírito aberto que elas podem alcançar com insultos. A mesma coisa ocorre com esta militância racialista que vem gradativamente criando uma divisão racial que o país nunca teve. O racista se fortalece e sofrem os brancos que não aceitam o preconceito e discriminação. É uma militância composta de gente besta, que sabe pouco até do real funcionamento do racismo. Nunca atinaram para o fato de que nos Estados Unidos a Ku-Klux-Klan tinha como meta pendurar em árvores também os brancos que contestassem seu projeto de poder.
Esse pessoal das militâncias azucrinadoras precisa conhecer um pouco mais das dificuldades de um Thomas Jefferson e de outros fundadores da república americana para estabelecer as raízes da democracia que se espalhou pelo mundo e que num país como o Brasil falta só um tantinho para ir à breca. Por aqui, falta-lhes ainda o conhecimento sobre personalidades como Joaquim Nabuco e tantos outros que buscaram fazer do Brasil uma nação decente. Podiam tentar saber também alguma coisa das lutas que tivemos entre anos 60 e 80 pelo direito das mulheres, negros, índios e também pelo direito nosso de viver sem patrulhas ideológicas.
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POR José Pires

quarta-feira, 24 de junho de 2015

Dando pau


O PT no Brasil parece vírus de computador. Ele se instala, ocupa todos os espaços e se mete em todos os seus programas, interfere nos seus trabalhos e também nas suas diversões, mas você vai convivendo com ele, apesar da chateação que vai aumentando e prejudicando gradativamente tudo o que você faz. Porém, mesmo com a atrapalhação você acaba se adaptando à presença do vírus, às vezes usando de algum jeitinho para contornar os problemas que aparecem, noutras situações procurando ignorar sua presença incômoda e com o tempo vai aceitando como normal a má qualidade generalizada que ele trouxe para a sua vida. Porém, chega um momento que é preciso tomar uma decisão: se o vírus não for eliminado, você perde o computador.
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POR José Pires

A vendedora de ilusões

Com o próprio PT atacando o governo Dilma, agora ficou muito claro que a candidata do Lula vendeu ilusões na campanha passada e obviamente não tem como entregar. Daí os ajustes que vem fazendo, que seriam exigidos de qualquer candidato vitorioso. O fato dela estar fazendo essas correções com um método que seu partido sempre atacou nos adversários tucanos já é problema unicamente do PT, um partido que já completou 35 anos e não tinha nenhuma proposta real para atacar esta crise e nenhuma outra. Pra fazer o serviço exigido tiveram que colocar no ministério da Fazenda um economista que até então servia a um dos maiores bancos do país, cujo chefe banqueiro, aliás, recusou o convite de Dilma para ser ministro.
O partido do "Brahma" caiu abaixo do volume morto sem ter apresentado na prática absolutamente nada de novo na política brasileira. Ficou tudo na conversa, leros petistas que em sua maioria serviam apenas para o jogo sujo eleitoral. É um partido que será lembrado em nossa história exclusivamente pela corrupção, na qual aplicou inclusive uma impressionante sistematização, embora igualmente nisso tenham falhado de forma espetacular. É de dar vergonha alheia. Como diz o povão, pior do que um partido roubar é não saber carregar. O PT não se salva nem pelo "rouba, mas faz". Nada fizeram.
Mas voltemos às ilusões vendidas na campanha pela presidente Dilma Rousseff. Ora, para que ela tivesse sucesso era preciso que aquele engodo fosse aceito por milhões de brasileiros. E muitos aceitaram a farsa, mesmo sabendo do perigo de dar continuidade a um ciclo de governos petistas comprovadamente incompetentes e gatunos. Não estou falando do eleitorado com menos acesso à informação e pouca possibilidade de compreensão dos alertas que muita gente gritava durante a campanha. Dilma só conseguiu se eleger porque empresários, sindicatos, intelectuais, jornalistas, o meio universitário e tantas outras pessoas capacitadas fizeram um trabalho lamentável de desmonte do discurso da oposição e fortaleceram o engodo da campanha petista, mesmo sabendo que aquelas promessas vazias não podiam ser sustentadas nem pela aritmética mais simples.
Não estou propondo nenhuma caças às bruxas e nem quero que o país se perca numa autocrítica coletiva que faria mais estragos entre os que não meteram a mão nos cofres públicos do que aos patifes que arruinaram o Brasil. No entanto, para o muito que é preciso fazer para o país se levantar, viria bem que os brasileiros dessem uma atenção aos defeitos do caráter nacional que criaram as condições para que o nosso país fosse dominado pelo que já houve de pior desde a redemocratização. Achar que a culpa é exclusivamente de Dilma Roussef e de seu partido servirá apenas para que tudo se mantenha na velha condução política que vem fazendo do nosso país um objeto que ao longo do tempo só muda os bandidos da vez.
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POR José Pires

sexta-feira, 19 de junho de 2015

O laranja da pedalada fiscal

Todo mundo sabe que uma das grandes sacanagens da bandidagem é o uso de menores assumindo crimes como laranjas, para que os marmanjos possam se safar. Os quadrilheiros maiores é que matam, mas quando o crime é desvendado costuma aparecer um menor de idade assumindo a autoria. Pois está acontecendo algo parecido nessa história do ex-secretário do Tesouro Arno Augustin ter assumido sozinho toda a responsabilidade pelas pedaladas fiscais do governo de Dilma Rousseff. Ele chegou a afirmar isso em documento assinado a 30 de dezembro do ano passado, seu último dia de trabalho no governo, o que permite desconfiar que ele aceitou ser laranja de um crime premeditado. Eles sabiam que a enganação nas finanças públicas podia dar bolo. A pedalada fiscal é um crime de responsabilidade punido pela Lei 1.079 e previsto também no Código Penal.

Uma coisa dessas pode fazer um presidente da República perder o mandato, mas tem pouco significado para um sujeito de cargo nomeado e que nem está mais no governo. Daí o ex-secretário de Dilma ter assumido que foi ele e mais ninguém que enganou todos os brasileiros. Que feio! O Arno Augustin é o menor de idade da Dilma. E não estou querendo dizer que a presidente da República é chefe de quadrilha. Sei muito bem que o chefão é outra pessoa.
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POR José Pires

Ilustre desconhecido

O Brasil fechou 115.599 vagas formais de trabalho em maio, o mês no qual os trabalhadores comemoram seu dia. O número negativo marca outro tento do governo Dilma: é pior resultado para o mês desde o início deste indicador, em 1992. E é também a primeira vez que há corte de vagas no quinto mês do ano. O resultado é ainda mais grave, levando em conta que acumula perdas de postos de trabalho com o mês anterior, quando foram fechadas 97.827 vagas.

É interessante relacionar este mau resultado com uma pesquisa divulgada ontem pelo jornal Folha de S. Paulo, que mostra que 64% dos entrevistados não sabem quem é o ministro da Fazenda. A pesquisa foi feita pela Ideia Inteligência e teve grande abrangência. Foram ouvidas 20 mil pessoas em 69 municípios brasileiros. A confiança no trabalho de Joaquim Levy é mínima. Ninguém sabe que ele é o ministro que conduz a economia, além de quase todos não acreditarem que vá dar certo o que este desconhecido vem fazendo.

Além de 64% dos entrevistados não saberem quem é o atual ministro da Fazenda, tem ainda 15% que pensam que o ministro é Guido Mantega. Outro número mostra a desesperança da população: 78% dos entrevistados acreditam que o mercado de trabalho vai piorar nos próximos meses. E a gestão da economia é reprovada por 88% dos entrevistados, enquanto apenas 8% acham que o governo do PT está fazendo a coisa certa na gestão macroeconômica.
O brasileiro começa a tomar consciência da ruína econômica criada pelo governo do PT, porém este pé na realidade não vem acompanhado de nenhuma esperança de que a presidente Dilma Rousseff saiba como fazer para tirar o Brasil desta enrascada em que ela mesma e seus companheiro nos meteram. Desse jeito, a receita econômica do ministro Levy tem tudo para desandar. Os pacientes nem sabem quem é o médico. E quase todos já estão vendo o remédio como um placebo.
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POR José Pires

sábado, 13 de junho de 2015

Rindo da desgraça alheia

Nada me espanta vindo da figura do ex-presidente Lula e dos agregados políticos que tentavam até agora fazer deste grande patife uma figura mítica, no entanto sou obrigado a aceitar que mesmo dele pode vir alguma surpresa. No congresso nacional do PT, ocorrido nesta quinta-feira, teve até aplauso de pé da militância para João Vaccari Neto, o tesoureiro petista que foi preso na operação Lava Jato e está em cana até hoje, acusado de receber propina para o próprio partido. Contudo, apesar dessa barbaridade, foi do próprio Lula que partiu o maior absurdo do evento político partidário. O chefão petista comemorou as demissões de jornalistas que ocorrem em massa, com a ruína de empresas e o fechamento de revistas e jornais.

A situação é de uma tristeza angustiante. O tempo todo aparece a informação de grupos inteiros de bons profissionais sendo demitidos e de títulos que deixam de circular, alguns de publicações que já eram de tradicional influência na vida brasileira. Imagine a tragédia que é isso para profissionais, como eu, que estão ao largo dos esquemas políticos que abrem espaços em boquinhas pagas com o dinheiro público. E é claro que a gravidade da questão vai além desta angústia pessoal, em razão dessa quebradeira ser terrivelmente prejudicial ao conjunto da cultura do país, com efeitos nocivos inclusive na política e na economia. A imprensa construiu através dos tempos um papel essencial como intermediária nas relações sociais, com um papel também proativo no estímulo e aferição de qualidades em todas as atividades. É isso que está se perdendo, sendo que, na minha visão, a deterioração desta área do pensamento brasileiro é uma das causas da tragédia nacional de um país cada vez mais abilolado, que vem se matando numa autofagia de palavras e gestos.

Mas lá vem o Lula, sempre ele, aplaudindo as demissões, com aquela visão tacanha muito dele de que o fechamento de publicações serviria somente para o enfraquecimento de seus adversários. E ele sabe o que está fazendo, pois tudo isso que eu falei acima sobre a função da imprensa, quando é bem feito impede que figuras nefastas da sua laia venham a ter o poder que ele tem. Na alegria do ex-presidente com as demissões encaixa-se de forma muito apropriada aquele seu jargão do "nunca se viu neste país" porque, de fato, não se sabe de outro sindicalista brasileiro que tenha aplaudido um dia a demissão em massas de trabalhadores. E o pior é que esse papo não é novo. Tem acontecido bastante e muitas vezes vêm de jornalistas (é claro que de esquerda) tirando sarro e aplaudindo com entusiasmo a falência de empresas de comunicação e até o fechamento de publicações, com a demissão de colegas. Vejo isso até aqui nas redes sociais, da parte inclusive de pessoas com as quais sempre tive divergências políticas, mas de quem eu não esperava tanta baixeza. Mas é assim mesmo, alguns traidores a gente só reconhece depois que eles nos entregam aos inimigos.
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POR José Pires

quinta-feira, 11 de junho de 2015

Biografias liberadas e com adendos

A polêmica em torno das biografias teve seu ponto final batido pelo Supremo Tribunal Federal e a conclusão foi boa, embora todo o enredo tenha sido de qualidade discutível. Agora as biografias não precisam ser autorizadas. Esse assunto é uma daquelas chateações que aparecem o tempo todo no Brasil e nos impede de nos concentramos no que realmente importa. É mais ou menos como debater de forma acirrada se homossexual deve ou não se casar na igreja, enquanto o país vai sendo destruído em seus aspectos mais básicos. Na violência, na falta de qualidade administrativa e na corrupção, no cinismo político e até na falta de trabalho decente para grande parte dos brasileiros. Mas falemos das biografias, antes que algum chato (heterossexual ou homossexual) venha tentar travar meu post fixando-se com comentários neste papo.

O interessante neste assunto das biografias é que havia até um certo descuido da opinião pública com o sério problema da censura sobre o trabalho dos biógrafos. Este é mesmo o país das atrapalhações. Já não bastando a dificuldade que temos de saber o que somos de fato, ainda vem herdeiros e pessoas famosas tentar censurar quem procura informar e trazer conhecimento a um país cada vez mais carente de identidade. Havia um impedimento jurídico de se escrever com liberdade e essa trava era exercida nos bastidores por estrelas que posavam de libertários em público. Com uma imprensa cada vez mais tonta, a coisa só veio à tona por força do abuso em arrogância de alguns ídolos. Principalmente Caetano Veloso, Chico Buarque e Roberto Carlos fizeram papel muito feio. O debate serviu para um desmascaramento e até da revelação do mau-caratismo encoberto por mitos de bom mocismo. Chico Buarque, por exemplo, tentou acabar com a credibilidade do biógrafo de Roberto Carlos, mentindo sobre uma entrevista dada por ele. O biógrafo estria destruído, se não tivesse filmado a entrevista, que Chico Buarque havia negado. E Caetano Veloso ficou na moita, enquanto a ex-mulher brigava (e como!) por ele.

Roberto Carlos foi quem se revelou de forma mais clara, ele que já tinha censurado o livro "Roberto Carlos em detalhes", de Paulo Cesar de Araújo, uma biografia que não traz nenhuma inverdade e também nada de espetacular. Ficaria restrita a um círculo limitado de leitores se o cantor não tivesse processado o autor e apreendido toda a edição. Esse tipo de censura acontecia na ditadura militar, período aliás que facilitou a vida do auto-intitulado "Rei da Jovem Guarda". Na época, com o porrete dos milicos caindo na cabeça de artistas de verdade a coisa ficou mais fácil para cantores como ele. Roberto Carlos é sem dúvida um grande cantor popular, sendo um dos poucos da área comercial que realmente sabe compor e cantar. No entanto, não tem obra que justifique o realce que a mídia dá a ele na música brasileira. Seu alto prestígio foi conquistado às custas de caros esquemas comerciais chefiados por ele com grande habilidade.

Porém, sua reação autoritária teve um efeito contrário ao pretendido. O assunto trouxe para a pauta da imprensa muitas das maquinações de sua carreira, que em grande parte foi toda construída de forma ardilosa e artificial. Nem preciso falar muito da sua parceria financeira com o poder de comunicação da Rede Globo. Mas vieram então histórias sobre sua arrogância, até com revelações das suas interferências inclusive na área de promoção das gravadoras para prejudicar o trabalho de artistas que, na sua visão, trariam concorrência ao seu sucesso. O desgaste foi tanto que, no julgamento desta quarta-feira que liberou a feitura de biografias, seu advogado já estava do lado da liberação.

Algumas censuras enfrentadas por livros que já estavam impressos e impedidos de circular são típicas de um país com o pensamento submetido a regras jurídicas provincianas. Herdeiros tinham impedido de circular livros sobre Lampião, Guimarães Rosa, Noel Rosa, Paulo Leminski e Garrincha. A biografia de Garrincha sofreu censura de sobrinhas do grande jogador da Seleção Brasileira, por causa de uma questão, digamos assim, menor na história da vida dele, escrita de forma admirável e com um baita esforço pessoal de Ruy Castro, que ocupou-se num longo tempo em trabalhosas pesquisas, bancadas financeiramente pelo próprio biógrafo e a editora. Os parentes de Garrincha se encresparam com a menção ao tamanho do pênis do jogador, uma das tantas histórias pitorescas dele e que por isso mesmo tinha que estar na obra. O livro estava impedido pelos herdeiros de ser vendido e a editora também teve problemas anteriores com parentes, questão que foi resolvida depois de um substancial pagamento. E só estou falando deste assunto íntimo por causa da censura. Além da qualidade de estilo e da pesquisa séria, o livro de Ruy Castro teve o papel de resgatar um ídolo esportivo de extrema importância na identidade nacional e que já estava sendo esquecido. E o que os herdeiros faziam antes disso pela imagem de Garrincha? Nada.

Agora, com mais de uma década com o pé no Terceiro Milênio, até parece um grito surrealista, mas acabou a censura. Quando a vida e a obra são públicas, o melhor que se faz é liberar a interpretação que se faz delas. E os herdeiros que arranjem outra forma de arrancar dinheiro do próximo. No geral, o interesse de biografados e seu pessoal entorno sempre foi com grana. As censuras se revestiam de hipócritas teorias em torno do respeito ao caráter privado de suas vidas, porém o objetivo era o de levar grana ou resguardar-se de revelações que afetassem negócios comerciais. Era com o caixa a preocupação das personalidades públicas que queriam manter as biografias sob a censura da exigência de autorização pessoal. Nada havia da busca verdadeira de uma interpretação sobre suas vidas. E, no final, com essa briga por poder e dinheiro o que cada um acrescentou à sua biografia foram algumas páginas lamentáveis.
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POR José Pires

Indignação estadual

Todo mundo sabe que o PT é novidadeiro em política, pois eles estão agora com uma indignação seletiva que é só deles: é a indignação estadual. O funcionamento é muito simples e evidentemente exige que haja um governador que não seja do PT. Em estados como São Paulo e Paraná os petistas estão tinindo com a "indignação estadual", com mais animação no Paraná, onde o governador Beto Richa tem aberto amplos espaços para sindicatos atrelados ao partido do Lula pintar e bordar com suas manipulações. Talvez por experiência política ou mesmo pela personalidade mais definida, o tucano Geraldo Alckmin sabe lidar melhor com o PT.

Mas se há uma balbúrdia vermelha entre os paranaenses e paulistas, o mesmo não acontece em Minas Gerais. Lá não tem "indignação estadual". E não é porque o mineiro, como diz a lenda, é um povo quieto. Esses porqueiras petistas são barulhentos em qualquer lugar. É que o governador de Minas é do PT. Vocês já pensaram como é que os petistas mineiros estariam se um governador tucano tivesse uma primeira-dama com o talento financeiro de Carolina Oliveira, mulher de Pimentel? Pois é, mas ao contrário de São Paulo e Paraná, em Minas Gerais nem parece que existe petista. Lá não tem a azucrinação que paulistas e paraenses são obrigados a aturar. Tô até pensando em me mudar pro Facebook de Minas pra descansar um pouco de tanta zoeira boba.
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POR José Pires

quinta-feira, 4 de junho de 2015

Dupla dinâmica


A inversão de valores no Brasil ficou tão comum que somos apanhados o tempo todo em situações surrealistas, como acontece agora com essa história dos presidentes da Câmara e do Senado empenhados em moralizar a administração das estatais brasileiras. Renan Calheiros, o moralizador do Senado, já esteve numa outra vez na presidência da Casa e de lá teve que sair às pressas para evitar a cassação de seu mandato. Nossa imprensa anda desacostumada de fazer seu serviço direito e por isso certos fatos acabam esquecidos. A bem da verdade, se fosse para moralizar mesmo o Brasil, políticos como Renan Calheiros deviam estar há muito tempo em outros lugares, aqueles com janelas e portas gradeadas e fechadas por fora.

Eu bem me lembro que na época desta treta do senador Calheiros, quando ele foi acusado de receber propina de empreiteiras, havia também uma amante dele, de nome Mônica Veloso, com quem ele tem uma filha. O aluguel do apartamento dessa amante e a pensão alimentícia da filha dos dois seria paga por essas construtoras, esta era a denúncia. Ali deveria ter sido interrompida a carreira política de Renan Calheiros e não que houvesse faltado motivo para que isso tivesse sido feito antes. Mas naquela vez havia um conjunto de provas de que, definitivamente, ele é uma figura nefasta da política brasileira. Tanto é assim que, em vez de mostrar sua inocência ele preferiu renunciar à presidência e acertar as coisas no silêncio dos bastidores.

E aí está hoje o senador bolando lei para moralizar nossa estatais. O projeto tem até carimbo de marqueteiro, no batismo pretensioso de "Lei de Responsabilidade das Estatais". E Renan Calheiros tem como parceiro desta cruzada moral administrativa o deputado Eduardo Costa, atualmente ocupando a presidência da Câmara Federal, o que faz jus ao caráter desta Casa e por isso mesmo configura também um símbolo da deterioração política do nosso país. Costa é velho conhecido de quem acompanha mais de perto a política brasileira, desde os tempos em que sua parceria era com tipos notórios como Anthony Garotinho. As denúncias que pesam contra ele em sua carreira já bastavam para que sua posição estivesse restrita no máximo ao obscurecido "baixo clero" do Congresso Nacional, mas aí está ele, em destaque na política nacional e formando dupla bastante apropriada com Renan Calheiros em prol do bem comum.

A parceria dos dois é até bastante estranha e não só pelo inusitado tema da moralização pública, escolhido para o trabalho em conjunto, mas também porque nunca se viu antes em público os dois atuando juntos. Não sei se a Polícia Federal escondeu algo de nós no passado sobre esta sintonia, mas até agora esta dupla dinâmica era desconhecida em atividade aos olhos da opinião pública. No entanto, a PF trouxe recentemente algo que os liga estreitamente. Foi a denúncia sobre a suspeita deles terem participado da corrupção na Petrobras. E exatamente esta estatal saqueada é que vem sendo usada como o motivo deste surto moralizador. Alguém pode até dizer que é muito cinismo do senador e do deputado, mas eu prefiro ver isso da forma que Shakespeare escreveu em Hamlet: tem lógica nessa loucura. Mas quanto aos crimes de que eles são acusados, o Supremo Tribunal Federal já abriu inquérito contra os dois, o que devia ter sido motivo da renúncia imediata de cada um, ao menos da presidência da Câmara e do Senado. Mas é claro que aí não daria para vê-los juntando armas nesta cruzada moralista, o que faria do Brasil um país banal, desses que vivem na realidade, bem longe do impressionante realismo mágico que tomou conta da vida brasileira.
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POR José Pires