quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Hay gobierno em Cuba? A esquerda brasileira é a favor

Entre os entusiastas do modelo cubano, um dos mais ilustres é o crítico literário e professor da USP, Antonio Candido. Ele é de 1918 e estava com 41 anos quando aconteceu a Revolução Cubana. Já tinha idade, portanto, para acompanhar de forma crítica todo o processo. Pois passou todos esses anos dando apoio incondicional a Fidel Castro.

Num livro de 1995, chamado Recortes e publicado pela Companhia de Letras, Candido publicou três textos de exaltação ao regime cubano que podem servir de exemplo sobre esses equívocos históricos de interpretação. Nossa esquerda nos deve uma severa auto-crítica. Pelo que Fidel Castro falou, esse pessoal estava nos enganando.

Existem muitos textos e vários livros sobre Cuba publicados no Brasil. A ilha foi sempre vista pela nossa esquerda como modelo apropriado para a construção de um socialismo aqui no Brasil. Como justificativas foram usados até argumentos pitorescos forçando uma unidade entre Cuba e o Brasil, como a cor da pele e o comportamento do povo cubano, que todo esquerdista jura ser parecidíssimo com o brasileiro. Ou “o socialismo mais desafogado e flexível”, como diz Antonio Candido em seu livro.

O fascínio pelo regime cubano cria comportamentos próprios de uma seita, o que aconteceu também em Cuba. Mas na ilha, ao contrário da esquerda daqui, pelo menos eles sempre tiveram desculpa de serem forçados a adorar Fidel Castro.

Desse fascínio surgiram evidentemente muitos depoimentos em livros, filmes e até canções da nossa MPB que trazem a admiração pelo regime de Castro. Mas fiquemos com o livro de Antonio Candido.

Em 1995, Candido via no regime cubano a “renovação do homem”, um exagero, e não só porque se trata de um regime totalitário comunista. Seria difícil executar uma transformação tão radical em qualquer regime político. E essa coisa de "renovação do homem" é lugar comum de todo regime autoritário. No texto de um intelectual soa muito mal. Além disso, o conceito de “renovação do homem” não é uma questão tão objetiva assim: que tipo de renovação e de que homem, cara pálida?

Nos três textos de elogio a Cuba, o crítico brasileiro toca de leve e mesmo assim apenas em um deles, no tema da falta de liberdade em Cuba. Uma frase dele sobre o assunto: “Cuba realizou um máximo de igualdade e justiça com um mínimo de sacrifício da liberdade”. Sobre as restrições à liberdade, a mesma justificativa de sempre, sobre o “estado de guerra” vivido por Cuba.

Outro trecho, onde ele faz uma elaborada comparação entre Cuba e os países capitalistas, como o nosso Brasil: “Enquanto nos nossos países há uma prática democrática de superfície, porque está baseada na tirania econômica e alienadora sobre a maioria absoluta, em Cuba há uma restrição relativa na superfície, e, em profundidade, uma prática de democracia em seus aspectos fundamentais”.

Isso é que é saber defender bonito um governo, não? Pois vejam como é bom que até Castro esteja vendo com olhos críticos o regime que ele mesmo instalou. Antes disso eu seria tachado de agente da CIA se dissesse ao Antonio Candido que uma visão crítica que é aceita e publicada nos países com “a prática democrática de superfície” não sai de jeito nenhum nos de “restrição relativa de superfície”.
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POR José Pires

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