Neste caso da quebra do sisgilo fiscal do líder tucano Eduardo Jorge, não podemos deixar de atentar também para algo que até agora não vi ninguém comentar. Seja lá quem tenha ordenado o crime, a quebra de sigilo só veio a público porque julgaram ter encontrado algo para ser usado eleitoralmente, a movimentação de uma quantia em dinheiro, explicada por ele depois que os dados foram vazados. Mas será que antes de chegar aos dados de Eduardo Jorge, que eles supunham ter utilidade eleitoral, não ocorreu também o acesso ilegal dos dados fiscais de outras pessoas?
Este é um caso bem parecido com o da quebra do sigilo bancário do caseiro Francenildo, no notório caso que envolveu o então ministro da Fazenda, Antonio Palocci e hoje um dos poderosos na coordenação da campanha de Dilma, quando eles pensaram ter em mãos um material favorável políticamente e depois quebraram a cara com as explicações que surgiram sobre a movimentação em dinheiro na conta.
Isso me faz lembrar também do procurador- geral da República responsável pelo inquérito do mensalão. Antonio Fernando Barros e Silva de Souza é que foi muito capaz profissionalmente quando no inquérito do mensalão fez a identificação não só dos crimes, mas a interligação entre todos num esquema articulado de poder. Este documento sobre o mensalão é a grande peça expositiva sobre o que vem ocorrendo no Brasil. Leiam, releiam. É bem esclarecedor.
A descoberta do mensalão pegou os petistas de surpresa. Mas, logo depois se recobraram do susto — não sem a ajuda de uma oposição incapaz — e buscaram criar subterfúgios para amenizar o estrago. Um deles é essa conversa fiada de "aloprados".
Naquela investigação o procurador-geral da República usou uma palavra muito mais apropriada para este tipo de crime, que dificilmente pode ser praticado de forma individual e cuja motivação também não pode ser pessoal: é quadrilha. E na composição de uma quadrilha, como Barros e Silva colocou muito bem, tem o chefe.
Um aloprado pode até ser útil para que o esquema funcione. Em ações de maior risco, o uso de um amalucado facilita também no caso do malfeito ser descoberto. Um aloprado pode até usado como bode-expiatório para que fiquem preservados membros mais importantes da quadrilha.
Antonia Aparecida Rodrigues dos Santos Neves Silva, a, vá lá, suposta violadora do sigilo fiscal do vice-presidente do partido que pode tirar o lulo-petismo do poder, só poderia ser identificada como “aloprada” se tivesse ocasionalmente, quase sem querer, acessado os dados de Eduardo Jorge numa tarde de tédio em Mauá, no posto da Receita onde ela trabalha.
Podemos até imaginar a cena. Depois de dar uma conferida no Facebook, uma revisada em seu Orkut e uma sapeada neste ou naquele Twitter, a servidora resolve ver como é que vai a saúde financeira deste ou daquele tucano. Terminada esta tarefa banal, ela engataria numa conversa no MSN e até esqueceria o assunto.
Só dessa forma teríamos então um “aloprado”. Porque se até um adolescente sabe que não se deve invadir nem o correio eletrônica do amiguinho, um profissional da Receita deve saber muito mais sobre sigilo.
Não existe nenhum gesto aloprado numa questão dessas. Todos os focos estão muito bem acertados, da vítima ao favorecido. E como todo crime premeditado é feito de forma a favorecer alguém, não precisa ser especialista para logo entender para que serve quebra de sigilo fiscal de tucano.
Mas acontece que mais uma vez deram com os burros n’água. E não é pela descoberta do crime, mas porque Eduardo Jorge está com sua vida financeira em dia. Mas vai que ele tivesse algum problema... Bem, aí a história estaria tendo outro desenvolvimento.
Supondo que encontrassem alguma coisa de bom uso eleitoral, sabemos muito bem como o quadro político dessa eleição estaria agora. A candidata do Lula seria a favorecida. A quebra do sigilo fiscal seria descoberta, é claro, mas o foco da imprensa estaria bem mais marcado — muito mais — neste hipotético problema encontrado no dados do vice-presidente do PSDB. O terrível crime eleitoral seria um detalhe na cobertura da imprensa.
É claro que pessoas teriam de ser demitidas e até poderia acontecer também a queda de um ou outro na campanha e até no governo. Mas com uma vitória eleitoral, depois de janeiro tudo se ajeita.
É por isso que não se pode cair nessa conversa de “aloprado”. Isso é papo de marqueteiro, que foi muito bem passado para o Lula se escafeder de suas responsabilidades como governante da Nação.
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POR José Pires
Este é um caso bem parecido com o da quebra do sigilo bancário do caseiro Francenildo, no notório caso que envolveu o então ministro da Fazenda, Antonio Palocci e hoje um dos poderosos na coordenação da campanha de Dilma, quando eles pensaram ter em mãos um material favorável políticamente e depois quebraram a cara com as explicações que surgiram sobre a movimentação em dinheiro na conta.
Isso me faz lembrar também do procurador- geral da República responsável pelo inquérito do mensalão. Antonio Fernando Barros e Silva de Souza é que foi muito capaz profissionalmente quando no inquérito do mensalão fez a identificação não só dos crimes, mas a interligação entre todos num esquema articulado de poder. Este documento sobre o mensalão é a grande peça expositiva sobre o que vem ocorrendo no Brasil. Leiam, releiam. É bem esclarecedor.
A descoberta do mensalão pegou os petistas de surpresa. Mas, logo depois se recobraram do susto — não sem a ajuda de uma oposição incapaz — e buscaram criar subterfúgios para amenizar o estrago. Um deles é essa conversa fiada de "aloprados".
Naquela investigação o procurador-geral da República usou uma palavra muito mais apropriada para este tipo de crime, que dificilmente pode ser praticado de forma individual e cuja motivação também não pode ser pessoal: é quadrilha. E na composição de uma quadrilha, como Barros e Silva colocou muito bem, tem o chefe.
Um aloprado pode até ser útil para que o esquema funcione. Em ações de maior risco, o uso de um amalucado facilita também no caso do malfeito ser descoberto. Um aloprado pode até usado como bode-expiatório para que fiquem preservados membros mais importantes da quadrilha.
Antonia Aparecida Rodrigues dos Santos Neves Silva, a, vá lá, suposta violadora do sigilo fiscal do vice-presidente do partido que pode tirar o lulo-petismo do poder, só poderia ser identificada como “aloprada” se tivesse ocasionalmente, quase sem querer, acessado os dados de Eduardo Jorge numa tarde de tédio em Mauá, no posto da Receita onde ela trabalha.
Podemos até imaginar a cena. Depois de dar uma conferida no Facebook, uma revisada em seu Orkut e uma sapeada neste ou naquele Twitter, a servidora resolve ver como é que vai a saúde financeira deste ou daquele tucano. Terminada esta tarefa banal, ela engataria numa conversa no MSN e até esqueceria o assunto.
Só dessa forma teríamos então um “aloprado”. Porque se até um adolescente sabe que não se deve invadir nem o correio eletrônica do amiguinho, um profissional da Receita deve saber muito mais sobre sigilo.
Não existe nenhum gesto aloprado numa questão dessas. Todos os focos estão muito bem acertados, da vítima ao favorecido. E como todo crime premeditado é feito de forma a favorecer alguém, não precisa ser especialista para logo entender para que serve quebra de sigilo fiscal de tucano.
Mas acontece que mais uma vez deram com os burros n’água. E não é pela descoberta do crime, mas porque Eduardo Jorge está com sua vida financeira em dia. Mas vai que ele tivesse algum problema... Bem, aí a história estaria tendo outro desenvolvimento.
Supondo que encontrassem alguma coisa de bom uso eleitoral, sabemos muito bem como o quadro político dessa eleição estaria agora. A candidata do Lula seria a favorecida. A quebra do sigilo fiscal seria descoberta, é claro, mas o foco da imprensa estaria bem mais marcado — muito mais — neste hipotético problema encontrado no dados do vice-presidente do PSDB. O terrível crime eleitoral seria um detalhe na cobertura da imprensa.
É claro que pessoas teriam de ser demitidas e até poderia acontecer também a queda de um ou outro na campanha e até no governo. Mas com uma vitória eleitoral, depois de janeiro tudo se ajeita.
É por isso que não se pode cair nessa conversa de “aloprado”. Isso é papo de marqueteiro, que foi muito bem passado para o Lula se escafeder de suas responsabilidades como governante da Nação.
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POR José Pires
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