sexta-feira, 23 de julho de 2010

Jorge Luis Borges e "O Aleph" brasileiro de Paulo Coelho

Há alguns dias soube que Paulo Coelho estava para publicar um novo livro, cujo lançamento oficial é neste sábado. O nome é "O Aleph" e foi uma surpresa para mim. "O Aleph" é um livro de Jorge Luis Borges, que tem de tempo de publicação apenas um ano a menos que a idade de Paulo Coelho. "O Aleph" de Borges, foi publicado em livro em 1948 pela Editorial Losada, de Buenos Aires. Vejam a capa aí em cima. Ao lado está a edição italiana da Feltrinelli. É de onze anos depois, 1959, mas bem antes do livro do brasileiro.

Em arte, a pretensão é sempre proporcional à mediocridade do artista, porque em grande parte é sempre fruto de falta de conhecimento. Alguém que escreve tão mal como Paulo Coelho jamais publicaria livro algum se tivesse capacidade de compreender isso. O seu “O Aleph brasileiro” pode vir daí. Coelho ainda procura escamotear a apropriação de um título que já faz parte da história da literatura. Segundo o que li por aí, ele teria feito uma relação com Borges nesta obra, que também não seria de ficção. Mas não vou conferir. Para mim a capa do livro com o título já revela a fajutice.

Harold Bloom, que sabe tudo de literatura, fez um livro de nome "Gênios", onde juntou os 100 autores que ele julga os mais criativos da história da literatura. Jorge Luis Borges é um desses autores. Não gosto de listas, mas opinião mais válida que a de Bloom não existe. “Jamais me recuperei do golpe que sofri da primeira vez que li Borges, cerca de 40 anos atrás”, ele diz. Neste livro, ele fala de “O Aleph”. É um dos contos mais conhecidos da literatura universal e uma marca estilística da obra do escritor.

O manuscrito de "O Aleph" foi dedicado a Estela Canto, uma escritora com um certo peso histórico na Argentina e por quem Borges era apaixonado. Na época, ele fazia uma corte desajeitada à amada. Sua vida tem momentos patéticos, com dificuldades emocionais que hoje até parecem cômicas e que aparentam ser de fundo sexual. Ele não chegou a se casar com a musa, que anos depois vendeu os preciosos papéis na Sotheby's por U$ 27.770. Soube do preço lendo um livro mais recente, de Alberto Manguel, onde, entre outros ensaios, ele publica um muito bom sobre o escritor argentino.

Para quem, não sabe, desde jovem o escritor argentino foi muito ruim da vista. Praticamente não enxergava nada. Manguel leu livros para um Borges quase cego, em 1966. Num largo período ele ia às noites ao apartamento do escritor e lia para ele obras retiradas de sua magnífica biblioteca. Fazia isso de graça, o que não deixava de ser um privilégio, pois bem que Borges poderia ter cobrado por isso.

Ele conta que de vez quando o escritor parava a leitura e comentava sobre o livro, mais para si mesmo. Manguel, que tinha plena consciência do momento rico que vivia, escreve que dessa forma Borges lhe oferecia "uma edição particular anotada de seus clássicos". O livro onde ele repassa uma visão muito especial e bem particular não só desta relação, mas também sobre outros assuntos, está em "No Bosque do Espelho", da editora Companhia das Letras.

Borges foi um homem impressionante. Uma pessoa pode escrever muito bem e não ser uma figura interessante. Ele era os dois. Tenho um outro livro feito de conversas entre ele e o jornalista Osvaldo Ferrari, transmitidas pela Rádio Municipal de Buenos Aires no ano de 1948, que é uma jóia preciosa. Quantas vezes não reli com imenso prazer estes diálogos tão interessantes. Tenho a impressão de que Borges sempre viveu em um plano especial, como se fosse uma outra dimensão. Passar isso para a escrita parecia ser apenas parte dessa existência interior tão rica.

Seus comentários sobre as pessoas, os relatos sobre antigas amizades e até sobre os escritores de sua admiração, tudo flui numa conversação muito original e sempre interessante. Sua obra e sua fala é um prazer até muito perigoso para quem também escreve, pois tudo é expressado de uma forma tão deliciosa, que pode ser imensa a tentação de fazer igual.

Por sinal, estava lendo, ou melhor, relendo esta beleza de livro, quando fiquei sabendo dessa besteira de "O Aleph brasileiro". Não me espanta uma asneira dessas vinda de Paulo Coelho, mas que uma editora aceite algo assim vai além do aval a um autor de reconhecida mediocridade com a publicação de sua obra. Neste caso, a editora coloca sua credibilidade em risco internacionalmente. E a desorientação fica até engraçada numa editora de nome Sextante — a casa que publica o absurdo título.

Paulo Coelho não precisaria começar a publicar livros para eu achar de baixa qualidade o que ele faz. Para isso já bastavam aquelas músicas cretinas com Raul Seixas. Mas ele já foi muito bem definido como escritor por essa figura especial que foi José Mindlin, um homem que sabia tudo sobre livros e que, intrigado com tanto sucesso, pegou uma obra dele, leu e depois deu a opinião definitiva: Paulo Coelho está para a literatura assim como Edir Macedo está para a religião.

Mas, de qualquer forma, publicando "O Aleph" agora, mais de 60 anos depois de Jorge Luís Borges publicar um livro com o mesmo nome e que, ainda por cima, é o título de uma de suas histórias mais conhecidas, Paulo Coelho abre um campo vasto para sua, digamos assim, literatura.

Pensem só nas oportunidades; Ana Karenina, Os Irmãos Karamazov, O Velho e o Mar, A Educação Sentimental, Macbeth, A Cartuxa de Palma, Ulisses, Os Miseráveis, O Amante de Lady Chatterley, Vinhas da Ira, O Som e a Fúria, e por aí vai. Com certeza a obra de Paulo Coelho vai ser enriquecida com títulos inesquecíveis.
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POR José Pires

10 comentários:

  1. Gostei muito de ler seu comentário sobre o livro de Paulo Coelho. Gostei mais da lista dos livros citados no final, que com certeza vou procurar os que ainda não li. Adoro ler e como disse uma bruxa em "A Hora das Bruxas", tem tantos livros que gostaria de ler antes de morrer, mas Paulo Coelho eu só li um, o que é ótimo, ou péssimo.

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  2. Casos como este são demais comun no meio literário; de apropriação, disfarçada de licença poética, ou "ligeiramente inspirado". Vejamos o caso da Beggars Opera do dramaturgo e poeta inglês John Gay, do século XVIII, mas tarde transformada na Ópera dos três vinténs de Bertold Brecht, mas tarde ainda abrasileirada por Chico Baurque de Holanda em a Ópera do Malando.
    Outro caso clássico é de Ariano Suassuna o dramaturgo paraibano em que se apropria de parte de O mercador de Veneza ,na cena que tem que retirar couro do devedor sem portanto tirar sangue no famoso Auto da compadecida; sem deixar ainda de lado uma parte do filme/opera que trata do enterro do cachorro, pois trata-se de episodio de literatura de cordel de Leandro Gomes de Barros, cordelista pombalense.

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  3. Dos escritores fantásticos, o meu preferido é
    Jorge Luis Borges. Adoro Passear em seus labirintos, mas, como
    Perceu, sem perder o fio do novelo.
    Acho que a loucura e a lucidez andam lado a
    lado, como dizia Raul Seixas que por um tempo fez parceria com
    Paulo Coelho, entretanto, acho que o mais pirado é o Paulo que
    recentemente lançou os livros intitulados O Aleph e O Zahir.
    Como já citei acima, Borges era um Dédalo
    da literatura, construiu vários labirintos e Paulo ficou aprisionado
    em um deles.
    Em seu surpreendente conto O ZAHIR que
    faz parte do livro O ALEPH, Borges relata uma sucessão de acon-
    tecimentos que o levam a adquirir uma moeda de vinte centavos
    da qual a imagem não pode libertar-se, tornando-se uma idéia
    fixa, moeda que ele denomina como ZAHIR. Em sua loucura
    ele procura um livro que leva o titulo de URKUNDEN
    ZUR GESCHICHTE DER ZAHIRSAGE editado no ano de 1899 pelo
    autor JULIUS BARLACH cujo conteúdo relata sobre diversos objetos
    que já foram ZAHIR que na tradição Islâmica quer dizer algo que
    está presente e a mente não pode libertar-se.

    Agora veremos a genialidade do cons-
    trutor DÉDALO Borges: URKUDEN ZUR GESCHICHTE DER ZAHIR-
    SAGE e o autor LUCIUS BARLACH assim com a fictícia tradição
    Islâmica e o nome ZAHIR é pura imaginação BORGIANA. ZAHIR é
    um composto árabe inventado por Borges. Para quem é atento na
    leitura do conto e tem algum conhecimento da língua árabe notará
    que a palavra se forma através dos acontecimentos da trama, a da-
    ta de edição do livro fictício não e nada mais nada menos que o ano
    de nascimento de Borges. Infelizmente Paulo Coelho não achou a
    chave e foi emparedado no labirinto criado por esse grande Imortal
    da literatura, resta agora ele não ser devorado pelo minotauro da crítica.

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  4. Desculpem pelo meu erro, eu não quis dizer Perceu e sim Teseu.

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  5. Li O Aleph de Paulo Coelho.
    Foi o pior livro que li na vida.
    Pura perda de tempo.
    Um lixo!

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  6. ... não acredite em tudo o que o bloom fala... eu sei que ele é bom.... mas ele não sabe tudo... também acho o borges genial... porém... as apropriações... são fenomenos próprios da literatura... dialogia... intertextualidade... poliseemia... subversão... o borges era mestre nisso.... agora... não fale bobagem de raul seixas... ele fez uma musica maravilhosa em homenagem a borges... loteria da babilonia, pires... não se esqueça..... mas conrcordo... coelho é DDIFÍCIL de engulir........... abç

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  7. No outro dia, fui a um restaurante italiano que tem uma biblioteca para o entretenimento. E eu li um excerto do El Aleph. Nao é fácil de entender.

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  8. Quem é José Pires?
    Ninguém nunca ouviu falar....

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  9. --Pelo jeito, o anônimo das 15:13 é um petista fã de Paulo Coelho, faz juz ao anônimato e a cultura demonstrada.

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