sexta-feira, 31 de julho de 2020

A fuga do blogueiro bolsonarista Allan dos Santos e mais uma louca denúncia direitista de conspiração

O bolsonarismo é algo que já nasceu atravessado, com doidices advindas do próprio líder Jair Bolsonaro, com seus ares de anunciação explosiva e grosseira, dizendo absurdos que infelizmente só foram levados a sério quando já era impossível conter o terrível efeito eleitoral. Depois foi aquela loucura no poder, como estamos vendo até agora. E quando a pandemia mortal chegou, o país foi jogado definitivamente em um formato de ficção, classe B, muito trash, com os brasileiros fechados em casa, assistindo a louca destruição do nosso país.

O bolsonarismo já nasceu doido e vai piorando, com sintomas mais preocupantes no chamado bolsonarismo de raiz, que não por acaso tem em Olavo de Carvalho o mentor intelectual. A filha do escritor, Heloisa de Carvalho, depois que rompeu com o pai andou contando que tempos atrás ele fugiu de um asilo psiquiátrico antes de receber alta médica. A denúncia procede, como se pode ver pelo que ele escreve nas redes sociais e fala em vídeos e entrevistas.

De fato, o velho parece doido, além de que é possível notar em seus discípulos um estranhamento preocupante com a realidade. Nesta segunda-feira tivemos a notícia de que um desses bolsonaristas ditos “de raiz”, adorador de Olavo, teve um surto fenomenal e fugiu do país. É o blogueiro Allan dos Santos, um dos apoiadores de Bolsonaro que estão sendo investigados no inquérito das fake news, do STF. Ele é dono do site Terça Livre, com um canal também no Youtube, além daquelas páginas todas nas redes sociais. Ou melhor, tinha isso até há pouco, pois em razão do inquérito, o ministro Alexandre de Moraes mandou fechar tudo.

A informação da fuga do país foi dada pelo próprio Allan dos Santos nesta sexta-feira, durante uma transmissão ao vivo na internet, de modo que em razão do histórico desse pessoal em matéria de veracidade é preciso esperar um confirmação vinda de outras fontes. Não existe nenhum mandado de prisão contra o blogueiro, além do país ter um governo que, ainda que mucho loco, é constitucional. Mas com esse pessoal tudo é possível, até fugir do país em que o ídolo deles é presidente.

Mas independente da fuga ser ou não verdadeira, uma conta atribuída ao blogueiro, em publicação também nesta sexta, afirma que, a pedido de um funcionário do TSE, uma empresa de segurança eletrônica “fez uma varredura em Brasília e descobriu maletas de escuta telefônica na Embaixada da Coreia do Norte, Embaixada da China e na casa do [advogado] Kakay”. O citado “Kakay” é alcunha de Antônio Carlos de Almeida Castro, que advogou para José Dirceu e Lula. Na gravação em vídeo, Allan dos Santos faz as mesmas acusações, dizendo ainda que o presidente Jair Bolsonaro é um alvo dessas ações.

Que coisa, não? Parece o crioulo doido, do Stanislaw Ponte Preta, narrando uma conspiração. O assunto ainda há de render e devem aparecer mais doidices pela frente, mas são fatos como este que já dão uma certeza: será de camisa de força que o bolsonarismo ficará marcado na história do Brasil.
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POR‌ ‌José‌ ‌Pires‌

quinta-feira, 30 de julho de 2020

Jair Bolsonaro e o PT: direita e esquerda se juntam contra a Lava Jato e Sergio Moro

Agora com Jair Bolsonaro totalmente empenhado em acabar com a Lava Jato, este presidente fake news — eleito exatamente no embalo do sentimento de ética na política trazido por um trabalho contra a corrupção altamente renovador da esperança — lança seus seguidores numa situação constrangedora: serão obrigados a extirpar mais esta peça fundamental de sua estrutura de caráter.

Mesmo o bolsonarismo já tendo eliminado Sergio Moro de sua galeria de ídolos, com a militância passando a atacar o lendário ex-juiz da Lava Jato com a mesma agressividade e acusações tão imbecis quanto as que costumeiramente fazem a qualquer adversário, será complicado entrar na mesma linha de ataque do PT e seus parceiros dos puxadinhos de esquerda.

Na retórica de um bolsonarista e mesmo de um olavista, nesta nova condição de estorvo aos planos de Bolsonaro e sua família, a Lava Jato teria de ser encaixada nos maléficos planos do comunismo chinês para dominar o mundo. Será uma dificuldade fazer qualquer um que não seja um bolsonarista idiota (com o perdão do pleonasmo) engolir algo tão fora de propósito, mas não duvidem que eles podem vir com mais esta.

Os petistas puxam de seu lado uma cantilena maledicente e desonesta de que a Lava Jato atende aos interesses do governo dos Estados Unidos, mas com seu grande líder fazendo continência por aí para a bandeira americana não dá para um bolsonarista seguir por esta retórica tola. Todo mundo conhece a lorota petista: a Lava Jato quebrou grandes empresas brasileiras “em conluio com o FBI, para criar mercado para as americanas”.

É um fake news que não pegou, mas encerrou a militância petista em mais um de seus raciocínios idiotas, fazendo do PT este partido de desqualificados que aí está, colocando a esquerda brasileira numa condição eleitoral de ter de bolar grandes estratégias até para eleger vereador de cidade pequena. Se o partido do Lula tivesse feito algo que presta no poder, esta defesa de corruptos da iniciativa privada mancomunados com ladrões dos cofres públicos talvez pudesse ser qualificada como um “rouba, mas faz”, mas como o PT não fez nada, tal raciocínio não serve nem pra isso.

Quanto à corrupção, quem conhece política sabe que faz muito tempo que Jair Bolsonaro e PT estão se dando muito bem neste assunto, cada um de seu lado. A aliança atual entre direita e esquerda para acabar com a Lava Jato nada mais é que o oportunismo forçando o círculo a se fechar. Aliás, mesmo no que toca a maledicência, a manipulação da informação e até mesmo a violência política, Bolsonaro e a maioria dos esquerdistas só divergiam em relação aos alvos, agora cada vez mais próximos.

No entanto, voltemos à parceria da esquerda e da direita na defesa da ladroagem, para a qual eles buscam enfiar na legislação eleitoral até uma lei anti-Moro e acabar com o “lavajatismo”, neologismo que no sentimento popular é um adjetivo. Agora bolsonaristas e petistas se juntam para transformá-lo em um palavrão. Para combinar o discurso, seguidores de Bolsonaro e petistas terão de fazer de Moro um agente duplo. Vocês não sabiam?

Não espalhem, mas na verdade não foi só a serviço dos Estados Unidos que a Lava Jato quebrou nossas empresas. Moro e os procuradores do Ministério Público agiam também para favorecer a China.
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POR‌ ‌José‌ ‌Pires‌

quarta-feira, 29 de julho de 2020

Quando a política vira instrumento de lucro nas redes sociais


Você sabia que a deputada petista Gleisi Hoffmann lucra com a monetização de seus vídeos no Youtube? Sim, a presidente do PT fatura com um instrumento que, pelo menos em tese, deveria ser usado por ela para a informação política. Recentemente ela afirmou que lucrou 32 mil reais. Deve ser um caso único da política internacional, de uma presidente de partido agindo como youtuber.

Um estímulo para a plataforma do Youtube ter virado um imenso criadouro de fake news, desinformação e conspirações absurdas, ataques pessoais, barbaridades de todo tipo, é esta cobiça pelo dinheiro, com a monetização dos vídeos. Quando maior a atração da balbúrdia, mais se ganha com as visualizações. Claro que isso tornou este espaço da internet um repositório do que se tem de pior na comunicação entre as pessoas.

O lucro das visualizações é arrancado falando-se qualquer coisa capaz de criar grandes polêmicas, não importando se com isso é preciso fazer uma devassa na privacidade das pessoas, forjar acusações, apelar para o insulto, a difamação, criar as mais loucas conspirações, enfim inventar qualquer coisa, até mesmo as piores  mentiras: isso é o que dá dinheiro.

Uma das revelações mais interessantes do inquérito das fake news, comandado no STF pelo ministro Alexandre de Moraes, foi mostrar que acima de ideologia ou doutrina política, a motivação de muitos ativistas políticos nas redes sociais é esta facilidade de ganhar dinheiro nas redes sociais, ligando-se a uma grande onda política para turbinar a audiência em um canal de vídeo. Quando se pensa que esse monte de lives, os debates urgentíssimos e tanta falação que rola por aí em defesa da pátria ou de algum mito, na verdade o pessoal está ali em sua maioria para ganhar dinheiro como youtubers.

Tanto é assim que mesmo antes do inquérito do STF desvendar esta ambição lucrativa, vários youtubers da direita bolsonarista vinham fazendo mimimi em seus vídeos, reclamando do fim das monetizações imposto pelo Youtube para páginas que avançam demais os limites da decência na plataforma, que por sinal sempre foi de uma tolerância extrema com a estupidez, a maldade e a má-fé.

Essa mania de atiçar uns contra os outros, mentindo e criando conspirações, vem sendo impulsionada em grande parte por estas monetizações. Claro que lucram mais os que naturalmente têm menos limites, digamos, civilizatórios em sua personalidade. Do jeito que está, psicopata leva vantagem. O Youtube acabou gerando estrelas que teriam dificuldade de aceitação até nos piores programas de baixaria nas emissoras de televisão e rádio dos cafundós do Brasil.

Todo mundo já sabe da ebulição política de péssima qualidade criada por este caráter de picaretagem da plataforma. Mas o mais triste é saber que políticos eleitos também entraram na onda de ganhar dinheiro, aproveitando-se do ambiente de furdunço que gera as monetizações. Deputados e outros políticos não atraem público apenas por suas personalidades pessoais, ainda que isso também importe. Existe toda uma carga de responsabilidades e compromissos — do próprio partido, das causas que defendem, do país — que envolvem uma variedade de interesses e necessidades que não devem ser usados para ganhar dinheiro.

E o pior é que até então, alguns deputados estavam usando dinheiro público para lucrar neste mercado. Nesta terça-feira a Câmara proibiu deputados de usarem o dinheiro da cota parlamentar para contratar serviços que gerem lucro na internet. A decisão veio depois da descoberta que deputados bolsonaristas vinham usando este dinheiro para manter seus canais monetizados.

Sete deputados estavam fazendo das suas atividades no Congresso um chamariz para este negócio lucrativo, ao monetizar seus canais no YouTube. São eles os bolsonaristas Carla Zambelli, Bia Kicis e Otoni de Paula, a ex-bolsonarista Joice Hasselmann, o petista Paulo Pimenta e Flordelis, do PSD. A cota parlamentar era usada para contratar os serviços técnicos de texto, edição e montagem dos vídeos de seus canais no YouTube.

É mais uma trapaça desse tipo de político, iludindo quem pensa que atende a um chamado para a participação séria no debate político, mas na verdade é estimulado a entrar em brigas das mais idiotas porque isso cria visualizações altamente lucrativas para os trapaceiros. E não só políticos estão nessa. Muitos youtubers que tocam fogo no debate político — e não é de hoje que fazem isso — estão de olho é na grana que isso dá.
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POR‌ ‌José‌ ‌Pires‌

segunda-feira, 27 de julho de 2020

A PF na cola da primeira-dama do Piauí, a tragédia brasileira e os políticos serviçais de uma elite apodrecida

A Polícia Federal baixou logo cedo nesta segunda-feira na casa do governador do Piauí, o petista Wellington Dias, porém não era o governador o alvo da operação, e sim a sua esposa, a deputada Rejane Dias, também do PT.

Que baita encrenca, não? Em situações assim, governantes costumam rapidamente se desvencilhar dos implicados, com a demissão ou dando qualquer outro jeito de tirar de perto o alvo da polícia. Ninguém quer ter ao lado uma chave de cadeia. Mas o que se pode fazer quando a acusação de corrupção é contra a própria cara-metade?

A situação da governador do Piauí é de fato inusitada. Não dá para seguir o hábito do exaltado chefão de seu partido, o criminoso condenado Lula, que quando é pego em ilegalidade diz logo que não sabia de nada e não tem relação com o acusado. Como fazer algo assim com a patroa? Bem, Lula chegou até a tentar colocar a culpa de seus malfeitos na própria esposa, mas cabe lembrar que ele só buscou esta saída depois da morte de dona Mariza.

A investigação no Piauí vem desde o ano passado e envolve recursos desviados do Fundeb (Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica) e do PNATE (Programa Nacional de Apoio ao Transporte do Escolar). Não foi possível precisar ainda o total dos desvios, por causa da variedade de contratos ainda executados pelo grupo de empresas com o governo do estado e prefeituras, mas a Polícia Federal adianta que o esquema causou prejuízo ao Piauí calculado em ao menos R$ 50 milhões.

Parece que o que temos à frente é aquela velha jogada de políticos aliados a uma iniciativa privada que finge executar obras e serviços, em esquemas que existem apenas para desviar o dinheiro da população. Isso tomou conta de tudo, em negociatas que arrasam com a capacidade econômica do país. A população fica sem o retorno de seus impostos e nem se tem a abertura para o crescimento de um empresariado moderno e de qualidade.

A primeira-dama do Piauí é deputada desde 2014, evidentemente se elegendo em dobradinha com o marido, que também é político profissional há décadas. Ela ocupou a Secretária de Educação no primeiro mandato do marido governador, reeleito em 2018. Os fatos investigados na operação desta segunda-feira são do tempo em que ela foi secretária de Educação. O esquema  tinha contratos superfaturados em 40%.

Como se sabe, o Piauí é um dos estados mais pobres do Brasil, mantendo-se sempre em disputa com estados como o Maranhão para saber quem fica em primeiro na lista dos miseráveis, todos dominados por uma elite impiedosa, que não tem partido exclusivo, fazendo uso de qualquer ideologia ou projeto de governo para atingir o objetivo de se dar bem às custas dos cofres públicos.

Não importam bandeiras econômicas, se de direita ou esquerda, desenvolvimentistas e liberais — cabem até mesmo promessas socialistas, Deus acima de tudo, qualquer coisa. Vale tudo para manter o Estado sob o jugo de elites apodrecidas. E sempre temos políticos e partidos dispostos a sustentar este status quo que arrebenta com o Brasil, seja no PT de Lula e do governador do Piauí e de outros estados, além de poderem também se servir sempre do governo federal, por ora nas mãos atenciosas de Jair Bolsonaro.
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POR‌ ‌José‌ ‌Pires‌

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Imagem- A primeira-dama do Piauí, deputada Rejane Dias, e o governador Wellington Dias

sexta-feira, 24 de julho de 2020

As sabotagens de Jair Bolsonaro e seus custos em mais vidas perdidas para a Covid-19

Um estudo de professores da área de estatísticas econômicas da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ) concluiu que em maio o isolamento social pode ter poupado 118 mil vidas no Brasil. Os professores calculam que a cada 1% de aumento no isolamento social havia uma redução na taxa de crescimento do novo coronavírus de até 37%. Como o negacionismo do presidente Jair Bolsonaro forçou este isolamento a ficar abaixo do ideal, fica demonstrado que sua irresponsabilidade fez morrer muita gente.

O estudo da UFRRJ tomou por base como o vírus se espalhou pelos estados brasileiros, nos diversos graus de distanciamento, fazendo com isso uma equação estudando a transmissão do coronavírus. Desse modo, os autores puderam ver como teria sido a pandemia sem isolamento social.

Por este cálculo, no cenário de maio o registro do mês seria de 47.447 mortes, muito maior do que do que o registrado oficialmente: 29.367 óbitos registrados. Ou seja, de acordo com essa projeção estatística 118.080 vidas teriam sido salvas. Este é um dos cenários. Em um resultado mais pessimista, o mês teria fechado com 213.459 óbitos, 184.092 a mais que o registrado.

Porém, mesmo em um cenário mais otimista maio teria terminado com 81.405 mortes, 52.038 a mais do que o efetivamente registrado.

Um resultado interessante trazido pelos professores foi a definição em números da relação do isolamento no controle da transmissão do vírus. “O coeficiente da relação entre o isolamento social e a transmissão do vírus foi de -37,51, indicando que cada elevação de 1% no isolamento tende a reduzir em 37% a taxa de crescimento da transmissão”, afirma o estudo.

Isso significa, conforme diz o trabalho dos professores, que a elevação do isolamento reduz a taxa de transmissão do vírus de forma significativa e mais que proporcional. O estudo da UFRRJ permite projetar, agora com números, como estaria o Brasil agora se o país tivesse sido conduzido na perspectiva negacionista do presidente Jair Bolsonaro.

Seria um desastre colossal. Cabe lembrar que há três meses, Bolsonaro afirmava que o número de vítimas fatais da Covid-19 não passaria de 800 óbitos.

O país já caminha para o registro de 90 mil mortes, sabendo-se que muito mais gente deve ter morrido sem a confirmação da doença. O total de casos confirmados no Brasil é de mais de 2 milhões, mais exatamente 2.287.475, com claros sinais de que já se vive um descontrole da contaminação, causado não só pela falta de uma centralização efetiva no governo federal do combate ao coronavírus, como pela sabotagem explícita de Jair Bolsonaro, que fugiu à sua obrigação de comandar a luta pela saúde dos brasileiros.

Bolsonaro agiu o tempo todo no sentido contrário da defesa da integridade física da população. Mesmo contaminado pelo vírus, ainda desobedece à regras de proteção para evitar passar a doença para os outros e continua com suas idiotices que beiram a loucura, comportando-se com a mesma falta de empatia humana que faz os brasileiros suspeitarem que foi eleito um psicopata para comandar o país.

Suas mais recentes cenas são grotescas como filme de terror classe B, primeiro com ele levantando para seus seguidores uma caixa de cloroquina como se fosse um troféu e depois feito um zombie solitário no Palácio da Alvorada, oferecendo cloroquina para as emas soltas no gramado.
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POR‌ ‌José‌ ‌Pires‌

Boris Johnson, das mentiras do Brexit ao confronto com os antivacinas

O primeiro-ministro britânico Boris Johnson chamou de “malucos” os oponentes das vacinas. O governo britânico está expandindo seu programa de vacinação contra a gripe, como uma das medidas preventivas no caso de uma nova onda de coronavírus e tem pela frente muita gente tomada por teorias conspiratórias em relação a qualquer vacina.

O Reino Unido teve até agora 45 mil mortes pelo coronavírus, estando atrás apenas dos Estados Unidos e do Brasil em número de óbitos, mas cabe apontar o tamanho do seu território em relação a estes dois países e fazer também uma relação com o número de habitantes, para avaliar melhor o trauma de tantas mortes entre os britânicos. O Reino Unido está com 66 milhões de habitantes.

Exatamente por um grave erro de avaliação do governo conservador, houve uma demora no combate ao coronavírus. A preocupação agora é com as complicações que opositores de vacinas podem trazer ao trabalho de prevenção para que os serviços de saúde não entrem em colapso com uma nova onda de contaminação. "Agora existem todos esses antivacinas. Eles são malucos", disse Johnson durante uma visita a um centro médico em Londres.

Uma pesquisa recente detectou prováveis encrencas futuras com os tais malucos. A pesquisa é do instituto Yougov. Segundo ela, 16% dos britânicos “provavelmente” ou “certamente” rejeitarão a vacina contra a Covid-19 quando ela surgir. Mais que a atitude de cada um desses doidos, certamente Johnson teme a confusão que pode vir nas redes sociais e nas ruas com a desinformação criada por uma estupidez que ele conhece muito bem.

O primeiro-ministro britânico é um célebre precursor da tal da "pós-verdade", que nada mais é que manipulação de informação e  a criação de notícias falsas como ferramentas políticas. Foi dessa forma irresponsável e criminosa que Johnson conquistou o poder, com a imposição da ideia de que o Brexit era o melhor caminho para o Reino Unido. Foi com dados falsos e ataques agressivos e acusações aos adversários que ele convenceu os britânicos.

Agora, com responsabilidades de governo, Johnson está recebendo de seu próprio remédio. Aliás, o mundo todo sofre com a forma de fazer política que teve nele um pioneiro, para depois espalhar-se para outros países. É um vale-tudo em que cabem as mentiras mais absurdas, a criação de teorias conspiratórias muito idiotas, manipulação de notícias e o atiçamento de conflitos entre as pessoas, além, é claro, dos malucos antivacinas.

Como se vê, Boris Johnson está sentido o perigo da monstruosidade criada por ele e parceiros políticos da direita européia, além dos direitistas americanos liderados por Donald Trump e que tem seus laços nojentos também por aqui, no Brasil, onde provavelmente surgirão malucos antivacinas para atrapalhar, caso apareça uma vacina contra a Covid-19.
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POR‌ ‌José‌ ‌Pires‌

quinta-feira, 23 de julho de 2020

A filha do chefe da Casa Civil e a falta de jeito do governo de Jair Bolsonaro

A Casa Civil é um ministério que serve para evitar vexames como este da nomeação da filha do chefe da Casa Civil, Walter Braga Netto, em um cargo de gerência na Agência Nacional de Saúde Complementar (ANS). Na noite desta quarta-feira ela desistiu de ocupar a função, porém já foi criado o estrago político.

Claro que o perfil de um ocupante da Casa Civil exige que ele saiba de antemão que um negócio desses não poderia acabar bem. O próprio processo acarreta tamanho desgaste que nem com a desistência pode ser resolvido. Este é um caso em que voltar atrás não passa um atestado ético: o que fica é a imagem do flagrante de ilegalidade.

A nomeação sequer deveria ter sido cogitada, pelo simples fato de que a moça é filha do ministro Braga Netto. Embora o governo Bolsonaro já tenha um histórico lamentável em matéria de verificação de currículo, nem vem ao caso suas referências profissionais, que não eram boas. Ela é formada em Design e o profissional que seria retirado do cargo é um servidor formado em Direito com especialização na FVG. O salário é de R$ 13 mil.

O fato da moça ser filha do ministro já teria encerrado a questão, ou melhor, nem teria começado se o ocupante da Casa Civil fosse mais capaz. Mas o erro é ainda mais crasso. Parece que tiveram a ideia da possibilidade de um golpe de esperteza. Havia um nepotismo cruzado. A indicação foi feita por um irmão de um subordinado de Braga Netto na Casa Civil.

Nem se pode falar em volta dos velhos hábitos, pois com Bolsonaro eles nunca saíram do Palácio do Planalto, mas o caso é de um amadorismo constrangedor, com esta falta de habilidade até para maracutaias, que já é uma marca indelével do governo Bolsonaro. Quem sabe, agora com a "espertise" do Centrão talvez possam dar ao menos uma guaribada nos malfeitos.

Um bom chefe da Casa Civil não permite que algo do tipo sequer comece, muito menos chegar ao ponto que chegou. Não é novidade no governo de Jair Bolsonaro, mas o erro prosperou. A nomeação já estava para ser assinada quando tiveram que voltar atrás. Mas a verdade é que na política, como na vida, voltar atrás em certas atitudes serve apenas para demonstrar a falta de jeito para o inconfessável.
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POR‌ ‌José‌ ‌Pires‌

O propagandista da cloroquina, sem partido e com o futuro em risco

É patético ver Jair Bolsonaro ainda defendendo o uso da hidroxicloroquina para o tratamento da Covid-19, mas ele fica ainda mais ridículo tentando influir diretamente sobre o exercício da atividade médica, para justificar sua obsessão.

Em tuítada nesta segunda-feira em defesa do uso do remédio, o presidente compartilhou uma nota da Associação Médica Brasileira (AMB) que cita a autonomia do médico como argumento favorável à prescrição do uso da hidroxicloroquina para pacientes com Covid-19.

“É importante lembrar que o uso off label (fora da bula) de medicamentos é consagrado na medicina”, escreveu Bolsonaro. Opa, mais um pouco e este sujeito estará frequentando congressos médicos. Foi um mau militar, como dizia o general Ernesto Geisel, mas pelo jeito resolveu experimentar seus amplos conhecimentos na área médica.

Agora o “especialista” coloca em pauta a “autonomia do médico”, para manter no ar o repetido assunto da cloroquina, mesmo já estando em falta outros remédios importantes no tratamento da doença. Estão faltando até mesmo medicamentos para entubação de pacientes graves, mas ele só fala em cloroquina, que foi fabricada em excesso. É a conhecida política bolsonarista de levar os brasileiros a desperdiçar esforço em batalhas vazias.

No sábado passado, a Sociedade Brasileira de Infectologia tratou desses problemas em informe no qual pediu que o Ministério da Saúde pare de gastar dinheiro público “em tratamentos que são comprovadamente ineficazes”. Segundo a instituição, “é urgente e necessário que a hidroxicloroquina seja abandonada no tratamento de qualquer fase da Covid-19”.

O informe destaca que estudos feitos em pacientes com Covid-19 em 40 estados americanos e 3 províncias do Canadá “não teve nenhum benefício clínico: não houve redução na duração dos sintomas, nem de hospitalização, nem impacto na mortalidade”. Nos estudos, o uso de placebo ou cloroquina em grupos separados de pacientes teve o mesmo resultado: nenhum.

Claro que isso não fará Bolsonaro desistir da repetição de um tema que só tem atrapalhado durante esta pandemia, que já causou mais de 80 mil mortes no Brasil. Agora ele está até apelando para a “autonomia do médico”, entrando em um debate que não é da sua alçada.

Ele parece muito ocupado com questões profissionais bem distantes das suas reais obrigações. Mas como vão os trabalhos que lhe dizem respeito diretamente?

Peguemos, por exemplo, o registro do partido que ele pretende fundar, o Aliança pelo Brasil. Pelo menos em tese, eis um assunto que ele deveria dominar bem. Pois até  hoje seu partido só tem o nome. Nas eleições municipais deste ano, Bolsonaro terá de se virar sem uma sigla própria, que pode estar pronta para 2022, mas nem mesmo para o ano de eleição presidencial sente-se muita firmeza de que terá obtido o registro.

Até agora foi um fiasco a busca das assinaturas necessárias para o encaminhamento ao TSE. O fracasso do partido de Bolsonaro é um dado importante sobre as dificuldades de seu futuro político. Até a semana passada, o Aliança pelo Brasil conseguiu apenas 15.721 das 492 mil assinaturas de apoio exigidas pela legislação: 3,2% do mínimo necessário. A Folha de S. Paulo descobriu que 25.384 assinaturas foram rejeitadas pelo TSE por vários motivos.

Parece que na função de fundador de partido político o nosso especialista em cloroquina não vai nada bem. Como eu apontei, ele agora até fortalece as fileiras dos defensores da “autonomia do médico” para receitar o remédio que julga milagroso, no entanto tem sérias dificuldades para conseguir apoio suficiente para seu projeto político.

Mesmo com Bolsonaro no poder, não está fácil arrumar quem seja doido para correr o risco de assinar embaixo, avalizando seu partido.
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POR‌ ‌José‌ ‌Pires‌

segunda-feira, 20 de julho de 2020

A cantilena da cloroquina e outras inutilidades de Bolsonaro

É patético ver Jair Bolsonaro ainda defendendo o uso da hidroxicloroquina para o tratamento da Covid-19, mas ele fica ainda mais ridículo tentando influir diretamente sobre o exercício da atividade médica, para justificar sua obsessão.

Em tuítada nesta segunda-feira em defesa do uso do remédio, o presidente compartilhou uma nota da Associação Médica Brasileira (AMB) que cita a autonomia do médico como argumento favorável à prescrição do uso da hidroxicloroquina para pacientes com Covid-19.

“É importante lembrar que o uso off label (fora da bula) de medicamentos é consagrado na medicina”, escreveu Bolsonaro. Opa, mais um pouco e este sujeito estará frequentando congressos médicos. Foi um mau militar, como dizia o general Ernesto Geisel, mas pelo jeito resolveu experimentar seus amplos conhecimentos na área médica.

Agora o “especialista” coloca em pauta a “autonomia do médico”, para manter no ar o repetido assunto da cloroquina, mesmo já estando em falta outros remédios importantes no tratamento da doença. Estão faltando até mesmo medicamentos para entubação de pacientes graves, mas ele só fala em cloroquina, que foi fabricada em excesso. É a conhecida política bolsonarista de levar os brasileiros a desperdiçar esforço em batalhas vazias.

No sábado passado, a Sociedade Brasileira de Infectologia tratou desses problemas em informe no qual pediu que o Ministério da Saúde pare de gastar dinheiro público “em tratamentos que são comprovadamente ineficazes”. Segundo a instituição, “é urgente e necessário que a hidroxicloroquina seja abandonada no tratamento de qualquer fase da Covid-19”.

O informe destaca que estudos feitos em pacientes com Covid-19 em 40 estados americanos e 3 províncias do Canadá “não teve nenhum benefício clínico: não houve redução na duração dos sintomas, nem de hospitalização, nem impacto na mortalidade”. Nos estudos, o uso de placebo ou cloroquina em grupos separados de pacientes teve o mesmo resultado: nenhum.

Claro que isso não fará Bolsonaro desistir da repetição de um tema que só tem atrapalhado durante esta pandemia, que já causou mais de 80 mil mortes no Brasil. Agora ele está até apelando para a “autonomia do médico”, entrando em um debate que não é da sua alçada.

Ele parece muito ocupado com questões profissionais bem distantes das suas reais obrigações. Mas como vão os trabalhos que lhe dizem respeito diretamente?

Peguemos, por exemplo, o registro do partido que ele pretende fundar, o Aliança pelo Brasil. Pelo menos em tese, eis um assunto que ele deveria dominar bem. Pois até  hoje seu partido só tem o nome. Nas eleições municipais deste ano, Bolsonaro terá de se virar sem uma sigla própria, que pode estar pronta para 2022, mas nem mesmo para o ano de eleição presidencial sente-se muita firmeza de que terá obtido o registro.

Até agora foi um fiasco a busca das assinaturas necessárias para o encaminhamento ao TSE. O fracasso do partido de Bolsonaro é um dado importante sobre as dificuldades de seu futuro político. Até a semana passada, o Aliança pelo Brasil conseguiu apenas 15.721 das 492 mil assinaturas de apoio exigidas pela legislação: 3,2% do mínimo necessário. A Folha de S. Paulo descobriu que 25.384 assinaturas foram rejeitadas pelo TSE por vários motivos.

Parece que na função de fundador de partido político o nosso especialista em cloroquina não vai nada bem. Como eu apontei, ele agora até fortalece as fileiras dos defensores da “autonomia do médico” para receitar o remédio que julga milagroso, no entanto tem sérias dificuldades para conseguir apoio suficiente para seu projeto político.

Mesmo com Bolsonaro no poder, não está fácil arrumar quem seja doido para correr o risco de assinar embaixo, avalizando seu partido.
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POR‌ ‌José‌ ‌Pires‌

quinta-feira, 16 de julho de 2020

Weintraub, o ex-ministro da balbúrdia ataca novamente

Sempre duvidei da viabilidade da indicação do ex-ministro Abraham Weintraub para o posto de diretor-executivo do Banco Mundial, mesmo sendo para um mandato que vai apenas até o final deste ano. O próprio ministro Paulo Guedes já disse que teme um veto do banco ao nome de Weintraub, sendo do titular da Economia o aval para o notório encrenqueiro ocupar a vaga.

Foi realmente uma estratégia de gênio essa, de tirar Weintraub do Brasil porque ele produzia ruído demais por aqui, para mandá-lo para um lugar onde ele possa fazer uma bagunça internacional, exatamente na área financeira.

Imaginem um diretor do Banco Mundial, colocado lá pelo governo brasileiro, que postasse isso que foi publicado por Weintraub nesta terça-feira no Twitter. Vejam na imagem. É tão absurdo que até parece algo forjado por inimigos dele, mas peguei de fato na sua página no Twitter.

Nesta quebradeira em que estamos, com o país precisando desesperadamente mostrar credibilidade e necessitado de muito investimento externo, me parece que tem algo muito errado nesta indicação.

Mas se Bolsonaro e Guedes insistem mesmo na nomeação, que pelo menos afastem Weintraub das redes sociais e proibam este sujeito até de fazer comentários nas páginas dos outros.
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POR José Pires

quarta-feira, 15 de julho de 2020

O Capitão Corona e suas responsabilidades na pandemia do coronavírus

Gilmar Mendes tem uma longa carreira de desserviço ao Brasil, porém é preciso apontar que ele acertou ao alertar sobre a responsabilização dos militares pela desastrosa condução do governo Bolsonaro nesta pandemia, até porque não é nenhum grande mistério a posição lamentável em que ficaram as Forças Armadas pelo seu envolvimento em um governo que não tem como escapar de ficar conhecido como o mais desastroso da nossa história recente.

Acho até que o ministro do STF deu uma amenizada em seu espírito belicoso, pois colocou sua observação no plano de um alerta, quando é muito claro que já está irremediavelmente manchada a imagem dos militares brasileiros, com prejuízo inclusive à alegada fama da competência para resolver qualquer problema, como se a formação profissional de um militar tivesse um diferencial quase mágico em relação ao da população civil.

As Forças Armadas ficaram com a imagem bastante abalada, depois que o país conheceu o estilo de sargento de anedota desses generais que Jair Bolsonaro pegou como parceiros de um governo inepto e que faz qualquer negócio. Mas voltando ao que falou Gilmar Mendes, nesta terça-feira ele comentou novamente o assunto, buscando esclarecer inclusive o uso da expressão “genocídio”, que até mesmo críticos do governo vêm apontando como uma qualificação inadequada para os fatos que envolvem Bolsonaro e os militares nesta pandemia.

O ministro do STF afirmou que a expressão “genocídio” vem sendo levantada internacionalmente, pela preocupação com o avanço da doença entre as comunidades indígenas. Vejam o que ele disse:

“Como vocês sabem, estou na Europa. Participamos recentemente de um webinar com [o fotógrafo] Sebastião Salgado e a temática foi toda de ameaça aos povos indígenas. Salgado liderou um grupo apontando que o Brasil pode estar cometendo genocídio. Então é esse debate. A responsabilidade que possa ocorrer.”

>De fato, dependendo do efeito da Covid-19 entre os índios, devem surgir denúncias sérias contra o governo Bolsonaro em instituições internacionais, até mesmo na forma jurídica, em tribunais que tratam de direitos humanos. Atos desse governo e posicionamentos pessoais do próprio presidente podem motivar processos não só na justiça brasileira, como em tribunais internacionais.

Existem muitos materiais comprovando que houve muito mais do que descuido na condução de Bolsonaro em relação ao novo coronavírus, especialmente no desprezo com as comunidades mais desassistidas. Este é o presidente do "E daí?", que pretendia destinar apenas 200 reais para os mais pobres durante a pandemia. É dele também o veto a trechos do projeto de lei aprovado pelo Congresso que garantia aos índios e quilombolas durante a pandemia cuidados hospitalares e sanitários dignos, além de alimentação, auxílio emergencial e também água potável.

Cabe lembrar o desprezo de Bolsonaro pelas vítimas fatais quando acreditava-se que a letalidade do vírus atingia apenas pessoas mais velhas. Estávamos em março, com apenas 25 mortos. Com aquela sua falta de empatia como o outro, Bolsonaro foi tão duro ao colocar a morte de idosos como um mal menor que provocou uma reação emocionada do ator Lima Duarte.

“O discurso dele é uma coisa trágica pra mim. Ele quer dizer: ‘deixe o velho morrer’. Os jovens estão bem, os meninos estão bem, então, deixa o velho morrer”, falou Lima Duarte, em um vídeo que causou comoção nas redes sociais. “Conforme ele ia falando eu pensava: 'Ele está falando comigo. Ele quer que eu morra! É isso que ele está dizendo pra mim e para todos os velhos desse país, que velho não importa.' Difícil, né?”, completou o ator, que está com 90 anos.

Bolsonaro já está marcado internacionalmente como um governante altamente desastroso e até impiedoso durante esta pandemia, com atitudes que pelo descaso da sua posição negacionista conduziram o Brasil a uma quantidade colossal de mortes, com a Covid-19 por aqui já registrando quase 80 mil mortes e ainda longe da descida da curva, colocando o nosso país atrás apenas dos Estados Unidos nesta tragédia mundial.

A fama desse presidente sem noção já faz dele motivo de piada até em publicações reconhecidamente sisudas e de grande influência internacional, como saiu recentemente no Financial Times, com ele sendo chamado de “Captain Corona”. É impossível para Bolsonaro corrigir esta imagem negativa, do mesmo modo que será muito difícil que ele escape de responder juridicamente por acusações muito sérias.

Não importa que seja “genocídio” ou qualquer outra palavra que caracterize as responsabilizações criminais que certamente serão cobradas quando esta pandemia se amenizar. O que deveria preocupá-lo desde já é que haverá julgamento pelo que seu governo vem fazendo, neste seu negacionismo de consequências terríveis para a população brasileira. E claro que, além do plano moral, estas contas terão de ser prestadas na forma da lei.
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POR‌ ‌José‌ ‌Pires‌

terça-feira, 14 de julho de 2020

Nise Yamaguchi, da cloroquina ao Holocausto

A encrenca em que a médica Nise Yamaguchi se meteu com a comparação fora de propósito feita por ela entre o Holocausto e a atual situação brasileira, com o temor social causado pelo coronavírus, tem uma explicação muito simples. Desde que o país foi atingido pela pandemia, ela vem sendo leviana ao tratar de uma questão que envolve a saúde de toda uma população, com danos muito sérios relacionados até mesmo à economia do país. Para isso, Yamaguchi cria relações sem sentido, usando fatos cuja conexão serve apenas para justificar sua opinião favorável ao uso de hidroxicloroquina.

Levada pelo hábito, ela foi encontrar um sério problema ao usar um comparativo entre a nossa situação atual de pressão criada pelo medo da contaminação e o Holocausto judeu, o que foi tomado como ofensivo aos judeus pela direção do Hospital Albert Einstein, no que eles têm toda a razão. Nise Yamaguchi foi suspensa por este hospital, onde trabalha.

Ao trazer o Holocausto na sua fala “insólita”, como bem definiu em nota o Hospital Albert Einstein, a médica demonstrou não só uma grave dificuldade de interpretação de fatos como também a falta de percepção e responsabilidade quanto ao seu posicionamento pessoal. Parece que ela não presta atenção nem ao que acontece no seu entorno. O governo Bolsonaro, no qual ela tem um cargo de conselheira, já teve problemas com a comunidade judaica por causa de fala igualmente “insólita” de um ministro trapalhão, relacionada também à opressão do nazismo contra os judeus.

Talvez seja exigir demais da inteligência da profissional, mas ela não deveria ter com sua linguagem os cuidados referentes à sua condição de empregada de um hospital israelita?

A polêmica que causou a suspensão da médica veio de uma entrevista em um programa da TV Brasil, emissora do governo, com uma pauta evidentemente criada no Ministério da Saúde. Isso fica claro na conversação inicial entre a entrevistadora e a médica. O programa foi sobre “tratamento eficaz para o coronavírus”, conforme disse a jornalista, trazendo um furo mundial na voz de Nise Yamaguchi: a Covid-19 tem cura com um tratamento precoce feito com hidroxicloroquina.

Sim, a doutora Yamaguchi ainda está falando desse assunto, que, aliás, só existe no Brasil. É grande seu entusiasmo na defesa do uso do medicamento. Ela afirma que o tratamento que defende é usado em “vários países” da Europa. Também dá como referência que Donald Trump tomou o remédio preventivamente, sem apontar em momento algum, nem ela muito menos a apresentadora da TV Brasil, que os Estados Unidos já abandonaram esse tratamento e que a OMS já desistiu até de pesquisas sobre cloroquina.

Sei que as falas da doutora são absurdas demais, excessivamente simplórias como base de uma opinião, mas peguei exatamente da entrevista dada por ela, que tive a paciência de assistir na televisão do governo Bolsonaro.

O programa é um case que serviria como base de estudo do que não deve ser feito pelo jornalismo com uma pauta científica e sanitária e, claro, por uma profissional da medicina. Yamaguchi chega a afirmar que a ivermectina pode ser usada como prevenção ao coronavírus, o que é contrário ao indicado pela ANVISA e de quase todos os especialistas do setor.

Na entrevista, ela não toma sequer cuidado com os riscos da influência que uma opinião profissional pode ter sobre uma população em meio a uma pandemia, levando à automedicação e a busca excessiva de um remédio.

Nise Yamaguchi não abandona seus falsos fundamentos mesmo depois deles terem sido refutados cientificamente ou na prática por profissionais do setor médico, como ocorreu na França. Um de seus heróis é o médico Didier Raoult, o pioneiro defensor do uso da cloroquina, que para ela foi injustiçado na França, porque, ainda segundo suas palavras, “acharam que era um absurdo que remédios tão simples pudessem estar tratando uma doença tão complicada e também porque existia sim o interesse que grandes indústrias tivessem remédios muito mais caros”.

Dá para perceber de onde vem essa teoria da conspiração espalhada por bolsonaristas de que a cloroquina só não é usada porque não daria lucros às grandes corporações da indústria farmacêutica, não é mesmo? A verdade é que se dependesse do francês Raoult e da brasileira Yamaguchi o mundo estaria sofrendo ainda mais tragicamente com esta pandemia.

Se fossemos seguir esses dois, já não teria mais nenhum leito de hospital vago no mundo. O médico francês não acreditava sequer que o coronavírus estava vinculado à “realidade das mortes por doenças infecciosas”. A afirmação é de um livro dele publicado em março deste ano.

E Nise Yamaguchi tem relação direta com o Jair Bolsonaro, um presidente que teria arruinado o sistema sanitário de todo o país se tivesse conseguido implantar suas ideias sobre o coronavírus. Desinformado sobre este e outros tantos assuntos, no mês de março passado ele garantia que as mortes não passariam de 800. Já temos mais que isso por dia. No total, já ultrapassamos 70 mil mortes.
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POR‌ ‌José‌ ‌Pires‌

sábado, 11 de julho de 2020

O novo ministro da Educação e o velho Jair Bolsonaro

Jair Bolsonaro anunciou o novo ministro da Educação e não há muito o que falar dele, pois mesmo se fosse altamente capacitado na área dificilmente conseguiria fazer um trabalho de qualidade no ministério. Na verdade, com Bolsonaro na chefia é impossível até mesmo chegar a um rendimento razoável.

É patética a condição em que entra este novo ministro. Como nada está de pé no Ministério da Educação, com funcionamento precário até no que é mais básico embora o governo já esteja na metade do segundo ano, na prática ele terá que passar um período como se estivesse em um governo de transição. Quem sabe, um dia eles comecem de fato a trabalhar.

O presidente é um homem de múltiplas limitações, sendo além disso muito autoritário, grosseiro e ansioso para que suas vontades deem resultado de imediato, de modo que ele passa o dia atazanando seus subordinados, até mesmo por canais externos ao trabalho de governo. Para pressionar, Bolsonaro usa até a máquina de fabricação de fake news, que felizmente vem sendo desmontada pela ação da Justiça e até mesmo pelas plataformas que ganham muito dinheiro com o clima de zorra política e cultural criada por elas próprias.

Bolsonaro e seus seguidores passaram dos limites até do Facebook e Twitter, empresas que lucram com a balbúrdia, abrindo espaços para a liberação dos piores instintos, para a desinformação e a manipulação política. Pelo que se soube, a família Bolsonaro ocupou as redes sociais com o estilo de um “Escritório do crime” em Rio das Pedras, com a diferença que, conforme descobriu o próprio Facebook, a sede deste escritório digital fica no Palácio do Planalto.

No início de abril, quando Luiz Henrique Mandetta ainda era ministro, na entrada de uma reunião ministerial ele foi questionado por Bolsonaro sobre uma notícia que havia circulado no fim de semana, falando da renovação pelo ministério de um contrato de R$ 1 bilhão firmado no governo Dilma. A notícia era falsa. E alguém acha que Bolsonaro não sabia disso? É capaz que soubesse até de onde tinha vindo o fake news, que afinal, para ele é um modelo de governo.

Para atrapalhar o trabalho de Mandetta durante a pandemia chegaram até a fazer um perfil falso dele no Twitter, onde saíam críticas a Bolsonaro como se estivessem sendo escritas pelo ministro.

Agora, em julho, logo que o Facebook desbaratou a rede de milicianos digitais bolsonaristas, revelando que o responsável trabalha ao lado do gabinete presidencial, como assessor de Bolsonaro, ele publicou em seu perfil verdadeiro o seguinte:

“Que feio! Então eram vocês… Quem poderia  imaginar? O Facebook tirou do ar. Descobriu hoje? Demorou hein! Solidariedade a todas as vítimas das quadrilhas cibernéticas.”

O que ocorreu com Mandetta no Ministério da Saúde serve como exemplo de que nada pode dar certo neste governo, independente da qualidade pessoal do ministro. A atual condição da pandemia no Brasil, que ontem passou dos 70 mil mortos, mostra que a linha de trabalho proposta por Mandetta era a correta e que Bolsonaro sempre esteve completamente errado também nesta crise sanitária do coronavírus.

Vamos aos fatos. No dia 22 de março, Bolsonaro disse o seguinte: “No ano passado, o número de pessoas que morreram de H1N1 foram (sic) da ordem de 800 pessoas, a previsão é não chegar a esta quantidade de óbitos no tocante ao coronavírus”. Quando Bolsonaro fez esta tola previsão o Brasil tinha 1.546 casos confirmados, com 25 mortes registradas.

Como todos sabem, a opinião de Mandetta era diferente. O então ministro alertava sobre a duração e os riscos da pandemia, trabalhando com previsão científica da possibilidade de uma quantidade enorme de mortes, que poderia levar ao colapso do sistema hospitalar, com o risco, como cabe sempre apontar, da falta de atendimento evidentemente atingindo também pacientes de qualquer outra doença.

O plano de trabalho de Mandetta era intensivo, o de Bolsonaro era deixar a coisa acontecer, afinal sua previsão era de que menos de 800 pessoas morreriam da doença. Nesta sexta-feira o registro superou 70 mil mortes: exatamente 70.524. O número de mortes em 24 horas foi de 1.270. Já morre por dia mais gente do que Bolsonaro previa para toda a pandemia.

Alguém acha que é possível fazer alguma coisa de qualidade em um governo comandado por este sujeito sem noção? Vivemos uma tragédia que só não é maior por causa da ação de governadores e prefeitos, trabalhando sob o ataque cerrado de Bolsonaro, que atua o tempo todo como sabotador do esforço nacional contra o coronavírus.

Imaginem como estaríamos agora se a base da ação fosse a previsão de um total de 800 mortos. E é desse jeito que este presidente age em qualquer setor, feito uma saúva acabando com o Brasil. Por isso não cabe esperança de que algo pode ser feito com uma qualidade razoável neste governo.
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POR‌ ‌José‌ ‌Pires‌