terça-feira, 21 de setembro de 2010

O candidato que está virando suco

O que você acharia se a candidata Dilma Rousseff prometesse um 13º para o Bolsa Família? Uma demagogia, não? Bem ao estilo populista do governo ao qual ela pretende dar continuidade.

É realmente lamentável este tipo de promessa, só que foi o candidato tucano José Serra quem prometeu isso ontem em um debate promovido pelo SBT, em parceria com o Jornal do Commercio, ambos de Pernambuco.

Serra desembestou de forma lamentável seu discurso, de forma que no breve período de uma campanha eleitoral corre o risco de desconstruir uma carreira de raro brilho e já de certo tempo. Não é o primeiro absurdo seu nesta campanha, mas bem que podia ser o último, pois se isso continuar nada vai sobrar do Serra que conhecemos nestes anos todos.

Na década de 70 havia uma casa de sucos na avenida Paulista, em São Paulo, chamada "O Engenheiro Que Virou Suco", um nome genial criado por um engenheiro que, como não arrumava emprego, largou a profissão para abrir o comércio. Serra está indo por este caminho: mais um pouco e pode largar a política e abrir uma casa chamada "O Candidato que Virou Suco".

O tucano tem vindo com propostas que nada têm a ver com seu passado e vão de encontro — trombada feia mesmo — até à opiniões muito importantes para a imagem histórica sua e de seu partido. É negativo pelo estrago que pode fazer em sua carreira e, além disso, nem são muito consequentes, até porque mesmo que se quisesse fazer essas lamentáveis mudanças, Serra deveria saber que não tem como isso ter efeito no período curto de uma eleição.

É o caso de perguntar se esse pessoal desaprendeu a fazer política depois de velhos. E creio que ele já não tem idade para mudar de posição política e até de personalidade, como temos visto em seu programa de televisão. Serra sempre foi um político de muita substância, mas sempre com uma dificuldade de persuasão no plano da comunicação com as massas, então resolveram dar uma guaribada nisso, acredito até que com um olho na performance televisiva do Dráuzio Varella, pois Serra pegou até uns trejeitos do médico, que tem um grande poder de convencimento. Mas ocorre que Varella tem conteúdo. E isso Serra largou pra trás. Está se comunicando bem melhor, pegou ritmo e até suavidade, mas agora o problema é com o que anda comunicando.

Serra também já tem idade bastante para saber que só tem uma coisa pior que perder uma eleição. É sair dela com a personalidade política destruída. Dessa forma, além dos sérios prejuízos políticos, pode ficar difícil retomar até a própria vida pessoal.

E o tucano também deveria saber que não é demérito algum perder uma eleição. Ele mesmo é um bom exemplo disso, pois foi derrotado algumas vezes e em todas elas o adversário era inferior a ele sob qualquer comparação, desde Erundina, na prefeitura de São Paulo, no final da década de 80, até Lula na presidência da República, em 2002.

Sobre essa questão do mérito, o filósofo Karl Popper já fechou bem o assunto, ele que é indiscutivelmente um dos grandes do pensamento mundial, mas que em vida sempre teve muita dificuldade na vida acadêmica e até passou por terríveis apertos financeiros.

Vou colocar na íntegra: “Eu penso que o sucesso na vida é fundamentalmente uma questão de sorte. Tem pouca relação como o mérito, e em todos os campos de atividade já houve muitas pessoas de grande mérito que não tiveram êxito”.

E Popper chegou a esta conclusão sem conhecer o Brasil e muito menos a política brasileira. Não estou aderindo ao coro de “já ganhou” em relação à candidata petista, mas sempre é bom contar com isso, pois só tem lugar para um no Palácio do Planalto.
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POR José Pires

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