segunda-feira, 19 de abril de 2010

Muito abaixo da cintura

Correm na internet várias teorias conspiratórias nascidas em blogs de apoio oficial ou oficioso à candidata do presidente Lula, mas pouca batem, em ridículo, esta que acusa a Rede Globo de usar seu aniversário para fortalecer a candidatura de Serra. E o pior é que o golpe deu certo: a campanha institucional de aniversário da emissora foi cancelada antes de completar 24 horas no ar.

As teorias conspiratória petistas tem sempre um ponto em comum. O mundo gira apenas em torno da eleição para presidente da República e neste rodar o único sentido que é do bem evidentemente é o da candidata do Lula. Quem não pensa igual a eles recebeu sempre o rótulo de tucano. Tem que gostar até da peruca da Dilma, senão é chamado de serrista.

Dessa forma, enquanto os números deste ou daquele instituto de pesquisa favorecem a candidata petista, tudo bem. Vox Populi, Sensus e até mesmo o Ibope são tratados como repositórios da verdade científica. Mas quando os números não combinam com o que eles querem, como é o caso das recentes pesquisas do Data Folha, aí as acusações surgem são as mais baixas possíveis. E como eles sabem ser baixos. O Datafolha tem sido acusado de fraudulento. Logo o Datafolha, que eles sabem ser o instituto de maior credibilidade no país.

É uma conspiração de direita, é claro. Sempre a direita querendo acabar com um governo tão bacana apoiado por esquerdistas como José Sarney, Maluf, Renan Calheiros e Fernando Collor. Esta é a receita seguida à risca pela blogosfera petista. Todos fazem direitinho a lição de casa. E a cartilha vem de cima, sabemos. Além de também uma boa grana para os mais privilegiados.

Qualquer um que hoje não esteja torcendo de forma incondicional pelo sucesso do governo Lula e a vitória de sua candidata só pode ser da direita. É parte desta conspiração.

E a conspiração é tão articulada que a Globo chegou ao ponto de calcular há exatos 45 anos o momento de sua fundação, para que houvesse a coincidência neste 2010 com a candidatura do PSDB e seu número 45. Esse Roberto Marinho era fogo!

O rótulo evidentemente não se encaixa em direitistas históricos que hoje estão abraçados à Lula. Gente como Collor de Melo, Sarney, Renan Calheiros e tantos outros conhecidos representantes da direita no país e chefes notórios de esquemas corruptos são tratados com o maior respeito, enquanto sobram insultos para quem exerce seu senso crítico em relação à roubalheira instalada no país e a burrice galopante que toma conta da nossa cultura política.

É bem fraquinha a campanha que a Globo tira do ar motivada pela pressão política nascida no esquema pago que a candidata de Lula e o próprio chefão mantêm na internet. A propaganda usava o manjado jogral de tantas campanhas políticas e até de comerciais de lojas de varejo. Dava para fazer melhor. Ou mais.

Me impressionam duas coisas neste episódio. Primeiro a aparente ingenuidade dos dirigentes da Globo em não perceber de antemão que a associação de sua campanha com a candidatura de Serra poderia ser feita com a maior facilidade. Também, onde já se viu fazer 45 anos neste ano? Depois a total falta de escrúpulos que faz de um amplo setor da esquerda brasileira uma mão-de-obra pronta para qualquer esquema sujo, sem nenhum problema em usar qualquer argumentação, seja contra quem for. Pelo poder, vale tudo.

Usa-se a universidade pública e qualquer atividade da área do pensamento. Não há mais espaço para a credibilidade intelectual. A artimanha marqueteira se entremeia em textos que fingem tratar de sociologia e até de filosofia. Colunista políticos soltam textos que teriam sentido apenas como propaganda político-partidária. Nunca se viu o debate público descer tanto. Fazem de uma disputa presidencial objeto de mesquinharias ao nível da mais suja eleição interiorana.

E quando pensamos que eles já desceram ao mais baixo da sarjeta em termos de credibilidade política, intectual ou profissional, eles mostram que podem mais. Não estou falando das críticas à campanha da Rede Globo e seus 45 anos. Que fosse treze a idade da Globo, mesmo assim a má qualidade do debate não seria menor e este é o real problema: este estilo vil que eles buscam instalar no pensamento brasileiro.
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POR José Pires

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