quinta-feira, 17 de janeiro de 2008

A morte ronda os homens de bem

Em sua coluna de hoje na Folha de S. Paulo, a jornalista Eliane Cantanhede noticia que a Polícia Federal identificou e fez malograr um plano para matar um gerente do Ibama contrário aos interesses de madeireiros da região Norte. A intenção era simular um assalto à mão armada e matar o gerente do Ibama Roberto Scarpari, que passava as férias no Rio de Janeiro.

Com a morte de Scarpari, que trabalha em Altamira, no Pará, fazendeiros e madeireiros teriam um pouco mais de sossego para destruir florestas. Ele é um desses funcionários públicos que realmente faz o seu serviço. E com isso atrapalha bastante essa gente.

Segundo Cantanhede, o gerente do Ibama foi um dos responsáveis, por exemplo, pela autuação da Amazônia Projetos Ecológicos, que mantinha castanhais no Pará. A empresa foi notificada para desocupar mais de um milhão de hectares e multada por queimada de áreas florestais.

O plano para matá-lo forjando um assalto à mão armada tinha evidentemente a intenção de esconder o caráter político do crime, que desse modo seria visto como apenas mais um em meio à violência que domina o Rio.

A jornalista da Folha fica apenas no atentado frustrado pela PF, mas o fato fez meu raciocínio avançar além disso. E me lembrei da morte do indigenista Apoena Meirelles.

Meirelles era funcionário da Funai e foi morto com dois tiros, no interior de uma das agências do Banco do Brasil de Porto Velho, em 9 de outubro de 2004. O sertanista era tido como um lutador pela causa dos índios e tinha boas relações com indígenas de todas as etnias. Era um dos poucos brancos por quem os índios tinham consideração e devido a essa respeitabilidade serviu como mediador, resolvendo sérios conflitos e evitando graves conseqüências. “Apoena vivia no meio dos índios porque gostava, não porque era preciso. Acho que tinha sangue de índio”, disse um dia o índio Raimundo Nonato Karitiana.

Apoena Meirelles presidiu a Funai no fim da década de 1980. Era filho de indigenista e foi de um antigo líder Xavante que seu pai tirou o seu nome. Foi ele quem fez o primeiro contato com os índios Cinta-larga, em 1967. Sua morte até hoje permanece inexplicada. O sertanista estava envolvido na investigação sobre o garimpo ilegal em Rondônia, na mesma região em que ocorreu a matança de 32 garimpeiros em abril de 2004.

A conselheira da Associação de Defesa Etno-Ambiental Kanindé, Ivaneide Bandeira, disse ao site "Amazônia à Vista" em outubro de 2006 que Meirelles detinha informações importantes. Um dia antes de morrer ele disse em uma reunião que pretendia “desmontar as falcatruas” que existiam na Reserva Roosevelt, local dos garimpos clandestinos.

Não tenho uma conclusão fechada sobre o assassinato do indigenista, mas o plano frustrado no Rio fortalece a suspeita de que Apoena Meirelles foi vítima de uma trama criminosa que deu certo.
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POR José Pires

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