terça-feira, 2 de junho de 2009

Efeito Tostines

Mas também o Datafolha avalia a popularidade de Lula como bastante alta. Bem, quanto ao Datafolha não há o que questionar em credibilidade. O instituto de pesquisas é da mesma empresa que edita o jornal Folha de S. Paulo. Se faltasse independência às suas pesquisas certamente eles teriam péssimos resultados para o mais importante produto da empresa, que é o jornal.

Até por questões práticas seu instituto de pesquisas tem que ser tocado com independência. A menos que se dependure em publicidade do governo ou coisa pior, credibilidade é matéria prima indispensável para uma empresa jornalística. Jornal impresso é ainda mais. TV e rádio ainda podem enganar com certa eficiência seus consumidores. Para um jornal é mais difícil.

Então o Datafolha está certo? Em parte. Os institutos de pesquisas, mesmo o Datafolha, tem tido uma dificuldade danada para apresentar números em pesquisas eleitorais que estejam próximos dos apresentados de fato após a eleição. As últimas eleições mostram bem isso. Isso em análises de um quadro já perfeitamente definido, com os candidatos já apresentados em horário eleitoral e nas demais propagandas políticas. Alguns institutos erram, se é que é mesmo apenas um erro, em números apresentados algumas semanas antes do voto do eleitor.

Tirando a maracutaia, muito comum nesta área, eu acho que no Brasil existem mesmo certas dificuldades técnicas para colher dados em trabalhos que lidam basicamente com opinião, caso das pesquisas eleitorais, e muito mais as pesquisas de popularidade. Até as classe sociais não são bem definidas neste país. Também não temos uma classe média sólida, tanto no aspecto econômico quanto histórico.

O que as pesquisas fazem, sem dúvida, é criar um novo quadro a partir da apresentação de seus próprios números. Dilma Rousseff está crescendo nas pesquisas? Claro que sim, pelo simples fato de que está crescendo nas pesquisas.

Acima do conhecimento técnico de uma realidade, as pesquisas são um fato jornalístico, um material de informação que dependendo do uso que se faz delas pode dar viabilidade política até para o poste que surge sempre neste assunto. Isso ocorre até mesmo com pesquisas na área científica. Grandes corporações do setor farmacêutico ou de biotecnologia fazem fortuna e demolem opositores com este processo. Estes dois setores muito ativos na manipulação da opinião pública dispendem grandes somas em dinheiro e privilégios no aliciamento de jornalistas, cientistas e a área acadêmica para dar credibilidade às porcarias que enfiam goela abaixo dos consumidores.

Isso funciona até melhor até na área política. É importante, claro, ter à mão a máquina pública. E isso Lula tem. E em conjunto com um partido, o seu PT, a organização política brasileira que mais soube fazer uso da instrumentalização do Estado em benefício partidário e eleitoral.

Vamos à intenção de voto para presidente da República, antes da popularidade de Lula. Todos estão de olho em Serra e Dilma. Eu fico mais embaixo, em Heloísa Helena. A ex-candidata do PSOL é hoje vereadora em Alagoas e tem na pesquisa do Datafolha, 10% das intenções de voto.

Eu fico imaginando alguém hoje em dia pensando em votar em Heloísa Helena. Não em Alagoas, mas em Campinas, por exemplo. O sujeito acorda, escova os dentes, e enquanto toma o café da manhã pensa lá com seus botões: “Eu vou votar na Heloísa Helena”. E tem também o Ciro Gomes. Está com 15%. É a mesma coisa. Fico aqui imaginando esta imensidão de brasileiros querendo votar no boca suja. Não é muita gente, não?

Na eleição de 2006, Heloísa Helena ficou com 6,85%. Ciro Gomes em 2002 ficou com 11,97%. O Datafolha mostra um crescimento danado dos dois. Heloísa Helena só pode ter saltado para 10% por causa de sua vibrante atuação na Câmara de Vereadores de Maceió, já que só foi assunto nacional nos últimos dias quando a imprensa descobriu que ela deu passagens aéreas da sua cota parlamentar no Senado para o filho viajar mesmo depois de ter saído do cargo.

E Ciro Gomes? Talvez o bate-boca com os jornalistas no cafezinho do Congresso tenha dado lucro, enfim, ao mais nobre deputado do baixo clero.

Para mim, o que existe é a apresentação dos nomes. Apenas isso. E o eleitor pesquisado, muitos movidos por um “minha-mãe-mandou-escolher-esse-daqui”, aponta o preferido. O trabalho posterior é que torna a pesquisa “científica”.

Dilma Roussef está crescendo nas pesquisas simplesmente porque está crescendo nas pesquisas. É um “efeito Tostines” no qual você entra com o dinheiro e eles é que comem o Tostines.
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POR José Pires

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