quinta-feira, 17 de março de 2011

Japão: o medo da radiação e a coragem de quem ainda está na usina de Fukushima

O acidente nuclear no Japão está por um fio de uma tragédia nuclear. As autoridades japonesas tentam aparentar um controle da situação, mas vários países muito interessados no assunto porque podem sofrer conseqüências do que acontecer no Japão já deixam claro que é difícil retomar o controle sobre os reatores.

O governo dos Estados Unidos já havia recomendado pela embaixada em Tóquio que os cidadãos americanos guardem uma distância de 80 quilômetros do epicentro do complexo de Fukushima. Autoridades americanas também já disseram que ante uma situação semelhante os Estados Unidos agiriam como maior precaução que os japoneses e estabeleciariam uma zona de evacuação bem maior que o raio de 20 km, depois ampliado para 30 km.

França, Alemanha, Inglaterra, Colômbia, México e Índia também recomendam a seus cidadãos que saiam de Tóquio. Esses países já tem prontos aviões para retirar seus cidadão por causa do risco nuclear.

Em Fukushima a luta é desesperada na tentativa de evitar a fusão dos reatores. As operações consistem em jogar água com caminhões cisterna e também usando helicópteros. O trabalho para evitar a tragédia na central já faz vítimas entre os trabalhadores. 19 trabalhadores foram feridos e 20 foram expostos à radiação. Dois estariam desaparecidos. Ficar exposto na situação exigida pelo trabalho dos responsáveis pelo esfriamento do reator dificilmente deixa de ser mortal.

Ontem o diretor da principal reguladora nuclear dos Estados Unidos dizia durante audiência do Subcomitê de Comércio e Energia da Câmara dos Deputados que os níveis de radiação ao redor da usina nuclear japonesa ameaçavam de forma letal os agentes de emergência.

Segundo Gregory Jaczko, da Comissão Reguladora Nuclear, haveria dificuldade de chegar perto dos reatores por causa desse alto nível de radiação. As doses a que os agentes de emergência poderiam ser submetidos “seriam potencialmente letais num curto período de tempo".

Para se ter uma idéia do risco, nenhum dos homens que há 25 anos trabalharam na emergência do acidente nuclear de Chernobyl está vivo. O grupo de emergência que trabalha na usina atômica japonesa já é comparado aos 47 samurais (os rônins), lenda histórica do Japão. Estes seriam “ronins” modernos.

Não discuto sobre a coragem necessária para fazer um serviço desses, mas existe um risco danado nesta visão romântica sobre homens que provavelmente estão ali apenas por uma imposição profissional. O senso de dever evidentemente é admirável, mas uma história de heróis nesse momento pode vir para ajudar os lobbystas nucleares e dirigentes japoneses fugirem às suas responsabilidades.
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POR José Pires

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