quarta-feira, 9 de março de 2011

Carnaval da mortandade nas estradas e as montadoras de cofres cheios

No Brasil, todo período prolongado de feriado traz más notícias no final. O carnaval não tem só o resultado da competição das escolas de samba no Rio: tem também o horrível rescaldo, sempre com muitos mortos e feridos, principalmente em acidentes de trânsito nesta terra da dobradinha terrível do automóvel particular e a irresponsabilidade, tanto de quem está dentro dos carros quanto de quem tem a responsabilidade de zelar pela segurança nas estradas brasileiras.

Este ano o saldo foi bem pesado. O carnaval de 2011 foi o mais violento da história. O aumento do número de mortos e feridos chegou a ser quase 50% maior que no ano passado.

Foram registrados 4.165 acidentes (28,7%), deixando 2.441 feridos (27,4%) e 213 mortos (47,9%). No ano passado, o balanço foi de 143 mortos em 3.233 acidentes. 1.912 ficaram pessoas ficaram feridas.

Se fosse no governo Lula, o Supremo Apedeuta poderia vir a público declarar que nunca neste país morreu tanta gente num carnaval. Mas a tragédia vem do governo dele que, como todos sabem, tem seu seguimento no governo Dilma. Como será que se define uma herança como esta, maldita ou bendita?

Na palestra que fez na semana passada na coreana LG Eletronics, o ex-presidente embutiu na exaltação a seu governo algo que ele considera como um admirável feito: o estímulo ao consumo.

Agindo como garoto-propaganda da LG, ele não poderia mesmo numa palestra dessas fazer uma análise crítica da economia, situando inclusive a necessidade de controle e planejamento do consumo de produtos industrializados. O negócio ali era vender, assim como foi feito principalmente durante os últimos dois anos, o período utilizado para construir uma plataforma eficiente para a eleição da sua candidata.

A plataforma era falsa, como agora se vê com o desmoronamento de todo o otimismo construído no ano passado. Para viabilizar a eleição de Dilma Rousseff foi instituído um vale-tudo na economia, inclusive com a maquiagem da situação fiscal brasileira.

Um dos artifícios para evitar a crise mundial e forjar uma situação de tranqüilidade foi injetar muito dinheiro na indústria automobilística, recursos que depois foram enviados pelas empresas para o exterior na forma de lucros. Segundo um estudo dos professores Fernando Sarti e Célio Hiratuka, do Instituto de Economia da Unicamp, no período 2008-2010 o governo Lula repassou por meio do BNDES financiamentos na ordem de US$ 8,7 bilhões. Durante o período 2008-2010 as remessas de lucros e dividendos foram 12,4 bilhões de dólares. E os investimentos externos de apenas 3,6 bilhões de dólares. O saldo negativo (para nós, é claro) foi de 8,8 bilhões de dólares.

O ano passado foi excelente para eles. Em 2010 o setor automotivo mandou de lucro para o exterior US$ 4 bilhões. Segundo os professores da Unicamp, no mesmo ano este setor, que engloba montadoras e autopeças, investiu aqui 450 milhões de dólares. É dez vezes menos que os lucros que foram daqui para o estrangeiro.

E além da grana oficial, as montadoras tem também as facilidades dos incentivos fiscais nos estados. É muito dinheiro para um setor que traz muitos problemas e tem um horizonte curto. Hoje, o estímulo ao consumo de automóveis é um dos mais delicados em qualquer país do mundo. No Brasil, com sua carência história de infra-estrutura rodoviária e o esgotamento do espaço para os carros nas cidades, forçar uma alta no setor é ainda mais arriscado.

Além do mais, não há futuro para o carro individual. Ninguém poder acreditar que a dinheirama investida pelo governo no setor vá dar algum lucro social. Mesmo que aparente dar muitos empregos e aquecer a economia, este tipo de investimento tem uma eficácia ilusória. Não sei se já fizeram as contas, mas acredito que se alguém colocar na ponta do lápis o custo de tudo quando é coisa ruim causada pela proliferação do automóvel, no final vai chegar à conclusão que as montadoras só dão prejuízo ao país.

E a questão fica ainda mais grave, pois enquanto o uso do automóvel é estimulado, pouca coisa é feita em contrapartida em termos de segurança, cuidado com o meio ambiente e até sobre a maior responsabilização dos crimes ao volante.

Mas deu pra dar uma incrementada na economia mesmo que a custa de caros subsídios. E as montadoras são inclusive moeda de troca na política. Por causa desta última eleição, por exemplo, Minas Gerais foi punida pelo governo Lula com a ida da Fiat para Pernambuco, onde Dilma não só ganhou de lavada a eleição mas também teve o apoio extremo do governador Eduardo Campos (PSB), que impediu que seu partido lançasse a candidatura de Ciro Gomes.

O governo petista tem uma estranha maneira de lidar com os carros. No mundo todo o automóvel particular é uma praga, do mesmo jeito que é no Brasil. Nossas cidades não têm mais espaço para os carros. Além dos acidentes, a poluição é outro grande problema. Mas, no entanto, por aqui existe um estranho orgulho das montadoras de automóveis, uma indústria que nem é brasileira de fato.

Números que deveriam ser vistos com preocupação acabam sendo saudados de forma positiva. Neste carnaval o recorde foi de mortos nas estradas, mas no mês passado outra façanha envolveu o automóvel.

A produção de veículos do Brasil em fevereiro cresceu 18,7 por cento sobre janeiro, atingindo o recorde para o mês de 310,7 mil unidades. Os números foram divulgados pela associação das montadoras, a Anfavea.

É claro que a mídia comemorou. Não teve nenhuma palavra crítica, mesmo que fosse só perguntar onde é que vamos botar mais esses carros. Mas é muito fácil saber porque este assunto nunca é discutido com profundidade. Basta folhear revistas e jornais, abrir um site ou ligar a televisão para ver que a quantidade de propaganda de carro é outro número espetacular dessa indústria.
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POR José Pires

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