Há algumas semanas rodava pela internet um vídeo do pastor Paschoal Piragine Jr., presidente da Primeira Igreja Batista de Curitiba. Já é um dos sucessos do Youtube.
Numa sapeada rápida que dei há pouco vi que está com mais de dois milhões e meio de acessos. Agora o vídeo traz inclusive legendas em inglês. Não me impressiona. Chocolate Jesus, de Tom Waits, já vai para quatro milhões de acessos. E Chocolate Jesus pode não dar votos, mas é bem melhor.
O objetivo de Piragine Jr. é simples: evitar o voto no PT e em Dilma. Bem, nisso nós concordamos, mas o problema é que nossas razões para isso são muito diferentes. Serra e Marina estão adorando a coisa, já que a atuação do pastor supostamente tira votos de Dilma.
Sei que o que escrevo aqui no blog e uma porta batendo no comitê de campanha de Serra ou de Marina tem praticamente o mesmo efeito, mas eu aconselharia prudência nestas combinações entre religião e política. Mesmo quando ocorre um benefício circunstancial, no longo prazo o resultado nunca é bom.
Na sua fala o pastor apresenta um outro vídeo que deve estar tendo uma divulgação maçiça em igrejas por todo o país. É neste peça — que podemos chamar de vídeo dentro do vídeo — que está concentrada a ideologia que move esta campanha contra a candidata governista.
O vídeo é editado com bastante sensacionalismo, no qual não faltam nem a manjada trilha sonora de suspense e um amontoado de informações e imagens manipuladas. Na montoeira juntam-se divórcio, pornografia, homossexualismo, parada gay, violência doméstica, pedofilia, infanticídio, parricídio e até invasão de propriedades rurais, tudo isso para compor o discurso contra a legalização do aborto, uma "iniquidade" que, segundo o pastor, vai colocar o Brasil "sob o julgamento de Deus".
Na parte em que se condena o homossexualismo aparece um travesti em um desses programas de baixaria da televisão com uma Bíblia na mão dizendo que o livro não é sagrado. O efeito de algo assim entre os evangélicos deve ser como o de um católico vendo o pastor chutar a santa.
Já o infanticídio indígena é ilustrado com uma encenação que usa imagens filmadas com índios, onde uma criança (bem grandinha, por sinal) é enterrada viva. Neste trecho o alarmismo chega a ser cômico, pois a locução afrma que “milhares de crianças indígenas são enterradas vivas em tribos indígenas do Brasil”. Ora, nem se pode dizer que atualmente existam “milhares de crianças indígenas” para serem mortas.
O vídeo divulga resultados estranhos de pesquisas, como a taxa de divórcio no Brasil, que eles dizem ser de 41%. Não sei de onde foi tirada esta quantia fantástica e nem eles vão dizer, pois o objetivo desse tipo de documentário é mesmo o de apresentar dados sempre superestimados, mas os últimos números do IBGE são bem diferentes: a taxa de divórcio é de 1,5 separações por cada mil pessoas de 20 anos ou mais de idade.
Isso é só para dar uma mostra da deliberada confusão criada de forma alarmista por esses pastores. O vídeo é apresentado por Piragine Jr. como uma peça de alto valor documental, mas é na verdade tão grotesco que até pode ser confundido com uma paródia humorística.
Eu fico com Chocolate Jesus. Mesmo que seja para derrotar o PT, esse tipo de ingrediente que esses pastores tazem para a política pode acabar numa bruta indigestão.
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POR José Pires
Numa sapeada rápida que dei há pouco vi que está com mais de dois milhões e meio de acessos. Agora o vídeo traz inclusive legendas em inglês. Não me impressiona. Chocolate Jesus, de Tom Waits, já vai para quatro milhões de acessos. E Chocolate Jesus pode não dar votos, mas é bem melhor.
O objetivo de Piragine Jr. é simples: evitar o voto no PT e em Dilma. Bem, nisso nós concordamos, mas o problema é que nossas razões para isso são muito diferentes. Serra e Marina estão adorando a coisa, já que a atuação do pastor supostamente tira votos de Dilma.
Sei que o que escrevo aqui no blog e uma porta batendo no comitê de campanha de Serra ou de Marina tem praticamente o mesmo efeito, mas eu aconselharia prudência nestas combinações entre religião e política. Mesmo quando ocorre um benefício circunstancial, no longo prazo o resultado nunca é bom.
Na sua fala o pastor apresenta um outro vídeo que deve estar tendo uma divulgação maçiça em igrejas por todo o país. É neste peça — que podemos chamar de vídeo dentro do vídeo — que está concentrada a ideologia que move esta campanha contra a candidata governista.
O vídeo é editado com bastante sensacionalismo, no qual não faltam nem a manjada trilha sonora de suspense e um amontoado de informações e imagens manipuladas. Na montoeira juntam-se divórcio, pornografia, homossexualismo, parada gay, violência doméstica, pedofilia, infanticídio, parricídio e até invasão de propriedades rurais, tudo isso para compor o discurso contra a legalização do aborto, uma "iniquidade" que, segundo o pastor, vai colocar o Brasil "sob o julgamento de Deus".
Na parte em que se condena o homossexualismo aparece um travesti em um desses programas de baixaria da televisão com uma Bíblia na mão dizendo que o livro não é sagrado. O efeito de algo assim entre os evangélicos deve ser como o de um católico vendo o pastor chutar a santa.
Já o infanticídio indígena é ilustrado com uma encenação que usa imagens filmadas com índios, onde uma criança (bem grandinha, por sinal) é enterrada viva. Neste trecho o alarmismo chega a ser cômico, pois a locução afrma que “milhares de crianças indígenas são enterradas vivas em tribos indígenas do Brasil”. Ora, nem se pode dizer que atualmente existam “milhares de crianças indígenas” para serem mortas.
O vídeo divulga resultados estranhos de pesquisas, como a taxa de divórcio no Brasil, que eles dizem ser de 41%. Não sei de onde foi tirada esta quantia fantástica e nem eles vão dizer, pois o objetivo desse tipo de documentário é mesmo o de apresentar dados sempre superestimados, mas os últimos números do IBGE são bem diferentes: a taxa de divórcio é de 1,5 separações por cada mil pessoas de 20 anos ou mais de idade.
Isso é só para dar uma mostra da deliberada confusão criada de forma alarmista por esses pastores. O vídeo é apresentado por Piragine Jr. como uma peça de alto valor documental, mas é na verdade tão grotesco que até pode ser confundido com uma paródia humorística.
Eu fico com Chocolate Jesus. Mesmo que seja para derrotar o PT, esse tipo de ingrediente que esses pastores tazem para a política pode acabar numa bruta indigestão.
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POR José Pires
Também prefiro o Jesus Chocolate!
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