segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

Xô azar!

José Sarney acaba de se eleger presidente do Senado. Eu, se fosse o Lula, me cuidava. O cargo é o terceiro na linha da sucessão e, bem, com o vice José de Alencar mal de saúde como está, Sarney logo pode ser o segundo. Nem pensemos nisso (bate na madeira).

Mas aí mora o perigo. Sarney dá azar. Nos estertores da ditadura militar, tudo vinha bem até ele aparecer. Deu no que deu: a construção da democracia entrou em agonia, veio a morte de Tancredo Neves, e o político esquisito que sempre servira aos milicos e que por um capricho pessoal se bandeara para a candidatura de Tancredo acabou virando presidente da República.

Foi o pior governo depois da ditadura militar. Sarney foi um desses acontecimentos que, de tempos em tempos, ocorrem para impedir que o país ande. Então, quando era a época do cultivo da ética e do planejamento, para que o país pudesse enfim colher algo de bom, cevou-se a corrupção e o desleixo administrativo. No governo, usou a administração da economia para as politicagens mais baixas. Criou planos econômicos embalados na demagogia e na manipulação da opinião pública.

O que veio depois, da roubalheira de Collor de Mello aos mensalões petistas, tudo tem sua origem nos malfeitos sarneyzistas. Para que tivéssemos algo melhor agora, era indispensável que no pós-ditadura se desse início a uma estruturação político e social de qualidade para o país, mas Sarney foi um estímulo ao que de pior existe na política.

Fala-se bastante em “década perdida”. Pois da ditadura pra cá Sarney tem se empenhado a fundo para se perca cada década. Se for para algo não ir bem, Sarney é o homem. É um desconstrutor nato.

Na presidência, ele fez as mais vergonhosas barganhas para aumentar o mandato para cinco anos. Conseguiu e foi até 1990, quando saiu do governo com a nossa economia com a maior inflação da história: 2.751%. Isso mesmo, vou repetir: 2.751%.

Depois, virou um senador esquisito, masi até que a estranha normalidade do Senado. É do Maranhão, mas foi eleito pelo Amapá. Sua família domina o Maranhão há décadas desde que, em 1965, virou governador do estado com o apoio da Ditadura Militar. O Maranhão é o segundo estado mais miserável do país, uma façanha, cá entre nós, já que no conjunto Brasil não vai nada bem.

Porém, desgastado em seu estado natal, ele teve que fazer outro para se eleger. Foi em seu governo que o Amapá saiu da condição de território para estado.

Mas mesmo no Amapá, na última eleição entrou raspando no Senado. Por pouco não perdeu a eleição. A imagem acima é de uma campanha contra sua eleição para senador que surgiu nos muros da capital, Macapá, e se espalhou pela internet. Foi a ocasião também para Sarney revelar seu perfil autoritário: processou gente, mandou fechar blogs na internet.
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POR José Pires

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