sexta-feira, 18 de junho de 2010

Tour europeu

A imprensa brasileira atende às pautas criadas pelos políticos com uma facilidade que chega a ser constrangedora. Os jornalistas foram à Europa atrás de Dilma Roussef, quando deveriam ter ficado por aqui e explicado a seus leitores o que é que a candidata de Lula foi fazer na Europa.

Dilma viajou para criar um factóide. E os jornalistas foram ajudá-la em vez de se concentrarem no que realmente importa.

A coordenação da candidata do Lula sabe que um dos problemas mais sérios deles nesta eleição é a falta de conteúdo de Dilma. Por isso inventaram esta viagem, que serviu também como pretexto para ela fugir de uma sabatina promovida pelo UOL e pela Folha de S. Paulo.

Dilma fez uma visita ao presidente da França, Nicolas Sarkozy. Ah, dirão alguns, então a viagem tem mesmo que ter cobertura da imprensa, pois ela até foi recebida pelo Sarkozy. Bem, dá para notar o constrangimento do presidente da França, mas o que ele poderia dizer quando pediram o encontro. Não podemos esquecer que ele tem um negócio de uns aviõezinhos para acertar com o governo do chefe da Dilma, são 36 caças ao custo unitário de 96 milhões de euros. O acerto prevê ainda a compra de submarinos e helicópteros num total de 8,5 bilhões de euros.

É um constrangimento esse tipo de pedido, mas o PT já deve ser um partido famoso por este método nos bastidores da política internacional. Como é que Sarkozy poderia recusar um pedido feito por clientes tão especiais?

— Quem está aí? Dilma? Ah, a candidata do Lula! Manda entrar e abra aquele champanhe.

Porém, depois do encontro Dilma teve que dizer aos repórteres sobre a conversa que teve com Sarkozy. E aí o plano falhou. Qualquer plano marqueteiro dá chabu no momento em que a candidata petista tem que agir pessoalmente. Por isso mesmo, é que sua coordenação de campanha tem recusado todos os convites para debates entre os candidatos e até para eventos com questionamentos do eleitor. Vejam o que Dilma disse aos repórteres.

“Muito gentil… Sobre a parceria estratégica entre o Brasil e a (pausa) França, sobre o fato de que, é…, nós temos, ao longo dos anos, evoluído cada vez mais pruma parceria em várias áreas; destaque: pra… pro setor de… de… pro meio ambiente.”

Se é tão absurdo e até constrangedor na transcrição, no vídeo é bem pior. É certo que candidato algum teria qualquer assunto objetivo para tratar com o presidente da França. Se aqui as instituições responsáveis pela vigilância e punição desta mistura entre o Estado e as campanhas políticas, na França não há jeitinho que permita tais abusos.

Mas Dilma Roussef tem mesmo uma dificuldade imensa para expressar qualquer idéia simples. Não é a primeira vez que isso acontece e nem será a última, porque essa incapacidade não pode ser resolvida com algumas aulas com um marqueteiro. Não podemos esquecer que o chefe dela levou pelo menos vinte anos para aprender.

Mas o interessante é essa mistura entre o eleitoral e as atribuições do Estado, o que não só se permite no Brasil, como também a imprensa vai atrás.
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POR José Pires

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