As burradas internacionais de Lula acabaram causando mais um prejuízo para o Brasil, desta vez com a vitória de Javier Milei, na acachapante derrota do peronismo kirchnerista na primária eleitoral das eleições deste ano na Argentina. O presidente brasileiro se envolveu diretamente na eleição, de modo até intromissivo, chegando a fazer promessas de ajuda financeira ao governo de Alberto Fernández, obviamente na tentativa de criar um cenário político favorável para os governistas nesta eleição.
Os petistas estavam preocupados com a aliança conservadora liderada por Mauricio Macri, que governou a Argentina de 2015 a 2019. Pois terão que se ver não com uma, mas duas candidaturas fortes à direita, depois do sucesso surpreendente de Milei nas primárias partidárias.
Milei, da coalizão “Liberdade Avança” recebeu 30,04% dos votos, à frente dos 28,27% de Patricia Bullrich, da “Juntos pela Mudança”, do ex-presidente Macri. A coalizão de governista de esquerda “União Pela Pátria”, do candidato Sergio Massa, ficou com 27,27%.
No sistema eleitoral da Argentina, as primárias oficializam nos partidos a indicação para concorrer à presidência da República e ao Legislativo. O voto nas primárias é obrigatório, de modo que serve como avaliação da preferência da população nas eleições gerais, marcadas para 22 de outubro. Em um segundo turno, os eleitores da oposição juntem seus votos numa derrota quase certa para o peronismo kirchnerista.
Com dois candidatos fortes de direita já consagrados pelo voto popular pode-se prever uma campanha difícil para o candidato governista, que tem como obrigação dar resposta para uma carrada de problemas muito graves, entre outras coisas pelos resultados econômicos desastrosos do governo de Alberto Fernández, o amigo do Lula que durante essas primárias oferecia ao debate uma inflação de 113%, número que tem até uma coincidência irônica com o aliado brasileiro.
A inflação impressionante é apenas um sintoma de um desastre estrutural como nunca se viu antes na Argentina, espalhando a miséria entre a população. São muito tristes as cenas que podem ser vistas nas redes sociais, de famílias inteiras passando a viver nas ruas.
Já souberam de algo parecido? Pois é. Também conhecemos de perto uma outra questão muito grave que apavora os argentinos: o avanço da criminalidade, com o domínio do narcotráfico e de milícias, que também por lá já estendem seu violento poder para a política.
A criminalidade em alta explica em parte a boa votação da candidata Patricia Bullrich, que foi ministra da Segurança no governo Macri. Ela implantou uma linha dura no combate ao crime, apoiando o rigor da polícia, além de endurecer a posição do governo em relação à imigração ilegal.
Milei vai por este mesmo caminho, propondo tolerância zero com o crime. Mas que não se faça por isso um paralelo dele com Jair Bolsonaro, como se vê algumas pessoas fazendo na imprensa e nas redes sociais. Milei não finge que é um idiota em economia. Ele tem formação nesta área. O argentino também nada tem da característica de tiozão abestado de Bolsonaro, com as caricatas preocupações morais do ex-presidente brasileiro.
O sucesso junto aos eleitores se deve ao seu perfil de rompimento total com a política tradicional, que ele chama de “casta política”. Milei é um extremista também na economia. Ele é um “libertário”, uma linha radical da economia que tem como proposta a abolição do Estado em quase tudo na vida pública. Se for presidente, com certeza fará a esquerda ter saudades dos “bons tempos” do que chamam de neoliberalismo. Com essa linha econômica há meio-termo, não só na aplicação de medidas governamentais como também no debate político.
Foi o que ocorreu durante sua campanha na Argentina. Lula, que se abraçou literalmente com o presidente Fernández para ajudá-lo nesta eleição, pode esperar consequências disso logo mais, por aqui, nas nossas eleições municipais do ano que vem. Depois do exemplo argentino, os petistas e seus companheiros — ou camaradas — da esquerda podem ter que enfrentar uma oposição mais rigorosa no debate da economia e da gestão de governo.
Na minha opinião, este pode ser o efeito mais forte do sucesso da direita argentina. Uma transformação no método do debate político, com a consagração da consciência prática de que as políticas de esquerda devem ser tratadas de modo mais duro. Milei, por exemplo, não faz nenhuma concessão ao identitarismo e ao politicamente correto, muito menos com políticas sociais que, por décadas, o petismo vem usando desavergonhadamente com mero propósito eleitoral.
É impressionante um vídeo de Milei que foi muito compartilhado durante estas primárias, onde ele vai retirando da parede nomes de ministérios — saúde, educação desenvolvimento social, ciência e tecnologia, trabalho, emprego e assistência social, cultura, ambiente — e gritando “fora!”, enquanto joga tudo para o alto.
Esta é exatamente a visão de economia e gestão de um libertário. A ideia é a defesa da liberdade individual como um valor absoluto. Milei já foi explícito ao falar em dolarizar a economia argentina, acabando com o peso e fechando o Banco Central. Nesta visão econômica existe até mesmo a proposta de substituir a segurança do Estado por polícias privadas. Pode-se dizer que um libertário é alguém que acha um pouco moles figuras como Friedrich Hayek, Ludwig von Mises e outros grandes pensadores liberais do século XX, embora os respeitem.
Tem que se duvidar que, sendo eleito, Milei vá mesmo colocar em prática tamanha radicalidade econômica. Eu tenho muita desconfiança sobre as possibilidades técnicas dessa aplicação em uma economia arrasada, ainda mais em um país com pouco patrimônio público para colocar à venda. No entanto, já se tem a comprovação da eficiência disso como discurso, conforme os números eleitorais até agora. Podem esperar, que haverá bastante espaço para essa conversa por aqui, em nosso país, contando com o governo de Lula na desmoralização feita de forma tão absurda no papel de empresas estatais, de cargos políticos e da própria governabilidade.
A esquerda colabora bastante para que surja esse tipo de candidato “mucho loco”, que instiga delírios coletivos. Sabemos muito bem como é que esses ambientes de insanidade se abrem, a partir dos cenários de imoralidade, incompetência e criação de conflitos que são construídos por governos de esquerda. Da mesma forma que ocorreu na Argentina, vivemos por aqui este anacrônico renascimento de ideias totalmente fora de sentido, seja no aspecto econômico, geográfico, político ou mesmo do contexto da própria subsistência humana.
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Por José Pires