Numa entrevista em julho de 2005, o sociólogo Francisco de Oliveira prognosticava um futuro sombrio para o PT, partido que ajudara a fundar e do qual havia saido recentemente. "O PT", dizia ele, "vai ser um peronismo, todo dividido em gangues". O bando de gangues disputaria ferozmente para ver quem assume o controle.
Naquele mesmo ano, em junho, surgiria o caso do mensalão, o esquema de suborno de parlamentares para garantir a maioria governista no Congresso Nacional e muita coisa viria depois, derrubando inclusive ministros muito fortes, como ocorreu com Antonio Palocci, que teve que se demitir do Ministério da Fazenda quando a descoberta da quebra do sigilo bancário do caseiro Francenildo inviabilizou sua presença no governo Lula e interrompeu um futuro promissor, que previa inclusive a candidatura presidencial hoje ocupada por Dilma Rousseff.
A situação prevista por Oliveira há cinco anos parece estar tomando o formato definitivo nestes últimos meses, com dossiês dos mais variados, um deles atingindo inclusive a família do ministro da Fazenda, Guido Mantega, numa clara luta interna pelo poder num possível governo da petista Dilma Roussef. A carniça ainda não está posta, mas as hienas já se mostram bem vorazes.
Com mais de trinta dias ainda pela frente até a hora do voto, os petistas já lutam entre si por espaços no governo, tendo no centro do combate figuras vistosas como a do deputado cassado e forte dirigente partidário, José Dirceu, e a do sempre prestigiado Antonio Palocci, figura do gosto até de alguns tucanos.
É claro que os dois já contam com Dilma na presidência da República e nem Palocci, sempre poupado pelos tucanos, quer ver de forma nenhuma Serra na presidência do Brasil. É também muito óbvio que uma máquina que se movimentou de forma cruel para destruir um humilde caseiro não deixaria de seguir a mesma disciplina para impedir que a oposição ganhe a eleição. Naquilo que foi feito com Francenildo já havia o estilo de gangues que se vê nesta quebra de sigilo.
As tentativas de intimidação não são de agora. Até a ex-primeira-dama Ruth Cardoso, já falecida, foi alvo de ataques quando a atual candidata, Dilma Rousseff, ocupava o Gabinete-Civil de Lula. Para se defender dos escândalos dos cartões corporativos, o governo inventou os dossiês de gastos do presidente Fernando Henrique Cardoso e de sua mulher.
Para mim, aquilo já podia ser visto como crime político. Mas os tucanos deixaram pra lá, criando inclusive na opinião pública uma suspeita de que houve acordo político, com os dois lados esquecendo o caso em função de sujeiras mútuas.
As atividades de verdadeiras gangues, algumas das quais o próprio Lula chamou de "aloprados", continuaram com seus crimes políticos em menor ou maior grau, culminando com a atual quebra de sigilo fiscal de várias pessoas próximas do candidato José Serra e cometidas de forma criminosa dentro da própria Receita Federal. Até a filha do candidato, Verônica Serra, teve o sigilo quebrado.
Assim se vê que em conjunto com a briga interna pelo poder existe também uma articulação bem firme de ataque e intimidação para dificultar a atuação da oposição e buscar manter de qualquer forma o poder dentro dos mesmos moldes atuais. Para perenizar o lulo-petismo no governo eles se juntam, mas nada deve permitir uma convivência pacífica além dessa concordância básica. Se Dilma for eleita, não tenho dúvida alguma que a luta de gangues prevista pelo ex-petista Francisco de Oliveira será das mais quentes que já se teve em nossa história.
A ações criminosas, que atingiram até a filha do candidato tucano, mas que haviam atingido antes também o vice-presidente nacional do PSDB, Eduardo Jorge, evidentemente não favoreceram os mandantes, pois nada de condenável foi encontrado nas declarações fiscais dos dois, o mesmo ocorrendo com os demais que tiveram quebrado o sigilo fiscal.
Mas não podemos deixar de lado que tudo que veio a público sobre todos esses casos foi sempre por ação de fora do governo, da imprensa ou de políticos oposicionistas. Nunca houve uma movimentação interna em defesa da ética ou de denúncia da corrupção e do uso da máquina pública como forma de pressão. Ao contrário, ações internas foram sempre no sentido de negar ou acobertar.
Vendo o problema por este ângulo, não há como não suspeitar de que outros sigilos foram ou estão sendo quebrados em busca de elementos de pressão contra empresários que não seguem de forma obediente os ditames do governo e de jornalistas, políticos e profissionais de vários setores que insistem em se comportar com independência. É o escândalo como meio de vida, usado como uma ferramenta que, às vezes, pode ser muito eficiente para a intimidação.
É muito curioso como figuras influentes das altas esferas do governo Lula se movimentaram com precisão após o surgimento do escândalo, sem demonstrar qualquer supresa pelo ocorrido, como se houvesse algo muito bem ensaiado para abafar um acontecimento que é provável que já viessem debatendo internamente bastante nos últimos dias. Ou talvez meses antes, não?
Até o chefe de gabinete de Lula, Gilberto de Carvalho, entrou na história insinuando em entrevista a imprensa que o culpado da quebra de sigilo da filha de Serra poderia ser.... Aécio Neves. Carvalho sempre aparece para abafar crises no interesse do governo. Na época do assassinato de Celso Daniel ele era o mais firme na pressão para que as investigações se encerrassem o mais rápido, mesmo tendo sido assessor direto e amigo do o prefeito petista sequestrado e morto de forma bastante violenta.
Sobre este novo escândalo ele disse o seguinte: "Pode ser um comércio para chantagem, e é bom lembrar que, naquela época, setembro do ano passado, havia uma guerra tucana entre os tucanos de Minas e os tucanos de São Paulo". Se ele não fosse o braço-direito de um presidente da República que não honra o cargo, é claro que ele não amanheceria no gabinete pegado ao do presidente da República.
Porém, o próprio presidente Lula veio hoje reforçar o trabalho de despistamento, de uma forma que parece concatenada. Desta vez a culpa não sobrou para Aécio, mas Lula tentou transformar o caso numa simples questão de falsidade ideológica, quando tudo indica que aconteceu um crime político dos mais graves. O petista colocou em dúvida inclusive a falsificação comprovada dos documentos que supostamente teriam sido apresentados à Receita Federal para obter os dados fiscais de Verônica Serra.
Como piada daria até para observar que pelo menos desta vez o Lula não veio com a alegação costumeira de que não viu nada, o que até uns meses atrás ele fazia quando explodiam crises em seu governo, mas acho que a situação não merece humor algum. Eu tenho a impressão de que a impunidade vem fazendo com que os crimes sejam assimilados de forma tão rápida pela opinião pública que, com um pouco mais de tempo eles nem vão mais se dar ao trabalho de esconder intenções ou tentar abafar escãndalos.
Existe um risco de que num futuro bem próximo tais casos deverão ser tratados na base do "Eu fiz mesmo, e daí?", mais ou menos como já vem acontecendo nos últimos anos na Venezuela. Ainda podemos ter pela frente a inversão daquela máxima do homem que morde o cachorro como fato extraordinário. Aí então, o destaque noticioso no Brasil vai ser quando não estivemos vivendo nenhuma escândalo político.
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POR José Pires
Naquele mesmo ano, em junho, surgiria o caso do mensalão, o esquema de suborno de parlamentares para garantir a maioria governista no Congresso Nacional e muita coisa viria depois, derrubando inclusive ministros muito fortes, como ocorreu com Antonio Palocci, que teve que se demitir do Ministério da Fazenda quando a descoberta da quebra do sigilo bancário do caseiro Francenildo inviabilizou sua presença no governo Lula e interrompeu um futuro promissor, que previa inclusive a candidatura presidencial hoje ocupada por Dilma Rousseff.
A situação prevista por Oliveira há cinco anos parece estar tomando o formato definitivo nestes últimos meses, com dossiês dos mais variados, um deles atingindo inclusive a família do ministro da Fazenda, Guido Mantega, numa clara luta interna pelo poder num possível governo da petista Dilma Roussef. A carniça ainda não está posta, mas as hienas já se mostram bem vorazes.
Com mais de trinta dias ainda pela frente até a hora do voto, os petistas já lutam entre si por espaços no governo, tendo no centro do combate figuras vistosas como a do deputado cassado e forte dirigente partidário, José Dirceu, e a do sempre prestigiado Antonio Palocci, figura do gosto até de alguns tucanos.
É claro que os dois já contam com Dilma na presidência da República e nem Palocci, sempre poupado pelos tucanos, quer ver de forma nenhuma Serra na presidência do Brasil. É também muito óbvio que uma máquina que se movimentou de forma cruel para destruir um humilde caseiro não deixaria de seguir a mesma disciplina para impedir que a oposição ganhe a eleição. Naquilo que foi feito com Francenildo já havia o estilo de gangues que se vê nesta quebra de sigilo.
As tentativas de intimidação não são de agora. Até a ex-primeira-dama Ruth Cardoso, já falecida, foi alvo de ataques quando a atual candidata, Dilma Rousseff, ocupava o Gabinete-Civil de Lula. Para se defender dos escândalos dos cartões corporativos, o governo inventou os dossiês de gastos do presidente Fernando Henrique Cardoso e de sua mulher.
Para mim, aquilo já podia ser visto como crime político. Mas os tucanos deixaram pra lá, criando inclusive na opinião pública uma suspeita de que houve acordo político, com os dois lados esquecendo o caso em função de sujeiras mútuas.
As atividades de verdadeiras gangues, algumas das quais o próprio Lula chamou de "aloprados", continuaram com seus crimes políticos em menor ou maior grau, culminando com a atual quebra de sigilo fiscal de várias pessoas próximas do candidato José Serra e cometidas de forma criminosa dentro da própria Receita Federal. Até a filha do candidato, Verônica Serra, teve o sigilo quebrado.
Assim se vê que em conjunto com a briga interna pelo poder existe também uma articulação bem firme de ataque e intimidação para dificultar a atuação da oposição e buscar manter de qualquer forma o poder dentro dos mesmos moldes atuais. Para perenizar o lulo-petismo no governo eles se juntam, mas nada deve permitir uma convivência pacífica além dessa concordância básica. Se Dilma for eleita, não tenho dúvida alguma que a luta de gangues prevista pelo ex-petista Francisco de Oliveira será das mais quentes que já se teve em nossa história.
A ações criminosas, que atingiram até a filha do candidato tucano, mas que haviam atingido antes também o vice-presidente nacional do PSDB, Eduardo Jorge, evidentemente não favoreceram os mandantes, pois nada de condenável foi encontrado nas declarações fiscais dos dois, o mesmo ocorrendo com os demais que tiveram quebrado o sigilo fiscal.
Mas não podemos deixar de lado que tudo que veio a público sobre todos esses casos foi sempre por ação de fora do governo, da imprensa ou de políticos oposicionistas. Nunca houve uma movimentação interna em defesa da ética ou de denúncia da corrupção e do uso da máquina pública como forma de pressão. Ao contrário, ações internas foram sempre no sentido de negar ou acobertar.
Vendo o problema por este ângulo, não há como não suspeitar de que outros sigilos foram ou estão sendo quebrados em busca de elementos de pressão contra empresários que não seguem de forma obediente os ditames do governo e de jornalistas, políticos e profissionais de vários setores que insistem em se comportar com independência. É o escândalo como meio de vida, usado como uma ferramenta que, às vezes, pode ser muito eficiente para a intimidação.
É muito curioso como figuras influentes das altas esferas do governo Lula se movimentaram com precisão após o surgimento do escândalo, sem demonstrar qualquer supresa pelo ocorrido, como se houvesse algo muito bem ensaiado para abafar um acontecimento que é provável que já viessem debatendo internamente bastante nos últimos dias. Ou talvez meses antes, não?
Até o chefe de gabinete de Lula, Gilberto de Carvalho, entrou na história insinuando em entrevista a imprensa que o culpado da quebra de sigilo da filha de Serra poderia ser.... Aécio Neves. Carvalho sempre aparece para abafar crises no interesse do governo. Na época do assassinato de Celso Daniel ele era o mais firme na pressão para que as investigações se encerrassem o mais rápido, mesmo tendo sido assessor direto e amigo do o prefeito petista sequestrado e morto de forma bastante violenta.
Sobre este novo escândalo ele disse o seguinte: "Pode ser um comércio para chantagem, e é bom lembrar que, naquela época, setembro do ano passado, havia uma guerra tucana entre os tucanos de Minas e os tucanos de São Paulo". Se ele não fosse o braço-direito de um presidente da República que não honra o cargo, é claro que ele não amanheceria no gabinete pegado ao do presidente da República.
Porém, o próprio presidente Lula veio hoje reforçar o trabalho de despistamento, de uma forma que parece concatenada. Desta vez a culpa não sobrou para Aécio, mas Lula tentou transformar o caso numa simples questão de falsidade ideológica, quando tudo indica que aconteceu um crime político dos mais graves. O petista colocou em dúvida inclusive a falsificação comprovada dos documentos que supostamente teriam sido apresentados à Receita Federal para obter os dados fiscais de Verônica Serra.
Como piada daria até para observar que pelo menos desta vez o Lula não veio com a alegação costumeira de que não viu nada, o que até uns meses atrás ele fazia quando explodiam crises em seu governo, mas acho que a situação não merece humor algum. Eu tenho a impressão de que a impunidade vem fazendo com que os crimes sejam assimilados de forma tão rápida pela opinião pública que, com um pouco mais de tempo eles nem vão mais se dar ao trabalho de esconder intenções ou tentar abafar escãndalos.
Existe um risco de que num futuro bem próximo tais casos deverão ser tratados na base do "Eu fiz mesmo, e daí?", mais ou menos como já vem acontecendo nos últimos anos na Venezuela. Ainda podemos ter pela frente a inversão daquela máxima do homem que morde o cachorro como fato extraordinário. Aí então, o destaque noticioso no Brasil vai ser quando não estivemos vivendo nenhuma escândalo político.
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POR José Pires
Pauleira, hein? Mas você está certo até na relação da dificuldade que os tucanos tem de se relacionar de forma crítica com certos setores do governo Lula, gente que eles parecem amar de paixão, como o Palocci.
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