quinta-feira, 27 de dezembro de 2007

O cinema de cima

Em entrevista à Folha de S. Paulo, o ator norte-americano Jack Nicholson conta que não se distribuem mais filmes estrangeiros nos Estados Unidos como era habitual antigamente. Antes, diz ele, via-se “uma obra-prima por semana”. Bergman, Kurosawa, De Sica, Pasolini Bertolucci, Truffaut, Resnais, ele elenca esta série de nomes afirmando que cada semana tinha algo novo de fora para ser visto.

A indústria mudou. Foi tomada por conglomerados. Seria o fim do cinéfilo e a colocação do público de cinema no papel passivo de consumidor. A transformação seria efeito, segundo ele, do enorme crescimento da indústria cinematográfica em seu país e, claro, acrescento eu, o domínio cultural estabelecido pelo seu absurdo poder econômico que aplasta as outras culturas. “Uma empresa de filmes é, de certo modo, só um departamento de organizações maiores, mesmo para as pessoas que assistem aos filmes a sensação de sucesso fica distorcida por esses parâmetros, é difícil encaixar cinema de autor nesse conceito".

Curiosamente, uma demonstração desse brutal domínio, que inclusive impede os conterrâneos de Nicholson de ver obras estrangeiras, está na própria entrevista do ator. Um detalhe bastante definidor, talvez ignorado por ele. Abaixo da entrevista da Folha, em letras menores, bem pequenas mesmo, o jornal informa que o repórter viajou a convite da Warner Bros. E é por causa de expedientes assim que as nossas obras terminam não "viajando" para lá.
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POR José Pires

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