domingo, 19 de setembro de 2010

A ex-guerrilheira e o ator que não sabem bem suas falas

Ficou famosa uma entrevista do ator Benício del Toro a um canal de televisão em língua espanhola de Miami, quando ele foi pressionado de uma forma impressionante pela jornalista Marlen Gonzalez. O ator estava lançando o filme em que faz o papel de Che Guevara e recebeu de imediato da jornalista uma porção de questionamentos rigorosos sobre o guerrilheiro argentino.

O ator acabou fazendo o papel do idiota que comparece a uma entrevista sem dominar o assunto. Del Toro ficou abalado a partir da primeira pergunta — "Por que Miami para estrear este filme, uma cidade onde vivem tantos cubanos, vítimas de uma ou outra forma de um sistema que está implantado em Cuba neste momento? É uma provocação?" — e não se recuperou durante toda a entrevista. Chegou a gaguejar e olhar para alguém fora da cena, talvez algum assessor, como se pedisse ajuda para sair da enrascada.

E que enrascada. Quando a jornalista fala sobre campos de concentração criados por Che Guevara em Cuba, ele diz, com a voz sumida, que o Che não criou campos de concentração. O ator não estava preparado para o rigor da entrevistadora. “Estamos falando sobre assassinatos. Não é o mesmo crime assassinar uma pessoa, cem ou cem mil?”, ela diz, para acrescentar logo em seguida: “Você sabia que o Che, quando esteve encarregado da prisão de La Cabaña, mandou fuzilar pessoalmente mais de 400 pessoas?” E nada adianta o ator tentar alegar sobre a pena de morte, pois logo ela lembra que foram execuções sumárias, sem julgamento algum.

É evidente que Benício del Toro imaginava que iria participar de uma conversa sobre o filme com um clima de fascínio em relação à figura de Che Guevara, mas teve que enfrentar um debate sério. A bem da verdade, o mito em torno do Che só existe porque nem sempre seus atos foram discutidos com seriedade pelos estudiosos e pela imprensa, o que permitiu que crimes fossem acobertados e que até sua ingenuidade como administrador e a incompetência militar como guerrilheiro permanecessem desconhecidas.

Vale a pena ver ou rever as cenas de Benício del Toro atônito porque teve que discutir à sério seu trabalho, algo que os atores acabaram ficando desacostumados a fazer, até por conta da frivolidade dos setores de cultura da imprensa. Ao lado, uma imagem do Youtube com o aturdido ator desejando um diretor gritando "corta" para ele escapar da jornalista. Para ver, clique aqui.

Nossa imprensa anda domesticada demais para que tenhamos aqui jornalistas que façam perguntas no momento certo como foram estas de Marlen Gonzalez. A bem da verdade, até por esta falta de rigor, o Brasil é um terreno fértil para falsos mitos. Mas bem que Benicio Del Toro merecia topar com algo parecido nesta semana de sua visita ao Brasil para atuar como garoto-propaganda da candidata Dilma Rousseff.

O ator teve a viagem paga pela campanha de Dilma e veio pra cá também a convite dos petistas. Tomou café da manhã com a candidata e mostrou que seu conhecimento sobre o que fazia aqui era o mesmo que mostrou ter sobre Che Guevara na famosa entrevista, ou seja, nada.

Já Dilma fez o papel de sempre. Conduzida pelos marqueteiros, ela dá a impressão de nunca saber exatamente onde deve se encaixar, como uma atriz que não se acerta com as marcações de cena e nem com as falas.

Porém, de qualquer forma a rápida relação com Benício del Toro veio fortalecer a grossa camada de incongruências desta figura que (Puxa vida!) pode ser a próxima presidente do Brasil. Che Guevara foi evidentemente o assunto central desse estranho encontro e é até provável que tenha sido por isso que convidaram o ator.

O filme protagonizado por Benício del Toro é uma apologia ao Che. E Dilma vai “adorar rever”, como ela diz em seu twitter na internet. Ela que já confessou em entrevista ter tido pelo guerrilheiro argentino mais que uma identificação política, até anseios lúbricos.

Mas esta é a mesma Dilma que desmente o tempo todo que tenha pegado em armas, colocando-se da forma mais original como alguém que participou da direção de um grupo político armado da pesada que seqüestrou, roubou e matou, sem que ela própria tenha pegado sequer numa garrucha?

É mais uma da candidata que pode virar presidente da República sem ter sido nada de relevante na política brasileira e que até agora nem sequer apresentou uma proposta de governo aos que devem votar nela. Dilma nada fez na luta armada, ela não tem nada a ver com essas coisas já que é pela legalidade e a democracia desde criancinha, mas adora o Che Guevara a ponto de se encantar com um ator apenas pelo fato de ele ter sido o Che no cinema.
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POR José Pires

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