terça-feira, 27 de julho de 2010

Com Marina Silva, os "batisttis" também ganham

Marina Silva disse ontem que, se depender de sua opinião, o ex-guerrilheiro Cesare Batistti fica no Brasil. O governo italiano está esperando há meses a decisão do presidente Lula sobre o pedido de extradição do italiano, que está preso em Brasília, para que ele cumpra pena por crimes cometidos em território italiano. Batistti está preso em Brasília.

Para um partido que precisa ampliar seu eleitorado, as opiniões bastante conservadoras da candidata devem atrapalhar bastante. O que sabemos por enquanto é que ela é contra o aborto e contra a união de homossexuais, o que parecia já bastar como contradições para uma candidata de um partido, como o PV, que internacionalmente tem um caráter altamente libertário.

Imagino que toda vez que um jornalista se aproxima de Marina, seus coordenadores políticos devem rezar para que não venha mais uma pergunta que estreite ainda os espaços de penetração eleitoral.

E parece óbvio que ela deve ter outras posições que entram em atrito em áreas que poderiam alavancar sua candidatura neste início de campanha. O problema é que um bom potencial para isso está em setores historicamente compostos de gente com a cabeça aberta e que não vêem nenhum problema em questões comportamentais, muito menos com o aborto ou a união entre homossexuais.

Não sei no que pode ajudar ela ser favorável à permanência do criminoso italiano em solo brasileiro. Não seria mais ecológico devolver o espécime ao seu próprio ambiente?

Para tentar amenizar polêmicas, Marina sempre vem com a velha conversa sobre a diferença entre a opinião pessoal e a função de um Chefe de Estado. Nem tanto. Um presidente conservador evidentemente vai procurar movimentar sua base política sempre em conformidade com o que ele pensa. Sempre foi assim, não seria diferente com Marina no poder. E se Marina tivesse que se posicionar como senadora quanto a estas questões como senadora, qual seria o seu voto? Mas quanto ao caso da extradição de Batistti, que depende da assinatura do presidente da República, ela já avisou que a sua caneta assinaria a soltura e o refúgio para o criminoso italiano no Brasil.

Neste caso ela também tentou encontrar uma boa justificativa. Mas acabou trazendo ainda mais dúvidas sobre sua posição. "O Brasil já deu abrigo até a ditadores. Por que com ele seria diferente? Aí o Brasil tem uma tradição. Se o princípio é dar apoio e suporte, mantêm-se os princípios", ela disse, explicando o apoio ao refúgio ao italiano.

Pois aí é que está. Com a escolha de um novo presidente temos a possibilidade de romper isso que ela chama de tradição. Até porque os indicativos são de que muito mais dificuldades surgirão no plano internacional em um mundo no qual já não está fácil viver. E temos problemas internacionais relacionados diretamente com o Brasil, que estão se acumulando e cairão na mesa de trabalho do próximo presidente já no ano que vem. Para falar de apenas dois, estão aí as Farc e o venezuelano Chávez, cada vez mais enlouquecido.

São exemplos me parecem suficientes para mostrar que não há bom senso na justificativa da candidata do PV. Sua opinião cria um indicativo de que, com ela na presidência da República, tipos como Batistti podem conseguir refúgio fácil no Brasil, já que ela teria que seguir a "tradição".
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POR José Pires

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