Seria mesmo de muito bom proveito para os brasileiros uma real integração com os demais países de língua portuguesa. É claro que isso não será obtido por uma reforma ortográfica chinfrim. Isso nada vale, a não ser para criar terreno para a demagogia e o tilintar da caixa registradora de editoras. E para torrar a paciência de quem não passa o dia fazendo política, mas de fato usa a língua portuguesa.
Essa integração também nada tem a ver com almas e nem destino. Menos, menos... e menos romantismo também. Entre nações, relações baseadas em mútuo interesse já está muito bom.
Ah, puxa vida, nada daquela besteira que escreveram para o presidente Lula ler em discurso feito quando ele botou o jamegão no acordo ortográfico. Vamos ler de novo? Lá vai: “Quero destacar o imprescindível resgate dos nossos laços substantivos com a África, em particular com a África de língua portuguesa, que para nós representa mais, muito mais do que uma prioridade geopolítica. Diz respeito à nossa alma, à nossa identidade como nação multiétnica e multicultural, ao próprio destino da civilização brasileira”.
Deve ter sido um espanto para o Lula essas palavras saindo da sua boca. E depois, nossa, quanta emoção. Fico imaginando o Supremo Apedeuta de vez em quando virando-se para um assessor e comentando embevecido: “Como é mesmo aquele negócio bonito que eu falei quando mexemos na língua?”
Claro que a relação com os países de língua portuguesa é importante, mas não falemos em destino, não precisa, pois aí teríamos primeiro que ensinar inglês para a molecada. Claro, depois, de ensinar o nosso português.
Isso sem querer dizer que Portugal não tenha nada a oferecer para a gente. Tem e muito. Já pegamos bastante deles, ainda há muito para aproveitar. Mas se existe algum problema de entendimento, não é devido a uma consoante muda ou um trema. A não ser, claro, que a pessoa tenha azia com a leitura ou prefira encarar uma esteira de ginástica a abrir um livro.
Na internet, por exemplo, que permite uma comunicação eficiente e de longe — sem esse negócio de alma, ó pá! —, Portugal tem hoje um material de altíssima qualidade, principalmente em blogs pessoais, produção que evidentemente nasce de uma sólida formação cultural daquela gente. N'além mar estão fazendo ótimos blogs. No aspecto do estilo, da boa escrita e da escolha de assuntos realmente pertinentes eles por enquanto estão à frente dos brasileiros. E não sei a explicação, mas os sites jornalísticos deles não são lá essa coisa. Já os blogs, talvez porque não se fechem no em compromissos coemrciais e corporativos, são de ótima qualidade.
Mas um dia nós chegamos lá. Mas nada de romantismo de discurso, por favor. Do jeito que estamos, é bom encarar sem pudor nossos defeitos e consertar um por um. E estamos bem atrasados. Neste aspecto, o português José Almada Negreiros foi bem rigoroso como seus patrícios na primeira metade do século passado. Ele disse: “O povo completo será aquele que tiver reunido no seu máximo todas as qualidades e todos os defeitos. Coragem portugueses, só vos faltam as qualidades.” É um conselho duro. Mas não deixa de ser um bom começo.
............................
POR José Pires
Essa integração também nada tem a ver com almas e nem destino. Menos, menos... e menos romantismo também. Entre nações, relações baseadas em mútuo interesse já está muito bom.
Ah, puxa vida, nada daquela besteira que escreveram para o presidente Lula ler em discurso feito quando ele botou o jamegão no acordo ortográfico. Vamos ler de novo? Lá vai: “Quero destacar o imprescindível resgate dos nossos laços substantivos com a África, em particular com a África de língua portuguesa, que para nós representa mais, muito mais do que uma prioridade geopolítica. Diz respeito à nossa alma, à nossa identidade como nação multiétnica e multicultural, ao próprio destino da civilização brasileira”.
Deve ter sido um espanto para o Lula essas palavras saindo da sua boca. E depois, nossa, quanta emoção. Fico imaginando o Supremo Apedeuta de vez em quando virando-se para um assessor e comentando embevecido: “Como é mesmo aquele negócio bonito que eu falei quando mexemos na língua?”
Claro que a relação com os países de língua portuguesa é importante, mas não falemos em destino, não precisa, pois aí teríamos primeiro que ensinar inglês para a molecada. Claro, depois, de ensinar o nosso português.
Isso sem querer dizer que Portugal não tenha nada a oferecer para a gente. Tem e muito. Já pegamos bastante deles, ainda há muito para aproveitar. Mas se existe algum problema de entendimento, não é devido a uma consoante muda ou um trema. A não ser, claro, que a pessoa tenha azia com a leitura ou prefira encarar uma esteira de ginástica a abrir um livro.
Na internet, por exemplo, que permite uma comunicação eficiente e de longe — sem esse negócio de alma, ó pá! —, Portugal tem hoje um material de altíssima qualidade, principalmente em blogs pessoais, produção que evidentemente nasce de uma sólida formação cultural daquela gente. N'além mar estão fazendo ótimos blogs. No aspecto do estilo, da boa escrita e da escolha de assuntos realmente pertinentes eles por enquanto estão à frente dos brasileiros. E não sei a explicação, mas os sites jornalísticos deles não são lá essa coisa. Já os blogs, talvez porque não se fechem no em compromissos coemrciais e corporativos, são de ótima qualidade.
Mas um dia nós chegamos lá. Mas nada de romantismo de discurso, por favor. Do jeito que estamos, é bom encarar sem pudor nossos defeitos e consertar um por um. E estamos bem atrasados. Neste aspecto, o português José Almada Negreiros foi bem rigoroso como seus patrícios na primeira metade do século passado. Ele disse: “O povo completo será aquele que tiver reunido no seu máximo todas as qualidades e todos os defeitos. Coragem portugueses, só vos faltam as qualidades.” É um conselho duro. Mas não deixa de ser um bom começo.
............................
POR José Pires
Nenhum comentário:
Postar um comentário