quarta-feira, 26 de maio de 2010

Meu nome é Dilma!

O que o encontro de ontem entre os presidenciáveis trouxe de mais chocante e de enorme peso simbólico foi a performance da ex-ministra Dilma Rousseff e candidata do PT.

Dilma é representativa de vários vícios políticos deste governo e do partido que está no poder. Sua escolha em momento tão expressivo e até crucial na história do PT, mostra bem a eficácia a derrocada de um modelo político, que pode muito bem ser chamado de lulo-petismo. Não acho que exista um “lulismo”. Sem a chave do cofre, Lula deterá o poder que tem agora sobre o petismo? Duvido. E também não terá a expressão que imagina para seu futuro, ele e a Folha de S. Paulo, que até coloca em manchete que basta que ele escolha entre a secretaria-geral da ONU e o Banco Mundial.

O caminho do PT tinha mesmo que dar na Dilma. Falei lá em cima da primeira derrota Serra para prefeito. Foi em 1988, ano da Constituinte, e ele perdeu para Luiza Erundina, que saiu do PT lá atrás praticamente excluída do partido. E Dilma? Nessa época era gaúcha (parece que agora é mineira) e do PDT.

A destruição gradativa dos quadros petistas, seja pelo corte implacável feito pelos caciques ou pela queda política causada por escândalos de corrupção, acabou abrindo o espaço que hoje é dela. Um cacique impôs uma que não é relevante nem na história do próprio PT. Isso é auto-explicativo para um partido que pegou todos os velhos defeitos da política brasileira.

Por isso a santinha deve ser vista como um símbolo. Um partido famoso pela qualidade parlamentar e capacidade de sua militância para o debate (para o bem ou para o mal, mais para o mal) acabou em uma candidata que nem sabe falar em público. Dilma não sabe como dizer e quando diz alguma coisa passa a impressão de que não sabe do que está falando. No encontro, não respondeu a nenhuma das questões que foram colocadas. Tratou também cada assunto com a agressividade contida de que já falei.

Perde-se em digressões que não dizem nada, traz números que não se referem ao assunto tratado, e faz isso em todos os assuntos. Não tem uma fala que se aproveite. Imagino o desespero de um marqueteiro que for editar o material produzido pela candidata. Não vai encontrar nada que preste e ainda corre o risco de ser xingado por ela.

Dilma é efeito tostines. Sua candidatura revela a falência do partido ou foi a falência que deu numa candidata tão despreparada? Se Dilma não representasse um partido que está no poder há oito anos e que esteve presente na vida política brasileira de forma atuante nas últimas décadas, além de administrar prefeituras importantes e até estados brasileiros, certamente seria tratada pela opinião pública com o mesmo tom jocoso que merecem candidatos nanicos que entram nas disputas apenas para sofrer vexames.

Não seria um exagero dizer que Dilma é um Enéas. E um Enéas que tem pela frente a dificuldade de não poder dizer apenas o nome (Meu nome é Dilma!), uma candidata que sofre com a exigência de um discurso mais longo e aprofundado.

Sua escolha, feita com um dedaço de Lula, passando por cima do PT e alijando da disputa nomes do partido mais competentes em todos os aspectos e até lançando fora da disputa com a pressão da máquina pública um aliado como Ciro Gomes, é o retrato que finalmente foi revelado de um partido que cresceu na cômoda situação de uma oposição sem responsabilidades e que chafurdou na corrupção sempre que que obteve o poder.

Dilma candidata à presidente da República é duplamente assustador. Primeiro pelo óbvio: ela pode ser a presidente. E depois, porque este despreparo cômico e até constrangedor reforça a apreensão sobre a situação real do nosso país. Nos dois mandatos de Lula ela esteve atuante no círculo mais alto do governo e no segundo mandato era a segunda em poder de mando. Até poucos meses atrás, era ela quem mandava. E mesmo hoje, a máquina de governo caminha sempre em conformidade com os passos da sua campanha eleitoral.

Observar essa tecnocrata de má-qualidade faz temer o que virá no ano que vem, quando a caixa-preta for aberta ou explodir de tantos problemas.
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POR José Pires

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