terça-feira, 7 de abril de 2009

Protógenes, o assunto interminável

O delegado federal Protógenes Queiroz tem um deslumbramento de foca na sua relação como investigador da imprensa. Foca é o jargão jornalístico para definir o novato na profissão. E cada trecho novo que aparece de seu trabalho investigativo vem confirmar que nesse negócio de mídia ele é mesmo um neófito.

O jornalista Claudio Julio Tognolli teve acesso a dois arquivos confiscados pela Corregedoria da Polícia Federal nos computadores do delegado. Os arquivos fazem parte das centenas de documentos do inquérito que apura abusos na Operação Satiagraha.

É a batelada de arquivos que o delegado tinha no HD de seu computador, junto com o esboço da autobiografia intitulada "Protógenes, a lenda". No HD, viu-se depois que Protógenes avançou além dos objetivos da Operação Satiagraha, espionando pessoas que nada tinham a ver com os objetivos da investigação, que eram os negócios de Daniel Dantas, o banqueiro do Opportunity.

Nos dois arquivos, disponibilizados por Tognolli no site Consultor Jurídico, repete-se a ineficiência investigativa revelada nos primeiros vazamentos da Satiagraha.

No primeiro relatório vazado para a imprensa há meses já era evidente a dificuldade de Protógenes Queiroz e sua equipe em compreender procedimentos básicos do cotidiano profissional de um repórter. Tamanha incompetência os levou a interpretar um e-mail de uma assessoria de imprensa captadora de clipping como se fosse o jornalista Paulo Henrique Amorim se vendendo para Daniel Dantas. Desse modo, tomaram como aliados dois inimigos notórios.

Os blogs e sites chapas-brancas já se movimentam para atacar o trabalho de Tognolli, colocando em dúvida os motivos para este novo vazamento. Levantam novamente a teoria conspirativa de que tudo é parte de um esquema para desqualificar o trabalho de Protógenes.

Mas a verdade é que fogem da questão principal, que é a própria fragilidade do trabalho investigativo do delegado da PF. Seus relatórios parecem mais ensaios jornalísticos do que uma peça judicial. Maus ensaios, é claro, já que para o jornalismo, como eu já disse, o delegado não passa de um foca.

O material revelado por Tognolli refere-se apenas ao esquema que o banqueiro Daniel Dantas teria montado na imprensa brasileira, razão principal da expectativa em torno dos resultados da Operação Satiagraha. E estes trechos inéditos novamente decepcionam. A decepção maior, é claro, foi de quem esperava uma peça incriminatória com provas do domínio de Dantas sobre jornalistas e veículos de oposição a Lula.

O resultado é tão pífio que obrigou Luís Nassif, um dos blogueiros que mais acreditou na Operação Satiagraha em seu início, a afirmar que o relatório tem poucos trechos efetivamente relevantes.

Bem, eu li todo o conteúdo. O relatório não tem trecho algum relevante. É um amontoado de análises desconexas. Os policiais destacam cenas e diálogos irrelevantes. Aparentam saber pouco sobre o objeto da investigação. Em um determinado trecho flagram um diálogo telefônico entre Naji Nahas e alguém com um nome bastante conhecido. E apenas destacam entre parênteses que existe um jornalista famoso com o mesmo nome: Roberto D' Ávila. Mas é ou não é o jornalista?

O relatório acrescenta que "pelo tom de voz e a forma de se expressar, muito provavelmente é o apresentador do programa “Conexão Roberto D´Ávila”, que vai ao ar pela TV Brasil. Ora, na PF não é possível comparar as vozes para checar um fato desta relevância?

Aí também já é deficiência profissional também na área policial. Mas o desconhecimento de procedimentos profissionais da imprensa leva à interpretações erradas sobre as atividades das pessoas espionadas. E acabam vendo arranjos conspiratórios onde parece estar havendo apenas acertos de entrevistas ou busca de informações com as fontes.

Para Protógenes Queiroz todo jornalista que escreve sobre Daniel Dantas é um suspeito. Neste relatório eles misturam bastante as coisas, lançando a suspeição até sobre a revista Carta Capital, editada por Mino Carta, outro notório inimigo do banqueiro do Opportunity. Na revista, Dantas é tratado sempre como “o orelhudo”.

Já se forma uma mobilização para culpar Tognolli por ter juntado todos os jornalistas na lista com a intenção de desqualificar Protógenes, mas acontece que o quadro listando os veículos de comunicação e depois os autores das matérias foi criado pelos próprios policiais. Portanto, se alguém misturou as bolas foram os investigadores.

O relatório transparece ambiguidade. Este é um defeito terrível em qualquer texto e mais ainda em um relatório policial. Neste caso, qualquer ambiguidade prejudica de forma irreparável o resultado.

Luiz Antonio Cintra, da Carta Capital, um dos jornalistas citados no relatório da PF, usou o blog de Nassif para afirmar que irá processar o site onde Tognolli publicou a notícia. Ele se sente difamado. E o mais estranho é que na mesma nota em que faz a ameaça, Cintra insinua que Tognolli favorece a estratégia jurídica dos advogados de Dantas. Ele até pergunta se foi “coincidência ou estratégia jurídica” a simultaneidade entre a divulgação da lista por Tognolli e o depoimento de Protógenes na CPI dos Grampos, marcado para esta quarta-feira.

É óbvio que um processo entre jornalistas deve embolar ainda mais o caso. É um modo estranho de esclarecer um assunto já tão confuso. Mas o fato é que foi apontado mais um suspeito de trabalhar para Daniel Dantas. É por isso que os jornalistas adoram Protógenes Queiroz. Com ele a pauta não acaba.

O delegado é tão eficiente para esquentar notícias que até o livro de Diogo Mainardi, o sucesso de vendas, público e detratores “Lula é Minha Anta”, é citado no relatório. Pronto. Eu não disse que Protógenes é o cara? Mainardi já tem assunto para esta semana.

A reportagem de Claudio Julio Tognolli no site Consultor Jurídico, onde tem também o link para o relatório, está aqui.
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POR José Pires

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