De vez em quando o presidente Lula tem uma reunião em sua agenda pública, ou “Agenda do Senhor Presidente”, como é chamada pomposamente por sua Secretaria de Imprensa, que chamam de “Reunião - Coordenação”. Já disse aqui que, pelo que o governo mostra à opinião pública, a tal reunião devia ser chamada de “Reunião de descoordenação”.
E mantenho a afirmação. Vejam essa, o ministro da Agricultura, Reinhold Stephanes, declarou ao jornal O Estado de S. Paulo “que não acredita na Rodada Doha”. Stephanes é aquele ministro que meteu a pecuária nativa na enrascada com países importadores de carne do Brasil. Como sempre, houve tentativa de colocar a esperteza onde o exigido era a seriedade, artimanha que ofendeu países estrangeiros e fez mal à imagem do Brasil. Assim, foi criado mais um problema que levará um tempo para consertar. E do prejuízo com exportações todo mundo sabe.
E agora Stephanes vem desqualificar uma negociação do maior do governo brasileiro e que começou anteontem. Claro que sua fala já chegou aos ouvidos dos representantes dos outros países. O Brasil está lá buscando por meio da diplomacia criar uma situação melhor para a nossa agricultura e a maior autoridade governamental na área desmerece o encontro.
O ministro da Agricultura com sua inoportuna declaração invade a área do colega Celso Amorim, o Chanceler da República que já começou arranjando complicação com a inoportuna declaração em que citou Joseph Goebbels, o ministro da propaganda do Nazismo.
Stephanes diz que a Rodada “não servirá para nada”. Amorim pensa o contrário, é evidente, e até conseguiu fazer Lula se entusiasmar com o assunto. Mas enquanto ele se esforça em Genebra, aqui em casa o ministro da Agricultura diz que a coisa vai “dar em nada”.
É fácil saber de que lado Stephanes está. Ele próprio disse ao jornal O Estado de S. Paulo: "A liberalização de mercados agrícolas e a redução dos subsídios vão acontecer, inevitavelmente. Não em função de rodadas da OMC, mas por razões de mercado”. Bem, Lula colocou na Agricultura um liberal ortodoxo. E faz tempo que essa gente não acredita em ordenamento da economia, muito menos a global. O ministro está cumprindo seu papel: ataca a diplomacia porque não acredita nisso. Acredita no mercado. O problema é que o mercado está nas mãos dos países mais ricos, mas nem uma realidade tão clara o ministro deve aceitar.
Mas pelo menos Lula pode dizer que sobre isso nada sabia. Stephanes não contou para ele. Para o jornal, Stephanes deixou claro que não expôs seu ponto de vista para Lula. Lula é o presidente da República e está animado com os possíveis resultados em Doha.
É óbvio onde está a contradição. Um lado, o de Amorim, busca ordenar uma conjuntura que coloca em risco muito mais do que a economia − pode atingir os países pobres causando até a escassez de alimentos. O outro lado, o de Stephanes, acredita que o mercado se incumbe naturalmente de por ordem na situação. Já ouvimos esse papo e sabemos onde vai dar, não?
Mas o fato é que assim fica difícil de trabalhar. O governo petista precisa fazer com urgência uma Reunião de Descoordenação.
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POR José Pires
E mantenho a afirmação. Vejam essa, o ministro da Agricultura, Reinhold Stephanes, declarou ao jornal O Estado de S. Paulo “que não acredita na Rodada Doha”. Stephanes é aquele ministro que meteu a pecuária nativa na enrascada com países importadores de carne do Brasil. Como sempre, houve tentativa de colocar a esperteza onde o exigido era a seriedade, artimanha que ofendeu países estrangeiros e fez mal à imagem do Brasil. Assim, foi criado mais um problema que levará um tempo para consertar. E do prejuízo com exportações todo mundo sabe.
E agora Stephanes vem desqualificar uma negociação do maior do governo brasileiro e que começou anteontem. Claro que sua fala já chegou aos ouvidos dos representantes dos outros países. O Brasil está lá buscando por meio da diplomacia criar uma situação melhor para a nossa agricultura e a maior autoridade governamental na área desmerece o encontro.
O ministro da Agricultura com sua inoportuna declaração invade a área do colega Celso Amorim, o Chanceler da República que já começou arranjando complicação com a inoportuna declaração em que citou Joseph Goebbels, o ministro da propaganda do Nazismo.
Stephanes diz que a Rodada “não servirá para nada”. Amorim pensa o contrário, é evidente, e até conseguiu fazer Lula se entusiasmar com o assunto. Mas enquanto ele se esforça em Genebra, aqui em casa o ministro da Agricultura diz que a coisa vai “dar em nada”.
É fácil saber de que lado Stephanes está. Ele próprio disse ao jornal O Estado de S. Paulo: "A liberalização de mercados agrícolas e a redução dos subsídios vão acontecer, inevitavelmente. Não em função de rodadas da OMC, mas por razões de mercado”. Bem, Lula colocou na Agricultura um liberal ortodoxo. E faz tempo que essa gente não acredita em ordenamento da economia, muito menos a global. O ministro está cumprindo seu papel: ataca a diplomacia porque não acredita nisso. Acredita no mercado. O problema é que o mercado está nas mãos dos países mais ricos, mas nem uma realidade tão clara o ministro deve aceitar.
Mas pelo menos Lula pode dizer que sobre isso nada sabia. Stephanes não contou para ele. Para o jornal, Stephanes deixou claro que não expôs seu ponto de vista para Lula. Lula é o presidente da República e está animado com os possíveis resultados em Doha.
É óbvio onde está a contradição. Um lado, o de Amorim, busca ordenar uma conjuntura que coloca em risco muito mais do que a economia − pode atingir os países pobres causando até a escassez de alimentos. O outro lado, o de Stephanes, acredita que o mercado se incumbe naturalmente de por ordem na situação. Já ouvimos esse papo e sabemos onde vai dar, não?
Mas o fato é que assim fica difícil de trabalhar. O governo petista precisa fazer com urgência uma Reunião de Descoordenação.
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POR José Pires
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