sexta-feira, 6 de novembro de 2009

A serpente de bigode

O livro “Honoráveis Bandidos” não está à venda nas livrarias de São Luís, a capital do Maranhão. Nenhuma livraria de lá aceitou colocar a obra na vitrina. Nem nas estantes, é claro. O medo de represálias da família Sarney pode explicar esta recusa, mas esta não é uma justa expressão, pois acaba sendo sempre um caminho fácil para justificar a covardia. Livraria é basicamente uma casa de idéias. Então, se nela não tem a matéria-prima da liberdade de expressão, então é caso até de Procon.  

Mas o fato é que não adianta procurar “Honoráveis Bandidos” nas livrarias ludovicenses. Como? Ah, o natural da capital maranhense é denominado “ludovicense”. Mas deixemos esta estranheza de lado: ao livro. Ontem finalmente aconteceu o lançamento em São Luís, que teve uma manifestação de boas vindas ao estilo da família Sarney.

Como nenhuma livraria aceitou abrigar o lançamento, ele acabou acontecendo na sede local do Sindicato dos Bancários, que foi invadida por manifestantes ligados ao sarneysismo. Eles depredaram a sede do sindicato, onde até uma porta foi quebrada, e jogaram ovos e tortas no jornalista Palmério Dória, autor do livro.

A Folha de S. Paulo, que traz a notícia, não informa se os objetos acertaram o alvo, mas o próprio jornal errou na chamada da matéria: “Acaba em pancadaria lançamento de ‘Honoráveis Bandidos’ em São Luís”.

Nada disso, editor. A chamada certa é: “Lançamento de ‘Honoráveis Bandidos’ em São Luís acaba em agressão”. Ou então, para situar melhor o leitor: “Lançamento de ‘Honoráveis Bandidos’ em São Luís acaba em agressão feita por partidários do senador Sarney”. Ou até mesmo: “Lançamento de ‘Honoráveis Bandidos’ em São Luís acaba em agressão feita por partidários do nosso colunista, o senador Sarney”. Esta última com um tom mais aproximado à política editorial do jornal.

O importante é chamar o fato pelo nome. Se não dermos a essas patifarias sua definição certa a tendência é sempre levar mais calor ao ovo da serpente. Neste caso, de bigode.

O uso da violência é sempre lamentável, mas nesta situação houve até uma metalinguagem que engrandece o lançamento de “Honoráveis Bandidos” e robustece conceitualmente o livro. A agressão mostra a obscura face interna do afável senador José Sarney — a verdadeira, que conquistou e mantém de fato a estrutura de seu poder. Este senhor com ares pacatos que vemos em Brasília é só a imagem trabalhada e visível da dominação. Ou alguém pensa que, tanto no Amapá, estado que ele usou para obter o mandato, quanto no Maranhão, o patriarca Sarney mantém o poder com sorrisos?

Nada disso. É no pau, mesmo. Da mesma forma que aconteceu agora no lançamento de um livro que desagrada aos interesses de seu clã.
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POR José Pires

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