sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Chateação, drogas e rock and roll

Mas eu dizia que meus contemporâneos estão todos ficando velhos. E a velhice cai bem em alguém? Já vi, digamos assim, gente da minha geração e perguntei para alguém do lado — mulher geralmente é melhor para esse tipo de questão, mas escolha uma que pega leve — se eu também estou acabado do mesmo jeito. As moças costumam me dar uma força para eu enfrentar com otimismo as cerca de três décadas (eu disse que elas me deixam otimista) que vem aí para finalizar. Dizem sempre que, para a minha idade, até que estou ótimo.

Mas e o Laerte? Anda se vestindo de mulher. Eu poderia pensar numa performance. Hoje todo mundo faz isso. Mas vejo na maquiagem do cartunista e nos brincos bem escolhidos um método e não um arranjo rápido para maravilhar os fãs. O que será isso?

Mudança de sexo não é coisa rápida e eu saberia logo porque os sites são loucos por esse tipo de coisa. Não se pode dizer que a internet brasileira só tem lixo, mas o internauta tem que agir como um vira-lata e fuçar muito para encontrar algo bom para ver. Daí que iriam adorar em estampar a manchete "Cartunista muda de sexo", em letras bem grandes logo acima de assuntos menores como aquecimento global ou o prêmio Nobel de Vargas Llosa.

É claro que corri para sapear na internet e encontrar uma explicação para o que anda acontecendo com o cartunista. Numa entrevista para a revista Bravo, Laerte conta que passou a se vestir de mulher levado por uma “profunda crise”. Ele garante que não é tara sexual, apesar de revelar que descobriu “um prazer indescritível, que nunca cogitei sentir”.

Pode ser. Mas a visão aqui de fora pode ser patética. Ele já deve ter ouvido isso dos filhos e dos amigos, mas não fica bem. É difícil de encontrar um valor estético, filosófico ou de qualquer outra qualidade em um homem de idade vestido de mulher. Não tem jeito do cara não ficar parecendo uma perua coroa.

Laerte não é homossexual. Mas atualmente quem é? Desconfio que não existe mais viado ou lésbica. Os pastores evangélicos estão pregando contra algo que nem existe mais. O homossexual já é uma espécie em extinção, irmão. Hoje em dia todo mundo é bissexual, que é o que o cartunista declara ser.

Ele é um dos grandes quadrinhistas nacionais, uma qualidade que evidentemente é relativa ao mercado brasileiro para esse tipo de trabalho. O quadrinho é uma arte industrial. Num país como o nosso, com a cultura de massa em um nível baixo e tão uniformizada, não se pode esperar evidentemente que surja um Asterix por aí. Mas o Laerte realmente fez muita coisa boa no ramo.

Digo isso porque ele expõe como um dos elementos da sua crise pessoal a insatisfação com o seu trabalho, que parece crônica. Ele diz que tem vergonha de tudo o que fez em quarenta anos de carreira. Mas aí pode ir para casa que você não tem problema algum. Isso é um sinal de saúde mental.

Os quadrinhos e também o cartum ou a charge, todo esse tipo de comunicação de massa depois de certa idade cansa mesmo. É difícil trabalhar nisso sem seguir códigos que não permitem uma expressão mais individual, até porque sem isso corre-se sempre o risco de romper a comunicação com o leitor.

Com música, seja MPB ou rock deve ser assim também. Para perceber isso, basta ouvir um grande álbum antigo. Aquilo não resiste a uma análise crítica sem que coloquemos o peso da nossa relação existencial com o, digamos assim, produto.

Bem, não é à toa que a maioria dos roqueiros cai nas drogas.
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POR José Pires

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