quarta-feira, 24 de setembro de 2008

Cacicando o ninho

Pelo jeito, Alckmin está alcançando o que queria, e evidentemente não é a prefeitura de São Paulo, pois neste caso criou uma situação política sem saída para ele: talvez nem vá para o segundo turno, mas caso haja um impoderável empurrão de São Josemaria Escrivá (o santo fundador do Opus Dei e autor do livro de cabeceira do tucano) e ele vá para o segundo turno com Marta Suplicy, tudo indica que perde a disputa. E nem se pode dizer que a causa seja o fato do tucano ter queimado pontes: ele sequer se preocupou em construí-las. O projeto sempre foi outro.

O que Alckmin quer é o domínio do PSDB por um pensamento conservador e até clientelista. E está conseguindo disseminar esta idéia até no plano nacional.

Ontem ele conseguiu o apoio do governador Aécio Neves para este trabalho de transformação de vez do ninho tucano em um ninho de caciques. O governador de Minas interferiu na questão paulista com uma retórica de "unidade", mas explícitamente favorável à posição de Alckmin.

Preste atenção em uma fala de Aécio Neves, nela está o ideário que pretendem impor na política. Está em uma alusão maldosa a Clóvis Carvalho, fundador do PSDB, ministro importante de FHC e hoje secretário de Governo de Kassab, na prefeitura de São Paulo.

Na semana passada, em uma entrevista a Folha de S. Paulo, Carvalho cobrou compostura de Alckmin e condenou seus ataques ao governo Kassab, uma gestão que também é dos tucanos.

Vejam a fala de Aécio Neves: "Vejo muitos atores, inclusive secundários da vida política do partido, que nem sequer detêm mandato, jamais disputaram eleição, entrando numa discussão que, repito, não atende ao interesse maior do partido".

Entendeu o recado caro leitor e eleitor? É o que Alckmin e Aécio Neves querem. O poder nos partidos, inclusive na definição de rumos ideológicos e políticos, tem que estar nas mãos dos caciques, do pessoal com poder de barganha por meio dos mandatos. Quem não disputa eleição não tem direito à fala. Bem, isso tira fora do jogo o essencial da política. Pensando bem, tira até o eleitor. A partir desta visão, qualquer um que não tiver mandado serve apenas como massa de manobra.

É esse o objetivo dessa gente, muito mais do que esta ou aquela prefeitura. É a determinação de um poder de mando nas mãos dos políticos, especialmente os de carreira, aqueles que "detêm mandato", como diz o governador.

Tirando o fato de que quanto a mandatos Aécio Neves deveria dobrar a língua, pois além de não levar essa, Alckmin não tem mandato há anos, o projeto partidário dos dois é mesmo para revolucionar o PSDB. De tucano, o partido só vai ter as penas dos caciques.
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POR José Pires

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